Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Wednesday, August 22, 2007

O MITO DE DONA FÊNIX



Olhem! É um pássaro? É um avião? Não, não. É apenas a Dona Fênix correndo de um lado pro outro. Levanta cedo, prepara o café, chama os filhos prum novo dia. Lava roupa, passa, cozinha, encera. Assim viveu Dona Fênix. Quem lhe deu esse nome tinha razão: trabalhava tanto, com tal afinco, que chegava morta ao final do dia. Mas como a ave mitológica, estava pronta pra uma nova batalha no dia seguinte. E não reclamava não. Era muito grata a Deus por ter braços fortes, boas pernas e disposição sobrando pra continuar na labuta.

Era uma mulher simples. Não tinha grandes sonhos, contentava-se com o pouco que Deus lhe dava e ainda assim achava que já era muito. Só tinha um desejo, e esse sim proferia a todos pra que ninguém esquecesse: quando morresse queria ser cremada e que suas cinzas fossem jogadas no mar. Os católicos da família a excomungavam: diziam que era pecado, uma violência com o corpo, que deveria ser enterrado. A facção espírita dizia que nos primeiros dias que se desencarna a alma está ligada ao corpo, e ela sofreria dores terríveis e depois ficaria atormentando os parentes com murmúrios incessantes. E ela nem ligava. Fingia que não ouvia e imaginava apenas sua alma flutuando pelo céu, do jeito que as cinzas estariam soltas pelo mar. E ainda achava ecológico, porque não ocuparia espaço em cemitérios, não gastaria com jardineiros e não correria o risco de ter sua cova vilipendiada.

Não que desejasse morrer; nem era esse assunto de todas as horas. Gostava muito da sua vida do jeito que era e pretendia viver muitos anos ainda. Mas lá pelos seus cinqüenta e algo, a mão da morte resolveu cravar sua foice no coraçãozinho de Dona Fênix. Dizem que foi bonita a sua morte. Estava na feira escolhendo tomates e, ao pegar o pacote de tomates bem madurinhos pra fazer o molho do macarrão, apertou a mão e os tomates contra o peito e caiu dura, pra trás, num golpe só. A dor deve ter sido tanta que os tomates ficaram esmagados em seu peito, parecendo que sangrava. A cara, apesar de espantada com a dor súbita, esboçava um ar de surpresa, como quem chega ao céu e se dá conta com um Deus ruivo, de cabelo moicano e botas de verniz.

A família ficou muito desolada. Mas já que morreu, trataram de cremá-la, como havia pedido. Foi uma confusão. Muitos comentários, muitas reclamações, mas Egberto, seu filho, decidiu que cumpriria o único real desejo de sua mãe em vida. E Teka, sua esposa, o apoiou. Passados alguns dias – uns quinze, creio eu – Egberto recebe um telefonema do crematório. Vixi! Tanta confusão, tanta tristeza, que havia esquecido as cinzas de Dona Fênix! Foram lá buscar. Era realmente uma sensação esquisita saber que sua mãe inteirinha estava lá, numa urna dourada. Nem tristeza dava. Era uma estranheza mesmo. Mas Egberto havia decidido que não jogariam as cinzas de sua mãe em qualquer lugar. Para desespero de Teka, Egberto resolveu deixar as cinzas em casa, na mureta da lareira, até que recebesse um “sinal” do lugar pra onde iria levar sua mãezinha.

Aquilo foi um tormento para Teka. Não conseguia ficar na sala sozinha porque morria de medo daquela urna. Se estivesse só em casa, passava correndo pela sala e fazia o sinal da cruz. E quando perguntava a Egberto sobre o que faria com as cinzas, ele se irritava e falava que ainda não havia recebido o tal “sinal”.

Teka começou a ter pesadelos com a urna. Sempre gostou muito de Dona Fênix, não era por culpa ou raiva ou remorso que sentia aquele desconforto todo. Apenas não queria ser obrigada a conviver com aquela urna, que além conter as cinzas da falecida, não combinava nadinha com a decoração da casa.

