Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, August 26, 2010

JUNGUIANISMOS...


Estou lendo a recém-chegada edição brasileira da obra-prima de James Hillman: “Re-vendo a psicologia”. Estou tentando ser junguiano. Curioso é que descobri que, ao mesmo tempo em que me sinto longe de ser um junguiano, pelo tanto que devo aprender e apreender, sou muito mais junguiano que psicanalista nas minhas práticas. Isso porque o símbolo, a sincronicidade, os arquétipos e toda essa parafernália mitológica invadem, o tempo todo, a minha existência. Mal comecei a ler o livro e sinto uma afinidade, um conforto literário e, muito mais que isso, um re-conforto psicológico.

Sim, sou também um órfão psicológico. Reproduzi a orfandade da alma, sozinho, aprendendo e desaprendendo, sem um chão, uma terra natal. Navego pela psicanálise, fucei lacanês, estudei a linha cognitiva e outras cheiradas pelo caminho. Mas é na psicologia análitica que encontrei berço.

Apaixonei-me pela idéia do “cultivo de almas”. E não me apaixonei por acaso. Disse hoje a uma amiga que minha “soul-maker machine” está ligada na potência máxima. Acho que estava plantando, colhendo, regando, carpindo, derrubando, adubando, tudo ao mesmo tempo. E ainda fazia queimadas. O resultado disso era uma grande confusão, com a eterna sensação de enxugar gelo. Hoje sinto um lance diferente. É uma fase bagunçada, como quando eu decido arrumar o guarda-roupa: adoro jogar tudo fora das gavetas e prateleiras primeiro e ir compondo, limpando, escolhendo, ordenando. Obviamente que o resultado é melhor. Mas o início da coisa toda, é uma alergia só. A poeira levanta, a vida parece se desorganizar, como num salto de paraquedas, onde os primeiros momentos são desarmônicos, caóticos e leva um tempo para se organizar e curtir o vôo.

Das coisas que li de Jung, umas delas me impressionou muito. É uma frase simples, que pode ser vista por muitos até como tola, banal: “A vida não existe sem problemas” (ou coisa parecida....) . De fato não é nenhuma novidade. Mas quando fui capaz de ouvir com a minha alma o que ele quis dizer com isso, acho que esse foi um verdadeiro “turning point” na minha jornada. Ele me ensinou que eu não posso lamentar os problemas e que muitos deles vêm e voltam, como regurgitações, “gorfadas” infantis para que eu resolva, eliminando ou aceitando. Sem essa de ficar reclamando e ensaiando marcar um dia em que esses problemas serão resolvidos.

E ao tentar alinhavar arquétipos com as minhas experiências místicas atuais, vejo que existe uma conexão entre os acontecimentos espirituais e psicológicos em minha vida. É a primeira vez que sinto essa simultaneidade, essa completude entre coisas que amo tanto. Acho que é isso que tem feito me sentir tão inteiro. Depois de anos de análise, ocultando, escondendo ou negando minha religiosidade, minha espiritualidade, como algo que não tivesse ligação com meu universo mental ou, pior, que tivesse apenas uma simples ligação “psicológica” na pior acepção do termo, sendo interpretável, analisável e até “curável”. Sim, era assim que eu me sentia. Tinha medo de dividir a experiência da espiritualidade com meus analistas por medo de vê-la destrinchada como um carne de porco sendo preparada para virar linguiça. Agora entendo meu ateísmo temporário. Tratei de esconder uma coisa que amava muito para que ela não fosse aviltada em sessões psicológicas conservadoras e reparadoras. Do esconderijo à “interpretose”, minhas parcas experiências em tentar integrar o “humano” ao “espiritual” foram sempre frustrantes.

No esconderijo, tudo era tratado como se fosse um nada, como se não fizesse parte do meu racionalismo visível, em constante refazimento e evolução. Foi nesse momento que o pseudo-ateísmo protetor se configurou, protegendo meu tesouro como a casca dura dos queijos amarelos protegem seu sabor, sua essência.

Na “interpretose”, fenômeno tão conhecido (e pouco reconhecido) dos sábios psicanalistas, esse rico universo de experiências ficou resumido a um “significado psicológico”. Lembro-me que quando resolvi, com muita dificuldade, contar para minha úlitma analista sobre meu retornos às coisas espirituais.... A dificuldade surgiu em função de eu já saber o que levar: uma interpretação. Bonita, profunda, poética, mas que compartimentalizava uma experiência muito mais rica que a própria psicanálise, num negócio psicanalítico.

Não, psicanalistas, não se irritem, não se melindrem, não se matem. Eu não tenho nada contra a psicanálise e os psicanalistas. Pelo contrário. Acho que ela pode ser uma excelente ferramenta de trabalho e a base para o entendimento de muitos fenômenos da vida, e me serviu por muitos anos para que eu melhorasse minha vida. Mas hoje, no momento em que me encontro, ela não serve, não funciona mais, não oferece o que eu preciso.

