Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Monday, January 04, 2010

OS BRILHANTES ENSINAMENTOS DE MESTRE GOOGLE


Sim, a internet facilitou, de forma bem ampla, o acesso à informação sobre todo e qualquer assunto existente. Eu me divirto à beça procurando nomes de pessoas, filmes, novelas, sinônimos a todo tempo, encontrando explicações e respostas para todo tipo de pergunta.

Como sou um gourmet e gourmand, a internet facilita a minha vida para encontrar receitas, encomendar produtos, traduzir nomes de alimentos. Comidas e temperos de todo o mundo, acessórios, tudo, tudo, tudo, está disponível. Nesses anos todos de vida cibernética, só tem duas comidas que não consegui “executar”, porque embora estivessem disponíveis, acredito que os “segredos” não: como fazer bagels (aqueles pãezinhos judaico-americanos com um furo no meio) e pastrami... E não acho que deva ser por acaso que são iguarias judaicas...

No mundo do sexo e da pornografia é a mesma coisa: tudo, tudo está à venda, tem “cotações” e opiniões de pessoas que já adquiriram e até sites que fazem a pesquisa de preço. Se você vai comprar um vibrador, pode encontrar os comentários de vários clientes sobre as experiências com o produto.

E navegando pelo mundo “porn”, desvendei hoje mais uma curiosidade: os limpadores de cabeça de videocassete. Já faz tempo que não se usa videocassete, não é mesmo? Eu até vou ter que usar logo mais, porque comprei uns filmes antigos em VHS e vou ter que converte-los para DVD (só podiam ser filmes franceses, porque tudo o que é feito nos EUA já é feito em DVD...). Mas, na prática, quase nem lembramos que os videocassetes existiram. E pasmem! Hoje descobri um site de sadomasoquismo que vende frascos de limpador de cabeça de videocassete! Não entendi nada. No site não se explicava nada sobre qual é a relação do produto com as práticas sadô-masô. Aliás, a princípio, não sabia que o “head cleaner” era um limpador de cabeça de videocassete... Fiquei pensando: “Será um produto especial para limpar vibradores?”.

Logo Mestre Google e sua ninfa Wikipedia responderam. Na primeira busca, descobri que eram, na verdade, os tais limpadores de cabeça de videocassete. Daí minha Polianna interior perguntou” “Será que os head cleaners provocam alguma sensação de irritação ou dor, compatível com tais práticas?” Besteira Polly. Alguns “head cleaners” tem nitritos em sua composição, substâncias amplamente conhecidas no mundo gay como “poppers”! Geralmente inalados, provocam desde um “barato louco” até uma cefaléia e desmaios, mas, muito mais importante que o “barato”, é que, como potentes vasodilatadores, alargam os buracos, permitindo a entrada de materiais nunca dantes penetrados... Daí fechou-se (ou abriu-se) todo um (enorme) ciclo...

E daí foi uma loucura... Amazon, Buscapé, Ebay, Mercado Livre, Submarino... todo mundo vende limpadores de cabeçote...

Esse realmente é um assunto que liga o cu ao tabu....

Ainda não me deparei com algo que não houvesse resposta na internet. Minto. Tem uma coisa que nem o Mestre Google, nem a sua ninfa Wikipedia conseguiram explicar. E sozinho não sou capaz de compreender: sobre as citações “cibernéticas”. Quanto mais cresce o acesso à internet, mais crescem os besteiróis que relacionam frases, textos, citações a autores famosos. Geralmente o processo é a cópia da copia da copia...

Outro dia estava no trabalho e uma secretária, emocionada, observada um lindo “powerpoint” com um texto do “Drummond” e a música da cantora Simone no fundo.

“Olha que lindo, Doutor, fiquei até emocionada!”
“Quem escreveu?”
“Santos Drummond”
“O Pai da Aviação? Era escritor também?
E ela, com ares bibliotecários, acenou com veemência.
“Sim é ele sim”

Parei pra observar o “powerpoint”, que dizia: “Um corte
de cabelo arrojado...diferente?Um novo curso...ou aquele velho desejo de aprender a pintar... desenhar... dominar o computador... ou qualquer outra coisa...”

