A GELADEIRA MICTÓRIA

Gosto de pessoas “desprendidas”. Entenda-se por pessoas desprendidas aquelas que conseguem libertar-se dos rígidos ditames sociais, capazes de tomar certas atitudes que destoam do esperado, mas sem a necessidade de chocar ou agredir a outrem. Apenas pela autenticidade de serem quem são, nada mais. Tenho um amigo muito rico. Não daquela safra nouveau riche. Nasceu realmente em berço esplêndido, freqüenta o Grand Monde... Mas ele tem o tal desprendimento que admiro tanto... Quando está em sua casa, veste-se com roupas velhas, usa chinelo de dedo ou fica até mesmo descalço, caminhando sobre a grama do seu requintado jardim. Uma vez foi jantar na minha casa e surpreendeu a todos ao chupar cada ossinho do frango que comeu, fazendo aquele barulhinho típico. Todos olharam espantados e ele, com toda a naturalidade, respondeu aos olhares: “ Que é que tem? É a parte mais gostosa do frango... vocês deveriam aproveitar melhor a vida!”.
Tenho vários outros exemplos de pessoas e atitudes que considero desprendidas. Mas não é sobre isso que desejo falar hoje. Quero falar do “desprendimento” de algumas pessoas proporcionado pelo álcool. Sim, o desprendimento desnecessário de algumas pessoas que passam do ponto na alcoolemia. Coisas do tipo: baforadas alcoólicas acompanhadas de discurso nonsense, atitudes agressivas, flashbacks em momentos inapropriados... É simplesmente lastimável o que pode acontecer com algumas pessoas “desprendidas” pelo álcool: é o mesmo que soltar as amarras de feras de um circo.
Embalados pelo álcool também, lá se iam os alunos da minha faculdade nas competições esportivas. Muitas delas eram realizadas fora da cidade e os alunos se aglomeravam em alojamentos improvisados na cidade hospedeira. O único “luxo” desses alojamentos era a relativa privacidade ao separarem homens e mulheres, mas é claro que em diversos momentos essa divisão se configurava incômoda, desnecessária ou até mesmo irrelevante. Então era uma vez John, um fiel participante dessas competições que se embriagou. Foi levado carregado ao alojamento e dormiu como um porco. Altas horas da madrugada, a bexiga cheia, que não perdoa nem o bêbado mais entorpecido, deu seus alertas de segurança. E nosso personagem deu início à sonâmbula marcha em direção ao facho de luz que o conduziria à liberdade, abriu a porta e começou a urinar.
Simultaneamente, na ala feminina do alojamento, Susan tinha um terrível pesadelo. Estava se afogando em…urina! Stop! Não era um pesadelo. Era John que urinava, de olhos fechados, sobre Susan, no chão do alojamento. Epa! Não deveria estar no banheiro? Sim, amigos, mas a luz que havia enxergado era porta do frigobar ao lado de Susan, que alguém esqueceu entreaberta.
Susan pulou revoltadíssima. Ficaram meses sem se falar. Após algum tempo e, várias histórias bizarras depois, o mijo de John foi esquecido. Mas eu jamais esqueci. E olhava que eu nem estava lá.
3 Comments:
I'll never get drunk again, Fofinho! Thanks for the delightfully-written lesson. Carlos and I loved reading it.
eu morei numa residencia estudantil na França onde estudantes em estado deliberado de embriaguez devido ao sucessivo uso de alcool e drogas colocaram deliberadamente bosta de cachorro em cima da placa eletrica quente de cozimento da COZINHA comum... Isso e´absolutamente inexcusavel. Bando de gente suja...
Alan, Carlos and "Viúvas": thank you for the audience!
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