Wednesday, August 25, 2010

CLARA: UMA MULHER QUE IRRITA AS PESSOAS


Parte I – A história de Clara

Clara era uma mulher que irritava as pessoas. O que aconteceu com ela? Como isso começou? Creio que desde sempre Clara foi agitada. Nasceu assim, de olhos bem abertos, eriçada, como um peixinho. Recebeu esse nome de seu pai, não porque tinha a pele clarinha, como acontece com as outras Claras. Mas porque seu pai era devoto de Santa Clara e achou que ia dar sorte.

Clara cresceu numa família de vários irmãos e creio que nem Santa Clara suportou seu comportamento. Seus pais faziam promessas, missas, oferendas. Levaram-na até um centro de umbanda para fazer descarrego. Nada adiantou. Clara permanecia agitada, batia nos irmãos, brigava na escola, chutava professores. Foi então que decidiram levá-la a uma psicóloga. Estava na moda naquela época. “Doutora” Margarete era formada na Sorbonne, com pós-graduação em crianças agitadas e achava que tudo era culpa dos pais. Achava Clara uma coitada, vítima da exigência opressiva de seus pais. Toda sessão os culpava, dizendo que eles odiavam a filha, que a rejeitavam e essa era a raiz do seu comportamento que, segundo ela, era praticamente normal e eles é que insistiam em transforma-la em doente.

Dona Clarinete, mãe de Clara, sentia-se a pior das matronas. Tinha seis outros filhos e nunca havia passado por isso com nenhum deles. Tampouco a humilhação de ser acusada de incompetente, rejeitadora e má por uma “doutora da Sorbonne”, como se referia à psicóloga. “Seo” Clarindo, o pai, tinha mais esperanças. Apesar do pouco estudo, passou a ler livros de psicologia indicados pela “Doutora” e admirava tanto seu trabalho que Dona Clarinete foi ficando enciumada. E longos meses se passaram, Clara freqüentando as sessões com a “Doutora” duas vezes por semana. Nada havia mudado, mas a “Doutora” achava que Clara havia feito progressos. Coisa nenhuma. Na sua sala de ludoterapia, Clara destruía todos os brinquedos, rabiscava paredes, rasgava papéis. A “Doutora” achava ótimo, dizia aos pais que ela estava exprimindo a sua agressividade... Até o dia que ela rabiscou a foto autografada de Jean Paul Sartre.

- Menina, que coisa feia, onde já se viu? Por que você fez isso?

E Clara deu de ombros. E ainda mostrou a língua. Pré-explosiva, a “Doutora” tentou manter a compostura, tirou o quadro da parede e disse:

- Agora nós vamos pegar ....o quadrinho.... da titia.... e vamos tentar.... arrumar....não é?

Clara deu uma olhada maligna para aquele homem do quadro. Não ia com a cara dele, achava que ele tinha cara de deboche. E, decididamente, enfiou a canetinha vermelha na foto, terminando o seu trabalho artístico. A “Doutora” enfureceu. Ficou vermelha como a canetinha e começou a gritar com Clara, sacundindo-a pelos ombros. E Clara decidiu lançar mão do seu “tempo lógico” metendo a bonita ortopédica na canela da terapeuta.

- Essa menina é louca!!!! Sua desparafusada!!! Você precisa é de psiquiatra!!!!

Assustados com o barulho, os pais de Clara entram na sala e encontram Clara arrancando os cabelos da “Doutora”, chorando, gritando e abraçada ao Sartre. Dona Clarinete não suportou as ofensas e aproveitando para descontar o ciúmes da perfeita interação psicológica da “Doutora” com seu marido, tratou de enfiar sua bolsa na cara da psicóloga, puxou Clara, o marido e saíram para nunca mais voltar.

Como Clara continuava agitadíssima, a diretora da escola exigiu que ela fosse levada a um psiquiatra, sob pena de não poder continuar naquela escola. Seria uma vergonha, pois todos os irmãos e os pais de Clara haviam estudado lá.

E lá se foram, Clara, Dona Clarinete e “Seo” Clarindo ao psiquiatra, o Professor Adolph Hittlebaun. Homem sério, respeitado pela comunidade psiquiátrica. Cinco minutos com Clara e dez minutos com os pais foi suficiente para diagnosticar o problema e prescrever Gardenal®. Nos primeiros dias foi uma beleza: Clara ficou calma, serena, incrivelmente pacífica. Mas após uma semana dormindo ininterruptamente, a família começou a ficar desconfiada que esse não era um bom caminho. Resolveram suspender a medicação e o demônio voltou das trevas. Clara passou por vários outros psiquiatras, tomou vários remédios e nada resolveu.

