Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, September 30, 2012

AS DUAS FACES DE HEBE



Sou um amante confesso do Facebook. Nele me comunico, me divirto, me atualizo, descubro coisas. É realmente uma praça viva na rede, um lugar onde as pessoas podem expressar seus gostos, seus pensamentos, suas opiniões. E nessa vivacidade, surgem também as coisas que não gostamos; opiniões que por vezes não compartilhamos. O Facebook deve pressupor uma ética de convívio e boa vizinhança, e devemos, como na vida, respeitar opiniões, delinear as curvas do politicamente correto e fazer vez ou outra uma visitinha às portas da demagogia, regra básica do bom relacionamento.
Uma amiga traduziu-o literalmente como o “Livro de Caras”, remetendo imediatamente à imagem da Revista Caras. Mas com certeza é muito mais que isso, porque a revista Caras é um instrumento forçado de aparição e circulação social onde artistas, socialites ou pretensos, pré ou pós-famosos desejam  veementemente uma aparição que poderá representar uma ascensão nos meios sociais. Como disse uma conhecida que é colunista de Caras, “todo mundo lê caras, mas nem todo mundo assume”.  Eu leio. É a minha leitura quinzenal “obrigatória”  enquanto sofro na cadeira da podóloga. Eu gosto de atualizar as idades dos artistas e observar as emergências:  “Fernando X. (54) com sua manceba Janaína (18) desposando-a em seu desjejum preparado pelo chefe Emanuel (45) no Castelo de Caras em Carapicuíba”.  Lá eu fico sabendo quem casou, quem morreu e quem foi “ovacionado” após uma apresentação teatral. Caras também é cultura:  aprendi que ser ovacionado não significa levar uma surra de ovos, como paulada seria uma surra de pau.

Voltando ao Facebook. Acho que é muito mais que Caras: é a representação virtual (talvez agora muito mais real) da vida real.  Ele substituiu de modo eficaz quase todos os comunicadores (MSN, etc), os emails pessoais, os bate-papos, os sites de encontros e relacionamentos. Nele você pode, quase sempre, além de ver o sujeito, olhar seu perfil, pesquisar sua rede de amigos, seus gostos, suas preferências e tendências políticas. Para a Mariazinha-sedenta-de-marido, dá até para sacar se o cara é gay antes de se encontrar com ele. Isso se ela quiser mesmo ver.

Enfim, fiz todo um mis-en-scène, uma apresentação sobre vantagens e desvantagens do Facebook, um patchwork com a revista Caras para poder falar da Hebe. Hebe morreu; que Deus a tenha.  Hebe – acabei de descobrir  no Google – é a deusa grega filha de Zeus e Hera e representa a eterna juventude. O Urban Dictionary, diz que ela é quem “segura o cálice”, que deve ser o cálice da vida eterna. Parece que o nome dela foi escolhido a dedo. Não querendo falar bem, mas já falando, eu tenho que concordar que essa era um dos atributos dela: era uma pessoa cheia de vida. Sempre sorridente, saltando como uma menininha e toda esticada para ocultar os seus oitenta e tantos anos. Ontem, uma amiga, ao saber que ela tinha morrido, disse: “Nossa, ela era tão jovem ainda, né?”. Puta que pariu.  Ela era jovial, tal como a deusa. Mas jovem? Hebe tomada pelo arquétipo.

Agora que já falei bem, deixem-me falar mal. Com todo respeito ao luto e ao gosto das pessoas brasileiras, que deve ser respeitado, eu não gostava da Hebe.  Fiquei pensando agora na música “Borbulhas de Amor”, cantada pelo Fagner: “Quem dera ser um peixe, para em seu límpido aquário mergulhar”.  Queria ser um bicho qualquer que tivesse a capacidade de mergulhar no límpido aquário de diamantes do cofre da Hebe, como naqueles filmes de piratas nos quais o mocinho encontra a sala do tesouro. Eu invejo os diamantes da Hebe e aquela mansão enorme que ela tem, ou tinha. Invejo inclusive o fato dela ter derrubado uma casa inteira ao lado da sua, só para aumentar o seu jardim.  Mas é só.

