Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Tuesday, September 07, 2010

LIVE AND LET DIE


“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”
(Ricardo Reis, Fernando Pessoa)

“ But if this ever changin´ world
in wich we live in
makes you give in and cry
Say: “live and let die”
(Live and let die, Paul McCartney& Linda)


Essas duas últimas semanas passei encantado pelo novo trabalho da banda mineira Pato Fu, chamado "Música de Brinquedo". Músicas antigas, clássicos de várias épocas, de MPB a Elvis. Mas parado mesmo, fiquei em "Live and let die", do eterno Beatle, Paul. E não foi só por causa da música maravilhosa, nem por ser executada com instrumentos musicais de brinquedo, nem pelo coro de crianças. Essa música me faz pensar na morte, no luto e em todos os seus desdobramentos.

Fiquei pensando em pessoas que cruzei pelo caminho e que perderam pessoas amadas e que eram impedidas de viver o luto, chorar pela perda. A vida moderna não dá tempo para o luto. O luto só é respeitado quando vira doença. Acho que estamos rumando ao contrário das necessidades da alma. Lamentar e chorar pela perda são tão humanos e tão normais quanto a própria finitude. Mas o mundo, a sociedade, não toleram mais isso.

Fico P. da vida quando alguém diz para essas pessoas que elas não podem chorar porque isso vai "atrasar a evolução" do morto... Ai meus deuses, quanta bobagem! Quem inventou isso? Desde quando é proibido sentir tristeza? E o que fazer quando ela existe? Dizem que chorar lava a alma, e acho que lava mesmo. Choramos quando nascemos e por que não deveríamos chorar quando a morte nos arrebata, levando alguém que amamos?

A psiquiatria, ou melhor dizendo, a mente distorcida de alguns psiquiatras se ocupou de dilacerar ainda mais a necessidade do luto e do tempo do luto. Psiquiatrizou-se a tristeza em todas as suas nuances e, não obstante, a dor do luto.

O conservadorismo espírita propaga a negação do direito à dor. É proibido sentir saudades, porque é como se fosse uma bola no pé no direito do desencarnado a trilhar sua estrada de evolução. Num propósito edificador de almas, acabam por gerar mais dor, tristeza e doença. Além disso, duvido muito que tais pessoas consigam ter esse tipo de "equilíbrio" quando a perda é no seio da sua família. Como diziam as avós,
"Pimenta no c. dos outros é refresco".

Psiquiatria e Espiritismo, vilões e algozes de uma sociedade doente, que dá pouco espaço para as questões da alma. Somos escravos de um tempo morto, no qual a morte e a dor pela morte são empurradas para fora do contexto da existência consciente. Somos impelidos a nos transformarmos em um bloco duro, cinza e feio de concreto que não sente, não sofre, não chora.

Philipe Ariès, em seu livro "A história da morte no Ocidente", fala que vivemos numa época de "morte interdita", porque é proibido ver a morte de perto, não há espaço para a morte no mundo moderno. Morre-se no hospital, longe de casa, velório no hospital ou no cemitério, rápido, rasteiro, como se fosse um crime morrer ou sofrer pela dor da morte.

O resultado disso é dor. É como usar sapatos fechados para esconder micoses ou unhas encravadas: a dor, a putrefação irão continuar a deteriorarem a existência.

Sim, sou espírita. Sim, sou psiquiatra. Sim, sou um homem moderno. Tinha tudo para nadar a favor da maré. Mas sou diametralmente contra ela. Porque em assuntos como a morte, a dor e amor, sou um sofredor à moda antiga. Sofro como os trovadores e choro como as carpideiras. E acho que essa é a chave para se poder viver plenamente: poder sorrir e chorar, não na mesma quantidade, mas com a mesma intensidade.

12 Comments:

Anonymous Rafael Cury said...

Rapaz, comentario caiu feito uma luva. Achei o disco fantastico. Mas olha so', nao e' dos Beatles. E' so' do Paul McCartney (e da defunta veggie Linda).

6:23 AM PDT  
Blogger Unknown said...

Tem razão, Rafael, já corrigi...Nunca tinha ouvido falar desse Wings...E merci beaucoup!

11:22 AM PDT  
Anonymous Rafael Cury said...

Eu sou fan dos Wings de carteirinha, tenho todos os discos. Olha so', depois dos Beatles, Sir Paul decidiu ter um outro grupo que durou algum tempo e que se chamava Wings... Classico dos 70.

11:37 AM PDT  
Anonymous Anonymous said...

Você sempre profundo e muito culto... Quando eu tinha uns 8 anos(no máximo)você escreveu um verso no meu caderninho e me fez procurar o significado daquelas palavras no dicionário. Eu nunca vou me esqucer disso: "Você é boçal boçal, colossal colossal!"

2:43 PM PDT  
Blogger Unknown said...

"Anonymous", who are you? Fui eu ou foi o Rafael que fez isso com você? Tell me pleaaaaaaase!

8:10 PM PDT  
Anonymous Rafael Cury said...

Pessoal, eu ja' escrevi coisas muito estranhas na minha vida. Mas creio que nao fui eu que aos oito anos escrevi "Boçal, colossal". Agora vai saber, como eu ja' escrevi tanta bobagem, pode ser que eu seja o responsavel por isso ai.
Cruzes.

2:14 PM PDT  
Anonymous Anonymous said...

Eu e minha memória. Depois de mais de 20 anos com essa lembrança.... O pior foi ter ficado intrigada por um bom tempo: Será que ele me acha boçal ou colossal? Mas cresci e já superei, não se preocupe!

O legal foi ter encontrado, num acaso incrível, o Le Cul du Tabou, o que me fez conhecer um pouco do meu primo distante. Me diverti relembrando a história da Tia Laila (eu também recebi uns trocados por alguns serviços prestados na casa dela), pude saber que nosso avô lhe foi tão especial, um avô que mal participou da minha infância e que eu conheci tão pouco, infelizmente.

Enfim, me diverti, me surpreendi e até me emocionei com suas histórias. Descobri que temos algumas coisas a mais em comum, além do sobrenome.
Cassia N.

8:19 AM PDT  
Blogger Unknown said...

Cássia! E u escrevi isso no seu caderninho? Que coisa mais má!!! Mas então estamos por aí... Temos um sobrenome em comum, temos histórias compartilhadas e outras "indizíveis"... Infelizmente não tenho essas madeixas loiras e os lindos olhos azuis...Mas seu aparecimento me fez lembrar de várias histórias "blogáveis"... Sejam bem vinda em meus blogs, meu email, meu Facebook...Beijos

3:42 PM PDT  
Blogger Unknown said...

E não acho você boçal... Talvez achasse, no meu parco entendimento infantil, porque você era muito chorona... Mas da última vez que te vi, te achei colossal!

3:45 PM PDT  
Anonymous Anonymous said...

E como vc encontrou o meu blog?

3:54 PM PDT  
Blogger cassia said...

Ai meu Deus! Estou com medo das novas hostórias 'blogáveis'... Mas você tem razão, eu realmente eu era muito chorona, sensível demais! Acho que ainda sou bem sensível mas aprendi a chorar menos!

O seu blog apareceu no meio de uma pesquisa que fiz em nome do meu pai, que é homônimo do nosso avô. Uma agradável surpresa em meio a tantos processos(argh!).
Já te disse que eu adorei tudo isso? Beijos e obrigada!

8:37 AM PDT  
Blogger Unknown said...

Também gostei muito disso...rs... Escreve para mim por email, quem sabe nos vemos uma hora dessas!
Anota aí: marceloniel@hotmail.com

11:42 AM PDT  

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