Cansados, os pais de Clara tiveram um idéia brilhante. Resolveram fugir. Juntaram dinheiro, compraram passagens para a Europa, perucas, casacos. Simularam um acidente de trator na fazenda da família e nunca mais voltaram. Talvez estejam vivos por aí, pela Europa ou no Caribe. E Clara passou a viver sozinha. Os irmãos também pensaram em fugir, mas seus pais deixaram um cláusula no testamento que eles receberiam “mesadas” da herança com a condição que permanecessem todos unidos, sem exceção. Clara cresceu, virou mulher. Mas a cabecinha....

To be continued.....

Parte II - Vida e Morte de Clara.

E Clara cresceu, cresceu,cresceu… Cresceu tanto, mas tanto que ainda adolescente foi pedida em casamento pelo Monstro de Marshmellow. Ela tinha até aceitado, mas o noivo desistiu no caminho do altar porque clara comia os pedaços de marshmellow do seu corpo, fosse por raiva ou por carinho ou por fome mesmo e ele percebeu que não existiria mais até chegar a data do casamento. E então fugiu para nunca mais voltar....

O fato é que Clara se tornou adulta e, ano após ano, se tornava maior e mais chata. É claro que não acho o tamanho de Clara o seu maior problema. O grande dilema é que enquanto seu tamanho crescia em progressão aritmética, sua chatice e seu dom de irritar as pessoas crescia em progressão geométrica. Geométrica não ! Exponencial... Sei lá!

Passado algum tempo, Clara achava que estava muito gorda. Percebia que todos os saltos de todos os sapatos quebravam logo na primeira vez que os colocava; os botões de suas blusas estouravam quando ela ria e gastava um sabonete inteiro a cada banho que tomava. E olha que ela tomava cinco banhos por dia... Foi então que começou a fazer regime. Nada feito. Vigilantes do Peso, Herbalife, Meta Real, Dieta de South Beach, Dieta do Chico Xavier... nada funcionou. Não porque algumas delas não fossem boas, mas porque Clara não conseguia se manter em dieta por mais de três dias. Começava toda empolgada no primeiro dia e no segundo já estava mordendo as pessoas de raiva e explodindo a qualquer momento. Recaía nos chocolates no terceiro dia.

Resolveu tomar uma atitude radical: fez cirurgia de estômago. A cirurgia correu bem, mas após a cirurgia as coisas começaram a ficar difíceis. Clara sentia fome, muita fome. Fazia esforço para se segurar, mas ficava irritada, descompensada mesmo. Daí comia tudo o que dava para comer: leite condensado batido com sonho de valsa, leite de coco com açúcar, brigadeiro batido com iogurte. Comia o que cabia, vomitava logo depois e logo depois comia de novo. Cansada dessa vida, foi conversar com o médico que a operou:

-Doutor, o senhor precisa dar um jeito nisso...
-Mas como eu posso te ajudar, Clara?
-Não sei cara, se vira! Quero meu estômago de volta!!! Eu era muito mais feliz assim!!!!
-Clara, isso não é possível!
-Não fala isso! Eu quero meu estômago!!! – E num ímpeto de fúria, catou o médico pelo colarinho – Eu quero meu estômago!!!!
-Clara, você precisa se consultar com um psi.....
-Psi o que? Psiquiatra? Você rouba meu estômago e acha que eu estou louca? Eu vou processar você por ter roubado o meu estômago!!!

E a recepcionista do consultório entrou na sala ao perceber a agitação.

-Dona Clara, se acalme!
-Acalma coisa nenhuma!!! E sai daqui você!!! – Respondeu irada Clara, dando um soco na cara da recepcionista. Eu vou embora, mas fique sabendo que eu vou acabar com a sua vida!!!!

Saiu batendo portas e empurrando pessoas pelo caminho. Ao chegar na recepção, suas pernas tremiam de nervoso. Não conseguia falar, não conseguia andar. Uma moça que estava ao lado percebeu seu nervosismo e se aproximou para confortá-la. Ela tinha um jeito estranho de falar e uma verruga enorme no lábio superior, mas clara gostou do seu jeito:

- Mocha...pocho ajudar vochê? Vochê tchá muitcho nervoja... Quer uma balinha? Toma...é uma delícha!

E Clara aceitou a balinha de canela que Adriana lhe ofereceu. Sim, Adriana era seu nome. Drica para os íntimos. Quando Clara colocou a bala na boca, nasceu uma grande paixão. Sentia que seus problemas estavam resolvidos, que havia encontrado finalmente o que procurava e que essa seria uma companhia para a vida inteira: a balinha de canela. Sabe aquelas balinhas vermelhas de canela? Sim, essas mesmo? Quando Clara colocou a primeira na boca, sentiu um alivio da ansiedade, da fome, do desconforto. E, de fato, Clara não vivia sem ela. Todo dia, toda hora, o dia inteiro Clara tinha uma bala de canela na boca. Mas isso não a tornava nem mais calma, nem mais simpática e nem mais quieta. Ela reclamava com a boca cheia mesmo. E ainda por cima cospia gotinhas vermelhas e bafo de canela quando brigava.

E a Drica? Não, não foi amor à primeira vista. Mas ficaram juntas assim mesmo, porque o pai de Drica era o dono da fábrica de balas de canela.

