FELIZ DIA… DOS ÓRFÃOS


Hoje, todos sabem, é dia dos pais. Não há como não saber. Há trinta e três anos ouço, ano após ano, falar sobre o dia dos pais. Lembro-me dos trabalhos de escola: gravatas de cartolina, porta-meias de cartolina, cinzeiros de gesso pintados na aula de artes. Almoços de domingo. Shopping centers lotados. Lembro do abraço apertado do meu avô quando recebia meus mal-cortados artesanatos de primário.
Os almoços já terminaram e amanhã muitos papais vão estrear roupas novas, camisas, gravatas e relógios. Pode ser que alguns deles estejam já vestindo seus pijamas e chinelos de dormir.
Agora cai a noite de domingo. No pseudo-inverno desse país de mentiras, o frio e o silêncio mortuários que anunciam o crepúsculo de mais um final-de-semana tornam-me mais reflexivo.
Parei para pensar nos órfãos do mundo. Quantas pessoas nesse mundo que perderam, ou nunca tiveram, ou transitoriamente estão longe de seus pais nesse dia dos pais? Quantas pessoas se sentem menos, menores, piores porque não têm o que comemorar nesse dia? E os órfãos de alma, cujos pais estão presentes, sentados na ponta da mesa, mas cujo amor está ausente?
Saí pelo mundo virtual, montado em meu foguete (Sim, o Google®...), indignado ao pensar que não existia o “Dia do Órfão”... Mas...sim, ele existe! Fiquei contente em saber que existe uma dia dedicado aos órfãos... Vários portais falando semi-frases... e em todas elas o número vinte e quatro. Pensei: vinte e quatro de que mês? E foi então que meu foguete caiu. Com o bico no chão.
Vocês têm idéia do mês que esse tal dia vinte e quatro está alocado? Dezembro. Vinte e quatro de dezembro. Um dia para não ser lembrado. E mantenho meu pensamento que o mundo não quer saber de seus órfãos, porque colocar o dia do órfão na véspera de Natal é realmente uma concorrência desleal. Em primeiro lugar porque Cristo, além de não ser órfão, tinha dois pais e, em segundo, quem é que vai parar para pensar num órfão num dia tão atribulado? Compras, comidas, roupas, embrulhar os últimos presentes, presentes de última hora, trocar a lâmpada da árvore de Natal, “bobs” nos cabelos, escova progressiva, falar mal da Tia Fulana, criticar a mesquinhez da cunhada... No meio disso tudo, como é possível lembrar de um órfão?
É claro, devem existir exceções. Há pessoas que visitam orfanatos e asilos, que fazem festas de Natal para eles, com presentes e boa comida. Mas creio que na resumida proporção de pessoas que se ocupam dessas tarefas humanitárias, deve haver uma proporção ainda menor de pessoas que desejem se dedicar aos órfãos exatamente no dia a eles dedicado. Porque simplesmente as pessoas têm mais o que fazer!!!
Mas se você não é órfão, mas já sentiu a orfandade invadir seu coração um dia; se você já se sentiu só, mesmo que por alguns minutos e se você já teve a certeza de ter sido abandonado algum dia; não se deixe invadir pelo egoísmo em querer ser filho o tempo todo, porque no fundo, somos todos órfãos de um pai que fez o nosso mundo, que nos fez e que não tivemos a chance de encontrar de verdade.
1 Comments:
Órfão: filho de ninguém, paternidade desconhecida, abandono inicial, desalento, desamor. Falta no dia da presença cultural, dos presentes oferecidos, do amor esquecido, apagado, relembrado, cultivado. Filhos procurando pais, em busca de dias especiais...
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