Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Saturday, December 19, 2009

VOLTEI A ACREDITAR EM "PAPAI NIEL"


Meu sobrinho de três anos disse, no dia do seu aniversário: “Meu avô é meu pai”. Engraçado ouvir essa frase tão minha na boca dele. Meu avô foi o primeiro e mais importante pai que tive. Não é justo dizer que foi o único, porque alguns “pais emprestados” cruzaram o meu caminho por todos esses anos, dando carinho, compreensão, abraços, luz. Ainda assim, Armando Adriano Niel, meu avô, é o mais importante de todos. Pelo menos os terrenos.

Ser “tio” e “padrinho” fez brotar em mim um sentimento de paternidade e de responsabilidade sobre a mente, a formação, os caminhos, o futuro desses meninos. Também aqueceu o meu coração e fez olhar o mundo de uma forma mais colorida. Meu mundo não é mais o mundo cinza de outrora, mas as cores ficaram bem mais vivas quando Pedro e Felipe chegaram.

Ontem eu estava na casa de uma grande amiga. Não faz muito tempo que a conheço, mas é daquelas amigas que sabemos que são realmente grandes quando encontramos. Assim foi com algumas outras amigas e amigos que apareceram. Podem ir embora, podem estar longe, mas estão sempre dentro. Fazem parte de mim como meu braço, meus olhos, minha boca. Estávamos cantando e uma pequenina lágrima brotou e rolou ao dizer “Como é grande o meu amor por você” e lembrar que era assim que fazia minha irmã dormir.

E nos últimos dias, uma chuva de amor de abateu sobre mim. Lavou meu coração, limpou minhas mágoas, iluminou os túneis sombrios da minha alma. Não sei se foram as velas que acendi, não sei se foram os girassóis, o ouro ou o perfume. Também não sei se foi o tempo. Mas o fato é que, de poucos dias pra cá, meu coração amoleceu e se adoçou. Talvez Mamãe Oxum tenha finalmente conseguido lavar esse meu coraçãozinho avariado.

Nessas últimas semanas, o Natal também reservou outras surpresas. Sempre ganhei muitos presentes dos meus pacientes, mas nesse dezembro, os presentes mais belos, acompanhados ou não de sacolas e pacotes, foram as declarações de amor que recebi deles. Parei para pensar no quanto os contratempos, as ameaças, os insultos me fragilizam. E daí surgiu a dúvida: quanto mais forte um insulto pode ser que uma palavra carregada de amor? Quanto poder a violência deve ter perante o amor? Perguntando e respondendo a mim mesmo, descobri que não existe nada mais forte, mais poderoso e perene que o amor.

Lavado, limpo, menos impuro, o meu coração não fez apenas amar aqueles que já amo tanto. Sim, fez isso também, mas fez eu parar pra pensar nas pessoas que julgava haver parado de amar e odiado até. Consangüíneos ou não, bastardos ou não, eles fazem parte de mim, são outro braço, pernas, unhas, pêlos de mim, porque fazem parte da história da minha vida. Negar sua existência é me tornar um pouco aleijado. Sempre tive unhas encravadas nos dedões dos pés e sofro com elas até hoje. Nem por isso deixei de cuidar delas. Nem por isso arranquei-as dos meus dedos.

Olhando para os enfeites de Natal que me causavam tantos arrepios e brotoejas, sempre lembro que o Papai Noel nunca foi muito bom comigo. E é imensamente verdade que o gosto pelo Natal e inversamente proporcional aos desgostos no Natal. As brigas, as decepções com os presentes errados, as intrigas, tudo isso transformou o “meu” Papai Noel numa espécie de ladrão que, ao invés de deixar presentes, chegava de saco vazio e levava tudo embora. Inclusive a alegria.

Mas, com esse banho de amor que recebi, resolvi fazer as pazes de vez com o Natal e elejo como símbolo, o melhor Papai Noel de todos: o meu avô, o Papai Niel. E com ele, aceito a árvore, que é símbolo da vida, aceitos os presentes que a vida tem me dado e tentarei enxergar as pedras apenas como pedras e não mais como monstros. Porque são pedras sim, pedras do meu caminho e que, de algum modo, seja como calço ou obstáculo, contribuíram para que eu chegasse ao que sou hoje.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Que lindo, Ma!
Saudades...
Alê

5:40 AM PST  

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