A ASCENSÃO DOS PODRES PODERES
Não costumo assistir televisão, salvo alguns filmes franceses e seriados americanos. Mas passei essa semana inteira assistindo o Jornal da Record para tentar assistir a uma entrevista minha. Fiz propaganda para os amigos, que sempre reclamam por eu não avisar quando dou entrevistas, me empenhei para chegar cedo em casa para conseguir assistir. Não passou. Consultei meu Googoráculo: nada. Restou apenas assistir às impagáveis entrevistas do referido jornal.
Acabei vendo de tudo: histórias comoventes de pais batalhadores ou sofredores ou perdedores na semana do Dia dos Pais; experiências gastronômicas de uma repórter coreana e por aí vai. Pelo menos descobri que Singapura é um país e não uma cidade da China! (Como pode? Quem mandou eu cabular todas as aulas de Geografia!). A repórter, TÃO INTELIGENTE, provou sopa de crocodilo, caldo de tartaruga, pudim de grama e ficou com nojo de tomar sopa de rã.... Me poupe!
Mas o mais legal de tudo nesse telejornal foi o que aprendi sobre o xixi. Isso mesmo. Urina. Mijo. XIXI. Segundo a reportagem, o xixi é o principal vilão da corrosão dos viadutos de Salvador. Pela falta de banheiros nas vias públicas da terra de ACM, os viadutos são vítimas de “ataques mijísticos” altamente corrosivos. A reportagem mostrava, inclusive, um viaduto com sua coluna corroída em mais de cinqüenta por cento, tudo por causa do xixi. Mais legal era a repórter falando “xixi”, com a maior propriedade!
E o problema não para por aí. Segundo um laudo técnico sobre o desabamento do Estádio da Fonte Nova em Salvador, o principal causador do acidente que matou oito pessoas foi o xixi. Sim, ele de novo. De acordo com o engenheiro que se atreveu a falar na reportagem, o laudo apontou que os subsequentes xixis nos cantos do estádio redondo foram os responsáveis pelo desabamento.
Fiquei muito intrigado. Eu sempre pensei que os viadutos e estádios, entre outras obras públicas, desabassem pela falta de qualidade nos materiais utilizados, pelo porco planejamento das obras superfaturadas que consomem dinheiro público a rodo, pela pressa eleitoreira em construir pontes e avenidas; nunca em minha vida pude imaginar que o xixi tivesse esse poder.
Como já disse várias vezes, eu amo a Bahia e principalmente Salvador. Acho que a Bahia tem um dom, uma força e talvez o xixi baiano também tenha esse poder. Porque não é qualquer xixi que sai corroendo viadutos e derrubando estádios por aí.
No dia seguinte, mais jornal, mais baboseira. E pasmem: xixi de novo! Dessa vez falando sobre a falta de banheiros públicos na cidade de São Paulo, que leva os transeuntes a despejar seus mijos pelos arredores, incluindo praças e monumentos públicos. Mas xixi paulistano não corrói viadutos. Pelo menos não falaram disso na reportagem. Será é porque somos tão miscigenados? Será que o xixi de nossos imigrantes perde a força quando estão longe da terra natal? Ainda bem que isso não acontece em São Paulo! Imagina se esse poderoso xixi derrubasse o buraco da Marta? O caos reinando sobre o caos!
E de pensar no poder do xixi, minha mente viajou para as libidinosidades...
Pensei naquelas pessoas que curtem “golden shower” (aka “chuva dourada”), onde alguém mija na boca e no corpo de outrem e este (ou esta) até engole... Pensando na força do xixi, acho que é algo parecido com o que Freud chamou de “repasto totêmico”, quando um selvagem usa um dente de sabre em suas peles, toma o sangue do inimigo ou sacrifica animais para captar a energia vital deles... Se o xixi tem força, que possamos toma-la!
Mas os estranhos ou podres poderes não vêm apenas no xixi. Hoje estava conversando com uma amiga que me contou que a Igreja Universal dispõe agora de um novo serviço aos seus fieis: o “Drive-Thru da Oração”! Não quero atacar religiões alheias, até porque o telhado da minha é bem de vidro. Acredito que, mesmo em se falando de religiões, todo mundo tem que acompanhar a evolução. E em tempos de modernidade consumista, nada melhor do que um serviço como esse. Não tem tempo de ir à Igreja, mas preocupado com a sua vida espiritual? Querendo dar uma passadinha no templo do Senhor, mas não achou lugar para estacionar? Passa lá no Drive-thru e Deus responde, rapidinho!
Ainda não visitei esse arauto da avant-garde religiosa. Mas imagino que a gente chega de carro, espera alguns minutos na fila e, de repente, uma “travesti recuperada por Deus” me atende pela caixa acústica ou no balcão e me diz, efusiasticamente:
“Boa noite, eu sou Maggy, quer dizer, Marcos.. Faça seu pedido!”
“Quais são as opções?”
“Você pode pedir o que quiser que Deus irá responder. Mas pode optar pelos combos com os pedidos mais frequentes dos fiéis. Veja no painel: número um, emprego; número dois, fazer o marido parar de beber; número três, arranjar marido e por aí vai.”
“Vou querer o número um então.”
“Ok. Obrigado e boa noite. Você paga... quer dizer... você pode fazer sua doação no próximo box.”
“Nossa, mas hoje eu vim desprevenido...”
“Não se preocupe. Deus aceita débito. Cielo, Maestro, Banco 24 Horas.”
“Vixi. Mas tô sem cartão também .”
“Não há problemas. Apresente seu RG e enviamos boleto bancário. Só não vá passar a data do vencimento, porque além de não conseguir emprego, seu nome vai para o SERASA.”
“Ok,obrigado.”
“Disponha da Universal.”
Como disse, toda religião, inclusive a minha, tem telhado de vidro. É como as “macumbas prontas” que são vendidas em casas de artigos religiosos ou pais-de-santo que cobram fortunas por “trabalhos” que muitas vezes nem fazem. Qualquer que seja a crença, odeio quando é transformada em comércio, vendendo pedaços do céu, terras prometidas, milagres, bênçãos e felicidades. É claro que a fé pode realmente mover montanhas. Se um simples xixi tem o poder de derreter viadutos e estádios, é bem possível que, se alguém vai ao Drive-thru e acredita ser ouvido por Deus em suas preces, é bem capaz que seja atendido.
O que realmente me incomoda é parte “intermediária” das coisas. Um simples xixi não é veneno ou sujeira em si. O grande problema é transformar o xixi num vilão. Do mesmo modo, a fé é tão limpa e legítima quanto o xixi. É o seu mau uso e as intermediações que permeiam seu uso, transformando-a em mercadoria, que a poluem. Acho que o xixi é tão puro e limpo quanto Deus, em sua imanência. E do mesmo jeito que os encanamentos poluem o xixi, é muito comum que as religiões poluam a pureza e a beleza dos feitos de Deus. Resta a dúvida: será que uma prece poluída de religiões e dogmas chega a Deus com menos força?
1 Comments:
Pois e', e' melhor nao menosprezar os efeitos dos fluidos corporais. Vivendo fora tanto tempo, eu acabei quase perdendo o habito de ver TV brasileira. Ate' o dia que eu coloquei um desses cabos magicos com trocentos canais e eis que Deus vem gratuitamente via cabo: a Rede Record Internacional. Ha' um enorme publico, merchandising e grana para fazer com brasileiros no exterior. E' um filão: eles trabalham, ganham em dolar e em euro e, claro, para viver aqui na Europa ou nos EUA tem que ter fé. E o melhor: os impostos - as igrejas não pagam impostos!!!
Post a Comment
<< Home