FACEBOOK E A UTOPIA DA PRIVACIDADE
(http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/cartunsdiarios/#23/10/2012)
Na hora do almoço, dei de cara com esse quadrinho da Folha de São Paulo.
A princípio achei exagerado. E de fato acho que é um pouco; porque tem um monte
de gente que utiliiza o Facebook como uma ferramenta para movimentar o mundo.
Para o bem ou para o mal, mas movimentando. Fazendo coisas. Criando, dando
idéias, inspirando. Mas é verdade que tem um monte de gente que só sabe
reclamar. Ficar na “janela” da vida reclamando, criticando, sem tomar nenhuma
atitude. E uma dessas “neuras” é
reclamar da privacidade ou da falta dela.
Amigos que estão preocupados com a privacidade do Facebook: saiam do
Facebook. Quem não quer ser visto andando pelado pela casa, vista roupas ou
feche a cortina; se não quer engravidar, use camisinha ou tome pílula; se não
quer ser visto bêbado, dando vexame, não beba.
Poetas, especuladores, sábios, magos, gurus, já ouvi da boca de vários
deles que a vida é coisa muito simples e somos nós que a complicamos. É claro
que a gente dá um desconto para as catástrofes, as doenças graves, as perdas,
as falências; porque nada disso é coisa simples e exige um puta esforço. Mas o
resto, a maior parte das coisas, é bem, bem fácil.
Também já falaram que o Facebook é uma praça pública. Eu concordo que
seja uma praça, uma ágora, uma marquise. Mas não é pública. Tampouco
inalienável. Somos nós que frequentamos essa praça, falamos alto, falamos
bobagens, cometemos deslizes e vexames; invadimos o espaço alheio, nos metemos
em conversas dos outros, fuçamos nos álbuns de fotos de outrém; também fazemos
coisas bonitas, encontramos pessoas, fazemos amizades, amores, paqueras,
network. Mas essa praça é como a praça de uma universidade privada, de um
prédio de Wall Street, do playground de um prédio chique: ela pertence a alguém
que não conhecemos e que nos deixa brincar nela. Até porque nela estamos
consumindo as guloseimas ofertadas por esse alguém. Alguém pode alegar
“direitos do consumidor”. Consumir os produtos de um supermercado, restaurante
ou farmácia não nos faz donos de tais estabelecimentos.
Como você se sentiria se alguém abrisse sua bolsa, vasculhasse suas
coisas, sacasse um álbum de fotos e olhasse, sem pedir permissão? Exato, quase
ninguém iria gostar. Mas o Facebook não é isso. Não é uma bolsa. As fotos estão
lá, jogadas, num banco, numa pasta e, muitas vezes com uma placa pendurada
dizendo “Permitido fuçar.”
Eu me incomodo com um monte de coisas no Facebook; não vou citá-las
porque tem gente que gosto muito que escreve, posta ou se diverte com coisas
que não fazem a minha cabeça. Agora, se algo me incomoda muito, como gente
preconceituosa, mal educada, enxerida ou que simplesmente posta coisas que não
estou a fim de ver, existem diversas ferramentas que dão a possibilidade de
deixar de ver essas coisas. Reclamar do Facebook sem sair dele é a mesma coisa
que reclamar da TV Globo e não mudar de canal ou desligar a televisão.
Essa “neura” me faz lembrar um dia em que entrei num banheiro no conforto
médico da faculdade enquanto uma colega de classe estava sentada, no trono,
pelada e com uma toalha enrolada na cabeça. Cena terrível. Ela ficou assustada
e ofendida. Mas não trancou a porta.
É isso: tranque a porta. Mais que isso: não entre. Muito, muito mais:
saia. Vá embora. Isole-se. Troque seu iphone, ou seu fuckberry, ou seu galáxico
por um celular de R$ 1,99 que vende na banca de jornal, sem internet, sem foto,
sem wi-fi, sem merda nenhuma. O maior ensinamento que se tira disso é o quanto
o ser humano é idiotamente passivo.
Outra coisa: esses avisos idiotas sobre privacidade, mudança de status, liberação
disso, exposição daquilo são, em sua maioria, como disse uma amiga, trotes. Não
sei quem é o idiota que perde seu tempo criando essas baboseiras, mas
precisamos (um “–amos” bem sem eu estar incluído) aprender a selecionar e pesquisar
a veracidade das informações que circulam na internet. Isso também serve para
as citações pseudo-célebres, os avisos de pedofilia, de sequestros e por aí
vai.
Monteiro Lobato, um gênio criador que influenciou tanto a minha infância –
POSITIVAMENTE – com o Sítio do Pica-Pau Amarelo disse um dia que “um pais se
faz com homens e livros”. Mesmo que seja um “e-book”. Não existe outra fórmula
eficaz para criar mentes pensantes a não ser lendo. Lendo livros, não citações
do “Pensador UOL” ou reproduzindo reproduções das reproduções das citações no Facebook
dos outros.
E por favor: saia logo do Facebook. Antes que os tarados, os pedófilos,
os nazistas e o Bozo peguem você.
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