Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Saturday, May 21, 2011

A HISTÓRIA DE LARA.


Lara não era amiga de infância de Fernando. Mas era como se fosse. Fernando Conheceu Lara no meio de uma “infância psicológica” aos vinte e oito anos de idade; naqueles momentos da vida da gente em que a gente se deslumbra com a própria vida, que aprende o quanto viver vale à pena e como é gostoso se sentir vivo, saudável e feliz.

A conexão deles foi imediata. No mesmo dia em que foram apresentados, já sentiu que seriam grandes amigos. E a profecia se cumpriu. Ao longo desses anos todos foram ficando cada vez mais próximos, mais cúmplices. Fernando tinha muitos amigos, muitas pessoas queridas à sua volta. Mas Lara se tornou uma peça muito importante em sua existência. Viajaram juntos, batiam papo ao telefone, saíam para todo tipo de balada, e tudo era sempre muito legal.

Lara era uma pessoa muito culta e divertida. Fernando adorava ouvir suas histórias de infância, como quando era criança e se apaixonara pela dona de uma floricultura e levava flores todos os dias para ela; ou quando se vestia de homem imitando o cantor Wando.

Há cerca de um ano, Lara desapareceu. Deixou de atender telefonemas, não respondia às mensagens de texto. Fernando mandou um email perguntando sobre o que havia acontecido e ela respondeu que estava tudo bem, que estava muito ocupada ultimamente. Já fazia um mês que não a via, e tiveram um aniversário de um amigo em comum. No caminho para o aniversário, Fernando começou a chorar, pensando nesse encontro. Teve uma sensação esquisita sobre ele. E estava certo em sua intuição. Foi como se não houvesse mais uma conexão. Lara estava “fria” com ele.

Passado algum tempo, chegaram a trocar alguns emails e lhe parecia que a Lara de antigamente estava de volta. Houve a ameaça, o ensaio de um encontro que não se realizou. E Lara desapareceu de novo.

Certo dia, andava pelo shopping center, percebeu que um homem o observava. “Será que ele está me paquerando?”, pensou. “Conheço esse cara de algum lugar. Será que fomos colegas de escola?”. Encarou-o firmemente e o homem desviou o olhar. “Coisa da minha cabeça”, pensou. Uns dias depois, teve um sonho com aquele homem do shopping. Sonhou que ele entrava na sua casa num domingo; tinha ido almoçar. Fernando conversava com o homem como se fossem grandes amigos. Acordado, não fazia idéia de quem era aquele cara. Chegou a falar desse sonho com seu analista, mas mesmo interpretações aparentemente brilhantes não o convenciam.

Uns dias depois, viu o carro de Lara na Avenida Paulista, bem na frente do seu. Tentou fazer sinal e não teve resposta. Acelerou um pouco e conseguiu parar ao lado do carro de Lara no semáforo. Buzinou, fez sinal, abaixou o vidro. Gritou seu nome. Ninguém respondeu. Mal o sinal abriu, o carro saiu rapidamente, cantando pneus. Intrigado, Fernando tentou seguir o carro, mas com discrição. Alguns quarteirões à frente, o carro parou e Cristina, a namorada de Lara, desceu do carro para comprar revistas em uma banca de jornal.

Fernando concluiu que era Lara que estava dirigindo o carro e que ela não queria falar com ele. Ficou irado e decidiu segui-las até que ela descesse do carro para que fosse ao seu encontro e perguntar os motivos desse sumiço. Seguiu-as até a casa de Lara e elas entraram na garagem do prédio. Desceu do carro, tocou a campainha e o porteiro disse que não havia ninguém em casa.

- Eu sei que elas estão aí! Diga que preciso falar com ela.

- Senhor, se o senhor continuar insistindo teremos que chamar a segurança do condomínio.

Fernando saiu cabisbaixo, mas indignado. Tentou ligar. Deixou recados. Mandou SMSs. Tentou Orkut. Facebook. Mandou emails. E nada. Tentou falar com a família de Lara e todos diziam a mesma coisa: “Está tudo bem, ela anda muito ocupada.” Mas nada disso convencia Fernando. Decidiu ficar no pé de Lara até que conseguisse falar com ela. E dois dias depois, seguiu-a até o supermercado. Levou um susto no estacionamento ao ver um homem descendo do carro de Lara e abraçando a namorada dela. Não entendia o que havia acontecido. “Será que a Cristina está usando o carro de Lara para sair com um cara? Será que Lara foi assassinada e sua companheira ficou com todo o dinheiro e agora está com um cara?”. Nada fazia sentido. Mas resolveu descer do carro e ir na direção de Cristina. Gritou por seu nome, ela olhou para trás e quando o viu, virou as costas e apertou o passo.