Mas eu nunca achei a Hebe uma grande apresentadora. Nem atriz. Nem cantora. Sempre a achei chata, superficial e ridícula, incapaz de formular uma frase inteligente, sempre substituída por elogios frouxos, o conhecido sorriso e seu verbete “Gracinha”. Talvez ela seja a maior mesmo, o que denuncia seus anos na TV, sua fama, sua fortuna, seus diamantes. Mas para mim ela é tão boa como são (e como serão ovacionados) o Jô Soares, o Faustão, o Silvio Santos,  o Gugu, a Xuxa e a Derci Gonçalves. Todos um bando de chatos constituintes de uma época em que não sabíamos ou não podíamos criticar. Eles cresceram no limbo da ignorância da TV Brasileira, controlada por uma elite conservadora que se especializou em divertir seu povo com coisas vazias. É lógico que ela é popular, como são populares seus equivalentes nos canais de TV em todo o mundo. Gente vazia falando de coisas vazias.

E é por essa razão que fico um pouco descontente, leia-se frustrado, leia-se puto, leia-se irritado com as “ovacionices” em torno da figura de Hebe. Assim ficarei quando forem embora todos esses outros que acabei de citar. Eu tive muita cócega de replicar as postagens sobre ela, mas resolvi respeitar as postagens dos perfis alheios e respeitar o luto dos que choram pela Hebe. Também fiquei tentado a postar no meu próprio perfil uma Hebe caricaturada pelos meus ardis escorpianos, mas isso poderia também parecer desrespeito e não é minha intenção desrespeitá-la e nem a seus fãs. E nem acho que seus fãs sejam vazios como ela própria. Eu já gostei de Menudo, dos Trapalhões, do Bozo e do Bambalalão. Mas isso foi até os 10 anos.

Também não quero “re-desvelar” nesse momento a outra face de Hebe. Aquela faceta perdida no tempo, escondida por trás da grande apresentadora, que deu origem a outras “divas”, como Derci Gonçalves ou  Luciana Gimenez. Mas isso é apenas um lembrete.






Thursday, September 27, 2012

PESOS E MEDIDAS

Eu estava com saudades de postar aqui. Peço perdão aos leitores, que crescem a cada dia, pela minha ausência. As últimas semanas têm sido tão intensas que acabei tendo pouco tempo para escrever e, com pouca inspiração, achei melhor não postar porque iria colocar alguma coisa só para encher linguiça. E isso é uma violência para a minha alma. E um desrespeito para essas pessoas que me lêem. Esta é a minha medida.


Dois pesos, duas medidas. Cada cabeça, uma sentença. Uns gostam dos olhos, outros da remela. Toda panela tem sua tampa; e se virar a tampa de cabeça pra baixo, serve em qualquer panela. Pra todo pé cansado tem um chinelo velho.  Estamos falando de medidas. Mas não se trata da medida seca, matemática, métrica, exata: é a medida de cada um. Em cada cabeça, em cada pensamento, em cada meio de vida existem balanças ou réguas particulares que medem nossa inclinação às coisas. Então, um sujeito pode ser magro pra um e gordo para outro. Feio ou bonito. Baixo ou alto. O que importa mesmo é a relatividade.

E, do mesmo modo que cada um tem sua escala de medidas particulares, também se desenvolvem sistemas particularidades de medição. Um amiga mineira diz que penou ao aprender a receita do maravilhoso pão de queijo da sua mãe: um punhadinho disso, um bocadinho daquilo e, como se não bastasse, existiam vários bocadinhos e punhadinhos diferentes, um para cada tipo de alimento. Uma outra amiga inventou um método todo próprio: a equivalência dos tamanhos dos bebês ao presuntinho da Mônica. E explico já: um presuntinho da Mônica tem cerca de um quilo. Duro foi explicar a comparação do peso da filha recém-nascida e prematura a um presuntinho. Presunto é presunto, mesmo que seja da Mônica.

