AS MENINAS SUPERPODEROSAS
As mulheres têm poder. Sempre as achei, grosso modo, mais inteligentes que os homens, embora muitas vezes, nos jogos do amor, acabem usando menos as armas disponíveis. Sempre fui rodeado de mulheres. Os antigos diziam que devia ser por isso que fiquei "assim". Certa vez, quando morava em Santo André, lá pelos meus nove anos de idade, uma vizinha que era formada em psicologia disse à minha mãe algo sobre meu comportamento "feminino". Segundo minha mãe, o que pode muito bem conter uma distorção grave, ela disss que "eu tinha conversas de mulher". Resultado: fui obrigado pela minha mãe a ir jogar bola num sábado chuvoso com meu pai, num campo cheio de barro. Taí o resultado das terapias correcionais. Peguei ainda mais asco de futebol e tive, já naquela idade, uma sensação de profundo estranhamento e distância daquele pai desconhecido.
Meus melhores amigos são, em maioria, mulheres. Gosto do papo, da estética, da cozinha, de fazer compras. Sempre adorei ouvir as estórias sobre relacionamentos delas. Adoro liquidaçōes e revistas de moda. Quando era mais novo, adorava pentear os cabelos delas. Só perco um pouco a paciência quando elas demoram muito pra escolher e decidir bolsas, sapatos e outras coisas.
Minhas tias maternas foram realmente maternais. Sempre gostei delas e com elas dividi muitos segredos inacessíveis em minha casa. Já falei de algumas delas aqui. Wilma, a mais presente de todas, sempre foi muito atrapalhada. Lembro-me de duas passagens infames com ela em Peruíbe. Certa vez fomos numa encosta do mar catar mariscos. Indignada com a pequenez dos mariscos mais "pescáveis", ela se pôs a raspar a encosta com a pazinha de areia, de cabeça pra baixo. Foi tão fundo que caiu das pedras, se ralou inteira e quase morreu afogada. Foi salva pela vara de uma pescadora. Da outra vez fomos pescar siris no Rio da Lama Negra. E lá fomos nós, catando vários siris. Na hora de ir embora, fomos nos lavar no rio e minha tia foi "pescada", bem na bunda, por um siri...
E por falar em mar, lá estava eu em Porto de Galinhas, cercado de um mulheril. Lá pelas tantas resolvemos pegar a jangada para ver os famosos recifes de coral. Subo eu e um amigo, sobe uma, duas, três e na quarta, a maior delas coloca o primeiro pé na jangada e lá vamos nós todos ao mar. Deve ser isso que chamam de alavanca na Física. Voei da jangada direto pra um coral bem pontudo. Bom pra saber que jangada, nunca mais.
Dizem que é possível saber a idade aproximada de uma pessoa de acordo com o personagem terrorífico da sua infância. Na minha época, por exemplo, o "bandido da vez" era o homem do saco. Era ele que nos sequestraria e nos levaria para longe caso não fizéssemos o dever de casa ou não comêssemos todo o espinafre. Um pouco mais pra trás, temos a loira do banheiro. Várias estórias rondam suas apariçōes, mas o resultado era sempre o mesmo: morte, tragédia, desaparecimento. Apesar de não pertencer à faixa etária das suas vítimas, posso dizer que encontrei, lá pelos e vinte e tantos anos, a loira do banheiro. Estava no sexto ano da faculdade de medicina. Logo após o almoço, tive uma súbita necessidade de "passar um fax". Corri para o banheiro do alojamento (aka desconforto médico) porque era um dos poucos lugares cujo banheiro tinha uma porta inteiriça e trancas que funcionavam. Abri bruscamente a porta e... Ela estava lá! Não era mais tão loira e nem tão bonita como dizia a lenda, mas o pavor que senti ao vê-la deixava clara sua identidade... Gorda, pelada, com uma toalha de banho enrolada na cabeça. A visão do inferno. Era Melba, uma aluna da faculdade, personificando o mito da loira do banheiro.
- Por que você não trancou porta?
- Tinha medo de ficar trancada!
Mentira. Era só pra assustar mesmo.
