Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, September 27, 2012

PESOS E MEDIDAS

Eu estava com saudades de postar aqui. Peço perdão aos leitores, que crescem a cada dia, pela minha ausência. As últimas semanas têm sido tão intensas que acabei tendo pouco tempo para escrever e, com pouca inspiração, achei melhor não postar porque iria colocar alguma coisa só para encher linguiça. E isso é uma violência para a minha alma. E um desrespeito para essas pessoas que me lêem. Esta é a minha medida.


Dois pesos, duas medidas. Cada cabeça, uma sentença. Uns gostam dos olhos, outros da remela. Toda panela tem sua tampa; e se virar a tampa de cabeça pra baixo, serve em qualquer panela. Pra todo pé cansado tem um chinelo velho.  Estamos falando de medidas. Mas não se trata da medida seca, matemática, métrica, exata: é a medida de cada um. Em cada cabeça, em cada pensamento, em cada meio de vida existem balanças ou réguas particulares que medem nossa inclinação às coisas. Então, um sujeito pode ser magro pra um e gordo para outro. Feio ou bonito. Baixo ou alto. O que importa mesmo é a relatividade.

E, do mesmo modo que cada um tem sua escala de medidas particulares, também se desenvolvem sistemas particularidades de medição. Um amiga mineira diz que penou ao aprender a receita do maravilhoso pão de queijo da sua mãe: um punhadinho disso, um bocadinho daquilo e, como se não bastasse, existiam vários bocadinhos e punhadinhos diferentes, um para cada tipo de alimento. Uma outra amiga inventou um método todo próprio: a equivalência dos tamanhos dos bebês ao presuntinho da Mônica. E explico já: um presuntinho da Mônica tem cerca de um quilo. Duro foi explicar a comparação do peso da filha recém-nascida e prematura a um presuntinho. Presunto é presunto, mesmo que seja da Mônica.

As medidas anatômicas também têm sua importância no sexo, principalmente entre os gays. Eu não ouço muito as mulheres heterossexuais falarem sobre tamanhos de paus  e nem as lésbicas falarem sobre dimensões "bucetais". Pau é pau, perereca é perereca. E, salvo não funcionem e, nos casos dos paus, ocupem as casas dos extremos, suas medidas não são muito levadas em conta. Agora entre gays é diferente. O tamanho do pau é um elemento importante na prateleira dos encontros. Não que todos tenham que ser grandes; há quem não goste, há quem goste e não possa, há quem goste e não consiga. Em tempos de internet,  uma foto pode não ser suficiente: tudo pode ser truque de imagem. O ideal mesmo é pensar em proporções. Até porque o grande e grosso é tão relativo e subjetivo quanto uma pessoa pode se achar gorda ou magra e pode, de fato, chegar aos absurdos da completa distorsão. 

Um amigo me contou que conheceu um cara por um site de relacionamentos e,ao indagar sobre o tamanho da varinha, tratou logo de mandar uma foto, com a "ferramenta" ao lado de um tubo de pasta de dente. Ficou empolgadíssimo, aceitou o convite e nem quis perguntar a medida exata. Chegando lá, quase morreu de desgosto. O tubo de pasta de dente era daqueles distribuídos em nécéssaire de avião. 

Desconfie sempre de quem responde: "Não sei, nunca medi." Todo homem sabe a medida do seu pau, no mínimo desde a adolescência. Face a essa resposta, só existem três possibilidades: (a) muito pequeno; (b) muuuuuuuuuuuito grande; (c) às vezes com tamanhos "normais" , mas com grave distorsão da auto-imagem. Leve em conta que a segunda alternativa é sempre muito rara, porque exibir um pau grande equivale a dar voltas de Maseratti pelo bairro. 

A grossura também causa as mesmas dificuldades. Porque pode ser que alguns meçam o raio, outros a circunferência e a maioria chute. Um outro amigo me contou de uma técnica que parece eficaz para detectar uma grossura mínima: o rolinho do papel higiênico. Do mesmo jeito que medir o pau com uma régua, muita gente já usou o rolinho de papel higiênico para se masturbar ou medir. Claro que é apenas um "screening" que divide a população de pênis em dois grandes grupos, mas com pouca exatidão das suas diversas nuances. De todo, pode dar uma idéia de "máximo ou mínimo" para alguns...

Outra coisa:  a "mala" também pode não dizer nada. Pequenas malinhas podem guardar grandes tesouros e "malonas", como disse uma amiga, podem esconder apenas sacos grandes.

E, para além do sexo, lembrei-me de um recente padrão criado por mim. Há alguns meses, comprei uma placa de sal rosa do Himalaia. Tenho usado bastante para diversas iguarias e, ao tentar explicar o tamanho dela para um casal de amigos, cunhei minha métrica: "Ah, tem o tamanho de dois ipads". Ou seja, o ipad, marco da tecnologia da Apple, além de tudo o que é capaz de fazer, serve de modelo de medida para qualquer coisa que se pense. Meu amigo sugeriu até falarmos em "ipads quadrados", pois se os pés podem ser quadrados, porque não os ipads? 

Mais do que réguas, balanças e cálculos, a medida pressupõe um senso de dimensão, que é diferente para cada pessoa. E poder calcular, antever, pressupor a medida das coisas, é uma faculdade que pode estar desde atrofiada a hiper-desenvolvida nas pessoas. 

E quanto aos sentimentos? Qual a medida do afeto, a atenção, do carinho, do amor, do ódio? Como mensurar, estimar, quantificar o que se sente, o que se deseja. Mais que subjetiva, essa medida é reflexiva, projetiva. Dependemos do outro, um anteparo sobre o qual projetamos as imagens-medidas dos nossos sentimentos. E, tal como um projetor, podemos acertar ou mesmo errar feio ao movimentá-lo, projetando, na verdade, imagens do tamanho que desejamos. No fundo, não precisamos das medidas. Precisamos que as coisas, as pessoas, os sentimentos simplesmente nos caibam. 

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