Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, March 02, 2012

LUGARES SEGUROS.


Almoçando com amigos hoje, falávamos sobre esportes radicais. Eu, particularmente, falava o quanto não suporto esportes radicais. Ficar pendurado em cordas, submerso, voando, pulando, escorregando, deslizando. Qualquer coisa que não signifique manter os pés bem firmes no chão me causa pânico. Já tentei relaxar, abrir os olhos, fechar os olhos, gritar, balançar os braços. Nada que eu tenha tentado serviu para substituir, amenizar ou transformar a horrível sensação que me invade quando invento de me meter nessas roubadas. Já faz um tempinho que me conformei com o fato de que essas coisas não me servem. Sendo assim, posso filmar, fotografar, admirar e até abdicar dessas empreitadas.

Sinto necessidade de lugares seguros. Sim, deve ser porque sou neurótico de guerra com “lugares inseguros”. Gosto de sair, de viajar, de passear; fico bem confortável em casas alheias, durmo em travesseiros estranhos e não tenho nenhum problema com banheiros, exceto aqueles cuja falta de higiene é indizível. Mas saber onde estou, com quem estou e onde estão as pessoas é coisa fundamental.

Já faz algum tempo, decidi passar um fim de semana na casa de campo de uma amiga. Sozinho. Achei que seria um momento legal para escrever, meditar, pensar na vida. Já havia ficado naquela casa, mas acompanhado. Foi uma das piores experiências da minha vida. Ouvia todos os barulhos da casa, de dentro e de fora dela; pensava a todo instante que um serial killer iria invadir a casa e enfiar uma faca no meu pescoço. Fiquei rezando até o Frontal “bater” e graças a Deus não “acordei” no Nosso Lar, nem roubaram meus rins ou meu computador. Transtorno de estresse pré-traumático.

Em geral não sinto medo de ficar sozinho. Mas estar sozinho num lugar desconhecido pode acordar certos fantasmas. Essa casa já foi um lugar seguro. E provavelmente será novamente, quando eu estiver lá com outras pessoas. Lugares seguros não são ambientes específicos. Lugar seguro é uma função. É uma situação. Que pode ser transitória.

Lugar seguro pode ser um colo, um ombro para se aconchegar das tempestades; uma mão apertando a nossa na aflição; dois dedos protegendo nossos ouvidos dos barulhos das brigas, dos trovões, dos tiroteios; duas mãos escondendo nossa visão das tragédias. Lugar seguro pode ser aquela frase, aquele olhar, aquele silêncio que nos diz tudo e nos apóia.

Aquele nosso cantinho da cama que nos aguarda; o corpo da pessoa amada se esticando contra o nosso quando chegamos; o sorriso, o carinho. Ouvir o quanto somos amados, o quanto somos importantes também. Isso não deve ser confundido com a patológica necessidade de reafirmação. Lugar seguro é como o tempo, o calor. Chega, esquenta; vai embora, esfria. É uma situação. É uma energia.

Acho que quase todo mundo procura por lugares seguros. Uns menos, outros mais. Eu preciso e gosto. Eu, que já mudei de casa mais de vinte vezes. Casas, apartamentos, casa dos outros, cortiços, kits. Eu que passei anos rezando para que meu pai demorasse para chegar em casa ou que não voltasse, ou que subia correndo para meu quarto para fingir que estava dormindo quando ouvia ele tocar a buzina. Por anos, a minha casa não foi um lugar seguro. Hoje é. Gosto de estar em casa. E é na minha casa que me “escondo” dos barulhos da vida, das turbulências, do barulho das pessoas. É na segurança do meu lar que recebo meus amigos, as pessoas que amo, que preparo com amor as comidas que eu tanto gosto para oferecer, para presentear, para acariciar, como forma de agradecer o carinho e o amor que recebo. Porque, como disse a Dorothy, do Mágico de Oz: “Não há lugar como o lar.”

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