As medidas anatômicas também têm sua importância no sexo, principalmente entre os gays. Eu não ouço muito as mulheres heterossexuais falarem sobre tamanhos de paus  e nem as lésbicas falarem sobre dimensões "bucetais". Pau é pau, perereca é perereca. E, salvo não funcionem e, nos casos dos paus, ocupem as casas dos extremos, suas medidas não são muito levadas em conta. Agora entre gays é diferente. O tamanho do pau é um elemento importante na prateleira dos encontros. Não que todos tenham que ser grandes; há quem não goste, há quem goste e não possa, há quem goste e não consiga. Em tempos de internet,  uma foto pode não ser suficiente: tudo pode ser truque de imagem. O ideal mesmo é pensar em proporções. Até porque o grande e grosso é tão relativo e subjetivo quanto uma pessoa pode se achar gorda ou magra e pode, de fato, chegar aos absurdos da completa distorsão. 

Um amigo me contou que conheceu um cara por um site de relacionamentos e,ao indagar sobre o tamanho da varinha, tratou logo de mandar uma foto, com a "ferramenta" ao lado de um tubo de pasta de dente. Ficou empolgadíssimo, aceitou o convite e nem quis perguntar a medida exata. Chegando lá, quase morreu de desgosto. O tubo de pasta de dente era daqueles distribuídos em nécéssaire de avião. 

Desconfie sempre de quem responde: "Não sei, nunca medi." Todo homem sabe a medida do seu pau, no mínimo desde a adolescência. Face a essa resposta, só existem três possibilidades: (a) muito pequeno; (b) muuuuuuuuuuuito grande; (c) às vezes com tamanhos "normais" , mas com grave distorsão da auto-imagem. Leve em conta que a segunda alternativa é sempre muito rara, porque exibir um pau grande equivale a dar voltas de Maseratti pelo bairro. 

A grossura também causa as mesmas dificuldades. Porque pode ser que alguns meçam o raio, outros a circunferência e a maioria chute. Um outro amigo me contou de uma técnica que parece eficaz para detectar uma grossura mínima: o rolinho do papel higiênico. Do mesmo jeito que medir o pau com uma régua, muita gente já usou o rolinho de papel higiênico para se masturbar ou medir. Claro que é apenas um "screening" que divide a população de pênis em dois grandes grupos, mas com pouca exatidão das suas diversas nuances. De todo, pode dar uma idéia de "máximo ou mínimo" para alguns...

Outra coisa:  a "mala" também pode não dizer nada. Pequenas malinhas podem guardar grandes tesouros e "malonas", como disse uma amiga, podem esconder apenas sacos grandes.

E, para além do sexo, lembrei-me de um recente padrão criado por mim. Há alguns meses, comprei uma placa de sal rosa do Himalaia. Tenho usado bastante para diversas iguarias e, ao tentar explicar o tamanho dela para um casal de amigos, cunhei minha métrica: "Ah, tem o tamanho de dois ipads". Ou seja, o ipad, marco da tecnologia da Apple, além de tudo o que é capaz de fazer, serve de modelo de medida para qualquer coisa que se pense. Meu amigo sugeriu até falarmos em "ipads quadrados", pois se os pés podem ser quadrados, porque não os ipads? 

Mais do que réguas, balanças e cálculos, a medida pressupõe um senso de dimensão, que é diferente para cada pessoa. E poder calcular, antever, pressupor a medida das coisas, é uma faculdade que pode estar desde atrofiada a hiper-desenvolvida nas pessoas. 