Corte arrojado? Dominar o computador? Um texto “bonitinho”, mas fácil de supor que não era, nem obra de Santos Dumont, nem de Carlos Drummond. Esfreguei o mouse-lâmpada e rapidamente Mestre Google informou que o texto pertencia a um livro de auto-ajuda de Paulo Roberto Gaefke. Num fórum, onde uma cretina qualquer mostrava a uma amiga “esse lindo poema de Drummond, o seu poeta predileto”, o autor rebate o elogio, solicitando que seja atribuída a autoria verdadeira....

Tenho um amigo que, de uns tempos pra cá, virou “zen” (natureba, naturopata) e desde então passou a incluir frases de efeito no final de seus emails. Paz, equilíbrio, sabedoria, saúde... Bullshit. Outro dia recebi um email dele, com uma citação chinfrim, atribuída ao Dalai Lama. Perguntei a ele:

“Tem certeza que é do Dalai? Onde está escrito?”
“É lógico que é dele.”

Mas não engoli. Mais uma vez importunei Mestre Google, mas dessa vez ele não respondeu nada. Nem que sim, nem que não. Não que o Dalai não escreva coisas chinfrins. Já li um livro dele e folheei alguns. Pra mim, ele é como se fosse uma “Global Zíbia”, dizendo coisas palatáveis, agradáveis e beeeemmm óbvias. Deixei quieto. Mas é dureza ver circular, alastrar, esparramar uma plantação de bobagens ditas atribuídas a alguma personalidade importante.

Às vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro. Gosto de ler, gosto de saber e aprender e AMO minhas conferências com Mestre Google. Adoro desvendar mistérios, dos mais simples, como qual era o nome da atriz que fazia a Odete Roittmann, até os mais complexos, como a autoria desses embustes.

Mas outro dia, pesquisando coisas sobre Umbanda e Candomblé, descobri uma figura com todos os Orixás do Panteão Africano e, bem no meio, a seguinte frase: “Não acredito num Deus que não dance”. Achei linda a frase e, ao consultar o Mestre, ele respondeu: “Nietzsche”. Pasmei três vezes. Ricocheteei. Como alguém pode atribuir essa frase ao cara? Ainda pasmado, fui ironicamente comentar o “achado” com minha amiga ultra-erudita.

Pasmei cinco mil vezes mais. A frase é do cara sim! E ela sabia inclusive aonde estava escrito: “Se não me engano, deve estar em ‘Assim falava Zaratustra’. Fui, incrédulo, aos pés do Mestre. Ela estava certa. E ele dizia: “"Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar”. Lógico: num contexto, na frase de um personagem. Não era um pensamento do próprio.... Só faltava descobrir que ele, além de crer em Deus, era macumbeiro...

Outro dia estava lendo o livro “The Golden Diary”, de Doris Lessing. Não conhecia nada dela, mas já tinha ouvido falar muitas vezes seu nome. Comprei o livro na Barnes&Noble, empolgado; uma edição nobre comemorativa do Premio Nobel de Literatura. Detestei. Na verdade, só gostei do prefácio para a ene-pi-fatorial edição. Nele, ela falava que deveríamos aprender a ler apenas o que gostássemos, do jeito que quiséssemos, aos pedaços, por exemplo. E foi o que eu fiz. Após algumas semanas me torturando para conseguir ler aquela “obra de arte”, lembrei-me do que ela dizia nesse prefácio e abortei a missão.

Então ela cita o exemplo de um estudante de literatura que a procura porque estava fazendo um trabalho sobre a obra dela e pede referencias de autores que falavam sobre ela. Ela diz: “E por que você não escreve coisas que eu penso e opina sobre essas coisas?”. E ele responde: “Porque o meu orientador diz que isso não é científico.”

Acho que é esse o problema. A falta de valores é tanta, a falta de cultura maior ainda. Desse modo, é preciso legitimar o pensamento através da imponência de grandes pensadores. E é claro que cada pessoa tem o grande pensador que merece, podendo-se valer de Sidartha a Chacrinha, de Sartre a Xororó, de Lenine a Lessing.

1 Comments:

Blogger Maria said...

Amiga ultra erudita????????? KKKKKKKKKKKKK

9:15 PM PST  

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