Então foram morar juntas no apartamento de Clara e viveram felizes até o dia em que o pai de Drica se suicidou. A fábrica de balas de canela havia falido há tempos e os prejuízos ficaram ainda maiores com a entrada de Clara para a família, pelo tanto de balas que consumia. Daí a situação se agravou. Elas que antes viviam numa situação confortável revendendo muambas da “Hello Kitty”, agora teriam que arranjar outra forma de complementar os ganhos.

Juntas tentaram vários novos negócios, mas nada dava realmente certo, porque Drica sempre roubava os fregueses e Clara sempre se irritava com eles, porque não acreditava que haviam sido roubados por Drica. Foi daí que começaram a fazer bolsas com retalhos do Brás. Venderam muitas. Eram baratas, simpáticas e fáceis de fazer. Ganharam muito dinheiro com isso e Clara achou que precisavam incrementar a produção.

- Vamos bordar algumas pedras nelas, acho que vai ficar bonito!
-Acho um abchurdo!!! Pra que gastar mais dinheiro se as pechoas gostcham axim mesmo? – Retrucava Drica.
-Chega de discussão “mozão”! Eu quero assim, vou fazer assim e está decidido.

Foi então que resolveu começar a bordar as tais bolsas. Tinha um trabalho do cão: passava noite e dia bordando, bordando, bordando. Nunca achava que estava bom. Picava. Desfazia tudo e começava outra vez. Certa noite estava tão cansada que dormiu em cima dos bordados. Foi então que teve um sonho: via-se carregando uma bolsa amarela, enorme, bordada com as suas balinhas de canela. Acordou sobressaltada e maravilhada com o seu sonho. Achava que era uma mensagem do além, provavelmente de algum estilista falecido.

No dia seguinte foi correndo à Rua 25 de Março comprar seus apetrechos. Comprou uma fazenda de cetim amarelo do mais caro e encontrou bolinhas de gude bem vermelhas, reluzentes, como suas balas de canela. Mal chegou em casa, começou a bordar as bolotas vermelhas no cetim amarelo. E foi ficando tão encantada com sua obra que não fazia outra coisa. Não saia mais do sofá, exceto para ir ao banheiro.

Passado quase um mês, o trabalho não havia chegado nem à metade. Ela nem prestava mais atenção em Drica, que sentia uma profunda irritação com aquelas bolotas. Nem as balas de canela Clara queria mais. Só pensava em sua linda bolsa bordada! Não ouvia o telefone tocar, nem ouviu Drica dizer que iria viajar a trabalho e ficaria fora duas semanas.

Clara bordava, bordava, cochilava sobre a peça; acordava e voltava a bordar. Não comia, não bebia e assim nem ia mais ao banheiro para não perder tempo de trabalho. Nem sei dizer quantos quilos Clara emagreceu. O fato é que foi ficando magra, pálida, abatida e tão fraca que mal conseguia movimentar as bolas de gude. Mas sua obstinação era tanta que nem percebeu o quanto havia se desligado do mundo para cumprir sua meta.

Passados quase quinze dias, seu trabalho havia terminado. Tentou se levantar, mas não conseguiu mover o pescoço, que estava deformado pela posição de trabalho. Ficou assustada. Começou a gritar por Drica, que ainda não havia retornado de sua viagem. Tentou levantar, mas estava tão fraca que não conseguia erguer a pesada bolsa amarela, pacientemente bordada com cinco mil bolinhas de gude vermelhas. Não tinha forças para gritar por ajuda e não conseguia se mover, tamanho era o peso da bolsa perante sua fraqueza.

Clara morreu de inanição, soterrada por milhares de bolas de gude. Quando Drica chegou em casa, Clara já não era mais Clara. Lembrava mais uma daquelas múmias egípcias decoradas com seus tesouros no sarcófago.

Friday, August 20, 2010

EU PARECIDO COM ALGUÉM versus ALGUÉM PARECIDO COMIGO (Como é a experiência de sermos iguais a alguém?)


Tenho 36(!) anos dos quais muitos passei rejeitando o fato de ser a cara do meu pai. Pela sua maldade, seu comportamento violento e sua rotineira rejeição, acabei vendo-o como o via em meus recorrentes pesadelos: feio, monstruoso, assustador. Odiava quando me chamavam pelo diminutivo do seu nome e carreguei pesadamente um sobrenome que levava consigo a carga dessa desprezível feiúra.

Nada curioso, sempre me achei feio e, mais ainda, lamentava não ter sido contemplado com os cabelos loiros e lisos, olhos verdes e pele alva, tudo vindo lá do sangue holandês de meu avô.

Foram precisos anos amassando o divã para reconhecer beleza em mim e mais outros anos para aceitar que ela vinha dele. Aceito isso, ficou muito mais fácil aceitar que ele foi um homem bonito, cuja beleza permanecia oculta pelo fog da maldade.

