Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Wednesday, January 30, 2008

DESCONHECIDA MANHATTAN


Tenho andado por vários cantos e cruzado grandes avenidas. Ruas estreitas, tortuosas vielas. Tenho visto tanta coisa diferente, tanta coisa curiosa que o curioso chega a ser comum, corriqueiro. Taxistas de turbantes, judeus observantes trabalhando em lojas de eletrodomésticos. Sem falar na profusão de línguas. Tudo muito, muito estranho e, ao mesmo tempo, de uma estranheza familiar.

Mas o Tio Sam tem me mostrado um pedaço dessa cidade que eu desconhecia. Andando pelas ruas em pleno inverno, sinto o frio congelar minha face, meus dedos, minha cabeça; mais frio ainda me parece a solidão que congela o coração das pessoas. Sim, a solidão. Estou conhecendo agora a Manhattan dos solitários. Pior: dos sozinhos, porque estar solitário pode ser uma escolha ou um estado de espírito; sentir-se ou ser só pressupõe abandono.

E quando a solidão desponta, tudo fica mais ímpar. As pessoas caminham isoladas e monótonas com seus cachorros tristonhos. Penso: quem está preso a quem? São dois solitários presos a uma mesma corrente.

Os esquilos caçam egoístas suas nozes, com medo da falta, da miséria, esquecem-se uns dos outros nos frios gramados dos parques. Talvez eles se aqueçam quando chega a noite. Mas mal clareia o dia, são apenas caçadores de nozes que dividiram um tronco de árvore noite afora.

E as pessoas nos vagões do metrô, que nem se olham. E quando se olham, não se enxergam. Como é possível fazermos viagens de metrô, por vezes com as mesmas pessoas em determinados horários e nem sequer reconhecê-las? Resta a solidão dos ipods e Boses.

É claro que essa solidão tem algum benefício. É nela que a melancolia me visita, sufoca meu peito, torcendo-o como um Perfex, fazendo a dor virar letra. É assim que sei mais facilmente chorar: escrevendo.

Sem dúvida a solidão é um tabu, porque temos medo dela. Temos medo que ela chegue e tome conta da nossa existência. Temos medo de admitir que nos sentimos sós. Simplesmente temos medo. Sim, eu tenho medo da solidão.