Cristina e o homem começaram a correr pelo supermercado e Fernando foi correndo atrás. Correram tanto que ele os perdeu de vista. Mas não desistiu da sua busca. Parou seu carro ao lado do carro de Lara e ficou por lá até quando retornaram. No momento em que chegaram, Fernando desceu do carro, catou o braço de Cristina e perguntou rispidamente:

- Cristina, por favor, fale comigo! Eu só quero saber o que houve! Quem é esse cara?

- Solta ela Fernando!

- Como você sabe meu nome?

E quando Fernando olhou e encarou o tal homem, levou dois sustos. Reconheceu o homem. Era o mesmo homem com o qual trocou olhares no shopping e que visitara seus sonhos. E esse mesmo homem era Lara. O mesmo porte físico, mas um pouco mais forte. Cabelos bem curtos. Um pouco de barba. Mas aquele olhar de menina marota... Não havia como esconder. E Fernando desmaiou no estacionamento do Carrefour.

Após recobrar a consciência, Fernando ouviu a história de Lara. Lara agora era Lauro. Cortou os cabelos, tirou os seios. Fez tratamento hormonal e tem pênis inflável. Disse que acabou assumindo a sua vontade de passar por todos os processos de transformação de sexo porque não era homossexual. Lara ou Lauro era um transgênero. Havia resolvido se esconder porque não queria que as pessoas a vissem, não queria ser julgada, estava psicologicamente abalada. Então se abraçaram e choraram. Fernando perdoou a distância, o afastamento. E perguntou se ela havia guardado os longos cabelos negros e cacheados para que Fernando pudesse fazer uma peruca com eles para usar na sua próxima performance.

Foi aí que Fernando acordou. Estava em seu quarto, ao lado de seu namorado, que dormia pesadamente. Havia sido um sonho. Chorou ao lembrar que Lara não era Lauro. Chorou porque Lauro era uma alusão ao seu desejo de tê-la por perto novamente. Saiu da cama, lavou o rosto com água gelada da torneira. Foi para a sala, sentou-se no sofá e acendeu um cigarro. Tomou uma dose de Baileys enquanto via as fotos de tantos momentos legais ao lado de Lara, para relembrar os velhos tempos.

O que aconteceu com Lara? Fernando não saberia responder. Por onde andaria Lara? A única coisa que tinha certeza é que, fosse o que fosse e não importaria quanto tempo passasse, Lara estaria sempre em seu coração.

Sunday, May 15, 2011

A INSTANTANEIDADE DA VIDA


A vida é efêmera. Somos uma folha de papel. Esse mundo é esquisito mesmo. Nascemos, crescemos, nos multiplicamos ou não. Fazemos um montão de coisas pra morrer no final. Podemos pensar nos propósitos maiores, na vida após a morte, nas reencarnações, nas missões evolucionárias; tudo acaba nos fazendo pensar, crer, aceitar, desejar, aspirar, algo maior que a própria vida terrena. O fato é que estamos vivos, precisamos da vida, queremos a vida. E vivemos num mundo de coisas. Queremos essas coisas. Queremos amores, sabores, dinheiro, objetos, construímos sonhos e alimentamos desejos terrenamente deliciosos.

Hoje, na hora, do almoço, saboreando um delicioso polvo com batatas assadas com meus amigos, conversávamos sobre o tédio dos mundos conservadores e dos radicalismos alimentares. Devo ser pouco evoluído. Gosto de carne de porco, sorvete de chocolate, bebo café várias vezes ao dia, babo por um Marlboro vermelho. Sou um vegetariano part-time e me poupo na hora do almoço para comer torresmo e chocolate à noite, ou pizza, ou salsicha, ou sopa de queijo, ou hambúrguer. Qualquer coisa dessas que não leva ninguém para o céu dos yogues. Não estou criticando nem vegetarianos, nem yogues. Desde que sejam verdadeiramente o que pregam.

Tenho um primo distante que se dizia vegetariano. Daqueles radicais. Nada de proteína animal. Adoçava os leites e cafés com mel em pasta (Eca!). Proibia seus filhos de comerem doces. Fazia pregações intermináveis sobre as toxinas da carne e da comida enlatada. Certo dia, veio a São Paulo para visitar a parentada. Encontrou-nos num clube do qual éramos sócios e, de repente, desapareceu. De repente começaram a gritar lá do restaurante do clube. Um homem – o meu primo – havia desmaiado de tanto comer. Picanha. Linguiça. Torresmo. Feijoada. Foi parar no hospital e quase morreu de congestão. Recaída selvagem de um vegetariano pseudo-purista.