É claro que não fiquei discutindo nossa beleza em análise; foi no passo a passo de incontáveis sessões semanais ou bissemanais que a coisa toda foi se transformando; tanto que acabei me "tornando" o que sou agora ante meus olhos: um homem bonito, parecido com meu velho pai. Só não precisava ficar calvo.

Acho (digo apenas isso) que não o odeio mais e compreendo que ele foi apenas um garoto sem condições psicológicas mínimas para ser pai e, por conseguinte, para dar afeto. Nem materialmente soube compensar essa falta, pois tirou de mim tudo o que deu, sem nem explicar o porquê. Tenho apenas um saudosismo, uma mágoa, uma poçazinha de lágrima por não ter tido um pai diferente.

E agradeço a Deus e a Freud por ter fugido de suas vistas antes que ele conseguisse tirar as únicas coisas que ele me deu e sobraram: minha aparência e minha inteligência. Essas eu sei que o "alemão" e o tempo poderão carregar um dia. Mas ele não.

E vão passando os anos, o tempo me trouxe sobrinhos. Sobrinhos-filhos. Lembro quando Pedro nasceu. Fui visitá-lo na maternidade em seu segundo dia de vida. Fiquei tão cegamente apaixonado que cheguei a dizer que ele era a minha cara. Ele era a cara do Marcelo que eu desejava ser e tinha a alma do Marcelo que eu fui, desprezado pelo próprio pai desde o primeiro dia de nascimento. Pra piorar, lá estava ele, enrolado no mesmo xale cor de abóbora com o qual saí da maternidade. Quatro anos se passaram. Eu e o Pedrinho formamos uma baita dupla.

E chegou o Felipe. Esse eu realmente vi nascer. Na sala de parto. Vi a lágrima emocionada da minha irmã ao ver o filho; também a vi perguntando o que todas as mães perguntam, ansiosas por saber se o rebento é perfeito, se está tudo direitinho com ele. E ele não tinha cara de ninguém. Grande e robusto como meu cunhado, mas também como eu, como minha irmã. Cabelos e olhos escuros. Mas o tempo foi passando e a verdade foi revelada: ele é a minha cara.

Corri nos álbuns do passado para encontrar Felipes nas carinhas de Marcelos ou encaixar carinhas de Marcelos em rostos de Felipes. Perfeito. Os cachinhos dos cabelos, as covinhas no rosto, os olhinhos brilhantes. Encontrei um resquício, uma reminiscência de mim no fundo dos olhos dele. Olhos marejados, lembro-me de um tempo que é mais inconsciência do que qualquer outra coisa; lembro-me das mãos da minha avó, dos cuidados da minha tia. Esses tempos em que a gente só lembra de coisa boa e que nada atrapalha essa vivência. Eu tive isso.

E do mesmo jeito, nesse vai-e-vém do relógio e do tempo, é impossível não pensar no futuro. O que será desses meninos? Eles ficarão sadios, inteligentes? Conseguirão ser felizes? Será que se lembrarão dos beijos que eu dei e dos que me deram?

Impossível saber. A única certeza que tenho é que dei e dou amor a eles. Que amo-os como se fossem meus filhos; que dei a eles um amor que recebi de várias pessoas. Essa é a grande semente que faz com que as pessoas queiram vida, tenham sonhos, desejem respirar vida. Sim, a vida não existe sem problemas. Mas essas sementes de amor, quando crescem, viram uma grama fofa, que nem aqueles campos de golfe, para que a gente possa caminhar pela vida de um jeito mais suave. E tomara que eles não fiquem calvos.

Thursday, August 12, 2010

ZHADE


Tenho uma amiga bem maluca. Mas a maior de suas maluquices é o fato de ser tão sovina que chega a beirar a insanidade.

Certa vez ela convidou a mim e outros amigos para jantar em sua casa. Passou a semana inteira falando dos preparativos do tal jantar, que tinha que fazer as compras para o tal jantar, e por aí foi. Chegado o grande dia, fomos à casa dela, prontos para “atacar”. Comi pouco durante o dia, pensando que encontraria um banquete. Decepção pura. O jantar parecia mais uma degustação para clientes de buffets do que um jantar propriamente dito, com a diferença de que os buffets servem muito mais comida e ainda podemos repetir os canapés que gostamos mais.

A comida era tão pouca que, não só dava para contar o número de “pratos” com os dedos de uma única mão, como a quantidade servida cabia nessa dentro dessa mesma mão. Saímos com tanta fome da casa dela que paramos na primeira pizzaria para matar a fome. Não deixamos de ser amigos, mas aprendi que qualquer evento gastronômico em sua casa deveria ter uma refeição antecipada.

Uma vez tentei levar comida para a casa dela. Comprei dez pãezinhos, frios variados, refrigerantes, cerveja. O resultado foi similar ao do jantar que ela havia organizado. Serviu apenas um pãozinho cortado em microscópicas fatias com gotas de azeite e seis rolinhos de queijo com presunto. O resto ficou guardado em sua geladeira....