E quanto aos sentimentos? Qual a medida do afeto, a atenção, do carinho, do amor, do ódio? Como mensurar, estimar, quantificar o que se sente, o que se deseja. Mais que subjetiva, essa medida é reflexiva, projetiva. Dependemos do outro, um anteparo sobre o qual projetamos as imagens-medidas dos nossos sentimentos. E, tal como um projetor, podemos acertar ou mesmo errar feio ao movimentá-lo, projetando, na verdade, imagens do tamanho que desejamos. No fundo, não precisamos das medidas. Precisamos que as coisas, as pessoas, os sentimentos simplesmente nos caibam. 

Wednesday, September 12, 2012

TALE OF TALES



She hadn't the beautiful blue eyes of European tales’ girls. Neither her skin was purely white, like the little girls playing around the Pyrenees.  But she was a real princess and this is a real fairy tale. She was spiritually devoted to Oxum, the Goddess from African religions.  

This is the kind of tale that evokes some ancient stories that allow us to comprehend the facts and its influences. I don't understand much of Greek Mythology, but I can talk a little about gods from the African Pantheon, that we call Orixas - that means in Yoruba "the owner of the head" - which have almost the same symbology of Greek Pantheon.

According to African religions, since we are born, we receive some kind of energy, which will guide and protect us along our lives. For whom that are identified with the African gods, these energies linked to us derive from all kinds of these gods, and we use to say that this someone is "son" or "daughter" of this or that god, a gift composed by tempers, patterns of behaviors, physical similarities and, in many times, common roads and obstacles in life.

By the time I've started reading Jung's manuscripts, I've found a question posed by him that clarified my mind about the liaison between Greek and African Myths: "Which Myth am I living now?" That simple question made me think about spiritual and archetypal influences according to African religion and Mythology. And I also started thinking about this present energy of each Orixa in every moment of our lives, energies that can change or become mixed with other Orixas influences, concerning our psychological and spiritual growing urges. In Candomble - the main African-Brazilian religion - as many similar religions around the world, like Umbanda in Brazil and Santería in Central America, these energies that come and go along the time are called "Odus".  

And now, I present you Oxum, the Goddess of Love and Richness. Some people say that she is just the Goddess of Love, because Love is the major richness of life, but material prosperity is also associated to her. As a woman, Oxum is elegant, charming and naturally seductive. She's the kind of person you fall in love at the very moment you meet.

Oxum is a calm and controlled woman most of the time. The natural element linked to her is the natural water that comes from waterfalls, inside the forests, surrounded by white lilies, her preferred flowers. Many ancient sages say that this is the final home of Oxum, besides her beloved husband and king, the God of Justice, Xango.

All seductive artifices used by Oxum have the aim of seducing Xango. After that, the war is over. And she stays forever as a great spouse and a wonderful mother of many children.  

Nevertheless, just like Greek gods and goddesses, they are not perfect like the Christian god and his saints. African gods are made from the same kinds of thoughts, feelings, behaviors and emotions presented in human nature. They were real people turned into gods as a consequence of their acts. Not good acts like spiritual conversions or religious acceptances, but victories in war or salvation of entire populations from invasions or other kinds of disgraces.

So Oxum was a woman under her inner deism. She was as possessive as dedicated; as jealous as lovely and passionate. And as far as we know, most African kingdoms were polygamist and dominated by man, and that was something Oxum had never accepted very well. She couldn't fight against Xango having many other women, but she could secretly avoid their approximation.

There is a funny story about her female artifices to avoid that other women approached Xango. Oba, the Goddess of Fire, was a beautiful young and hot woman that was trying to become one of Xango's wives. But, as Xango was a little indifferent to her, she asked Oxum what she could do to get the King's attention and love.

Smart and winding as a snake, Oxum told her that she ought to cut her ear and put it to cook with the black beans that Xango loved so much and, at the moment he was eating, tell him about it. And, as she made it and told Xango, he got a huge repulse from her, expulsing her from his home. That's the reason that, when Oba comes to Earth, she arrives with the hand over the ear, remembering the pain caused by love and immaturity, crying deeply.

