PELO AMOR DE GRETA GARBO, JUDY GARLANT E DE TODAS AS DIVAS PISCADEIRAS!
Glamour é tudo. As divas piscadeiras sempre souberam disso. Salto alto, rímel trincando, aquele rebolado estonteante. Tem até quem corte um pedaço de um dos saltos para deixar o molejo mais molejante. Batom, pancake, brincos, pulseiras, echarpes, soutiens, bolsas, meias, apliques, bobs elétricos, babylizz. Um monte de ítens tornados cada vez mais indispensáveis para a manutenção do glamour. É claro que tudo isso pode ser dispensável. Mas uma vida sem glamour é quase sobrevivência.
Sempre gostei de conviver com mulheres. Sempre admirei o jeito de se vestirem, de escolherem suas roupas, de se produzirem. Ficava admirando minha mãe e minhas tias se produzindo e ainda sou refém de admirar minhas amigas se preparando para as baladas.
Nisso, o universo masculino é totalmente sem graça. Por mais que existam griffes e marcas badaladas; por mais que se criem spas masculinos e inventem tratamentos de beleza voltados para esse público, nada disso pode ser comparado ao êxtase da produção feminina.
E o glamour não precisa ser fashionista. Conheço mulheres sofisticadas que não usam marcas famosas. Podemos encontrar glamour dentro das igrejas protestantes do Harlem, com suas lindas senhoras negras vestindo seus chapéus coloridos; nas grandes festas populares do candomblé da Bahia; o glamour pode estar em todo lugar; qualquer pessoa pode ser possuída por ele.
Tenho uma amiga que quebrou o salto bem na porta da igreja, quando ia ser madrinha de um casamento. Quase chorou mas, ao invés de se submeter à humilhante cena de entrar mancando até o altar, respirou fundo, arrancou os sapatos e, logo ao iniciar a caminhada, soltou os cabelos, fazendo com que todos a olhassem sacudindo os cabelos cacheados. E quase ninguém notou que estava descalça.
Uma outra amiga foi a um casamento, daqueles chiquérrimos. Comprou vestido caro que, para sua surpresa, teve sua costura arrebentada logo no começo da festa. Correu para o banheiro, desesperada e, enquanto aguardava que alguém lhe trouxesse uma caixinha de costura, foi socorrida por uma amiga que achou uma caixa de alfinetes de gancho no chão do salão de festas. Nessas horas, a manutenção do glamour vem dos céus.
Mas, se podemos encontrar glamour em qualquer lugar, ele também pode faltar à vontade. Aliàs, mais comum do que encontrar, é faltar. Passei uns dias em Orlando, na Flórida, onde glamour é avis rara. Mais do que qualquer lugar dos Estados Unidos, e talvez de todo o mundo, tem a maior concentração de gente feia, cafona e desglamourizada. Ficamos num hotel bem simples, luxo zero. Acho que se tirasse fotos da cafonice reunida, lotaria os 32 gigas do meu iphone. Bermudas estampadas; camisetas do Mickey tamanho XXXXL, ultrapassando os joelhos; pessoas loiras transformadas em camarões, desfilando pelos corredores do hotel com seus Crocs multicoloridos.
É claro, vez ou outra encontramos um glamour inesperado. Ontem mesmo, ao entrar no elevador, encontro uma linda negra, com seu cabelo cuidadosamente penteado, um topete chiquérrimo, um salto exuberante, uma saia ultra-curta, delineando seu traseiro enorme. E sua bundona pululava descontraída e confiante naquele tecido pititico.
E nos parques, a fuzarca continua. Camisas floridas à la Miami Vice; pessoas tatuadas com a cara de seus filhos, de seus pais mortos e de suas namoradas; obesos mórbidos descomunais com suas bermudas de popeline, transitando em seus carrinhos motorizados; todo um desparrame de feiúra que a magnitude dos parques não é capaz de esconder.
Mas eu não sabia que o pior estava por vir. No final da viagem, precisamente ao embarcar de volta para o Brasil, o desterro da cafonice: no aeroporto de Orlando, preso por mais de duas horas na pista do aeroporto graças a uma tempestade em Atlanta, overdose de glamour-zero. Ar condicionado desligado em pleno verão; celulares tocando todo tipo de música possível; sacolas, pelúcias, valises, camisetas coloridas; todo um mickeymouseamento do vestir-se. Nada contra o Mickey Mouse. Tenho uns modelitos interessantes com a cara dele. Minha revolta está nas escolhas. Enfim, cada um tem o Mickey Mouse que merece.
E resolvi prestar atenção nas unhas dos pés das mulheres. Tenho uma amiga lésbica que sempre diz que jamais ficaria com uma mulher americana, porque elas têm pés muito feios. E nesse workshop de cafonice, acabei percebendo que ela tem muita razão. Muitas delas tem dedos espalhados e curvados, como das galinhas. Ainda não achei uma americana com pés bonitos; quando eu encontrar, eu aviso. E não bastasse a feiúra dos pés, tem os esmaltes. Urgh! Cores berrantes, detalhes alucinantes. Apliques, florzinhas, bichinhos, francesinhas, brocados colantes. Bem ao meu lado tem o pé de uma menina com uma cordinha pendurada no dedão, com um fru-fru na ponta. Quase arrasta no chão.
Mas pior, pior mesmo do que uma unha ultra-decorada, é uma unha descascada. Tá bom, eu sei que mulher sofre. Mas tira a porra do esmalte, pelo menos!
E enquanto o tempo passa, fico percorrendo cada um dos trezentos assentos, procurando uma pessoa bonita. Nada! Nem homem, nem mulher, nem criança. Nem um simples bebezinho com uma cara simpática. Será que é tudo assim em Atlanta? Só pode ser.
As divas psicadeiras da minha alma se contorcem como minhocas na chuva. Eu aguento calor, avião parado, barulhos de celular, criança chorando. Sede. Fome. Enxaqueca. Mas é muuuuuito difícil suportar esses momentos glamourless. Oh, Gosh!
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