Não seu nome não era Zhade. Esse é o nome da cachorrinha que ela decidiu comprar para enfrentar a solidão. Viajou quatrocentos quilômetros para encontrar um canil que vendesse mais barato um filhote de Fox Paulistinha e é claro que viajamos no meu carro sem direito a reembolso de combustível... Mas achei que valeria à pena proporcionar essa alegria à minha amiga.

Chegamos em casa com a cachorrinha. Era tão pequenina que cabia na mão. Queria dar um nome enigmático, pomposo e que ao mesmo tempo tivesse relação com suas origens árabes. Quis chama-la de “Sherazhade”, mas expliquei a ela que um nome tão comprido seria difícil para uma cachorrinha responder prontamente. Deciciu manter o nome mesmo assim, mas com o codnome de “Zhade”.

Zhade crescia e com seu crescimento, cresciam as neuras de minha amiga com a cachorra. Ah! Esqueci de contar! Além de sovina, era obsessiva por limpeza e ordem.... Rapidamente comprou um livro de adestramento de animais, para ensinar a pequenina os bons modos da vida num pequeno apartamento no centro da cidade. Passeava com ela três vezes por dia para fazer suas necessidades e minha amiga acostumou Zhade a andar na coleira enquanto ela pedalava sua bicicleta.

Aparentemente tudo ia bem, mas conforme foi passando o tempo, percebi que algo estranho acontecia. Zhade era um tipo ansioso, agitada e inquieta como uma Fox Paulistinha tinha que ser, mas passou a comer todo tipo de bugigangas e cacarecos que encontrava pela rua.

Houve uma vez em que apareceu com um gorro de lã sujo e fedido que catou da cabeça de um mendigo. Apanhou, foi castigada. Nada adiantou. Continuava catando lixo, papéis da rua e latas de refrigerante. Mas a coisa foi piorando. Nos passeios rotineiros, Zhade passou a atacar vorazmente as fezes de outros cachorros pela rua. Chegou a abocanhar em pleno ar o cocô de um cocker amigo de passeios na praça. Nem preciso dizer que nunca mais aceitei seus carinhosos beijinhos caninos.

Mas um dia, o problema atingiu seu auge. Zhade se meteu no mato e saiu com a boca toda suja de comida estragada e abocanhando um osso de frango enorme. Sabe aqueles ossos em forma de diapasão que brigamos quando crianças para partir em busca da sorte? Esse mesmo. Minha amiga deu um grito de desespero e correu atrás de Zhade e a pobre, no susto, engoliu rapidamente o osso.

Minha amiga me ligou desesperada. Não sabia o que fazer, tinha medo que ela morresse. Disse a ela que procurasse imediatamente o veterinário, pois só ele poderia dar um jeito. Ela fez as contas: consulta de emergência, ultrassonografia, radiografia, medicação e talvez até cirurgia!!! Ah, não! Não estava afim de gastar tanto dinheiro por causa de um misero ossinho de frango! Foi quando teve uma idéia (brilhante, em sua opinião).

Como sabia que Zhade não era muito amiga de andar de carro e que habitualmente passava mal quando isso acontecia, pegou Zhade e a levou para passear de carro. Deixou a cachorrinha no chão do carro e ficou dando várias voltas pelo bairro, em alta velocidade, dando freadas bruscas de tempos em tempos. Não deu outra: Zhade começou a vomitar e, no meio do vômito, lá estava o enorme osso de frango, intacto. Ah! Esqueci de contar que, antes do passeio, minha amiga teve o trabalho e forrar todo o chão do carro com saquinhos de supermercado, para não ter que gastar dinheiro com lava-rápido.

Ligou para mim, toda orgulhosa de seu feito. No total, foram duas horas de tortura. Perguntei a ela que garantia ela teria de que o osso não havia machucado Zhade. Ela disse que após o vômito, calçou luvas, vasculhou todo o conteúdo e não achou sangue. Além disso, recolheu o osso, lavou no tanque e procurou vestígios de rompimentos ou partes pontiagudas. Não tinha certeza de que isso seria suficiente, mas o fato é que Zhade sobreviveu.

Tem gente que diz que os cachorros são reencarnações de pessoas que gostamos muito em outras vidas. Se isso é verdade, minha amiga não deve ter percebido ou, se percebeu, com certeza deve ter sido uma sogra sua... e daquelas, para passar por tantas atribulações.

Thursday, August 05, 2010

A ASCENSÃO DOS PODRES PODERES


Não costumo assistir televisão, salvo alguns filmes franceses e seriados americanos. Mas passei essa semana inteira assistindo o Jornal da Record para tentar assistir a uma entrevista minha. Fiz propaganda para os amigos, que sempre reclamam por eu não avisar quando dou entrevistas, me empenhei para chegar cedo em casa para conseguir assistir. Não passou. Consultei meu Googoráculo: nada. Restou apenas assistir às impagáveis entrevistas do referido jornal.