Seis meses se passaram e Dona Fênix ainda estava lá. Egberto nem se pronunciava e Teka decidiu por um fim nessa ladainha. No dia de aniversário do morte de Dona Fênix, Teka acordou mais cedo do que de costume e acordou Egberto, como se estivesse apavorada. Contou que havia sonhado com a falecida, pedindo que a levasse para o mar. Egberto caiu que nem um peixe. Entendeu que o sonho de Teka era o tal “sinal”...

- Mas espera um pouco... Ela não disse onde jogar?
- Ai meu amor... não sei direito.... – daí pensou que não queria passar mais seis meses com aquela urna em casa e lembrou que morria de vontade de conhecer Ilha Grande – Era algo assim Olho Grande, não-sei-o-que-lá-grande...
- Ilha Grande! É isso, Ilha Grande! Fomos pra lá uma vez quando eu era criança e ela adorou, sempre falava de lá com saudosismo. Vamos hoje mesmo pra lá!

E então foram, no mesmo dia, rumo a Ilha Grande. Egberto, Teka e seu filhote de labrador, Astor. A viagem foi um tormento. Astor vomitou por todo o caminho e Teka tinha que se equilibrar entre cuidar de Astor e segurar as cinzas de Dona Fênix. No barquinho que levava à Ilha, Teka pensava, refletia, pensava de novo e não conseguia entender porque não havia escolhido o Guarujá, muito mais fácil para despachar as cinzas da sogra. Mas já estavam lá.

Foram recebidos por um local que os conduziria ao camping. Era uma enorme ladeira, um morro que parecia não ter fim. Teka xingava muito Dona Fênix nesse trajeto e perguntava a ela, olhando firme para a urna porque havia mimado tanto seu filho... Tudo bem que ele estava carregando a mochila nas costas, mas porque ela tinha que ficar carregando aquela urna!

Mas Egberto estava doido de felicidade. Ia andando na frente, saltitante, conversando com o cicerone. E foi então que contou ao homem que jogaria as cinzas da sua mãe na ilha. O homem parou, no meio da subida e olhou estatelado. Ficou inconformado, disse que era mau agouro, porque a ilha tinha sido presídio e muita gente sofreu naquele lugar. Que não ia fazer bem pra alma da falecida deixá-la por ali.

Egberto ficou pensativo e cabisbaixo. Perguntou a Teka se tinha certeza que era Ilha Grande que ela ouviu no sonho.

- Amor, eu te disse, não tenho certeza. Mas você disse que a sua mãe gostava daqui...Acho que ela não iria se importar....
- Não, não, não, Dona – interrompeu o cicerone – Se vocês colocam ela aqui, coisa boa não vai dar.
- Meu senhor, entendo sua preocupação, mas sinceramente não vejo problema... – disse Teka.
- Mas e se ele estiver certo? E se a alma da minha mãe ficar perturbada, vagando por aí? Vamos embora.
- Mas querido, não podemos ficar por aqui, passamos o final de semana e vamos levar as cinzas pra outro lugar numa outra oportunidade? Eu queria tanto conhecer a Ilha...
- Nós não viemos a passeio, Teka – respondeu Egberto em tom heróico. Vamos voltar agora.
- Então agora você leva essa merda dessa urna porque a mãe é sua!
- Não fale assim da minha mãe!
- Não estou falando dela! Estou falando desse troço enorme e desconfortável...e cafona....e... essa porcaria dessa urna que você comprou! Se não quer deixar as cinzas nessa merda dessa ilha, pelo menos trate de carregar...
- Vocês estão vendo? Isso é sinal de energias negativas.... – disse o cicerone.
- E o senhor faça o favor de não se intrometer além do que já se meteu! Isso é assunto de família.

