O BARULHO DA GUARITA (OU SOBRE A INEFICIÊNCIA DOS GUARDAS-NOTURNOS)

Há muito tempo tenho questionado a verdadeira necessidade dos guardas-noturnos.
Não há quem não saiba contar ao menos uma história da inútil presença deles em nossas ruas, incapazes de evitar assaltos e outras violências. Não falo daqueles seguranças de “elite”, devidamente treinados e capacitados; falo dos guardinhas barrigudinhos e simpáticos que passam suas noites em guaritas e andando pelas ruas de motocicleta ou fusquinha.
Acho que eles funcionam como lixeiros, entregadores de jornal e medidores de água. Nunca os vemos, mas no final do ano estão sempre batendo em nossas portas para o recolhimento da “caixinha”. A diferença é que acho que esses outros realmente nos prestam algum serviço.
Quando era mais novo, morava num bairro residencial bastante extenso. E o serviço de vigilância era comandado por uma família de guardinhas. Eram seis irmãos e mais alguns outros, totalizando uns dez, num bairro que, com certeza, tinha pelo menos dez vezes mais que dez ruas. Não é à toa que enquanto um estava aqui, o assaltante estava ali e o estuprador acolá. Uma vez tentaram impedir um assalto. Não só não conseguiram, porque o barrigudinho não conseguia correr atrás do ladrão, como ficaram jurados de morte e ficaram sem trabalhar alguns meses. Não é preciso dizer que nada mudou nesse período.
Mas uma vez a coisa ficou feia. Morava com minha família em um sobrado e a guarita ficava alocada no muro da minha casa. Começamos a ouvir um barulho imenso, como se alguém estivesse esmurrando a porta, tentando arrombá-la. Olhávamos, cheios de medo, pela janela do quarto e não se via nada. “Talvez esteja na porta da garagem” – pensamos. Olhamos na janela que dava para o quintal. Nada. Liguei para o vizinho, ele saiu e não viu nada na frente da casa. Nesse momento o barulho parou. Bastou o vizinho voltar para sua casa, o barulho começou de novo. E nem sinal do guardinha.
Minha mãe, irritada e apavorada, começou a gritar pelo guarda na janela. “Seu guarda, socorro, ajude!”. Demorou e de repente apareceu o guarda de dentro da guarita. Falamos do barulho, vários vizinhos saíram nas janelas, assustados. O guarda olhou a casa toda. Também não viu nada. Questionamos se ele estava dormindo na guarita. Após a inspeção, ele voltou para lá e imediatamente o barulhou recomeçou. Chamamos novamente o guarda e ele saiu da guarita, mais assustado que nós, com um martelo na mão. Será que ele pretendia assustar o ladrão com o martelo? Não. De fato era ela quem produzia o barulho ao bater um prego na guarita para pendurar o rolo de papel higiênico.
Talvez fôssemos “assustáveis” demais. Mas a presença desses vigilantes nas ruas não fazem com que me sinta mais seguro.