Acabei vendo de tudo: histórias comoventes de pais batalhadores ou sofredores ou perdedores na semana do Dia dos Pais; experiências gastronômicas de uma repórter coreana e por aí vai. Pelo menos descobri que Singapura é um país e não uma cidade da China! (Como pode? Quem mandou eu cabular todas as aulas de Geografia!). A repórter, TÃO INTELIGENTE, provou sopa de crocodilo, caldo de tartaruga, pudim de grama e ficou com nojo de tomar sopa de rã.... Me poupe!

Mas o mais legal de tudo nesse telejornal foi o que aprendi sobre o xixi. Isso mesmo. Urina. Mijo. XIXI. Segundo a reportagem, o xixi é o principal vilão da corrosão dos viadutos de Salvador. Pela falta de banheiros nas vias públicas da terra de ACM, os viadutos são vítimas de “ataques mijísticos” altamente corrosivos. A reportagem mostrava, inclusive, um viaduto com sua coluna corroída em mais de cinqüenta por cento, tudo por causa do xixi. Mais legal era a repórter falando “xixi”, com a maior propriedade!

E o problema não para por aí. Segundo um laudo técnico sobre o desabamento do Estádio da Fonte Nova em Salvador, o principal causador do acidente que matou oito pessoas foi o xixi. Sim, ele de novo. De acordo com o engenheiro que se atreveu a falar na reportagem, o laudo apontou que os subsequentes xixis nos cantos do estádio redondo foram os responsáveis pelo desabamento.

Fiquei muito intrigado. Eu sempre pensei que os viadutos e estádios, entre outras obras públicas, desabassem pela falta de qualidade nos materiais utilizados, pelo porco planejamento das obras superfaturadas que consomem dinheiro público a rodo, pela pressa eleitoreira em construir pontes e avenidas; nunca em minha vida pude imaginar que o xixi tivesse esse poder.

Como já disse várias vezes, eu amo a Bahia e principalmente Salvador. Acho que a Bahia tem um dom, uma força e talvez o xixi baiano também tenha esse poder. Porque não é qualquer xixi que sai corroendo viadutos e derrubando estádios por aí.

No dia seguinte, mais jornal, mais baboseira. E pasmem: xixi de novo! Dessa vez falando sobre a falta de banheiros públicos na cidade de São Paulo, que leva os transeuntes a despejar seus mijos pelos arredores, incluindo praças e monumentos públicos. Mas xixi paulistano não corrói viadutos. Pelo menos não falaram disso na reportagem. Será é porque somos tão miscigenados? Será que o xixi de nossos imigrantes perde a força quando estão longe da terra natal? Ainda bem que isso não acontece em São Paulo! Imagina se esse poderoso xixi derrubasse o buraco da Marta? O caos reinando sobre o caos!

E de pensar no poder do xixi, minha mente viajou para as libidinosidades...
Pensei naquelas pessoas que curtem “golden shower” (aka “chuva dourada”), onde alguém mija na boca e no corpo de outrem e este (ou esta) até engole... Pensando na força do xixi, acho que é algo parecido com o que Freud chamou de “repasto totêmico”, quando um selvagem usa um dente de sabre em suas peles, toma o sangue do inimigo ou sacrifica animais para captar a energia vital deles... Se o xixi tem força, que possamos toma-la!

Mas os estranhos ou podres poderes não vêm apenas no xixi. Hoje estava conversando com uma amiga que me contou que a Igreja Universal dispõe agora de um novo serviço aos seus fieis: o “Drive-Thru da Oração”! Não quero atacar religiões alheias, até porque o telhado da minha é bem de vidro. Acredito que, mesmo em se falando de religiões, todo mundo tem que acompanhar a evolução. E em tempos de modernidade consumista, nada melhor do que um serviço como esse. Não tem tempo de ir à Igreja, mas preocupado com a sua vida espiritual? Querendo dar uma passadinha no templo do Senhor, mas não achou lugar para estacionar? Passa lá no Drive-thru e Deus responde, rapidinho!

Ainda não visitei esse arauto da avant-garde religiosa. Mas imagino que a gente chega de carro, espera alguns minutos na fila e, de repente, uma “travesti recuperada por Deus” me atende pela caixa acústica ou no balcão e me diz, efusiasticamente:

“Boa noite, eu sou Maggy, quer dizer, Marcos.. Faça seu pedido!”
“Quais são as opções?”

“Você pode pedir o que quiser que Deus irá responder. Mas pode optar pelos combos com os pedidos mais frequentes dos fiéis. Veja no painel: número um, emprego; número dois, fazer o marido parar de beber; número três, arranjar marido e por aí vai.”

“Vou querer o número um então.”

“Ok. Obrigado e boa noite. Você paga... quer dizer... você pode fazer sua doação no próximo box.”

“Nossa, mas hoje eu vim desprevenido...”

