Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Monday, June 07, 2010

VOLTANDO DE PARIS: O BRASIL COMEÇA NO TERMINAL 1


Cheguei a Paris na quinta-feira pela manhã. Estava precisando recarregar meu “parisismo”, sentir o cheiro da cidade, desabafar meu francês encalacrado pelo português e pelo inglês, reativar meu GPS interno das ruas de Paris. E fiz tudo isso.

Alguém me disse “Seja feliz em Paris” quando eu vim para cá da primeira vez. Não lembro quem foi, mas essa frase mora em minha mente. Sou feliz todas as vezes que vou a Paris. É como se vivenciasse o fenômeno “nirvanático” de encontrar com suas origens mais primevas. Sou um francês de coração que caiu no buraco errado do céu na hora do nascimento. Talvez Deus ou os querubins tenham me mandado de propósito para que eu cumprisse missões e encontrasse pessoas que amo; mas podia me dar pelo menos uma dupla nacionalidade.

Recarregado de Paris, o nível de “parisismo” começa a diminuir nos primeiros minutos saindo do apartamento de táxi. Gare du Nord, Porte de La Chapelle, miséria, sujeira, um monte de imigrantes indianos e africanos se movimentando de um lado a outro, como formigas. A pobreza de Paris aparece. A sujeira das ruas. O descuido dos prédios. Mas dessa parte eu fui poupado, porque, já tendo visto na chegada, fiz questão de dormir no percurso de volta...

Chegando no aeroporto, Brasil total. O temido Terminal 1, que é o mais antigo de todos. Particularmente acho bonito. Confuso, mas bonito. É redondo, cheio de escadas rolantes e esteiras rolantes gigantes que levam de um lugar a outro. Construído na década de sessenta, guarda um estilo “espacial” próprio da época que lembra até os rebuscados caracóis niemayerianos. O problema não são as esterias, os caracóis, as escadas rolantes. O problema é o recheio. Nele ficam todas as companhias do terceiro, quarto, quinto e sexto mundos: todas as periferias de todas as nações pouco, muito ou muitíssimo atrasadas se encontram ali.

Nem precisava tanto: basta uma fila de um companhia brasileira para estragar todo o glamour parisiense. As putas excessivamente perfumadas voltando para o Brasil com o marido francês a tiracolo para visitar os parentes do sertão; as travecas murchas, como flores sedentas, indo visitar as mães velhinhas; os excursionistas com suas torres de pelúcia; os jogadores de futebol com seus contratos vencidos.... E no meio disso, algumas fashionistas pobres, pingados de primeira classe com suas Louis Vuitton, princesas de classe média com seus colares de pérolas e blusas azul-marinho listradas... (Alguém pode me dizer por que as pessoas usam salto alto, colares de pérolas, terno e gravata para voar de classe econômica?)

Não sei quais os turistas que os franceses odeiam mais. Nem eu sei quais os que eu odeio mais, mas sei dos três que estão no páreo: japoneses, americanos e brasileiros. Eu explico: os japoneses têm aquela incontinência fotográfica e filmográfica nos museus e aquele furor “comprandis” nas lojas de grife; os americanos são enormes, destoam da arquitetura parisiense, falam alto, comem de boca aberta e se vestem mal. Agora os brasileiros.. ah, os brasileiros...um vexame: saem dos restaurantes sem dar gorjeta, cortam filas, gritam quando reconhecem outros brasileiros. E o pior de tudo é ter que voltar com eles. Umas brasileiras passaram por debaixo da corda em frente ao setor de segurança do aeroporto. Ficaram ofendidas quando o funcionário mandou que elas voltassem: “Nós fizemos isso porque não tinha ninguém na fila”, disse em português, como se eles entendessem. E nem era bregúncia. Estava vestindo o “kit basique doublé classe”, com salto alto, saia azul-marinho, blusa listrada bege e azul-marinho e colar de pérolas. Uma velhinha (essa era bregúncia!) foi parada no raio-x trazendo um monte de líquidos dentro de uma sacola aberta do Duty Free brasileiro, achando que poderia engabelar a segurança. A atendente perguntou se ela falava francês ou inglês e ela disse, no francileiro básico: “Quem parla portuguê? Preciso de uma persone que parla portuguê! Não vou ficar sem minhas chôses!”

Sim, eu estou azedo. Mas é só a casca. Azedume de fim de lua-de-mel, de fim de férias. Uma petite putaine berrou na fila do check in: “Sê lá fan de lá gluárrrrrr!”. Sim é o fim da glória. Estou aqui, esperando o embarque, num cantinho escondido, longe de todos eles. Torcendo para ganhar upgrade para primeira classe, colocar pijama, tomar champagne, comer Godiva... Sei lá, um jeito mais suave de encarar o “fan de lá gluár”. Setú. Fini.

1 Comments:

Anonymous Rafael Cury said...

Rapaz, olha so', eu tambem sou francês, ou melhor, tenho um pedaço de papel que diz isso.
O turista mais detestado talvez seja aquele que tira o parisiense do serio: no caso, sao os americanos. Os americanos em Paris nao tem nada de Fred Astaire... Eles tem que vir porque Paris e' a terra da Torre, do Arco, da Joconda e do barco mosca. Gastam uma dinheirama em um monte de bobagens.
Agora os parisienses morrem de inveja dos americanos: os americanos tomam iniciativa e tem coragem de quebrar a cara numa viagem turistica. Tudo isso mascando chiclete.

11:38 PM PDT  

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