E lá foram eles, descendo o morro. Desanimados, desconsolados. E como desgraça pouca é bobagem, começou a chover. Um baita toró. E aquele lindo morro, sem nem uma cabana para refúgio, se tornou um desfiladeiro escorregadio e lamacento. E foi assim o primeiro vôo da Fênix: Egberto tropeçou em Astor, caiu de bunda na lama e a urna voou com a tampa aberta, espalhando cinza por toda a ilha. Era um espetáculo bonito de se ver, aquela cinza toda se misturando com a água da chuva. E tinha raios de Sol, tinha até arco-íris. E então Egberto percebeu que Teka tinha razão. Dona Fênix realmente queria ficar ali. Era um “sinal”. Egberto ficou emocionado, abraçou Teka, apertou forte as suas mãos. Ficaram tão emocionados que esqueceram de Astor. Foi quando o cicerone, ao retomar a caminhada, percebeu a tragédia:

- Minha Nossa Senhora! O cachorro ta comendo as cinzas!

Egberto levantou correndo e foi ver a traquinagem. Dona Fênix agora era realmente um ser mitológico, metade vento, metade cachorro! Astor lambeu com muito gosto todo o resto das cinzas que havia na urna, porque a mistura com a água da chuva dava um aspecto de ração.

- E agora? O que vamos fazer? Será que vamos ter que ficar aqui até ele....até minha mãe sair de dentro dele? – perguntou Egberto, atônito.

E Teka não pensava em outra coisa senão uma boa desculpa para saírem de lá o quanto antes e botar fim nessa doideira. Foi então que encheu o peito de ar e de coragem e disse:

- Meu amor, vê como sua mãe nos deus os sinais corretos? Viemos até aqui, por indicação do meu sonho e quando decidimos ir embora, choveu e as cinzas caíram e a água da chuva vai levar sua mãe até o mar. Talvez o fato do Astor ter comido as cinzas tenha uma razão....
- E que diabos de razão é essa?
- Talvez ela queira que levemos um pedacinho dela conosco...Faz sentido pra você? E como ela quis ficar por aqui mesmo, aproveitamos e enterramos a urna perto do mar....
- É talvez você tenha razão...

E assim terminou a saga de Dona Fênix, livre agora, onde antes havia sido um presídio. Mas, como toda sogra que se preze, conseguiu dar um jeitinho de ficar perto do filhinho. Mesmo que seja dentro do bucho do cachorro!

Sunday, August 19, 2007

A ENRUSTIDA FÁBRICA DE CHOCOLATE



A ENRUSTIDA FÁBRICA DE CHOCOLATE

( Com devidos agradecimentos e reconhecimentos inspiratórios à minha partner, Dra Dezinha)

Era uma vez um filme maravilhoso que inspirou zilhões de crianças nascidas após 1971: “A fantástica fábrica de chocolate” (Willy Wonka and the Chocolate Factory). Perdi a conta de quantas Sessões da Tarde, principalmente no Dia das Crianças esperei ansioso para assistir esse filme que me transportava para o maravilhoso mundo da fantasia e, é claro, da abundância do chocolate.

Acho que fazia mais de vinte anos quando assisti pela última vez este filme. Não que não sentisse falta, mas o tempo vai passando e as pressões do mundo adulto vão chovendo sobre nós e acaba que esquecemos de nutrir essa criança que não more nunca, fica apenas escondida dentro de nós.

Creio que estamos numa fase de ausência de genialidade. Os gênios não existem mais ou, se existem, estão escondidos com vergonha das bobagens do mundo. Nos filmes, nas novelas, nos teatros, na moda... não vejo ninguém mais criar nada e tudo que aparece é uma reedição, uma reinvenção, uma cópia genial que surgiu no passado.

Especificamente fiquei espantado com três grandes “reinvenções” recentes: há alguns anos atrás assisti um filme italiano belíssimo, chamado “O último beijo”. Fiquei surpreso e desapontado que nesse ano ele foi convertido em comediazinha romântica americana, com o nome “Last kiss” e com o roubo de toda a poesia que embalava o original italiano.

