Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, September 19, 2010

A PRIMEIRA E ÚLTIMA CEIA


Eu e meus fiéis amigos temos circulado por lugares e cenas bizarros. Coisas estranhas e surpreendentes acontecem quando estamos juntos. Parece que fantasmas e monstros aparecem por detrás de cenas inesperadas.

Certa vez fomos convidados para uma festa que prometia ser grande. Muita gente, muitos convidados. Engodo. Nós éramos praticamente os únicos convidados e, grande mesmo, era o bolo que o dono da festa havia encomendado. Seis enormes quilos de bolo. Ninguém viu o bolo. Talvez ele fosse trazido por algum convidado que não havia chegado até o momento do final da festa. Saindo da (sucks!) Party, alguém dentre nós sugeriu que não precisava de um bolo tão grande. Bastava um Bolo Pullmann. Porque, além de tudo, já vinha com a faquinha!

Outro dia fomos convidados para uma recepção. Madame-Je-ne-sais-quoi abriu as portas de sua mansão em um bairro pseudo-nobre da capital. Nesse bairro, um conglomerado de Nouveaux Riches disputa vagas na rua para estacionar suas Blasers, Pathfinders, Ecosports. Porque nesse mega-ultra-super bairro, as numerosas famílias ocupam mais do que suas singelas cinco vagas de garagem. É um verdadeiro gueto de novos ricos. Outro dia passava por lá e visualizei um imenso e ridículo condomínio de casas, cercado por torres de eletricidade e prédios. Detesto condomínios de casas. Considero-os a expressão máxima do mau gosto ostentativo.

Chegando na casa da tal madame, havia um clima estranho. Faz tempo que não vou a lugares onde me sinto tão pouco à vontade. Mesmo tendo sido a primeira, com certeza foi a última. Mas alguém definiu bem. A Última Ceia: só tinha água, pão e vinho (Ah! tinha algumas lascas de queijo…). Não que minha expectativa principal ao ir à casa de alguém seja comer. Mas é algo previsível esperar que haja algo para comer num “evento” de final de semana. Mas não foi só isso. É realmente muito difícil sentir-se oprimido num ambiente onde tudo parece estar medido e que você está fazendo tudo errado. “Fulano, cuidado com o meu tapete que acabou de ser lavado”. “Nossa, já acabou outra garrafa de vinho?”.

Mas esse não foi o pior. As horas passavam e as almas inocentes e famintas que compunham nosso pequeno grupo foram chegando e entendendo o que se passava. Uma versão nouveau riche da Biafra. Fome, fome, fome. Todos bêbados, comendo pão italiano murcho. De repente uma amiga petisca uma tigelinha em cima da pia. “Hum, isso é gostoso”. E, ciumento, o gato da anfitriã pula em cima da pia, para defender sua refeição. Minha amiga se deu conta que se deliciava com Friskies. Julguei que estávamos passando dos limites. Até porque a fome continuava e o pão estava acabando. Propus uma pizza. Todos concordaram, exceto a espantada anfitriã. “Mas vocês estão com fome? Querem que eu prepare algo na cozinha?” Falta de sensibilidade.

Acho que os gatos dela também estavam famintos. O outro escalou a mesa da sala, tentando lamber o queijo. Dei um berro descontrolado tentando defender o que restava do nosso alimento. Fui duramente repreendido, por traumatizar o bichano. Fazendo-o ou não, consegui impedir que ele lambesse o queijo.

A pizza chegou, todos, inclusive a anfitriã se deliciaram com a minha idéia. Foi então que ela pediu desculpas. Não pensava que viríamos com fome e aquela reunião era para ser um “esquenta”, como chamam os mauricinhos e patricinhas a beberrança “pré-balada”. Todos se supreenderam com essa história, porque ninguém havia mencionado a intenção de ir a qualquer outro lugar.

Fui embora misturando sono e indignação. Umas amigas ficaram para auxiliar a anfitriã em seu mal-estar que não se pôde definir como “bota-fora” ou carraspana. De súbito, ela dormiu no sofá por algum tempo, sob o tenso olhar das visitantes. Passados alguns quinze minutos, ela se levantou como um zumbi e se dirigiu ao seu quarto. Dormiu, feito princesa coberta com seu deuvet de penas de ganso em sua cama de bastidores. E os últimos convidados foram embora, deixando uma fatia de tomate para os gatos em cima da mesa.

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