“Não se preocupe. Deus aceita débito. Cielo, Maestro, Banco 24 Horas.”

“Vixi. Mas tô sem cartão também .”

“Não há problemas. Apresente seu RG e enviamos boleto bancário. Só não vá passar a data do vencimento, porque além de não conseguir emprego, seu nome vai para o SERASA.”

“Ok,obrigado.”

“Disponha da Universal.”

Como disse, toda religião, inclusive a minha, tem telhado de vidro. É como as “macumbas prontas” que são vendidas em casas de artigos religiosos ou pais-de-santo que cobram fortunas por “trabalhos” que muitas vezes nem fazem. Qualquer que seja a crença, odeio quando é transformada em comércio, vendendo pedaços do céu, terras prometidas, milagres, bênçãos e felicidades. É claro que a fé pode realmente mover montanhas. Se um simples xixi tem o poder de derreter viadutos e estádios, é bem possível que, se alguém vai ao Drive-thru e acredita ser ouvido por Deus em suas preces, é bem capaz que seja atendido.

O que realmente me incomoda é parte “intermediária” das coisas. Um simples xixi não é veneno ou sujeira em si. O grande problema é transformar o xixi num vilão. Do mesmo modo, a fé é tão limpa e legítima quanto o xixi. É o seu mau uso e as intermediações que permeiam seu uso, transformando-a em mercadoria, que a poluem. Acho que o xixi é tão puro e limpo quanto Deus, em sua imanência. E do mesmo jeito que os encanamentos poluem o xixi, é muito comum que as religiões poluam a pureza e a beleza dos feitos de Deus. Resta a dúvida: será que uma prece poluída de religiões e dogmas chega a Deus com menos força?

Sunday, August 01, 2010

LOVE IS IN THE AIR


“Love is in the air / Everywhere I look around / 
Love is in the air
/ 
Every sight and every sound” (LOVE IS IN THE AIR, John Paul
Young)

Eu sei que tem acontecido muitas desgraças pelo mundo. Sei que
tem gente sofrendo, gente morrendo, gente chorando. Mas de
uns tempos pra cá tenho sentido e observado uma “onda” de
amor no ar.

Amor, não Felicidade. Mas um amor que une pessoas, que forma
casais, que redime mágoas, que gera uma força motriz para que
se resolvam problemas. Enfim, um amor como realmente
deveria ser: um princípio criador.

Essa semana soube de duas histórias parecidas: dois senhores (e
por que não dizer velhinhos), feitos viúvos recentemente
encontraram apoio, aconchego e carinho em novas
companheiras para o fim da vida. Fiquei feliz por eles. Como
deve ser duro perder alguém que amamos após décadas de convivência! Dureza foi a “opinião pública”: revolta, indignação, palavras indecorosas, intolerância... Será que essa pessoas votariam pela viuvez eterna com roupas negras num plebiscito?

E o amor não para por aí. Trabalho com um grupo de pessoas há vários anos e nessas últimas semanas perdemos a casa, quase perdemos nosso chefe e amigo (de morte morrida mesmo!). E de repente o “povo” se uniu para resolver as coisas, para buscar dias melhores. Os primeiros passos foram dados por altruísmo e “dever social”, mas fui acompanhando, passo a passo, o despertar de um amor mútuo, de um amor conjunto, de um amor que faz filhos-coisas e edifica um futuro.

E a onda de amor não parou por aí. Hoje recebi uma “cartinha de amor” de uma amiga. Não, ela não está apaixonada por mim. Ela declarou o seu amor de irmã-amiga-admiradora... É engraçado como nos conhecemos há tantos anos mas nunca fomos próximos e, de uns tempos pra cá, “ciberneticamente”, fomos nos aproximando e hoje somos “ciberneticamente íntimos”. Mas foi bonito e gostoso receber essa declaração de amizade. Coisa rara nos dias de hoje alguém parar para tecer elogios a outrem...

Faz dias que estou querendo escrever sobre isso, mas não estou conseguindo colocar as palavras do jeito que gostaria. Preciso parar de lutar espadas no Wii. Já me disseram que tenho lutado durante a noite. O curioso é que não me recordo de sonhos em que estivesse lutando. Já lutei muito na vida e nos sonhos, mas ultimamente meus sonhos têm sido somente vitórias, passeios, realizações. Mas acredito que a concentração extremada nas espadas do Wii possa levar minha inspiração literária embora. Vou pensar melhor nisso.

Se o amor está no ar, eu também tenho respirado um pouco dele. Sinto que amo mais. Amo mais a quem já amava e deixei de odiar um montão de gente. Quase escrevi que não havia feito nada para que isso acontecesse. Realmente não fiz nada dirigido a isso, mas rezei muito, fiz muita terapia, mudei algumas atitudes e, como consequência, várias coisas mudaram.

Mas não quis esperar a inspiração chegar mais “forte” para falar sobre isso. Essa é minha declaração de amor ao Amor. Espero que isso se multiplique, perdure, se espalhe...