Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, November 11, 2012

E VIVA A LIBERDADE!














Águas da Prata. São João da Boa Vista. Faziam uns dezoito anos desde que eu tinha vindo para essas bandas. Acho que fiquei traumatizado para nunca mais voltar desde que passamos um Natal por essas bandas. Acho que foi o último que passamos “em família”, com a inenarrável presença do meu pai. Foi nesse Natal que ele apareceu, doido como sempre, dizendo que havia resolvido o problema do curto-circuito do carro: mandou desligar tudo. E lá fomos nós, viajando, no meio da noite, por uma estrada “paralela” para escapar da policia, diga-se uma serra, sem farol, sem lanterna, sem luz de freio, sem limpador de para-brisas, em meio a uma tempestade. Meus pais brigando e, entre um xingamento e outro, ele abria o vidro para tirar a água do vidro com as mãos. Embora “Jair” e “violência” sempre foram sinônimos para mim, acho que essa foi a viagem mais tensa, horrorosa e perigosa que havíamos feito.


Talvez tenha sido por isso que tenha fugido daqui, do mesmo modo que fugi, tanto quanto possível, de todos os lugares que lembrassem essas passagens da minha vida. É claro que hoje é possível dar uma aquarela anedótica para elas, mas mesmo rindo é impossível esquecer o quanto sofremos ou lamentar a falta – não a nenhuma falta que ele faz hoje – mas a falta no sentido da ausência, da impossibilidade de ter tido pais “normais”, que amam e cuidam dos seus filhos. É por isso que procuro dar o máximo de amor que puder para meu sobrinho, um outro “órfão de pai” que com certeza se lembrará do amor que recebeu e isso servirá, talvez, para tapar alguns buracos da falta de afeto.

E quando deixei para trás os lugares, me livrei das dores e pesos, mas deixei para trás pessoas queridas.  Pessoas que sempre me respeitaram e me amaram, do jeito que eu era. Amigos, parentes, tanta gente que ficou para trás. Mas o mais curioso é o fato de que o amor não morreu. Encontro essas mesmas pessoas e parece que o tempo não passou. A amiga que tanto nos ajudou, que colocou comida na nossa mesa, que caronas, presentes, lanches e carinho ainda é a mesma pessoa maravilhosa, com o coração cheio de alegria. Aquele menino que fazia piadas, passava trotes e falava bobagens hoje é um homem, casado, trabalhador; mas tem a mesma alma de criança que tinha quando era uma. 

Hoje, mais de dezoito anos depois, encontro o lugar das minhas férias de verão, as pessoas com quem convivi nessa época e um delicioso gosto de silêncio, um cheiro de paz no ar. Aquele barulho todo, aquelas brigas, aquele medo infindável, tudo isso foi embora. 

Eu ainda não sei resolver esse “mélange” de memórias de um mesmo tempo: coisas muito lindas misturadas com coisas muito ruins, num passado que não ficou esquecido. Talvez a diferença seja marcada pela linha do tempo, e a coisa ruim ,  estragava a lembrança boa seja só poeira cósmica. E ao caminhar por essas cidades, por esses espaços, encontrar essas pessoas, é possível respirar uma atmosfera de paz porque, felizmente, a coisa ruim, o “O” coisa ruim já não está mais entre nós.

Sincronicamente, minha amiga cantou uma música portuguesa chamada “Carbonárias”, do cantor Vitorino, homenageando uma organização portuguesa secreta que contribuiu para a implantação da República em Portugal:

“Liberdade, Liderdade 

Quem a tem chama-lhe sua 

Já não tenho liberdade 

Nem de pôr o pé na rua
Liberdade, Liderdade 

Quem a tem chama-lhe DELA 

Já não tenho liberdade 

Nem de me pôr à janela
São tão bonitas as Carbonárias 

São tão catitas as Libertárias 

Oh que lindo rancho da mocidade 

Cantai raparigas, viva a Liberdade”

E viva a Liberdade!

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Meu querido, não tem como não me emocionar. De tudo que passou, o amor venceu, verdaderiamente, nossos caminhos cruzaram-se não por coincidênica, e sim por razões que acredito que tenham sido fincadas num passado, bem lá atrás, e que tinha que ser resgatado.
Vivemos juntos coisas boas e ruins, sofremos juntos, rimos muito, nos distanciamos, mas jamais nos separamos, porque o que é eterno ninguém separa, nenhuma condição negativa aniquila algo que transcede o entendimento dos simples mortais. Você venceu barreiras, você conquistou o seu espaço, e jamais saiu o meu coração e nem de fazer parte de minha familía. Somos UM em NÓS !!!

5:15 AM PST  
Anonymous Anonymous said...

Meu querido, não tem como não me emocionar. De tudo que passou, o amor venceu, verdaderiamente, nossos caminhos cruzaram-se não por coincidênica, e sim por razões que acredito que tenham sido fincadas num passado, bem lá atrás, e que tinha que ser resgatado.
Vivemos juntos coisas boas e ruins, sofremos juntos, rimos muito, nos distanciamos, mas jamais nos separamos, porque o que é eterno ninguém separa, nenhuma condição negativa aniquila algo que transcede o entendimento dos simples mortais. Você venceu barreiras, você conquistou o seu espaço, e jamais saiu o meu coração e nem de fazer parte de minha familía. Somos UM em NÓS !!!

5:16 AM PST  
Anonymous Anonymous said...

Linda suas palavras assim como o GRANDE ser HUMANO que vc sempre foi...por tras dessa aparente fortaleza existe um SER sensivel ao amor, ao vento, a natureza, a observar tudo com o melhor que os olhos humanos possam ver.
Graças a DEUS hj a estrada que te espera e bem mais larga, mais florida, mais reta e cada vez mais linda a esperar seus pes., o passado pode n ter sido so de coisas boas...mas serviu para vc ter a certeza de o quanto vc foi forte e continua sendo.
Amei poder passar algumas horas com vc e espero por mais umas 100 horas pra gente poder rir...
FOFIS te lovyou...bjs Vera

6:00 AM PST  

Post a Comment

<< Home