Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, March 30, 2012

A NECESSÁRIA ALMA FRANCESA.


"Etre Français, c'est avoir envie de vivre ensemble"

(Eric Besson)


Eu estava meio “desalmado” para escrever ultimamente. Então simplesmente tirei férias, respeitando os tempos necessários para a constituição das coisas no mundo das idéias. Melhor do que mentir – principalmente para mim mesmo – e cagar pseudo-composições para atender a anseios de um consumismo voraz. Nesse e em diversos outros pontos, sou mais Adélia do que Coelho (Coelho, que Coelho? Paulo Coelho, oras! Ele não faz parte da Academia Brasileira de Letras? Blargh!).

Mas é chegado o tempo de levantar da tumba e escrever. E a minha voz interior, dublada pelo Carlos Vereza, parafraseou a performance ridícula da atriz Mariana Terra na peça “Nise”:

“Vai, Marcelo, pega o cajado renegado de teu pai.” E saí escrevendo novamente.

Eu não sou cinéfilo. Gosto de cinema, já fui bastante. Já tive uma fase de assistir filmes todos os dias no Espaço Unibanco; mas isso era quando a vida era vazia e não havia motivos para voltar para casa. Tanto é que dormi várias vezes no cinema, sendo acordado pelo lanterninha. E se quiser dormir gostoso mesmo, recomendo o “Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman. Coma na certa.

Hoje em dia reservo as idas ao cinema para atrações muito especiais: fotografias exageradamente lindas, efeitos especiais desconcertantes de tão impressionantes. Recomendaram que eu fosse assistir “Cisne negro” no cinema, por conta dos efeitos especiais. Eu amei o filme; mas poderia ter assistido no sofá da minha casa, comendo chocolate e tomando Coca-Cola pelo canto da boca, com a cabeça atolada no travesseiro, coberto com uma colcha de piquet. Detesto as filas, não suporto gente que fica fazendo “schhhhhhh” quando abro minhas balinhas e odeio ter que ficar mastigando a bolinha de amendoim bem devagar para não fazer “crec”.

Vez ou outra tenho “binges” cinematográficos: assisto três, quatro filmes de uma vez e depois fecho a banca. Se não sou cinéfilo, é de se supor que não costumo assistir a premiação do Oscar. Mas esse ano foi diferente. Almoçando com um conhecido num restaurante em New York, me vi meio sem saída ao ser indagado sobre “onde passaria a noite da premiação” e acabei combinando uma “soirée spéciale” para a noite do Red Carpet. Eu, meu amor (que,diga-se de passagem, não gosta de Oscar), o Oscar Guy, que elogiava cada meia frase do Billy Cristal e uma matraca yankee em forma de vizinha. Cena de horror. Minha mente se dissolveu em dissociações e criou rapidamente um mundo paralelo habitável: passei a comentar compulsivamente no Facebook sobre os artistas que chegavam no Red Carpet. No final das contas, acabou sendo muito divertido; meus amigos do Facebook é que não gostaram muito: “É legal, né? Você se empolgou mesmo. Recebi mais de cento e cinqüenta mensagens suas.”, disse um amigo, com cara de desapontamento. Divertido, mas a função de ser comentarista do Red Carpet, junto com os intermináveis elogios ao Billy Cristal e a ensandecida enxurrada de comentários da vizinha me exauriram. Não sobrou energia para sorver as maravilhas da entrega do Academy Award.

Apesar de tudo, sobraram algumas bytes no HD mental para registrar o maravilhoso sorriso do ator francês Jean Dujardin e notar o estranho fenômeno da premiação de 5 troféus para um filme francês “sobre” Hollywood, inclusive o de melhor ator, e 5 troféus para um filme americano “sobre” a França. O que aconteceu com a França? Ou o que aconteceu com os Estados Unidos e com a Academia?

Não bastasse eu amar a França, particularmente Paris, agora fiquei obcecado pelo Jean Dujardin. Já pensei em fazer uma maratona de filmes dos quais ele participa, passou-me a idéia de colecionar seus filmes. Ele é o par perfeito para a minha amada Juliette Binoche. Mas isso é história para uma outra postagem. O que me intriga de fato é o “afrancesamento” da Academia.

Tratei de assistir “O Artista” e “A Invenção de Hugo Cabret”. Um após o outro. E entendi tudo. Não foram os melhores filmes que assisti na vida, mas gostei muito. Fato curioso é que ambos tratam do mesmo assunto: cinema dentro do cinema e a queda de uma estrela. Seja por não aceitar a chegada do novo, como no caso de George Valentin (Dujardin), seja pela chegada da destruição marcada pela guerra, no caso de Méliès (Kingsley), ambos personagens vivem a ascenção, a queda e o renascimento, trazido pelas mãos de alguém, sempre através do amor. É o amor que faz a esperança reacender, o Sol voltar a brilhar e os personagens encontrarem vida em terrenos tornados áridos.

É a tal “joie de vivre” francesa (subentenda-se parisiense) que impregna as tramas, as telas, que inundou os espectadores, a Academia, a América. É alma francesa necessária, carregada de glória, de rococós dourados e céu furta-cor, torres, pontes e monumentos iluminados, arte, poesia. Tigres Asiáticos ou outros grupos de mega-potências podem dominar o mundo das roupas, da tecnologia e da comida enlatada; mas a felicidade, a liberdade da alma e o cinema, essas coisas eles não poderão reproduzir.

1 Comments:

Anonymous Rafael Ferreira said...

So' para constar, o Jean Dujardin fez tambem muitissima coisa ruim. Comece com Brice de Nice, que voce vai deixar de querer ver a filmografia do sujeito. Ele e' muito bom ator mas depende muito das circustancias.
Como todo mundo....

12:33 AM PDT  

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