E por falar em assustar, estávamos eu e mais dois amigos de penetras numa festa de uma amiga da amiga de um deles. Confuso, né? Estávamos os três meninos conversando coisas de meninas: moda, beleza, homens bonitos e a amiga na mesa, só escutando. De repente ela dá um grito: "Caralho, essa defesa tá vazada!".Tomei um baita susto e demorei para compreender que ela assistia ao jogo de futebol no telão, bem atrás de mim. Não, era não era lésbica. Era só uma mulher de fibra.
Tem um ditado que diz: "Pra dar o c. tem que ser macho". Sei lá se é verdade. Mas ouço opiniões divergentes de várias mulheres. Umas dizem que gostam; outras dizem que só fazem pra agradar seus parceiros; tem aquelas que se recusam terminantemente e por aí vai. Mas, pensando em mulheres de fibra, lembrei de uma americana que foi passar férias no Brazil. Rapidamente se engalfinhou com um rapazote, que a levou para passar uns dias numa casa de praia no Guarujá. Churrasco, cerveja, piscina, uma daquelas casonas gigantescas de ricos paulistanos. E lá foi o meninão arrastar a gringa para o quarto dos pais da dona da casa. Ninguém sabe direito como foi que a coisa ocorreu, mas dizem que, quando a dona da casa descobriu que estavam funhenhando no quarto dos seus pais, subiu feito uma bala e empurrou a porta do quarto, que estava destrancada. Antes ela tivesse pegando os dois transando. Estava rolando mesmo era uma super faxina, pois a gringa aceitou furar o biscoito, que estava muito recheado. Foi literalmente merda no ventilador, na cama, no travesseiro. E o que era pra ser segredo, virou escândalo público.
E por falar em escândalo, lembrei do Caetano cantando que "o grande escândalo sou eu, aqui, só". E era assim que eu estava, logo que me formei, dando plantão num hospitaleco de Itapevi. Todo domingo, depois do almoço, começava o meu tormento. Uma auxiliar de efermagem, cinquentona, grudava no meu pé que só ela. Passava o tempo todo me elogiando, dizendo o quanto me achava bonito, o quanto meu perfume era gostoso e todo um monte de elogios. No começo achei simpático, mas à medida que o tempo foi passando, ela foi se sentindo mais "íntima" e passou a passar a mão no meu braço. Um dia me deu um abraço caloroso demais. Outro dia, deu um beijo que quase alcançou minha boca. E, numa madrugada fria, ela aparece no meu quarto dizendo que havia um paciente para atender. Desci, entrei na sala e não tinha ninguém. Mal eu me virei para sair da sala, ela vem, apaga a luz e me dá um agarrão, tentando me beijar. Era meu segundo encontro com a loira do banheiro. Ela tentou me enganar, usando uma peruca preta e um avental. Saí correndo para o meu quarto e, como não tinha chave, prensei a cama contra a porta, rezei um Pai Nosso e dormi. Não exatamente pelo ocorrido, nunca mais voltei àquele hospital. Ainda bem, porque talvez ela me amarrasse ou me desse um suco psicotropilizado e me violentasse ali mesmo, na feia, brega e cinzenta Itapevi.
Feio mesmo era o que acontecia com minha prima. Ela era uma "vomitadora volante": não podia andar meio quarteirão de carro que já vomitava. Uma vez tomei banho de arroz com feijão antes de entrar na escola. A boa coisa foi não ter precisado entrar na escola; a coisa ruim foi ter que ficar daquele jeito até chegr em casa em pleno verão e ainda levar outro banho antes de sair do carro. Tinha uns oito anos de idade nessa época e me lembro de pensar malignamente sobre a pobreza do fato. Ela simplesmente não podia andar de carro. E apenas carro, porque ela não vomitava no ônibus.
Mulheres, mulheres, mulheres. Não tenho só histórias terroríficas para contar delas. Tenho coisas boas, lembranças maravilhosas, recordaçōes de momentos maravilhosos ao lado delas. Outro dia falei das mulheres bêbadas, hoje das assustadoras. Mas, de todo modo, descortina-se um tabu, o tabu da mulher perfeita, virginal, casta, incorruptível. As "loiras do banheiro" nos revelam o que há escondido debaixo do manto sagrado das santas mulheres. Elas bebem, dão vexames, deixam a porta do banheiro destrancada, taram os homens que desejam. Heroínas, cujo maior poder é a própria humanidade.
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