Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, May 08, 2011

AS BODAS DE ÍCARO E OS SONHOS DO MUNDO


“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. (...) Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.” (Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, Bíblia Sagrada)

Não, não me enganei. Troquei Fígaro por Ícaro porque foi o grego e não o italiano, quem me deu asas. Foi Ícaro, o arquétipo, o símbolo e o homem por trás do símbolo quem me ensinou a voar. Foi com ele que aprendi que tinha asas, foi ele quem me ensinou a usa-las. Foi através dele que realizei meus sonhos de ser livre e que descobri o gosto da felicidade.

Antes de descobrir Ícaro, estava preso num labirinto. O labirinto do menino que brincava com as coisas de menino porque não podia viver uma vida de verdade e só restava sonhar. Sonhar um sonho daqueles que a gente lamenta muito quando acorda, porque em volta é só pesadelo. Um sonho desacreditado de ser vivido, de tão distante que parecia. E nesse tempo de menino, habituei-me a acreditar que a felicidade era algo impossível de ser atingido.

Foi quando resolvi seguir os conselhos de Dédalos e aventurar-me pelos caminhos de Ícaro. Asas de pena e cera, a necessidade e o perigo de atingir o Sol. O perigo de se debulhar com o sal do mar sobre as asas. O medo enorme. Um medo que era como o medo da morte. E uma estranheza de sentir esse medo, se antes estava morto-em-vida no labirinto.

Voei por bosques, vales, sombras. Sóis que iam e vinham. Sóis de esperanças, sombras de ilusões. Foi quando se abriu a porta do Xingu. Um bosque, uma selva, um labirinto diferente. E foi nesse labirinto que me embrenhei, que acreditei e realizei os sonhos que outrora acreditava desfeitos e irrealizáveis. E foi lá que eu encontrei os olhos que brilhavam no escuro e que me guiaram pelos caminhos de Eros.

Hoje já não sou mais o menino de sonhos frustrados. Nem o Ícaro das asas de cera. Sou o homem com alma de menino que matou o Ícaro para dar vida ao Eros. Acho que realizei muitos dos meus sonhos; e os que não realizei, simplesmente é porque ainda não chegaram. Mas o maior de todos os sonhos eu conseguir realizar: amar e ser amado de verdade. E hoje fazem oito anos que deixei Ícaro sobrevoar os bosques do Xingu.

As asas de Ícaro se foram, mas ainda sou um homem com asas. Asas de sonho. Sonhos que me mantém vivo. Sonhos de continuar sendo feliz a cada dia; de conseguir driblar as dificuldades; de ver as pessoas queridas fortes e felizes como eu; de ver as pessoas que ainda sofrem, perdidas nos labirintos da vida, poderem encontrar seus Xingus, seus bosques, suas Amazônias, suas florestas.

E eu, que cheguei a renegar Deus pela desesperança, hoje o vejo em todos os lugares, na minha vida, na minha casa, no meu coração. Hoje me levanto a cada dia e agradeço por todos os momentos em que ele me deu força, coragem, fibra e manteve, mesmo que “enrustida”, a minha fé, a minha esperança e o meu amor pela vida. Porque foi esse amor que me manteve vivo; porque foi por acreditar que seria possível, mesmo que por fora parecesse incrédulo, que me fez seguir viagem; e saber que naqueles olhos que brilhavam no escuro Xingu estava tudo o que eu mais sonhava.

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