Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Saturday, September 25, 2010

NOSSO LAR


Vivemos uma época estranha. Tenho a sensação de que já soaram várias cornetas do apocalipse, mas, do mesmo jeito que a música fala, só que de um jeito invertido, “eles estão surdos”. Uma avalanche de merda se antepõe a nossa existência. Lula no poder, o estandarte do lixo substituindo o luxo, a eclosão das lixeiras do mundo, a catarse da podridão social. Atrás do trio elétrico lulístico, vem um monte de merda legítima: Tiririca, Mulher-melancia, Cameron-69, Cãozinho dos teclados. É a versão brasileira do Thriller, de Michael Jackson. Coisa podre saindo de todas as catacumbas e lixeiras para virarem deputados.

Sim, antes era diferente. Deputados eram sujeitos estudados, que falavam bonito. “Senhor Deputado” era uma coisa chique. Conhecer um deputado era algo honroso; mesmo que ele fosse ladrão, era mais parecido com ladrões de jóias e obras de arte do que os trombadinhas do Anhangabaú. Hoje qualquer um pode ter um amigo deputado. Qualquer jumento pode ter sido colega de escola de um deputado e, mais ainda, você pode já ter puxado cadeia com um deles. Não exatamente porque algum deputado ladrão foi preso roubando os cofres públicos, já que isso quase nunca acontece, mas porque seu colega de cela saiu no ano passado do Cadeião de Pinheiros e se candidatou a deputado. Federal. E ganhou.

A cultura também se representa em sua própria falta. Qualquer um pode ser ator e fazer novelas em grandes emissoras. Se o sonho de classe média era entrar na faculdade há menos de vinte anos, hoje é entrar no Big Brother Brasil ou na “Fazenda”. É claro que não é qualquer idiota que consegue entrar no BBB. É preciso ser um idiota com bons contatos. Já na “Fazenda”....

E as religiões também mimetizam a “desculturação” de um povo já “desculturado”. Somos filhos e devotos leitores de Paulo Coelho. Antes fosse Harry Potter. Paulo Coelho, realmente um grande “mago”, excelente alquimista. Não conseguiu transformar merda em ouro, pois a merda continua merda, mas vende como se fosse água. Mas sua pedra filosofal e sua fonte de vida eterna estão no sobrenome que o leva sem carregar. Temos também a tal da Zíbia & seus Gasparettos (Gostei, parece nome de bandinha pop dos anos oitenta). Sim, temos que reconhecer, seus “hits” popularizaram a cultura espírita no Brasil. Até um retardado lê Zíbia. E mais: qualquer retardado entende. Isso é um pouco diferente de Paulo Coelho: qualquer retardado lê, ninguém entende e finge entender, porque é igual filme Cult – é proibido não entender.

Enquanto se proliferam lixo e mais lixo, a coisa fashion do momento é ser espírita. Dos que lêem Zíbia e não sabem contar até dez. Mas os livros de Zíbia e Paulo Coelho estão com seus dias contados: ninguém vai precisar ler mais nada. Porque agora temos espiritismo no cinema. Do mesmo modo que é proibido falar mal de filmes Cult, no espiritismo é tabu falar do “Grande Chico”, o Chico Xavier. Sim, ouso falar mal dele do mesmo modo que encho a boca para falar que não gostei do Sétimo Selo, do Bergman. Nunca fui com a cara dele. Não sei se devo acreditar que ele foi sempre tão bonzinho e não sei se ele era tão iluminado. Verdade ou não, não me interessa. Ele nunca apareceu pra mim para dizer que eu estava errado. Ninguém fez isso até agora.

E daí tem o filme do Chico, que todo mundo que gosta do Chico adorou. Não ouvi ninguém que não gosta dele dizer que foi ver e não vi ninguém que não é espírita ter gostado. E do mesmo modo, só que de um jeito piorado, aconteceu com o filme “Nosso Lar”, baseado na obra psicografada do “Velho Chico”. Não vi e também não quero ver nenhum dos dois. Só verei se ganhar uma cópia pirata de alguém ou se uma moeda cair no chão e, quando eu me levantar, um camelô simpático me oferecer o filme de graça; daí talvez eu entenda que o Chico quis falar comigo. E se uma pomba-gira aparecer na encruzilhada da Lorena com a Ministro Rocha Azevedo, bebendo Chandon Rosé e fumando Gauloises e me surpreender com uma gargalhada e ordenar que eu leia o livro, eu desdigo tudo isso e conto pra todos vocês.

