Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Tuesday, September 12, 2006

RECONCILIAÇÕES HISTÉRICAS


Há tempos venho dizendo que ando farto da histeria, sobretudo nas relações cotidianas. Odeio o jeito histérico de lidar com o mundo, distorcendo suas cores, aromas e dores. Estou realmente cansado dessas pessoas que pegam atalhos para chegar aos caminhos mais simples que existem. É dizer que se está doente, quando na verdade não se deseja honrar um compromisso social ou de trabalho. É ligar para alguém para dizer bobagens, para saber como está a pessoa, onde o verdadeiro objetivo é pedir um favor.

O que mais me irrita nesse tipo de atitude, por um lado, é a falta de direcionamento nos assuntos, fazendo-me perder tempo. Por que não ir direto ao assunto? O grande problema é que, além da sensação de perda de tempo, fica a sensação de fazer um papel de idiota, uma vez que paira no ar a intuição óbvia de que o assunto que está sendo tratado é falso, é desvio. Por outro lado, é duro ver uma pessoa se aproximar, jogar esse jogo e desferir um último golpe: jogar um abacaxi na sua mão. Eu já havia falado sobre isso antes, em outro acesso de raiva como esse. (Quem quiser conferir, visite meu outro blog marceloniel.blogspot.com)

Mas estive pensando nos momentos que rompemos essas amarras com essas pessoas, seja numa explosão de raiva ou numa atitude de desprezo perante suas atitudes. Sobretudo nos casos onde nos fazemos necessários a algo que diga respeito à sobrevivência do ser histérico. Então gera-se um movimento de reaproximação, que denominei de uma reconciliação histérica.

Sim, uma reconciliação histérica. Num mundo que possui um modo todo particular de funcionar, ou melhor, quando uma pessoa tem um modo todo particular de funcionar no mundo, fincando dissociações e lanças passivo-agressivas nas costas dos outros, o restabelecimento dessa ligação tem que ser feito de forma desviada. Seja através do telefone, seja pessoalmente, seja por meio de correio eletrônico, a conexão vem através de frases sem sentido, mesmo após uma ocorrência grave. E nessa mensagem aparentemente non-sense estão silenciosamente implícitos um pacote de coisas indigeríveis, todas misturadas como uma vitamina de maçã, banana, mamão e aveia. É um pacote que contém um pedido de desculpas, uma bronca e a reiteração do pedido de favor. Se essa pessoa usasse palavras, diria: “Fiquei chateado com o que você me fez, mas mesmo assim eu te desculpo e vou deixar passar, portanto você está em débito comigo. Sendo assim, você pode me fazer tal coisa pra ontem?”.

E é por isso que dei o nome a essa jogada de reconciliação histérica. Porque é um modo muito próprio e sacana de reaproveitar o que se quebrou, colocar a culpa no outro, faze-lo se desculpar e se propor a consertar de graça. E ainda agradecer a oportunidade.

As pessoas queixam da violência, dos roubos, seqüestros e assassinatos, dos famintos, dos doentes, das enchentes, do superaquecimento da Terra. Eu reclamo da histeria. Eu reclamo do quanto somos prisioneiros dessas pessoas que vampirizam as relações e nos fazem reféns.

Continuo realmente farto da histeria.

Monday, September 11, 2006

LORD AWKWARD BIZARRE


Amigos leitores do Le Cul du Tabou...

Resolvi postar essa carta, "escrita" por um amigo meu...

"Acho que me esqueci das regras básicas da etiqueta. Não me lembro mais como receber convidados em casa. Sobretudo quando os convido. Não me lembro se devo perguntar se eles estão com fome, se devo ajudá-los a tirar seus casacos, acomodando seus pertences num outro cômodo, deixando-os mais à vontade. Desculpe, sou distraído, podem até pensar que sou grosseiro. Mas sou apenas distraído.

Perdoem-me se não consigo ser um bom anfitrião. Não sei o que dizer aos meus convidados quando derrubam algo em meu tapete persa de mil e quinhentos anos. Não sei como recomendar a um amigo que pegue um prato ou um serviette ao servir-se de um canapé de foie gras. Mesmo tendo esquecido de comprar o foie gras.

Não desejo parecer mesquinho. Porém não consigo coordenar habilmente a difícil tarefa de manter cheias as taças de champagne. Sou realmente tão distraído! Ah! Também acho que esqueci de avisar, ao convidá-los, que não queria que viessem para ficar muito tempo. Era apenas um happy hour para esticarmos noite afora. E foi por isso que não servi o banquete habitual. Acho que minha maior falha foi ter marcado essa recepção num horário tão impróprio! Mas juro que eu pensei, pelo tardar da hora, que vocês já tivessem jantado!

Minha mãe me ensinou a não deixar os cachorros passeando pela casa quando estivesse com visitas. Mas acho que compreenderam isso, porque são como meus filhos! Foi realmente desagradável que um deles tivesse lambido o prato de um de vocês. Mas acho que não preciso me desculpar, não é? Vocês sabem como são os cachorros!

Espero que não tenham entendido mal toda a cena, mas me senti tão à vontade com vocês que achei desnecessário ficar cumprindo clichês sociais, apesar da minha nobre origem. E acho que vocês entraram no clima, porque até encomendaram mais canapés para continuarmos a festa! Não precisava! E vejam como fiquei à vontade: parecia que estava sozinho. Tanto que fui dormir e só me lembrei de checar que vocês já tinham ido quando me levantei hoje pela manhã. Embora fiquei um pouco magoado, porque achei que vocês deviam ter me avisado. Levei um susto quando levantei e vocês não estavam mais! Poderíamos ter comido os canapés que sobraram no café da manhã! (Isto é, se os cachorros não tivessem comido…)

Enfim, estou escrevendo para dizer que fiquei muito honrado em ter aberto as portas da minha casa a vocês, meus amigos. E que isso tudo nunca mais se repetirá! Não mesmo!

Obrigado,

Lord Awkward Bizarre"