É claro que a proposta dessas escolhas é de um viver saudável. Comida saudável, atividade física, nada de vícios ou abusos. Eu não sei se suportaria. Sou vidrado em cheiros, gostos, sabores. Durmo pensando em qual será o maravilhoso almoço de amanhã; compro Häagen-Dazs no sábado para comer no final de domingo; planejo meus jantares, meus cafés da manhã, minhas sobremesas. A minha vida é toda processada através do estímulo aos meus sentidos, sobretudo o paladar.

Tenho que admitir que, vez ou outra, saio correndo atrás de uma certa “redução de danos” e me imponho alguns sacrifícios com o objetivo de diminuir os riscos, os pesos, os problemas ligados a um viver tão prazeroso. Faço um tiquinho de ginástica, largo o cigarro, como menos doces durante a semana. Mas não penso mais em ficar magrelo, musculoso, “saudável”, simplesmente porque considero uma troca injusta demais para aceitar.

Estou falando de comida, de orgias gastronômicas, de prazer à mesa. Mas tudo o que pode dar prazer pode ser incluído nessa lista. O que eu quero dizer é que eu vivo a vida. De vez em quando vem algum chato e diz: “Nossa, você engordou, hein?”. Antes isso me deixava triste, chateado. Hoje eu respiro fundo, conto até três, abro um sorriso e respondo: “É a vida boa. Eu sou feliz. E a minha felicidade é do tipo que engorda.”

Quando era mais jovem, tinha um tio que me falava a mesma coisa toda vez que nos encontrávamos: “Porrra, meu, você tá cada vez mais gordo! Onde vai parar desse jeito?” Eu ouvi esse comentário uma meia dúzia de vezes, sorria sem graça, não querendo dizer aquela resposta que eu havia decorado desde a primeira vez que ele me disse isso. Mas um dia o escorpião saiu da toca e ativou seu módulo serpente: “Eu não me incomodo com isso. Até porque eu posso dar um jeito, eu posso emagrecer. Agora você não tem jeito, porque além de feio, é velho.” Isso me custou um empurrão e um desaforo do meu velho pai, que se incomodou com a ofensa ao amigo dele, coisa já esperada. O tio, saudável, esportista, esbelto (mas feio), morreu. E eu continuo gozando a vida e da cara dele.

Muita gente deve pensar: “Pobre gordo. Fica aí justificando a própria obesidade e não faz nada para mudar.” Respeito a opinião alheia. Quem me conhece de verdade saberá dizer o quanto tem de felicidade em minha vida. Eu, que um dia quis morrer precocemente, hoje agradeço continuar vivo e espero assim continuar por muitos e muitos anos. Mas se Deus, ou o Destino, ou a Morte, ou quem quer que os represente, decidir que chegou minha hora, eu não titubeio em dizer que morreria feliz.

Estou falando da Morte porque ela tem rondado ultimamente. Não a mim, mas os meus. Morre um aqui, outro ali; gente jovem, doente, em estado grave, em leitos de hospitais; gente sofrendo dores terríveis; gente que perdeu as esperanças. É nesse momento que me pego pensando em como somos nada. Folhas de papel; folhas ao vento; papéis de seda; frágeis; vulneráveis. Somos tudo, a todo vapor, em plena força e vigor num momento e nos tornamos um nada absoluto numa fração de segundo. Do tudo que somos, podemos virar pó a qualquer instante.

E quando vejo a Dona Morte, caminhando por aí, arrastando sua foice e balançando sua capa no vento, sinto-me mais forte, mais vivo e com mais fome. Fome de comida, de guloseimas e de vida. Fome. Não aquela fome voraz, igual quando termino o dia de trabalho e resolvo ir ao supermercado e acabo gastando o dobro do previsto, porque meus olhos gulosos e minha barriga vazia ordenam que eu compre tudo que veja pela frente. Não essa. Falo da fome programada, ajeitada, que chega aos poucos, que cresce ao sentir o cheiro e ao ver as cores da comida. Dessa que faz a gente querer sentar na mesa por horas, que deixa vontade de lamber o prato e ainda beliscar mais um pedacinho da comida que está lá, esfriando.

Fome do banquete da vida. E como todo banquete, a vida tem que ser completa. De amor, de amigos, de carinho, de perdões. Pode ter seus percalços, como quando deixamos queimar o molho, ou arrebentamos o pudim ao desenformá-lo, ou queimamos as mãos no fogo. A vida é uma cozinha experimental. Conhecemos os ingredientes, mas não a receita. Cada “prato” vem da Alma.

