SANTOS SEGREDOS DE SANTOS DUMONT

Santos Dumont não é só o pai da aviação... Inventou muita coisa que eu nem fazia idéia: Eu aprendi isso meio tarde, junto com um pacote de coisas sobre ele, conversando com um historiador. Esse cara me contou que Santos Dumont era gay e que tinha um caso com Cartier (aquele do relógio!). E a invenção do relógio de pulso foi um presente de amor de Cartier. Ele disse também que ele não morreu enforcado, mas sim com um tiro “lá”! Não sei se é verdade, mas não importa. Porque não importa quem ele tenha amado e não importa como ele tenha morrido; foi o amor, a paixão que o moveu a criar estas coisas que são importantes até os dias de hoje.

E qual o tabu nisso? Na minha opinião nenhum. Exceto o fato de que a História esconde as verdadeiras histórias... Mas não é sobre esse tabu que eu quero falar. Quero usar essa história para falar das “mentes-tabu”, que são aquelas pessoas que acreditam nas historinhas que a História conta.

Certa vez fui ao cinema assistir ao curta-metragem de uma amiga. (Aliás, recomendo: “Estranha estação do ano” de Isabela Tozini). Vários amigos estavam lá para prestigia-la, quando a amiga de uma amiga de uma amiga (...) chegou para assistir. Mulher muito culta, elegante. Disse que estava há mais de dez anos fazendo uma pesquisa sobre a vida de Santos Dumont e que,em breve, lançaria a biografia do pai da aviação, para depois transformá-la em filme. Não me contive.

Perguntei: “É verdade que ele tinha caso com Cartier?”

Ela respondeu: “Imagine só! Ele era macho! Teve caso com várias mulheres famosas, eu cito isso no meu livro!”

Não me contive again: “É verdade que ele morreu com um tiro ‘lá’ ?”

Daí ela endoidou. “Como? Quem disse isso? Imagine!”. Expliquei que tinha sido um historiador com quem conversei. “Intriga da oposição! Imagine só!!! Ele morreu enforcado com o cordãode seu robe” E desisti de conversar com ela. Penso que alguém que tem interesse em pesquisar personalidades históricas deve se interessar por todos os dados que ouve, mesmo que sejam boatos ou que opte por suprimir alguns desses dados depois. Deve ter acesso a tudo.

Assistimos ao filme e, para minha surpresa, ela me aguardava, feito um “2 de paus”. Veio correndo em minha direção, assim que me viu sair. “Ei, garoto, onde foi que você ouviu que ele morreu com um tiro ‘láaaaaa’?” E apontava a direção do ‘lá’ com o dedo em riste. Expliquei novamente que um historiador havia dito isso. E então ela pegou o telefone, ligou para um amigo: “Fulano, acredita que estou com um rapaz que me disse que ele morreu com um tiro ‘láaaaaaa’?”

E ela continou pentelhando, querendo que eu retirasse minhas perguntas, como para apagar essa mácula na história de seu tão íntimo ‘Alberto’. Fui me cansando e disse: “Meu amigo ainda me disse que ele não estava deprimido porque o Demoiselle foi usado na guerra; ele estava é com saudades do Cartier... e deu um tiro lá pensando nele! A senhora nunca ouviu aquele ditado de que ‘Cada um chora por onde sente saudades’?”

Não sei se era ou não verdade o que o historiador me contou. Mas a intransigência dessa senhora me tornaram intransigente, em defesa do direito às muitas versões para uma mesma história e à liberdade de acreditarmos na versão que bem entendermos. Também não sei se essa versão macularia a versão dela ou a faria vender mais livros.....