Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Tuesday, July 20, 2010

20 DE JULHO: DIA DO AMIGO


São cinco horas da manhã. Estou de plantão e perdi o sono. Cabeça cheia? Muita coca-cola? Ansiedade? Talvez algo disso, talvez nada disso, talvez um pouco de cada coisa. Passeando pela internet, pelo menos pelo que não está bloqueado pela “polícia cibernética” do hospital, descubro que hoje é dia do amigo. Dizem que aqui no Brasil, que gosta de ser diferente em tudo, esse dia é comemorado em 18 de abril, mas o resto do mundo comemora hoje.

E fiquei pensando nos amigos que tenho, nos amigos que tive, naqueles que desapareceram na poeira do tempo. Como é possível amarmos tanto algumas pessoas num certo momento e num outro elas deixarem de constelar algo importante em nossas vidas?

Passeando pela fita do filme do tempo, lembrei de alguns amigos: o Felipe, meu primeiro amigo, do pré-primário. Seus pais eram separados, seu avô era policial e tinha uma sirene instalada no seu Opala cor de vinho. Aos finais de semana, íamos ao Parque Ibirapuera andar de bicicleta e jogar bola. Passamos de ano e o Felipe desapareceu...Por onde andará?

Nos anos do primário, tinha um amigo xará. Marcelo. Passávamos o tempo todo juntos na escola e no ônibus de volta também. Na terceira série minha família mudou para Santo André e, com minha mudança, sumiu o Marcelo.

Em Santo André, estudava numa escola horrenda, chamada Quarup. Nome de índio, mas filosofia de nazismo. Odiava ter que viajar de perua escolar por lugares tão desconhecidos. Sentia-me estrangeiro naquela escola com hábitos estranhos. Mas fiz um novo amigo Marcelo. Um ruivinho simpático. Lembro que uma vez foi em minha casa estudar para a prova de Português. Passamos a tarde toda fazendo bichinhos de epóxi com seixos rolados e nada de estudo. Fomos mal na prova e, como presente de minha mãe, nunca mais pude ver o Marcelo. Seis meses depois mudamos novamente para São Paulo e, de novo, adeus amizade.

Nos anos que se seguiram, encontrei vários amigos e amigas legais, mas a pessoa à qual estive mais próximo foi minha prima Andrea. Éramos mais que irmãos. Chegamos a planejar uma fuga para vivermos “nosso amor impossível”. Seguimos inseparáveis até o fim do colegial. Acabou o colegial, acabou nossa ligação. Hoje somos dois estranhos que dividem um “fininho” de sangue comum nas veias.

Na vizinhança tive duas grandes amigas, a Thelma e a Thaís. Por muitos anos convivemos “grudados” e, numa das curvas da vida, nos perdemos. E assim foram tantos outros. Na faculdade, nos meus anos de Varig, na residência médica. Não tive nenhuma briga séria, ninguém morreu. Eles simplesmente desapareceram. Algumas dessas pessoas ainda vejo. Todas moram em meu coração.

Hoje tenho alguns amigos. Alguns são amigos-irmãos, outros amigos-primos, outros amigos-primos-de-segundo-grau. Uma de minhas amigas se assustou quando conversávamos sobre o que acontecia quando essas amizades se dispersam e eu disse que achava que, mesmo querendo muito bem certas pessoas, às vezes perdemos a sintonia, saímos de uma mesma freqüência e deixamos de conviver com elas. E ela me escreveu uma mensagem depois, dizendo que não gostaria que isso acontecesse conosco; não queria que deixássemos de possuir aquela “sincronicidade” tão invejada por outros. Eu também não quero que aconteça.

Sempre lamentei não ter amigos de longa data, ou ao menos de não vê-los mais. Sim, porque o Felipe, os Marcelos e todos os outros que passaram pela minha vida ainda são importantes porque fazem parte da minha história e guardo uma afeição por eles. Mas recentemente descobri que tenho sim uma “amizade de vida inteira”, há cerca de trinta anos: minha irmã Luciana. Por alguns momentos eu me esqueci disso; mas mais recentemente nos aproximamos e lembrei o quanto ela sempre foi importante em minha vida, desde o momento em que eu pedia a Deus que me desse uma “irmãzinha”; quando escolhi seu nome, porque era o nome de uma “namoradinha” da escola; quando fazia ela dormir,deitado com ela no cercadinho, cantando “Como é grande o meu amor por você”.

Eu não gosto menos dos meus amigos atuais do que gosto da minha irmã. A diferença é que ela é minha amiga há quase trinta anos. É a minha amizade mais antiga. Minha penúltima analista me disse uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi de alguém: ela disse que desejei tanto essa minha irmã como alguém que eu pudesse amar e me sentir amado.

Dois dos meus maiores amigos em todo o universo já se foram. Meus avós, Izolina e Armando. Lógico que foram muito mais que amigos. Foram Pai e Mãe, ultra-maiúsculos. Foram meu chão, meu esteio, meu ninho, minha dadivosa referência de amor que tornou possível amar e ser amado ao longo da vida. Duas gotas d água num poço seco. Mas duas gotas tão plenas que puderam me abastecer ao longo de toda uma jornada de estiagem.

Às vezes me sinto como a personagem Vianne, interpretada por Juliette Binoche, no filme Chocolate: bate o vento, é hora de mudar de rumo. Ir pra outro lugar e deixar tudo pra trás. Sim, já fiz isso várias vezes. Casas, cidades, escolas, empregos. Mas as amizades não são deixadas para trás; são elas muitas vezes que mudam de endereço sem deixar notícias.

Há cerca de dois meses estava em New York. Não sei se foi exatamente no dia 20, mas eu me lembro ter tido um mal estar muito grande que me fez pensar que ia morrer. Agora sei o que sentem as pessoas com crises de pânico. Sentia uma agonia, um frio na espinha, um medo tão grande e, naqueles minutos que pareciam não acabar nunca, senti uma “onda de despedida” e senti vontade de pedir perdão às pessoas pelos meus erros e imperfeições, além de poder dizer o quanto as amava.

Felizmente o mal estar passou, mas restou uma espécie de iluminação, de consciência. Muita gente passou pela minha vida. Muita gente foi embora. Disso não tenho medo. Meu maior medo é não poder dizer o quanto cada pessoa que passa é importante, o quanto ela significa , o lugar que ela ocupa no meu coração.

Então a todos que se foram, aos que estão, aos que chegarão e aos que voltarão. Sejam sempre bem vindos no meu coração. Feliz Dia da Amizade, do Amigo, do Irmão.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home