Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, January 27, 2011

I LOVE YOU, PHILIP MORRIS.


Todo mundo sabe que já foi chique fumar um dia. As pessoas fumavam no cinema, nos aeroportos, nos hospitais, nos restaurantes. Fazer argolas de cigarro com a boca e atirá-las no céu era um luxo.


Todo mundo fumava. Hoje não é mais e fumar acabou virando sinônimo de desrespeito, de auto-agressão, de falta de saúde, de coisa fedida. É um demérito. Com o tsunami de intolerância que assola a humanidade nos últimos tempos, falta muito pouco para transformarem em crime ser pego fumando.

Quando era criança, adorava os cigarrinhos de chocolate de Pan, que tinha o negrinho na caixa, exibindo orgulhoso seu cigarrinho. E é lógico que eu adorava me exibir com o cigarrinho na boca, mesmo que não durasse pouco, porque preferia mil vezes comer o chocolate do que ficar fumando papel alumínio.

Não estou negando as mazelas do cigarro. Eu sei que o Mr. Marlboro morreu de câncer de pulmão e que faz mal pra um monte de gente. Mas eu ainda acho bonito ver uma pessoa fumando um cigarro, saboreando, curtindo aquele momento, soltando a fumaça do cigarro como se fossem pensamentos-nuvens.

Eu também não gosto do cheiro de cigarro na roupa, no ambiente, nos cinzeiros, nas mãos. Mas sinto falta de poder acender um Marlboro vermelho na mesa de um restaurante no final do jantar.

Mas a recente e cada vez mais crescente interdição de fumar em qualquer lugar para onde se vá causa transtornos na vida de muitas pessoas.

Tenho uma amiga que fuma há vinte anos escondida de todos os seus namorados. E por que ela não namora um fumante? Acha ruim aquele gosto de cigarro no beijo. Diz que é até uma forma de preservar sua saúde, porque o fato deles não saberem faz com que fume menos. E foi desenvolvendo, ao cabo desses vinte anos, um montão de técnicas anti-cheiro. Ela diz que procura fumar sempre que está sozinha e, se tem um compromisso, fuma pelada e com o cabelo preso para não pegar cheiro e ainda lava a cabeça antes de sair para garantir. Bochecho e chiclete nem se fala.

Contou que, certa vez, o namorado chegou de surpresa. Saiu correndo, apagou o cigarro, colocou o cinzeiro na lavanderia, mas esqueceu da cinza fumaça que pairava no ar. Desse não teve escapatória e disse que havia parado de fumar e teve uma “recaída”.

Minha mãe tinha uma amiga que, socialmente, odiava cigarro. Criticava as pessoas, arrancava cigarros da mão dos outros, assoprava fósforos e isqueiros. Ela era espírita e um dia incorporou um Preto Velho para dar um passe na minha irmã. Fiquei morrendo de medo, mas tive quase certeza de ver uma fumaça rondando o ar, saindo da boca dele, como se fosse um cachimbo. Quando contei isso a ela, ela respondeu: “Imagina, Marcelo, o pai-não-sei-das-quantas é um espírito evoluído e espíritos não fumam. Ela não sabia nada de Umbanda. Pode ser que o Preto Velho dela tenha tido enfisema espiritual e tivesse abandonado os velhos hábitos. Mas que eu vi, eu vi.

E ela metia o pau no cigarro. Até do Preto Velho. “Mâs” (como dizem os gaúchos), numa certa época, começamos a perceber que, todos os dias após o almoço, ela ia no banheiro e ficava quase uma hora sentada no trono. Haja intestino preso. Que nada. Ela ficava é fumando escondida, como se fosse possível esconder aquele cheiro e aquela fumaça toda. Um dia perguntei pra ela porque ela fumava escondido. Ela ficou vermelha feito o saco do Papai Noel e negou veementemente. Disse que aquela fumaça era do fósforo que acendia para espantar o cheiro ruim do banheiro.