But Oba was obviously an easy enemy. As Xango was known for being such a handsome stocky man, a wonderful lover, a great husband, father and above all, one of the most respected kings of all Africa, he was a very desired man of many, many women.

And, as we can expect, the more women approached, the more Oxum had to fight against them. But there were some women that Oxum was not able to avoid or ban from Xango's life. Iansan was one of them. Iansan was a beautiful, shinny warrior that met Xango during a war. She was the wife of Ogum, the God of War, and Xango, as a symbol of his victory over Ogum, took her from him.

Iansan had a great life beside Ogum, bur she also fell in love with Xango. And that was her way: inconstant, always moving, strong and belligerent woman. As she was taken by Xango as one of his wives, she pretended some kind of resistance, so Xango had to fight a little for her love. But these were just Iansan's loving games.

And that was why Oxum and Iansan became enemies, in the same house, fighting for their beloved and passionate king. But they were a very different kind of enemies: they had to keep silence about that and pretend being good wives and good friends in front of Xango. And they were not enemies all the time. There were many times that they became important allies to maintain the union and the happiness of Oyo, the Kingdom.

Nowadays, we see many people, mostly women and also men living under the influences of Oxum and Iansan, behaving in life in a very similar way of Orixas legends. But I believe that this influence doesn't come like an inevitable living pattern; they come in a certain way that can allow us to comprehend and to transform our lives.

And what the relation between this legends and Mythology with the little princess?  That was why I decided to talk a little about them all, so we could understand better what happened to her. She was a dedicated daughter of Oxum. As many Oxum’s daughters, she was not fragile. They are strong and determinate women, but they have a huge sensibility that comes by crying. Crying, for these women, represents the very approximation of Oxum's energy in crucial moments, but it tends to be, as a social convention, for them and the others, a signal of weakness. When Oxum and one of her daughters cry, it is like the soul being washed and renovated, all cleaned up by the pure waters.

And so the princess met a powerful warrior, wich was more influenced by the power of Iansan. They didn't have a male rival. The "prize" was not a man, was not Xango, neither a son of him. The conquest was about a huge masculine force represented by a great kingdom that Iansan's daughter was very used to and desired as much as her husband, her family or any other thing in life. Not the kingdom itself, but power.

At first, the princess thought she had met a powerful leader that could help her to learn the "art of war". And she wasn't wrong. This was, in fact, some kind of war and this place was, as similar as she could figure, to a concentration camp. So, the war wasn't, at the beginning, against her. But, as she became more and more known and well succeeded in her abilities there, Iansan started to feel jealous and menaced.

From this very moment, she declared war against the princess, just because her presence aroused her inner fears of losing her power. Yes, she was a warrior. But the moment she felt menaced, the shadowed evil warrior came out, showing severity, despotism and rage.   

And then the princess tried to avoid the fight, going kindly and sweetly, as Oxum’s element – the river waters and her symbol – the Love - are used to go. But, once Iansan – which was just like fire – deflagrated the war, Oxum’s sweet waters were not able to contain this eruption. And so the princess cried. As the princess cried, she was not just purifying her soul from that giant violence; as the tears fell down, one after another, they started forming a little river that started gently going to the sea. This was not happening fast , the more she cried, the more she felt desperate, weak and hopeless. At the same time, more and more tears touched the salty waters of the sea, the kingdom of Iemanja, which started feeling disturbed about all this water coming. Then, she asked her flying fishes to travel to wherever this water was coming and what was happening.

When she knew about the war between them, her, the goddess of al gods, the mother of all Orixas, she knew that she had to do something. She asked Oxalá, the king of kings, to inflame the sun the more he could. As the hot sunrays touched the waters, they started to evaporate, forming rainy clouds for all over. Then she asked Xango, the god of Justice, but also the god of rays and thunders, to make it rain.

And, as soon as it started raining all over the kingdoms, the fire and the flames of Iansan were stopped. And so, Iemanja sent an advice to Iansan: that every time she started spiting fire for all over, Iemanja would make it rain to stop the fire. And she also advised the princess that she could continue crying, but each river created by her crying had live and she had to name and raise them.

