AMOR INCONDICIONAL, SÓ DEUS E OLHE LÁ!

Tinha um professor de física no colegial que se chamava Isaac. Embora detestasse Física, conseguia “engolir” a física que ele ensinava, porque vinha com trilha sonora. Sim, ele cantava... e muito melhor do que ensinava Física. Lembrei-me dele porque foi da boca dele que ouvi, pela primeira vez, falar de amor incondicional.
Um dia ele disse que nos amava. Todos os alunos ficaram espantados e ele disse que existiam três formas de amor: o Phileos, que consistia no amor entre amigos, irmãos; o Eros, ou o amor carnal e o Ágape, ou amor incondicional. Eu não lembro qual era o amor que ele declarou sentir, mas acho que foi esse último. Como havia esquecido a palavra usada para o amor incondicional, fui ao Google® para reavivar minha memória e achei mais um tipo, chamado Storge, que significa amor entre familiares.
E por que é que decidi falar de amor incondicional? É porque não acredito que exista, exceto se for vindo de Deus. Faz tempo que penso e acredito nisso, mas resolvi escrever porque acho que tem um monte de gente que necessita saber disso. Simplesmente porque as culturas hipócritas ensinam, por exemplo, que todas as mães amam incondicionalmente seus filhos, todos eles, em iguais proporções e, dessa asneira universal derivam jargões tolos, como “coração de mãe”.
Aliás, o cantor e compositor Vicente Celestino compôs uma música chamada “Coração Materno”, que exemplifica a “potência” desse suposto amor incondicional:
“Disse um campônio à sua amada:
"Minha idolatrada, diga o que quer
Por ti vou matar, vou roubar,
Embora tristezas me causes mulher
Provar quero eu que te quero,
venero teus olhos, teu corpo, e teu ser
Mas diga, tua ordem espero,
por ti não importa matar ou morrer"
E ela disse ao campônio, a brincar:
"Se é verdade tua louca paixão
Parte já e pra mim vá buscar
de tua mãe inteiro o coração"
E a correr o campônio partiu,
como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou,
a chorar na estrada tombou
Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sangrando
da velha mãezinha o pobre coração
E volta à correr proclamando:
"Vitória, vitória, tens minha paixão"
Mas em meio da estrada caiu,
e na queda uma perna partiu
E à distância saltou-lhe da mão
sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou:
"Magoou-se, pobre filho meu?
Vem buscar-me filho, aqui estou,
vem buscar-me que ainda sou teu!"
Realmente é um belo exemplo de uma inexplicável resiliência e resignação dessa mãe, cujo coração é roubado pelo próprio filho e, ainda assim, coloca-se à disposição para a realização do desejo dele. Eros vence Ágape. A história é bonita, a música maravilhosa. Mas a realidade costuma ser bem outra. É mais comum que as mães “arranquem o coração sangrando, com as próprias mãos, para mostrar aos filhos o quanto estão sofrendo por terem sido abandonadas, trocadas por sirigaitas”. “Ágape” geralmente vence Eros. Creio que o termo “amor incondicional” foi interpretado erroneamente. Ele se traduz pela obrigação incondicional, inquestionável, indiscutível de amarmos os “superiores”, sejam Deus, mães ou mães, exatamente como reza a Bíblia Sagrada: “Amai a Deus sobre todas as coisas”.
Mas na sociedade, a interpretação é bem inversa. Dizem que as mães, de fato, amam incondicionalmente. Até lembrei do seriado “Família Dinossauro”, que era exibido nos “familiais” domingos pela Rede Globo. Aparentemente ingênuo, revelava as hipocrisias cotidianas através dos conflitos de uma família de Dinossauros humanóides.
Baby, o “raspinha de tacho” da família, perguntava para sua mãe:
“Você me ama?”
E ela respondia:
“Estou tentando”
E ele, nervosamente, retrucava:
“Você TEM que me amar!”
Acho que a paixão pode ser incondicional. Justamente por ser cega, carregada de ímpeto, energia, impulso, descontrole, desmedidas; ela sim, é incondicional. Quando nos apaixonamos por alguém, por um lugar, por uma coisa, por uma idéia, somos de tal modo sequestrados e enfeitiçados por esse objeto de desejo que realmente amamos incondicionalmente. Tal e qual Sonrisal®, cessa a “espuma”, a efervescência desaparece e com ela, a incondicionalidade.
É claro que posso estar errado. Outro dia disse a um amigo, do qual sou fiel conselheiro, que tinha o direito de errar “de vez em quando”. Disse a ele: “se eu fosse perfeito, seria Deus, e não apenas filho dele”. Disse isso quando expressei minha opinião a ele, dizendo que ele não estava verdadeiramente apaixonado pela tal pessoa, simplesmente porque via defeitos nela. A paixão é incapaz de enxergar defeitos.
Será que quando amamos alguém e ao mesmo tempo somos capazes de enxergar e tolerar seus erros, defeitos ou deficiências, estamos amando incondicionalmente? Não sei ao certo. Para mim, por mais que possamos aceitar as limitações do outro, DEVEMOS ter consciência de alguns limites, já que é impossível tolerar tudo. E isso já configura uma CONDIÇÃO. E havendo condições, não existe incondicionalidade.
É claro que existem mães que amam incondicionalmente seus filhos. Mas não todas. É claro que existem amantes que amam incondicionalmente seus cônjuges. Mas não todos e nem por todo o tempo.
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