HISTÓRIAS DO MEU PRIMO

Eu devia ter uns dez anos de idade quando meu primo foi morar em casa. Filho de uma irmã de meu pai, sua família passava por dificuldades financeiras e meu pai decidira trazê-lo para São Paulo, como forma de ajudar. Ele era dois anos mais velho que eu, mas seu corpo atarracado, sua baixa estatura e sua ingenuidade campestre faziam-no parecer mais novo.
Várias coisas estranhas e outras tantas desagradáveis aconteceram nesse período em que ele morou conosco. Não vou citá-las pelo risco de expor demais alguém que não teve culpa da criação torpe que recebeu. Mas jamais me esqueci delas.
Há apenas duas histórias que a ética me permite contar. A primeira ocorreu logo com a sua chegada. Ele trazia uma pequena sacola com suas roupas e um cobertor. Acomodou-se em meu quarto, na parte de cima da beliche, enquanto eu dormia embaixo.
Acontece que esse cobertor fedia muito. Era um cheiro de chulé que impregnava todo o ambiente. Minha mãe colocou o cobertor no sol. Lavou o cobertor. Lavou de novo. Nada acontecia: o cheiro se mantinha, impassível.
Não sei se foi a falta de tato ou a vergonha de meu primo que o levaram a tomar uma atitude drástica. Num certo sábado, saímos todos para comer pizza. Quando chegamos em casa, logo ao entrar na sala, vinha um cheiro forte de perfume . O meu perfume na época: Lancaster (arghhh!). Meu primo correu para o quarto e voltou, com ar inocente, dizendo que o frasco havia derramado…onde? Exatamente sobre o cobertor fedido! Como se ninguém tivesse percebido sua intenção. O resultado foi bem pior: chulé com Lancaster, impagável! Foi assim que demos fim a dois grandes desfechos, um bom e outro melhor ainda: o cobertor foi pro lixo e nunca mais usei o tal perfume na vida!
Mas essa não foi a pior. Como meu primo era dois anos mais velho que eu, havia coisas que ele sabia ou fazia e eu não . Masturbar-se por exemplo. Minha família foi sempre muito fechada sobre assuntos ligados a sexo. Eu nem sabia do que se tratava a masturbação. Quando ouvia essa palavra, pensava que era uma doença, algo asqueroso. Mas meu primo já sabia o que era. Todas as noites, a beliche balançava… nhec-nhec… Era ele se masturbando logo que íamos dormir. Ãs vezes ficava tão irritado que dava socos no estrado da cama para que ele parasse. Nunca conversamos sobre isso e, embora não soubesse do que se tratava, havia algo no ar (no ar mesmo, bem acima da minha cabeça!); sabia que era um assunto de meninos e por esse motivo nunca tinha me queixado à minha mãe sobre o fato.
Passados alguns meses, ele se mudou da nossa casa. E pouco tempo após, descobri do que se tratava a masturbação, fazendo, é claro. Daí compreendi o que acontecia com meu primo todas as noites.
Não decidi contar essa história para expor meu primo . Aliás, não o vejo há pelo menos vinte anos. Decidi escrever sobre isso para refletir sobre um assunto verdadeiramente tabu: a masturbação.
Sim, é mesmo um tabu. Os pais não explicam a seus filhos. Os meninos descobrem facilmente, sozinhos ou com a ajuda de colegas . E quando um menino é “pego” se masturbando na sala ou no banheiro acidentalmente destrancado, é reprimido. Mas é mais fácil e mais palatável admitir que um garoto se masturba do que uma menina em nossa sociedade.
Ninguém explica às meninas que elas podem se masturbar. É claro que elas também podem descobrir sozinhas, mas como suas amigas dificilmente falam sobre isso, acabam pensando que são insanas ou doentes por fazerem e abandonam, desistem, esquecem. Tenho uma amiga que foi se masturbar pela primeira vez aos trinta anos. Uma outra foi “masturbada” pelo seu namorado pela primeira vez com trinta, mas se recusava a colocar sua própria mão “lá”e só o fazia através das mãos dele.
O que pode haver de tão errado com a masturbação pra ser visto como algo tão negativo?
E notem, não é só mal-visto quando se é jovem. Os homens têm vergonha de admitir que se masturbam quando adultos, como se a masturbação fosse um sinal de não-evolução da vida sexual.
Quando tinha vinte anos, meu pai resolveu falar a primeira vez sobre sexo comigo. Lembro-me que ele e minha mãe ouviram a entrevista de uma psicóloga na TV, aconselhando os pais a falarem de sexo com seus filhos. Jä era tarde da noite e já era tarde da vida. Lembro de minha mãe falando pra ele que isso era obrigação dele como pai. Então ele foi ao meu quarto e começou a me explicar sobre masturbação, concepção….Um pouco tarde,não? Ele me disse algo interessante: que se a pessoa não transasse e só ficasse se masturbando, o esperma ia acumulando no testículo e se transformava em câncer…Só faltou ele dizer que subiria pra minha cabeça e me deixaria louco…
Vejo a masturbação como algo muito saudável para todas as pessoas. Tanto pela possibilidade de explorar e conhecer o próprio corpo , tanto por poder sentir prazer de uma forma independente, sem a precisa necessidade de uma outra pessoa para proporcioná-lo. Não que eu tenha alguma coisa contra o prazer a dois. Mas há momentos na vida em que esses prazeres não se sobrepõem.
Enfim, punheteiros do mundo, uni-vos!
1 Comments:
Sua historia me fez pensar num colega que se divorciou da mulher depois de varios anos de relação. O pobre rapaz pos uma pedra em pensar em sexo durante quase um ano. Ate' que ele foi ao medico com dores no saco e o medico, um senhor desses com quase 70 anos disse: "olha, voce nao tem problema nenhum. Ve se tenta se masturbar de vez em quando".
O coitado quase morreu de vergonha. Mas nao devia...
Post a Comment
<< Home