Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Wednesday, November 15, 2006

VOLTA PRO MAR, OFERENDA!


Não, a frase não é minha. Nem sei de quem é. Mas sei quem me disse a primeira vez*. E serve para mandarmos de volta aquilo que vem até nós e, definitivamente, não desejamos. Adorei o conceito. É limpo, lúcido. Mas confesso que entrei em conflito com Yemanjá, posto que uma oferenda, na acepção máxima dos cultos afro-brasileiros, é algo muito sagrado que é oferecido aos deuses.

Daí mesmo que se travou um conflito duplo. Pois, tentando percorrer o raciocínio da frase e descontando a nobreza do conceito de uma oferenda, pensei que essa tal "oferenda" que rejeitamos é algo que Yemanjá não quis, que ela recusou, como aqueles pentinhos de plástico azuis que as pessoas lhe oferecem em seu dia. E, uma vez que ela devolveu é porque não gostou. Portanto, como podemos querer que algo que foi rejeitado por ela volte para o mar? Acho que ela não ficará satisfeita.

Resumindo, esse "embrulho" do qual queremos distância é uma oferenda rejeitada por Yemanjá e, como nem ela, nem nós desejamos, fica perdida no vai-e-vem das ondas, empurrado pra cá e pra lá. Chamar de "carrego" seria mais apropriado.

Feitas as explicações conceituais e com as devidas desculpas aos deuses todos, ainda assim o conceito é magnífico. Serve para despachar tudo aquilo que queremos longe: cheiro ruim, pessoas, situações. "Volta pro mar, oferenda!". Bradamos em tom forte, guerreiro.

Um dia, uma amiga disse que se beijarmos uma pessoa muito feia no primeiro dia do ano, beijaremos pessoas lindas o resto do ano.Respondo: "Volta pro mar, oferenda!". Quem precisa beijar uma pessoa feia? Concordo com Vinícius ao dizer que lhe perdoassem as feias, uma vez que a beleza era fundamental. E quem foi que disse que precisamos beijar pessoas feias, como se só restasse essa alternativa. Existe uma outra: na ausência de belas, não beijamos.

Tenho um amigo que estava comentando que uma colega de trabalho está apaixonada por ele. Mas tem vários problemas: ela é feia como o Cão, chata como a Aracy de Almeida, irritante como o Chacrinha, doida como a Bruxa do Mar. E fica insistindo em sair com ele! "Volta pro mar, oferenda!". Percebem? Diante da massacrante realidade da vida, não existe melhor verbete!

E entre os grupos sociais então? Quantas dessas malquistas oferendas temos que suportar, cumprimentar, sorrir pra elas? Incontável. Que voltem todas elas para o mar, malditas oferendas!!!

Penso novamente em Yemanjá. Lembro-me ter ido uma vez a uma festa de Yemanjá na Praia Grande. Tinha amigos assiduous frequentadores de Umbanda e Candomblé que falavam dessa festa com grande entusiasmo e devoção. Tomei coragem e fui. Que coisa horrível. Barraquinhas, barraconas, cabaninhas, cabanonas. Armações do luxo ao lixo representando os centros espíritas de diversos lugares. A maior concentração de macumbeiros do globo. Então fiquei olhando as pessoas, em bandos, levandos oferendas à Yemanjá. Flores e mais flores, pentinhos azuis de plástico, perfumes e… dúzias de cumbucas de manjar branco!!! Lembro ter pensado naquela época que Yemanjá deveria arrancar seus lindos cabelos só de ver poluírem tanto o seu mar. Que pensam que ela é? Uma lixeira? Uma exorbitância de comida e quinquilharias para que ela arraste todo o lixo das costas das pessoas e leve tudo para o fundo do mar? Acho um desrespeito. Tenho certeza que ela ficaria mais feliz se pegassem aquela comida toda e alimentassem as milhares de bocas famintas espalhadas pelo mundo.

Sem falar no IBAMA. No SOS-Mata Atlântica. No Disque-Mananciais. Não há culto ou credo que justifique tamanha poluição.

Mas o mundo é isso: um “bololô” de contradições. Acho triste poluir o mar, mas como podemos suportar o lixo desagradável que nos rodeia? Pensei numa Yemanjá-Sideral, com roupas metálicas, um bastão radioativo nas mãos desintegrando todo esse dejeto.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

O conceito se fechou, né? Faltava algo para ativar sua inspiração... rsrsrs...e pelo visto ontem você achou!

Ficou ótimo!

Beijinhos

3:48 AM PST  

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