PORTABILIDADE OU PUTABILIDADE? (Ou: Como se manter sempre sorridente no País de Lulalá)

“Fiquem rindo, isso é bom! Suas risadas são tão legais! Fiquem rindo, igual a mim! Eu sou o Bozo o palhaço de todos vocês!” (“1,2,3..Vamos lá”, Tema de Abertura do Programa do Bozo)
Há uma semana fui assaltado. Quase na porta de casa. Levaram meu iphone e trinta reais que tinha no bolso. Muito “bonzinho”, o ladrão não me sequestrou, não me bateu e deixou eu tirar meu “chip”. Eu não consigo entender porque eu pedi pra ele o chip, mas o fato é que ele deixou.
Já fazia quase dois anos que tinha meu iphone. Ganhei de presente de aniversário em 2007, de uma pessoa que amo muito. Além de ser um celular espetacular, era um item muito querido, porque era uma “parte” desse amor que eu carregava comigo. Também tinha a minha “história” dentro dele: emails, fotos, músicas, agenda. Mas nada disso se perdeu. Nem o amor, nem os dados. Santo Back Up!
Cheguei em casa, sobressaltado, com medo, trêmulo. Lá vou eu, “back to basics”: recorro ao meu estoque de celulares, porque antes do iphone eu era um “serial-broker” de celulares. O carinho por ele e a sua resistência física fizeram com que ele sobrevivesse a dois longos e violentos anos.
Peguei um not-so-smart-phone: um HTC que havia pego de bônus da TIM. Passei dias de raiva tentando me relacionar com ele. Botões novos, menu confuso e aquela varetinha encardida pra teclar....Ai, quanta raiva! Tentei comprar um iphone no site da TIM e estava indisponível. Liguei para a central deles, e após longa espera e vários gerundismos, eu pude “estar sendo transferido” para a setor de relacionamento especial, uma espécie de Sala VIP de pessoas que gastam fortunas com contas de celular, como eu. Nessa “sala” fui informado que não havia bônus disponíveis e que não havia iphones para a venda no estoque. O atendente disse que, se eu solicitasse a PORTABILIDADE em outra operadora teria que pagar a multa pela minha INFIDELIDADE (Lógico que ele não disse isso desse jeito).
No mesmo dia fui à loja da operadora CLARO, no Shopping Santa Cruz-Credo. Meus olhos brilharam ao ver a caixinha do iphone, pertinho de mim. Demora, demora, demora, descobri que a demora além da habitual se devia ao fato de que algum FDP comprou linhas telefônicas em meu nome e eu estava bloqueado para compra de novos telefones e que só seria desbloqueado mediante abertura de um protocolo que se resolveria em cinco longos dias e blá,blá,blá.
Não! Eu não suportaria mais cinco dias de HTC! Ontem fui à loja da VIVO, no Shopping Iguatemi. Portabilizei. Comprei. Paguei. Desbloqueei. Fiz SEGURO! Saindo do Shopping, feliz e contente com meu lindo iphone branco, 3GS, 32 GB, recebo ligação da TIM. A atendente declara que recebeu a solicitação de portabilidade e perguntou qual era o motivo de eu querer abandonar a operadora, já que eu era um cliente especial. Disse a ela que eu sabia o quanto eu era especial, porque era eu mesmo que pagava minhas contas enoooooooormes de celular. Especialísismo. Mas que, infelizmente, por uma necessidade absoluta, vital, irascível, de possuir um iphone, não podia mais esperar. Daí ela disse: “os nossos estoques são INSTÁVEIS e naquele momento que eu havia ligado não haviam iphones disponíveis, mas....que nesse exato momento ela estava verificando que havia um modelo 3GS, 32GB, branco, disponível para mim, a CUSTO ZERO, caso eu desistisse da portabilidade.
Disse à “boazinha” que era tarde demais, porque estava, inclusive, falando do meu iphone novíssimo. Ela disse que tinha 48 horas para pensar a respeito. Eu disse novamente que era tarde demais...mas.....uma luz caiu sobre minha pobre mente de escorpião. Disse a ela: “Anota aí: caso vocês queiram me dar DOIS IPHONES A CUSTO ZERO, eu pensaria em cancelar a portabilidade.” Ainda estou aguardando a TIM ligar pra mim de novo. Acredito que eles ligarão. Porque sou um “cliente especial”. Será que sou sortudo? Será que Deus mandou o iphone pra mim? Deus chegou atrasado. Que mágica é essa que faz aparecer iphones da cartola quando eu decido partir e mudar de operadora?
Volto eu a falar sobre a prostituição. Agora sobre a minha própria. A prostituição nossa de cada dia, que nos obriga a trocar de posições o tempo todo, saindo da posição de clientes para nos tornarmos negociadores. Outro dia estava lendo sobre sado-masoquismo (SM). Aprendi pressupostos básicos, como que existem os “Masters” (“TIM”) e os “Slaves” (“EU”). Mas tem aqueles que são “versáteis” no SM e são chamados “SWITCHERS”. Ontem eu resolvi brincar de SWITCHER. Resolvi passar de “cliente” para “negociador”, impondo condições, ditando ordens, chicoteando outros SLAVES, os atendentes masoquistas que sofrem pressões de ambos os lados e são obrigados a agüentar “elogios” provenientes da nossa insatisfação. Falo que "switchei" de cliente para negociodor, porque é quase impossível nos tornarmos Masters. Master é pra "eles". Penso até que essa guerrinha, de negociar e exigir e ameaçar mudar de operadora é autorizada por "eles" para que nos sintamos confiantes e vitoriosos ao conseguirmos o que desejamos: continuar na mesma operadora, com um celular novo e com um novo contrato de fidelidade de 24 meses. É realmente uma vitória? Mas somos nós ou eles os vitoriosos?
E foi por isso que resolvi chamar de “PUTABILIDADE”, o fenômeno estabelecido agora: você pode ir pra onde quiser, desde que pague caro por isso, desde que você migre para um novo Mestre, que oferece “TRICK or TREATS” no começo, pra depois distribuir chicotadas, na forma de tarifas, problemas de conexão, entre outras mazelas...
Sim, somos prostitutos da sociedade de consumo. Somos todos “putáveis”, pagando altos preços pela tal liberdade, pelo direito de ir pra onde quisermos, desde que paguemos, paguemos e paguemos. Cara de palhaço, pinta de palhaço....
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