Mas o fato que mais me incomoda é pensar na possibilidade de que o “Nosso Lar” exista mesmo. Pior ainda é pensar que eu terei que ir pra lá quando desencarnar. Ai que tédio. O que se poderia esperar de um livro escrito na década de quarenta? Para mim, é uma cópia fiel dos romances espaciais e das visitas intergalácticas. Futurismo, viagens espaciais, alienígenas, “caprichadas” com um excesso de calmaria e tédio dos mundos espirituais.

Já existem algumas associações espiritualistas evoluidíssimas se organizando para vender o “vosso lar”. Condomínios chiquérrimos, com paz de espírito, banhos medicinais, cascatas energéticas e cromoterapias a preços de Fasano. Sim, o “vosso lar” pode custar muito caro....

Gosto muito da idéia do “nosso lar” da Mãe Romana do Tocantins, que ficou famosa por construir um templo com esculturas de pedra gigantes e desenhos mitológicos nas paredes, anunciando o final do mundo num ano qualquer e difundindo a informação de que só sobrarão alguns lugares escolhidos na terra e seu sítio é um deles. O bom desse lugar é que tem paz, mas não tem tédio. Tem cantoria, quebração de pedra, enfim, uma louvação barulhenta ao Criador.

Como bom macumbeiro e sarauzista apaixonado por batuques e percussões afins, não consigo conceber a idéia de um lugar silencioso, com gente vestida de branco esvoaçante e falando baixinho. Não há lugar para barulho e cores no Nosso Lar? E o que será que eles comem? Canapés de prana e suco de bênção? Claro, a sobremesa só pode ser nuvem açucarada.

Eu preciso saber ou crer que eu não estarei nesse lugar. Se for mesmo verdade, já fiz acordo com os Orixás de que desejo servir exército israelense das coisas do espírito: quero virar Exu, dando gargalhada na encruzilhada, bebendo caipirinha e fumando charuto bom.

p.s.: Acabei de saber que o filme do Lula vai concorrer ao Oscar. Como é que eles conseguem fazer isso? Ai que vergonha de ser brasileiro e ser governado pelo Sarkolulle e Marrise Bruni.... De uma coisa estou certo: ele não vai entrar no Nosso Lar. Só se ele aceitar abdicar da pinga....

2 Comments:

Anonymous Rafael Cury said...

Eu acho que a epoca na qual vivemos nao e' mais ou menos estranha que antes. Antes do Lula, tivemos Fernando Henrique e antes dele o Collor e os milicos. Esses sim, uma bela merda. Uma bela merda porque muito provavelmente, com eles, a gente nao poderia estar dizendo nem metade das coisas que dizemos hoje. A democracia tem um preço: o de ter que aceitar a vontade da maioria. Mas também tem uma ou outra vantagem: aceitar a vontade da maioria nao significa que a "minoria" nao deve ser escutada.

O lixo do qual Tiririca, Mulher-Melancia e todo resto saem e o mesmo lixo do qual os deputados do passado (ladroes mas com glamour ou entao, roubando mas fazendo) sairam: lixo e' lixo, pouco importa a origem. Nao, antes nao era diferente, era a mesma coisa: o bode ze' foi candidato, o Biro Biro deputado e com os milicos, "Edipo Rei" tinha um autor subversivo. O censor inclusive pediu para falar com o Sr. Sofocles!

Eu nao vou entrar no merito politico do teu discurso - alias, quem sou eu para entrar no merito de qualquer coisa - eu nem vivo no Brasil e as informações que chegam aqui sao deturpadas, ja' que os franceses deturpam tudo para adaptar ao estereotipo que melhor lhes convem. Mas passo, nao e' dos franceses que eu queria falar e nem de politica.

O que eu quero falar e' que besta quadrada era o Chico Xavier.

E eu gosto sim do Bergman mas penso que ele e' responsavel pela completa e total destruicao do cinema sueco. E' como se ele fosse a referencia e que todo mundo e' esteticamente de acordo ou em oposicao a ele. A referencia unica.

Para terminar, dizia Nelson Rodrigues: meu amigo, a unanimidade e' burra!

11:16 PM PDT  
Blogger Unknown said...

Mas eu realmente prefiro ser roubado em silêncio ou com classe... Odeio, odeio, odeio o Lula e sua "maioria" comprada com bolsas-família!

E que alívio ouvir alguém não gostar do Grande Chico! Ufa!

9:07 AM PDT  

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