Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, October 09, 2009

FESTAS, FESTEIROS, FESTIVOS, FESTÃO... (PARTE II) AGORA NÃO MAIS MERDA!


Minha fin(a)da analista, e acredito que todos os analistas, crêem num sagrado conceito-Deus-pai-todo-poderoso: quando você fala de alguém, está falando de você. Não sei se é sempre verdade, até porque só existem duas verdades verdadeiramente verdadeiras na vida: nascemos em um dia e, num outro, morremos. O resto, como disse o apresentador do Spazzio Silencio no filme Mulholland Drive (aka “Cidade dos Sonhos”), e mais um montão de gente na história da humanidade, é tudo uma ilusão.

Há exatamente um mês (e só me dei conta ao verificar a data hoje) eu estava puto com as festas. Não exatamente com as festas, mas com os festejadores, porque acabavam tornando chatas as festas. Tinha até decidido parar de frequenta-las, junto com a difícil tarefa de parar de expressar opiniões verdadeiras (ácidas, mas verdadeiras).

Freud (ou algum freudólatra) falou, em algum livro ou seminário aí, que podemos ter “insights tardios”, mesmo depois de concluído ou interrompido um processo de análise. E eu bem sei que isso é verdade. Já tive vários. Acho que fazer análise é como usar drogas. Vício. Vício. Vício. Eu estou “limpo” de análise ultimamente, mas não sei quando vou recair. E como todo bom alucinógeno, a psicanálise também proporciona “flashbacks”. E hoje estou tendo uma dessas coisas, ao pensar que, quando falava “mal” das pessoas, não estava exatamente vendo nelas “defeitos” que eram meus, mas estava, creio eu, exteriorizando a minha insatisfação com as coisas do mundo, com as incoerências na vida das pessoas e, é claro, na minha vida.

Hoje eu encontrei o último recibo de pagamento da minha analista. Uma nota preta. Mas hoje eu penso em como valeu cada tostão. Sobretudo pela possibilidade de experimentar esses “long lasting psychoanalytical side effects”. Sim, eu estava insatisfeito. Sim, eu continuo insatisfeito. Sim, vou fazer o possível pra ficar calado sobre meus pensamentos. Esse é o incrível insight. Quando eu era pequeno, era proibido de falar, de expressar minhas opiniões, de vários modos. Com isso, aprendi a desenvolver um contentamento com o segredo (e esse era um real segredo, posto que somente eu sabia). Eu pensava coisas sobre as pessoas e me contentava em esperar o orgástico momento de “descobrir” que eu estava certo sobre aquilo. À medida que cresci, e depois de muita análise, fui me sentindo mais livre, mais senhor dos meus desejos e passei a falar “quase” tudo que pensava, sobre tudo e sobre todos. E hoje descubro que o velho-menino-eu era muito mais sábio. E muito mais feliz. Sim, eu divirto várias pessoas com minhas histórias. Mas também irrito várias delas. Não, não há como voltar atrás. Já arrebentei portões e quebrei vidraças. Destruí telhados. Sim, eu me arrependo, mas, como disse o pai do Oliver em “Sunshine”: “amar é não ter que pedir perdão”. E eu me amo o suficiente pra saber o quanto meu arrependimento já está recheado de “perdonames”.

E então está chegando o meu aniversário. E foi então que decidi fazer as pazes com as festas e com os vários festeiros. Quero fazer um festão. Quero comemorar, não somente mais um ano de vida, mas uma vida inteira. A vida, o viver, o amor, as pessoas que legais que estão ao meu redor. É claro que, como eu continuo sendo eu, continuarei pensando e notando e observando as coisas, as pessoas e os passos delas. Mas evitarei falar sobre o que eu descobrir.

Recentemente um amigo disse que reclamo de barriga cheia. Fiquei bravo com ele. Mas eu tenho que reconhecer que ele estava com a razão. Reclamo mesmo. E acho que faço parte de um imenso grupo de pessoas (aka “A Humanidade”), que nunca está satisfeito, que está sempre devendo, que acha sempre que falta um pedaço. Outro dia li um texto do Viktor Frankl, sobre os males contemporâneos, como a “droga” e a “depressão”. Ele explicava que esses males advinham da falta de sentido da vida atualmente. Somos levados a querer coisas que nem sabemos para que servem. E quando conquistamos, não tem graça. E daí passamos a desejar uma outra coisa ou, como a droga, uma outra “dose”.

Mas eu não quero mais viver desse jeito. E por esse motivo vou me reunir com meus amigos, comemorar, dançar, dar risada, agradecer à possibilidade de estar vivo, saudável, lúcido, realizado. Um brinde à vida!

1 Comments:

Blogger Maria said...

Tim Tim!

7:52 AM PDT  

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