Comecei a fumar com quatorze anos. Foi minha prima quem me iniciou. E por muitos anos fumei escondido da minha mãe, mas fumava na frente de todas as minhas tias. Adorava quando ia na casa de uma delas, que era fumante e ficávamos eu, minha prima e a mãe dela, fumando, tomando café e conversando papos avançados. E nem faz tanto tempo assim que “saí do armário tabagista” para minha mãe. É claro que não contei a ela, no velho estilo de “confissão”. Simplesmente acendi um cigarro na frente dela e continuei fumando.

Mais engraçado foi quando eu e minha irmã descobrimos, “apresentados” por uma outra prima, que fumávamos escondidos. E muito mais engraçado ainda foi quando eu, minha irmã e meu irmão fomos “apresentados” pelo meu cunhado: “Vocês querem acabar com essa palhaçada e acenderem seus cigarros?”

Tenho um amigo que foi fumante inveterado e decidiu parar quando seu filho nasceu. Ficou um tempão sem fumar, mas pouco a pouco, foi pegando um cigarro aqui e ali e quando viu, já estava fumando de novo. Tinha vergonha de assumir para a esposa e para os amigos que tinha recaído. Fumava escondido, na varanda de sua casa quando a mulher não estava e às vezes saía para comprar pão, só para poder fumar. A mulher estranhava o tanto de pão naquela casa. Certo dia, disse pra ele que a sua mão estava cheirando cigarro. Rapidamente ele iniciou catou um creme da Victoria’s Secret e começou a fazer uma massagem erótica nela, para distraí-la e justificar o creme perfumado nas mãos. Ela adorou. E ele, por via das dúvidas, deu uma lambida no creme para tirar o bafo.

Tenho uma amiga que fumou por vários anos e parou por medo das doenças. Mas disse uma coisa que adorei: “Mas quando eu tiver lá pelos setenta anos e ver que eu não tive câncer, eu vou voltar a fumar. E vai ser Marlboro vermelho.”

É claro que a nicotina é tirana e pode até implantar essas idéias de recaídas e justificativas na cabeça da gente. E eu decidi falar sobre o Marlboro vermelho por ter ouvido essas estórias recentemente e lembrado de outras, mas também porque o Marlboro tem me castigado um pouco ultimamente. Tem me feito tossir tosses de cachorro, deixado pigarros, dispnéias. Tem me feito pensar nele mais do que o tempo necessário e me feito colecionar isqueiros. Já estamos fazemos bodas de prata, se não descontarmos as idas e vindas, os recomeços, as tentativas de conciliação. E, como toda relação, é sempre difícil deixar partir.

Estou aqui me despedindo dele. Fim de linha. Acabou. Quando eu morrer, não quero que enterrem meu coração na curva do rio, como pediu o Chefe Touro Sentado. Quero ter um velório chique, portentoso. Quero ir para o céu de smoking. E, já que pedi para trabalhar na encruzilhada ao invés de ir parar no Nosso Lar, quando eu estiver deitado, coloquem um Marlboro Vermelho box na minha lapela, deixe um cigarro espetado na minha boca e acenda na hora que o elevador me descer ao crematório.

2 Comments:

Blogger Izumi said...

Essa "criminalização" do tabaco versus "quase-descriminalização" da maconha fez com que certa vez um paciente me dissesse que estava fumando maconha porque era mais fácil que fumar tabaco. Será essa a evolução dos fatos?

4:01 PM PST  
Blogger Alan said...

I smoked for many years, Doutor. Then I stopped for many more.
Our mutual friend, Danny, smoked like a chimney. And one day, drunk os dois no mexico, ele ia encender um Marlboro Red. I told him that I felt such friendship for him and such a strong desire that he stop smoking so he could live many more years and be my good friend and the pater familius to Laurie and his kids, that if he lit that cigarette, I, goddamit!, would light one too. And that would mean I would become addicted again and would die of cancer. But, if he didn't want his dear friend, Alan, to die a horrible death, he MUST NOT LIGHT THAT CIGARETTE!
He lit it. I lit one too. And I ended up smoking 2.5 packs a day again for another 10 years.
The habit is so insidious that I was convinced it was an act of altruism toward a beloved friend for me to light that fatal cigarette.

PS. I loved this entry to your blog and I laughed out loud when I read "A mulher estranhava o tanto de pão naquela casa." (ˆ_ˆ)

4:42 PM PST  

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