Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, July 22, 2011

VENTOS DE IANSÃ


“Iansã comanda os ventos,

A força dos elementos

Na ponta do seu florim

É uma menina bonita

Quando o céu se precipita”

(As Ayabás, Caetano Veloso&Gilberto Gil)

Tenho pensado muito em Iansã ultimamente. Ela é a senhora dos raios, das faíscas, dos ventos, das tempestades. É ela, na mitologia das religiões afro-brasileiras, quem move as marés. No sincretismo católico ela é Santa Bárbara.

As pessoas identificadas como filhas de Iansã carregam suas características: guerreiras, impulsivas, impetuosas, teimosas, rebeldes, libertárias, fogosas, extravagantes. Podem, no aspecto negativo, serem briguentas, autoritárias, violentas. Mas o mais importante de tudo que elas carregam é essa força ígnea, esse calor, essa atitude cheia de energia perante a vida.

Eu amo e respeito todos os Orixás da Umbanda e do Candomblé. A cada dia que passa, mais eu os conheço, mais eu respeito, mais eu aprendo. Mas, com todo o respeito a todos eles, Iansã, ao lado de Xangô e Oxum, são os Orixás pelos quais sustento a ligação mais forte.

Foram eles, na minha modesta e pequenina sabedoria, os primeiros fios condutores a me apresentarem essa religião, essa forma de cultuar a Deus, que hoje tanto me completa. Para mim, a Umbanda é hoje parte integrante do meu viver. É o seio que alimenta minha espiritualidade; é a cama fofa onde deito meus pensamentos; é o pai severo que me ensina o modo certo de fazer as coisas; o colo da mãe carinhosa para os dias em que busco carinho e compreensão.

Certa vez me disseram que eu era filho de Iansã. Achei estranho ser filho dela com meu temperamento pacato, conciliador. Logo depois me tornei mais impetuoso, mais decidido e acreditei no que me disseram. Numa outra ocasião, em uma consulta espiritual, me disseram que não era filho dela, mas que ela olhava por mim, disso não havia dúvida.

E compreendendo um pouco mais sobre essas coisas, fui conhecendo a função dos Odus. Odus, no candomblé, são “energias que rondam” a nossa vida, que podem mudar de tempos em tempos, influenciando nossa existência, nosso caminho, nossas escolhas. Quando nascemos, existe um Odu, uma força principal que rege o momento em que nascemos e que irá influenciar por demais a nossa vida; e isso é confundido várias vezes com o Orixá da pessoa, ou o “santo de cabeça”. Da mesma forma que no momento do nascimentos, vários Odus irão influenciar os acontecimentos em nossas vidas, da mesma forma que somos influenciados, do ponto de vista da psicologia arquetípica, pelos mitos.

Desse modo, mesmo que eu seja filho de Xangô, posso estar, num determinado momento da vida, sob os odus de um outro Orixá, proferindo mudanças em meu caminho.

Talvez eu até passe pela influência dos odus de outros Orixás, e isso pode ter passado despercebido. Mas quando os ventos de Iansã sopram em meu caminho, esses eu já aprendi a compreender. É hora de mudança. É hora de botar energia de movimento. É hora de botar o pé na estrada.

E toda vez que isso acontece, provoco labaredas pelo caminho. Já quebrei vidraças, já arrebentei porteiras, xinguei palavrões cabeludos e saltei de embarcações em movimento. Mas nesse momento, ela não vem com essa violência. Talvez porque não haja mais necessidade de fazer esse barulho todo com o intuito de me fazer acordar. Talvez porque sejam uma Iansã mais velha, analisada ou adoçada pelos temperos de Iemanjá. Não tenho dúvidas: é ela que reina; mas talvez esteja reinando numa cabeça mais esclarecida hoje.

Devem ser os ares de Paris.

1 Comments:

Blogger ANTONIO T'OSUN said...

MARAVILHOSA ESTÁ POESIA,UMA PESSOA QUE REALMENTE AMA O ÒRISÁ DE FORMA PLENA E COM O CORAÇAO,POIS SUA POESIA
REALMENTE NOS FAZ PARAR E PENSAR,NA SIMPLICIDADE DAS PALAVRAS O AMOR E A NATURALIDADE QUE SÓ TEM AQUELES QUE TEM AQUELES QUE ENTENDERAM ESTÁ FORÇA
QUE ESTA DENTRO DE CADA UM DE NÓS.ÀSÉ
QUE O ÒRISÁ CONTINUE LHE TRAZENDO ISPIRAÇÃO SEMPRE.ÀDÚPÉ ÓÓÓ !!!! OBRIGADA.ELOYA NYRAN T'ONYRÁ.

7:35 PM PDT  

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