Outro dia estava vendo um lançamento (uau!!!): “O primo Basílio” no cinema... Que merda! Uma modernização precária do romance e Eça de Queirós que já contava com uma brilhante produção em forma de minissérie em 1988 pela Rede Globo. Sem querer ater-me aos detalhes, imagine trocar o brilhantismo de Marília Pêra pelo “jargonismo televisivo” de Glória Pires...

E o pior... Em 2005, a Warner refilmou “A Fantástica fábrica de chocolate”, substituindo Gene Wilder por Johnny Deep no papel de Willy Wonka. Nada contra Johnny Deep, mas, ao assistir o filme, não tive nada além de uma enorme decepção pela deterioração da história original.

No primeiro filme, o Willy de Wilder era um sonhador, um idealista que tinha a esperança que aquelas crianças escolhidas tivessem pureza em suas almas. A viagem pela fábrica de chocolate era uma forma de despertar essa pureza que se encontrava adormecida em muitas delas.

O Willy de Deep é um ser bizarro em crise de identidade. Cheio de afetações e caprichos, denota um sadismo a cada evento, cujos “flashbacks” da sua tórrida infância não amenizam sua frieza e não fizeram com que empatizasse com sua personalidade frágil e instável.

Além da deturpação do personagem, porque os “Willys” dos filmes são cabalmente díspares, fazendo com que configurem histórias completamente diferentes, o Willy de Deep fez lembrar um ícone tão bizarro e doente quanto ele, mas que existe na vida real: pensem nisso!

Pensem na estética bizarra, na palidez mortuária, nas torturas alegadas da infância....

Pensem no modo de viver, isolado numa fábrica de chocolate, que mais lembra um.... parque de diversões...

E agora reflitam nessa relação sádica com as crianças...

Quem, macacos me mordam, pode ser tão bizarramente semelhante ao personagem Willy Wonka!

Ladies and Gentlemen: Sir Michael Jackson!!!!

Será que Tim Burton pensou nisso ao fazer o filme? Por que como é que poderíamos fazer um filme falando de toda a imbecilidade decadente de Mr. Jackson antes de sua esperada morte sem usar metáforas, como o Mr. Jefferson de South Park? (“The Jeffersons”, Episódio 117). Ou será que ele não pensou nisso?

Sunday, August 12, 2007

FELIZ DIA… DOS ÓRFÃOS



Hoje, todos sabem, é dia dos pais. Não há como não saber. Há trinta e três anos ouço, ano após ano, falar sobre o dia dos pais. Lembro-me dos trabalhos de escola: gravatas de cartolina, porta-meias de cartolina, cinzeiros de gesso pintados na aula de artes. Almoços de domingo. Shopping centers lotados. Lembro do abraço apertado do meu avô quando recebia meus mal-cortados artesanatos de primário.

Os almoços já terminaram e amanhã muitos papais vão estrear roupas novas, camisas, gravatas e relógios. Pode ser que alguns deles estejam já vestindo seus pijamas e chinelos de dormir.

Agora cai a noite de domingo. No pseudo-inverno desse país de mentiras, o frio e o silêncio mortuários que anunciam o crepúsculo de mais um final-de-semana tornam-me mais reflexivo.

Parei para pensar nos órfãos do mundo. Quantas pessoas nesse mundo que perderam, ou nunca tiveram, ou transitoriamente estão longe de seus pais nesse dia dos pais? Quantas pessoas se sentem menos, menores, piores porque não têm o que comemorar nesse dia? E os órfãos de alma, cujos pais estão presentes, sentados na ponta da mesa, mas cujo amor está ausente?

