Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, October 03, 2010

PSICÓLOGAS DE PLANTÃO


Não, eu não quero falar mal das psicólogas; daquelas que tiraram seus diplomas, que pagam direitinho suas anuidades no Conselho Regional de Psicologia. Quero falar da necessidade que as pessoas têm de “TER” uma psicóloga e da imperiosidade que outras possuem de “SER” psicólogas, mesmo sem diploma. Numa época em que “bipolar” virou xingamento, que tristeza virou depressão e Prozac virou alimento, é de se supor que bate-papo virou terapia.

As pessoas não se reúnem mais para desabafar, e sim para fazer catarse. Ninguém dá mais conselho; somos impelidos a interpretar as falas... E “fala”... Isso é fala de psicólogo! Nesses tempos psicologizados, é quase imprescindível que as pessoas tenham seus “psis-portáteis”. Até porque sai muito mais barato e é muito mais prático do que fazer análise, além da conveniência de momentos. Por que eu deveria ir a um consultório de um terapeuta, pagar honorários, cumprir horários, se eu posso ter pseudo-terapia-aqui-agora com quem eu bem entender?

Faz dias que tenho observado as “psis-portáteis” e tentado criar um perfil, um “horóscopo psicológico”, dessas fiéis conselheiras de plantão. Claro, são resultados preliminares, mas acho que já dá pra ter uma noção da rede de serviços com a qual podemos contar e dos perigos que podemos correr.... Não que tomar uma “interpretada” amadora não possa salvar vidas; dependendo da linha que ela segue, dependendo do livro que ela acabou de ler, podemos ouvir coisas que possam nos movimentar para mudanças... Até porque nunca se sabe se uma Pomba-gira, o Caboclo 7 Flechas ou o Bezerra de Menezes estão por perto para acrescentar uma “energia extra” nos conselhos das amadas Psis...

A PSI-TACÍDEA.

Essa é a mais comum das Psis. É aquela amiga que sabe de tudo, que já fez vários tipos de terapias, em linhas variadas, por tempos reduzidos e agora lê Augusto Cury, mas não conta pra ninguém. Fala pelos cotovelos, ela se antepõe naturalmente nas conversas e expressa sua erudição psicológica, “dichavando” seus conceitos e interpretações que vão de Freud a Hitler num flash... Ninguém pede sua opinião, mas ela está sempre pronta a oferecer e vez ou outra faz citações de grandes personalidades do mundo psicológico e filosófico.


A PSI-ALCOÓLICA

Esse tipo de Psi é facilmente encontrada nos bares da cidade, principalmente em fins de noite, nos quais ela não se atracou com ninguém. Cigarro numa mão e destilado na outra, baforeja álcool e interpretações prolixas sobre a vida de quem estiver e até de quem não estiver. Muitas delas nunca fizeram terapia e se utilizam de conceitos-jargão mais que batidos, com pitadas de Zíbia Gasparetto e Dalai Lama. Se passaram dos trinta e cinco, pode ser que se lembrem de alguns conceitos de Marta Suplicy em tempos de TV Mulher; se não forem muito suburbanas, pode ser que assistam Saia Justa na GNT e consigam recuperar duas ou três frases incompletas das entrevistas do Jorge Forbes ou dos resquícios divanescos de Mônica Waldvogel. Essa é a típica psi “Pearls and Pigs” (aka “pérolas aos porcos”), porque ninguém vai ouvir seus conselhos a uma hora dessas e, caso ouça, esquecerá no dia seguinte, respeitando os princípios mais puros da Redução de Danos.

A PSIVA-AGRESSIVA

Cuidado com ela, isso é um perigo! Essa é a mais enigmática e perigosa das Psis, e seria chamada de fofoqueira e venenosa em outros tempos. Geralmente inteligente e maldosa, faz terapia DE FATO porque precisa... precisa aumentar o seu rol de conhecimentos psicológicos para destilar veneno e atirar farpas. Como já tem anos de estrada psicológica, possui um pseudo-domínio mais pleno dos conceitos e consegue proferir vastos exemplos que podem influenciar a tomada de decisões de vários incautos. Geralmente se utiliza de técnicas “projetivas”, colocando opiniões suas nas bocas e atitudes de outros e de técnicas “auto-referentes”, citando exemplos de suas próprias sessões de terapia para induzir a incauta ao erro de se entregar.


A PSI-COLÉRICA

Essa é a mais divertida das Psis. Impulsiva, incontida, indignada, fala o que pensa e o que não pensa, como se fosse decidir as coisas no último minuto. Essa é mais modesta: não fez terapia, não faz citações, não lê livros de auto-ajuda. Ela é apenas ela, com suas opiniões fortes, seus conceitos contundentes. Fica vermelha quando discorda, fica efusiva quando concorda. Não é do mal, mas pode provocar o mal a quem for persuadido a seguir seus conselhos.

A PSI-CODÉLICA

Esteve em Woodstock e parece que não saiu de lá. Usou muito LSD, chá de cogumelo e hoje frequenta as sessões de Santo Daime, ou já está tão frontalizada que nem precisa mais se drogar. Mas, do mesmo jeito que se instalavam bolinhas de pingue-pongue nos pulmões furados dos tuberculosos, parece que ela tem um bolinho de tóxicos dentro da sua cabeça ou vários deles. Prolixa ao extremo, ainda preocupada com a paz mundial e continua votando no PT. Tenta ajudar, mas se perde nos assuntos e nunca lembra da última célebre frase que proferiu.

A PSI-PSI

Diferente das demais, essa é psicóloga formada e, não só não se esquece disso, como faz questão de lembrar o tempo todo o que faz da vida. É um tipo parecido com a psi-tacídea, mas com diploma. Entra invariavelmente nos assuntos da vida dos outros e interpreta. No bar, no restaurante, no metrô, em casa de amigos, ela está sempre pronta a... atrapalhar, ensinando melhores modos de vida, construindo alternativas e, principalmente interpretando “forte”.

A PSI-PSIU

É realmente a melhor de todas as Psis. Pode ter feito algum tempo de terapia, mas não é pré-requisito. Não lê auto-ajuda, não fala de religiões e nem faz citações. Ela é apenas alguém que sabe ouvir e tem muita paciência. É capaz de suportar horas de loucuras enfurecidas e desvarios das amigas "psicadas". E pode, de vez em quando, intervir como uma foice a cortar comportamentos e pensamentos equivocados. É o tipo de Psi que todo mundo precisa e está em extinção; do tipo que antigamente era chamada de "uma ótima amiga e conselheira".

Enfim, deixo a vocês o meu Zodíaco Panteônico de Psis. Como tudo é mítico, elas devem ter algum mito embutido em seus seres, mas ainda não é o momento de revela-los. É chegado apenas o tempo de desvendar o Tabu da Psicologização, no qual cada vez mais e mais nos vemos submersos. Interpretando, sendo interpretados, analisando. Onde estão as conversas francas e despretensiosas dos amigos fiéis? Será que ainda sobrará espaço para as conversas divertidas e que não são carregadas de conceitos poluentes que forjam a compreensão do mundo?

Não sei se quero, tampouco se podemos compreender tudo. Mas quero poder dar risada de quem leva a vida interpretando cada passo de si mesmo e dos outros e não chega a lugar algum.

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