(MUITA) VERGONHA ALHEIA

Ninguém é perfeito, muito menos eu. Mas o mundo poderia ser bem melhor se as pessoas fizessem a sua parte, deixando de cometer alguns erros “fundamentais”. Eu tinha uma analista que dizia que “somos ratinhos de laboratório, fadados a repetir e repetir os mesmos erros”. Eu acredito que exista essa tendência, mas também acredito que podemos mudá-la, transmutá-la, renová-la.
Acho que todo mundo tem um jeito de agir, de se posicionar no mundo e é desse modo que somos conhecidos e reconhecidos, até julgados. Quando penso nisso, sempre me vem um filme chamado “Goldfish Memory”, que faz uma analogia entre o tempo de memória do peixinho dourado e a sub-reptícia técnica de conquista de Tom, o protagonista do filme, lendo o mesmo livro de poesias para suas alunas-alvo.
E daí fico pensando no “Modus operandi” de várias pessoas que eu conheço: um amigo que, cada vez que tem um novo pretendente na “área”, presenteia o cara com a mesma estatueta. Eu até já brinquei com ele que ele deve ter uma fábrica de estatuetas ou que as comprava por atacado em alguma loja do Pari.
Tem um outro que leva as novas pretendentes sempre no mesmo restaurante. Não bastasse isso, é um restaurante horrível, velho, falido. Uma cantina italiana que serve massa “fresca”. Entenda-se “fresca” como recém saída do freezer. Pena não poder dizer qual é.
Muitos homens usam sempre as mesmas cantadas, que tantas mulheres caem feito patas. E é por isso que eles continuam repetindo.
Isso é assim desde que o mundo é mundo, e provavelmente continuará sendo. Mas não é isso que acho vergonhoso em relação aos repetecos humanos. O que me surpreende é a falta de tato e de ética nos dias atuais. Não sou moralista, nem puritano. Mas acho que a humanidade está em decadência de valores, de respeito e de educação mesmo. Isso me deixa com vergonha. Com vergonha do primeiro ato, atirando uma enorme pedra no próprio telhado de vidro, denunciando o que está de errado dentro da sua própria vida, da sua própria casa. Com vergonha do segundo ato, escondendo a pedra na bolsa e colocando uma colcha de crochê para cobrir o telhado, mesmo sabendo que a colcha vai cair e que, mesmo que não caia, não vai proteger da chuva. E a pedra continua na bolsa. E pesa o peso de uma pedra.
Eu adoro uma fofoca. Adoro novidades, adoro observar o comportamento humano e rir dele às vezes. Em partes, é disso que é feito esse blog: fofoca transformada em riso. Mas tenho vergonha alheia de quem usa o dispositivo da fofoca, que poderia permanecer na esfera da brincadeira, como um artifício de ferir o outro, como arma, como coisa ácida para derreter quem se aproxima ou quem faz com que se sinta ameaçado. A isso eu dei o nome (ou talvez tenha pego emprestado de alguém do qual não me lembro) de “paranóia do ladrão”. Mesmo que ninguém o reconheça como ladrão, ele geralmente não é cem por cento cara de pau a ponto de se sentir plenamente à vontade entre as pessoas comuns e vive uma constante paranóia, sentindo que pode ser pego a qualquer momento. Nisso, ele pré-ataca. Lança farpas, ardis, ácidos, lanças. Fere para matar inimigos imaginários que, para ele, são inimigos em potencial.
Essa ausência de ética não é ruim pela carência de pressupostos elevados. Ela contamina a vida de ódio. A própria vida, a vida das pessoas ao redor. E isso impulsiona uma treva, um abismo de solidão. Pessoas não-éticas estão fadadas a uma inexequível solidão. Não a solidão-escolha; a solidão castigo.
Não é sempre que a pessoa não-ética percebe a solidão. Até porque ela pode estar cercada de pessoas, mesmo continuando invisível. Isso me lembra o episódio “O homem invisível” de um seriado antigo, chamado “Além da Imaginação”, no qual, em um mundo futurista, os criminosos não eram presos ou mortos; eles recebiam uma marca eletrônica na testa que os tornavam invisíveis. Eram, portanto, condenados a um tipo de morte em vida, um abandono, uma solidão. E pessoas não-éticas são criminosas.
A minha observação da vida acaba por dividir o mundo em dois grandes grupos: os éticos e os não-éticos. E me faz cada vez mais querer ficar longe e a salvo desses últimos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home