Saí pelo mundo virtual, montado em meu foguete (Sim, o Google®...), indignado ao pensar que não existia o “Dia do Órfão”... Mas...sim, ele existe! Fiquei contente em saber que existe uma dia dedicado aos órfãos... Vários portais falando semi-frases... e em todas elas o número vinte e quatro. Pensei: vinte e quatro de que mês? E foi então que meu foguete caiu. Com o bico no chão.

Vocês têm idéia do mês que esse tal dia vinte e quatro está alocado? Dezembro. Vinte e quatro de dezembro. Um dia para não ser lembrado. E mantenho meu pensamento que o mundo não quer saber de seus órfãos, porque colocar o dia do órfão na véspera de Natal é realmente uma concorrência desleal. Em primeiro lugar porque Cristo, além de não ser órfão, tinha dois pais e, em segundo, quem é que vai parar para pensar num órfão num dia tão atribulado? Compras, comidas, roupas, embrulhar os últimos presentes, presentes de última hora, trocar a lâmpada da árvore de Natal, “bobs” nos cabelos, escova progressiva, falar mal da Tia Fulana, criticar a mesquinhez da cunhada... No meio disso tudo, como é possível lembrar de um órfão?

É claro, devem existir exceções. Há pessoas que visitam orfanatos e asilos, que fazem festas de Natal para eles, com presentes e boa comida. Mas creio que na resumida proporção de pessoas que se ocupam dessas tarefas humanitárias, deve haver uma proporção ainda menor de pessoas que desejem se dedicar aos órfãos exatamente no dia a eles dedicado. Porque simplesmente as pessoas têm mais o que fazer!!!

Mas se você não é órfão, mas já sentiu a orfandade invadir seu coração um dia; se você já se sentiu só, mesmo que por alguns minutos e se você já teve a certeza de ter sido abandonado algum dia; não se deixe invadir pelo egoísmo em querer ser filho o tempo todo, porque no fundo, somos todos órfãos de um pai que fez o nosso mundo, que nos fez e que não tivemos a chance de encontrar de verdade.

NÃO COMPREENDO E TENHO RAIVA DE QUEM COMPREENDE

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispector)

Hoje, enquanto procurava palavras para expressar as loucuras do mundo, saí catando trechos de coisas escritas por musas das palavras: Clarice, Virgínia, Adélia, Cecília... Musas de quem sou anônimo e desconhecido amigo. Ziguezagueando pela internet, rapidamente encontrei esse tesouro de Clarice, que caiu como uma luva sobre o que eu queria dizer: como é bom não entender as coisas às vezes. Mais vou mais além! Como é bom não entender nada às vezes. Não aquele meio-entender, de perceber as coisas no ar; não aquela coisa doida de sentir a atmosfera dos acontecimentos e a nuvem dos segredos... Quero mais...quero esse elixir do não-saber que nos arrebata ao mundo dos ignorantes e nos faz não perceber nada!

Amados Hypnos, Morpheus, Tânatos...misturem seus xaropes mágicos, concedendo uma alegria que as fluoxetinas, as sertralinas e os diazepans não podem dar: quero essa ignorância aniquiladora, quero a inconsciência em biscoitos...o pronto analgésico para a dor da consciência... não é a dor de ter feito algo errado,da culpa, do arrependimento... Nesse momento sinto a dor por saber das coisas... por compreende-las e na maioria das vezes, não ser capaz de mudar nada.

Pronto! Decidi! Não quero apenas não saber...quero poder não ouvir e não ver, quero ser surdo-mudo para as coisas do mundo! Não quero ver a pobreza das ruas e dos espíritos, não quero sentir o cheiro da sujeira nos becos e nos becos d’alma. Será por esse motivo que as pessoas escolhem a morte como caminho? Eu não quero a morte, mas quero ser um vegetal part-time. Um brócolis, um repolho, uma abobrinha. Sem ação, sem reação et rien plus!

Sou feliz por ter conquistado certas coisas e ao mesmo tempo infeliz por não ter me livrado de outras...Deus, como é difícil esse mundo !!!!