The war wasn’t stopped so fast. But the more Iansan spitted fire, the more Iemanja sent rain to stop the flames. And each time a new war was started, so was the princess crying and crying, creating lots of new rivers. And, as she created so many rivers, she became so busy naming and raising them that she decided to leave the kingdom to live in the rivers. And that was how the princess was turned into a goddess, a goddess of all rivers, like her mother, Oxum. 

Friday, September 07, 2012

O (HOMEM) GAROTO QUE NÃO AMAVA A (MULHER) MENINA, E NEM MULHER ALGUMA.



Buceta toda mulher tem. Parece que elas vêm com esse item de fábrica. Então bebês, meninas, moças, mulheres e vovós, todas têm buceta. Mas o que faz, além da idade, que uma mulher ultrapasse a floresta escura da meninice e se torne uma mulher de verdade? Porque tenho visto mulheres em idade que são meninas em atitude. Não estou falando da meninice matreira, da alma juvenil, que é prescrição obrigatória a todos que desejam levar uma vida loucamente sã. Falo da meninice estúpida, daquela cuja ingenuidade arrasta as correntes da estupidez e as torna alvo fácil desses tais garotos podres, os garotos que não amam as mulheres. Garotos covardes, garotos assassinos, garotos que violentam a feminilidade das meninas, porque desejam simplesmente, mas não têm a coragem de se tornarem mulheres. Sim, porque isso é possível nos dias de hoje.

Garotos desajustados, medrosos e encarcerados em seus armários de cerejeira são facilmente transformados em raladores de buceta. Garotos de qualquer idade que não aceitam sua própria sexualidade, trancafiando-a nos porões da existência tendem a se tornarem vampiros da alma feminina e raladores de bucetas. Sim, eles também agridem os gays assumidos, sexualmente bem-orientados. Porque são  infelizes, perdidos nos pastos da vida. Desejam as mulheres. Sim, e como desejam. Mas não tê-las; sê-las.

Como um Pinóquio, o garoto que não ama mulher nenhuma vive uma grande mentira. Ele é capaz de se casar, ter filhos, ter amantes-fêmea e jamais se dar conta da sua sexualidade contaminada e putrefata. Ele mente, seu nariz cresce e sua volúpia diminui. Seu único prazer se restringe a decapitar clitóris. Qual é o plural de clitóris? Clitóris é como lápis, ou se fala clitórises? Sei lá.  Eu só sei que tenho pena das meninas que se deixam levar por esses garotos. Meninas que, por carência, medo da solidão e do abandono, leiloam suas almas por alguns reles níqueis de um pseudo-status de ter alguém.

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Eu escrevi os três primeiros parágrafos desse texto há meses. Naquela época havia um acontecimento que justificava eu postá-lo. Mas, enlevado pelo nojo que esse tipo de situação me evoca, acabei perdendo a inspiração. Mas o tema continua atual. Tanto pelo imbecil que deu origem à série, como pela insistência do tema em continuar existindo por aí.  Daí aproveitei minha dificuldade para arranjar algum assunto novo e resolvi retomar essa discussão.  Faz alguns meses, tive a oportunidade de observar um menino e uma menina de cinco anos brincando de casinha. Ela, enquanto preparava o café da manhã, reclamava que ele não a ajudava, que não se levantava para sentar-se à mesa. Ele dá um salto da rede, gritando com ela: “Eu estou cansado, mulher! Eu trabalho o dia inteiro e quando chego em casa, você fica me enchendo o saco!”. Eu não aguentei ver aquilo e resolvi interferir: “Olá. Eu sou o anjo do bom relacionamento. Se vocês continuarem brigando desse jeito eu vou desmanchar esse casamento. Isso está parecendo um filme do Woodie Allen.” Eles ficaram olhando para mim, meio espantados. Depois me virei para ele: “Fulano, uma mulher deve ser sempre bem tratada. A mulher deve ser amada e respeitada e isso não é jeito de falar com a sua mulher. Nem de brincadeira.” Eu espero que a minha interferência tenha ficado na cabeça deles. Principalmente na dele, mas na dela também, porque o desrespeito e a violência muitas vezes são consequências de uma interação: ele não aprendeu a respeitar a mulher; ela não aprendeu a exigir respeito e suportará esse homem, como se fosse algo habitual. E isso me fez pensar em como são educadas as crianças, em como colocamos conceitos, valores, preconceitos nas cabeças de nossas crianças. Nós (os adultos) somos responsáveis pelos valores e pelas distorsões deles que nossas crianças incorporam.