Sim, eu já queimei comidas, quebrei pratos, azedei molhos. Na cozinha e na vida. Mas continuei experimentando. E repito o constante exercício de aprender a jogar fora os bolos queimados, os molhos azedos e a passar pomadas e água gelada nos dedos queimados. Podemos errar e tentar acertar infinitas vezes. Mas é difícil recuperar um bolo queimado.

E hoje, nessa “cozinha”, aprendi mais uma lição: podemos errar, podemos nos entristecer, mas é o sorriso, a alegria que vem da Alma que nos fortalece para continuar seguindo.

Sunday, May 08, 2011

AS BODAS DE ÍCARO E OS SONHOS DO MUNDO


“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. (...) Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.” (Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, Bíblia Sagrada)

Não, não me enganei. Troquei Fígaro por Ícaro porque foi o grego e não o italiano, quem me deu asas. Foi Ícaro, o arquétipo, o símbolo e o homem por trás do símbolo quem me ensinou a voar. Foi com ele que aprendi que tinha asas, foi ele quem me ensinou a usa-las. Foi através dele que realizei meus sonhos de ser livre e que descobri o gosto da felicidade.

Antes de descobrir Ícaro, estava preso num labirinto. O labirinto do menino que brincava com as coisas de menino porque não podia viver uma vida de verdade e só restava sonhar. Sonhar um sonho daqueles que a gente lamenta muito quando acorda, porque em volta é só pesadelo. Um sonho desacreditado de ser vivido, de tão distante que parecia. E nesse tempo de menino, habituei-me a acreditar que a felicidade era algo impossível de ser atingido.

Foi quando resolvi seguir os conselhos de Dédalos e aventurar-me pelos caminhos de Ícaro. Asas de pena e cera, a necessidade e o perigo de atingir o Sol. O perigo de se debulhar com o sal do mar sobre as asas. O medo enorme. Um medo que era como o medo da morte. E uma estranheza de sentir esse medo, se antes estava morto-em-vida no labirinto.

Voei por bosques, vales, sombras. Sóis que iam e vinham. Sóis de esperanças, sombras de ilusões. Foi quando se abriu a porta do Xingu. Um bosque, uma selva, um labirinto diferente. E foi nesse labirinto que me embrenhei, que acreditei e realizei os sonhos que outrora acreditava desfeitos e irrealizáveis. E foi lá que eu encontrei os olhos que brilhavam no escuro e que me guiaram pelos caminhos de Eros.

Hoje já não sou mais o menino de sonhos frustrados. Nem o Ícaro das asas de cera. Sou o homem com alma de menino que matou o Ícaro para dar vida ao Eros. Acho que realizei muitos dos meus sonhos; e os que não realizei, simplesmente é porque ainda não chegaram. Mas o maior de todos os sonhos eu conseguir realizar: amar e ser amado de verdade. E hoje fazem oito anos que deixei Ícaro sobrevoar os bosques do Xingu.

As asas de Ícaro se foram, mas ainda sou um homem com asas. Asas de sonho. Sonhos que me mantém vivo. Sonhos de continuar sendo feliz a cada dia; de conseguir driblar as dificuldades; de ver as pessoas queridas fortes e felizes como eu; de ver as pessoas que ainda sofrem, perdidas nos labirintos da vida, poderem encontrar seus Xingus, seus bosques, suas Amazônias, suas florestas.

E eu, que cheguei a renegar Deus pela desesperança, hoje o vejo em todos os lugares, na minha vida, na minha casa, no meu coração. Hoje me levanto a cada dia e agradeço por todos os momentos em que ele me deu força, coragem, fibra e manteve, mesmo que “enrustida”, a minha fé, a minha esperança e o meu amor pela vida. Porque foi esse amor que me manteve vivo; porque foi por acreditar que seria possível, mesmo que por fora parecesse incrédulo, que me fez seguir viagem; e saber que naqueles olhos que brilhavam no escuro Xingu estava tudo o que eu mais sonhava.

Wednesday, May 04, 2011

LOIRICES E BUCETOSES.


Não sei dizer quem inventou os termos; a primeira vez que ouvi falar de BUCETOSE foi no Programa Saia Justa, da GNT, da boca de Rita Lee, que definiu como sendo as chatices típicas femininas, como as exacerbadas competições entre as mulheres, o hábito de criticar roupa alheia. Enfim, é um vocábulo prescritível a diversos comportamentos femininos. Doutor Google só me deu duas páginas com o termo.

