A PALAVRA É PRATA; O SILÊNCIO É OURO

Hoje algo estranho ocorreu. Fiquei alguns dias fora de São Paulo. E, ao chegar, fui percebendo, entre roncos e cochilos no táxi, o burburinho dos acontecimentos na cidade. Violência, selvageria, medo, desespero. Sinceramente estava alheio a tudo isso, porque estava com muito sono, conectando-me aos acontecimentos somente lá pelas duas da tarde. Mas via as pessoas apressadas nas ruas, em meio ao trânsito caótico. Tensas, desesperadas para chegar em suas casas. Várias pessoas com quem cruzei diziam a mesma coisa: “Parece até cena de filme americano”. Mas estava acontecendo aqui, em São Paulo. É duro admitir, mas eu pensei a mesma coisa. Lembrava de Independence Day, de The Day After, de War of the Worlds…
Fui ficando angustiado, pensando nas pessoas que gosto sendo mortas... E senti um medo invadir minha alma. Algumas horas depois, como um filme mesmo, os repórteres, antes sensacionalistas, falavam que estava tudo sob controle, que a tal facção criminosa havia suspendido os ataques, e que amanhã tudo voltaria ao normal.
E não era apenas essa guerra que eu testemunhava. Tive que assistir a mais uma decapitação, bem diante dos meus olhos, dentro do meu cotidiano. E não eram imagens ferozes de homens encapuzados em torres de presídios segurando a cabeça de uma vítima, nem pessoas sendo incendiadas dentro de ônibus. Eram apenas palavras que ganham a força de fuzis e granadas.
Tanto a confusão de hoje na cidade, como o estardalhaço dos jornalistas e a chateação pela qual passei, fizeram com que eu parasse para pensar na violência das palavras. Como as pessoas podem dizer tantas coisas, fazer ameaças, exagerar o caos das notícias e logo depois dizer que “está tudo bem”, que o “perigo já passou” ? Também fico pensando na violência dos ataques, no medo e na raiva que as pessoas passam e que não se esvai imediatamente... Para onde vão esses sentimentos depois que já passou o perigo? Aonde colocamos a nuvem de ameaça que paira em nossas cabeças quando somos submetidos a tanta violência? A única certeza que tenho é que eles não vão embora. Só não sei para onde vão.
E quando decidi escrever no Blog, dei de cara com minha última postagem, cujo final diz que aprendi, desde muito cedo a não dizer tudo que penso. Tenho minhas dúvidas. Hoje, por exemplo, fiquei com uma dúvida “bífida” de escorpião-serpente: ao mesmo tempo em que segurei para não falar demais, senti-me frustrado por ainda ter muito que falar. E algo que poderia ser tido como “besta”, sem valor, acabou tomando vultos de “monstro de Marshmallow”.
É por esse motivo que resolvi parar para pensar no quanto a vida, com seus pequeninos acontecimentos, pode ser ferina, deteriorante, cancerígena. O quanto morremos aos poucos pela constante necessidade de remendar ferimentos ao longo da estrada.
1 Comments:
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