E tenho observado que é por volta dos cinco anos de idade o “turning point” do que transformaremos essas crianças. É nessa idade que as crianças perguntam as coisas mais cabeludas e raciocinam sobre elas. Essa semana senti saudades de ler o Petit Nicolas, um clássico da literatura infanto-juvenil francesa. Quando li suas histórias, pude perceber como se constrói o sarcasmo dos franceses.  A mãe dele pede para não contar ao seu pai o quanto gastou nas compras daquele dia. Ao encontrar o pai, ele pergunta ao garoto o que fez de bom e ele responde: “Fiz comprar com a mamãe. Ela pediu para eu não contar para você o quanto ela gastou, porque você iria ficar bravo. Mas eu não entendo porque você iria ficar bravo só porque fizemos compras.” Muitos pais agridem e castigam seus filhos quando eles têm atitudes como essa, sendo que o que deveriam fazer é baterem suas próprias cabeças nas paredes.

Certo dia, recebi uns amigos em minha casa, com sua filha de cinco anos. Ela perguntou para mim: “Você mora aqui?”. Eu respondi que sim. Passados alguns minutos ela perguntou: “E o tio Fulano, também mora aqui?”. Eu respondi que sim. “Então, se vocês dois moram nessa casa, porque só tem uma cama?”. E seu pai pulou rapidamente após o engasgo: “Ele dorme naquele outro quarto, filhinha.” Mentira. Mas quem tem coragem de dizer que os dois barbudos são casados e dividem a mesma cama?

Tem gente que tem. Hoje estava na casa da minha irmã e um dos meus sobrinhos perguntou: “Você tem namorada?”. E eu respondi: “Tenho. O tio Fulano.”. Ele me olhou espantado e repetiu: “NA-MO-RA-DA.” E eu corrigi: “O tio Fulano é meu namorado.” Ele foi correndo na cozinha falar com os pais: “Mãe, o tio falou que o tio Fulano é namorado dele!”. A minha irmã respondeu: “Eles não são namorados. Eles são casados. O tio Fulano é o marido dele.” E meu sobrinho falou para o pai: “Nossa, como é que eu sempre estava do lado deles e nunca tinha percebido?”. A fórmula é simples: isso não vai torná-lo homossexual. Ele apenas vai crescer sem preconceitos. A mãe do meu outro sobrinho, de quem sou inclusive padrinho, escolheu um gay e uma lésbica para batizá-lo. Disse que assim decidiu porque queria que seu filho crescesse sem preconceitos.

Preconceito de cor, raça, gênero, orientação sexual, classes sociais e qualquer outro tipo. São todos fabricados pela sociedade. Mas não é somente a sociedade “lá fora”; é a sociedade “aqui dentro”, no seio da família, na negação da explicação. Graças a Deus e também às minhas escolhas, cada vez menos convivo com gente idiota e preconceituosa. E quero conviver cada vez menos. Talvez demoremos séculos para vivermos numa sociedade realmente igualitária, onde cada pessoa poderá usufruir da liberdade de ser o que é, sem ter que se travestir em rótulos socialmente produzidos e inventar histórias que as pessoas querem ouvir. Por enquanto, continuam-se produzindo garotos que não amam suas garotas e que agridem os viadinhos por aí.