Já a LOIRICE... essa existe desde que o mundo é mundo. Devo ter ouvido pela primeira vez no início da adolescência, que é quando começamos a brincar com a loirice alheia. Doutor Google tem incontáveis referências ao fenômeno, que pode ser caracterizado como o usual comportamento mentecapto, temporário ou permanente, congênito ou adquirido, natural ou implantado, entre uma gama de mulheres, decorrentes da cor loira dos cabelos. Talvez seu grande “start” ou seu “boom” tenha sido nos gloriosos idos tempos do cinema hollywoodiano e suas loiras ardentes e monumentais, sendo o estandarte dourado (e é claro que não poderia ser de outro tom) a estonteante Marilyn Monroe.

Não estou buscando apredejamentos feministas, tampouco acaloramentos machistas. Não sei se é assim verdade que isso só acontece com loiras; é fato apenas que o senso comum mundial elegeu a burrice das loiras a melhor de todas elas. Mas eu de fato acredito que todo mundo tem a sua dose de loirice, a sua loirice intrínseca ou mesmo a adquirida com o tempo e através dos ritmos da vida e do mundo. Mas esse final de semana, ao lado de loiras incontidas, avivou meus pensamentos e lembranças sobre a loirice. E isso é igual para a bucetose. É claro que menos conhecido e menos pejorativo, mas encontrada até em maiores proporções.

No último domingo, acabei encontrando Dalva, num almoço na casa de outra amiga. Amiga engajada, empresária bem sucedida e recém espiritualista inveterada. Trocando em miúdos: Dalva é loira, mas não é burra. Sabe o que quer, tem planos para o futuro. Mas Dalva tropeça na loirice. E cai de boca. Inspiradíssima, comentou comigo:

“Aquele dia que eu desejei boa páscoa pro Fulano lá no Face, você me xingou!”

“Eu xinguei? De quê?”

“Xingou de repetista, repetitiva, sei lá.”

Fui verificar no Facebook. Achei. Entendi. Era domingo de páscoa e escrevi pra ela: “RÉPI-ISTA”, querendo dizer “Happy Easter” ou “Feliz páscoa” em inglês. Ela despencou a dar risadas da própria loirice.

Depois emendou:

“Quando a gente tava na Califórnia, eu e meu namorado, aconteceu o terremoto lá no Japão e todo mundo tava com medo que ele atingisse a Califórnia. Meu namorado perguntou qual cidade tinha sido atingida e eu respondi ‘Quake’.”

“Quake?”, ele perguntou.

“Sim, ta escrito na TV. Eles não param de falar isso.”

“Quake não quer dizer tremor?”

E de novo ela se chacoalhou em si mesma, rindo da própria loirice, dizendo: “É que eu sou loira, né?”

Tenho uma amiga que tem uma filha que, apesar de não ser loira, loirifica com freqüência. Outro dia viu um coelho entrando numa loja e disse:

“Mãe, mãe, olha! Uma lepra!”

“Lepra?”

“Uma lepra, mãe, a mulher do coelho!”

“Fernanda, é uma lebre!”

“Ah... é parecido,né?”

O legal da loirice é que pode ser bem divertido, pode virar até piada. Diferente da bucetose. Bucetose gera brigas, desentendimentos, separações. Gera “istresse”. Como me ensinou Rita Lee, bucetose é um negócio chato, que cansa. Bucetose não é TPM; mas é agravada por ela. Toda mulher está sujeita a bucetoses em qualquer tempo; mas tem algumas que são bucetoses ambulantes. Serafina é uma delas. Mulher azeda, intratável. Encrenca com tudo, vê problema em qualquer coisa, critica tudo e todos. Toda vez que encontro com ela, sinto náusea. Quando sei que vou encontra-la, sinto vontade de fugir, me esconder embaixo da mesa, não sair da cama. Pra mim, ela é a Vênus das Bucetoses. O ícone, o apanágio, o patognomônico.

Eu sabia porque queria escrever sobre as loirices, um tipo de burrice “charmosa”, divertida. Mas até encontrar com Sarafina, não havia entendido o porque de escrever sobre bucetoses. Não estou falando mal das mulheres; como disse uma amiga, sou um homem que gosta de homens, mas que também gosta das mulheres. E gosto mesmo. Minha irmã, minhas amigas maravilhosas, minhas mães-de-santo. Até compreendo suas pequenas bucetoses eventuais.... Mas as bucetoses ambulantes... que raiva!

Mas deixa elas! Que elas se entendam com Deus, com seus hormônios, com seus maridos ou com a falta deles. Só as quero longe de mim.