BAD MOOD BITCHES

São Paulo é realmente uma cidade surpreendente. Feia, mas surpreendente. Sim, apesar de ter nascido aqui e amar a cidade, amo-a aceitando a sua feiúra. É claro que tem lugares bonitos, e é muito mais claro que moro em algum desses lugares; e andando por aí somos capazes de encontrar algumas “ilhas” de beleza. São Paulo é um arquipélago de belas ilhas cercado de coisa feia por todos os lados.
Tem um monte de coisas que tornam a cidade muito mais feia: o trânsito caótico, as enchentes, os buracos, a poluição, o rios sujos, as construções que nunca terminam e por aí vai.
Mas há alguns poucos momentos no ano nos quais a cidade fica linda e o Carnaval é um desses. Não é pela festa em si, nem é por causa do Sambódromo. A cidade fica linda porque está vazia. Ontem andei pelas ruas e fiquei decepcionado. Achei que pouca gente tinha viajado. As ruas estavam lotadas, cheias de gente e carros. Felizmente, hoje, ao sair de casa, senti aqueles ares de cidade vazia que tanto amo. É São Paulo com alguns milhões a menos. E apesar dos uns e outros que amam carnaval ou não viajaram porque estavam sem dinheiro, fiquei com a fantasia de que só ficaram as pessoas pacatas, que não têm samba no pé e que, como eu, odeiam essa parafernália.
Hoje amei São Paulo. Resolvemos ir ao Restaurante Mocotó, nos confins da Zona Norte da Cidade. Lugar feio, cheio de sobrados esquisitos, quase todos com vista para a Dutra. E o percurso que levaria ao menos uma hora, foi feito hoje em menos de trinta minutos. Faróis abertos, poucos carros nas ruas, poucos passantes. Era como se São Paulo dissesse em alto som, pra todo mundo ouvir, o quanto me amava também. Ficamos enamorados.
Comida boa, papo bom, ótimos amigos, clima ameno. Sem sol de queimar coco, sem fila na porta do restaurante. Torresmo, escondidinho de carne seca, baião-de-dois, carne de sol assada, queijo coalho, sorvete de rapadura, pudim de tapioca. E tem gente que ainda reclama da vida.
O tempo foi passando e o restaurante foi enchendo. Lá fora, gente esperando, devorando aperitivos. Em pé, olhando feio para as mesas, um casal cuspia fogo com os olhos sobre os rostos felizes dos sentados. Reclamavam da demora. Reclamavam. Reclamavam. Reclamavam para todos os garçons que passavam, como se eles tivessem que expulsar as pessoas da mesa. Reclamavam que haviam pessoas nas mesas que não estavam comendo, gente bebendo e dando risada, palitando dentes, espreguiçando ao invés de deixarem a mesa para quem quisesse comer. Que lástima. Depois de muita reclamação, vagou uma mesa. Com certeza a mesa não vagou por força da reclamação. Foi o próprio tempo, o tempo de cada uma das pessoas sentadas naquela mesa que se esgotou e as levou para fora do restaurante.
Mal o garçom limpava a mesa, a nova “dona” já foi chegando, reclamando, maldizendo, falando que era um “absurdo” esperar tanto. Tentei fotografá-la, para mostrar a cara de pastel de angu azedo. Não consegui, porque a bunda achatada do seu marido tampou o campo visual. Queria colocá-la no blog como símbolo do lado feio da cidade, essa feiúra que está incrustada no coração sujo das pessoas.
Sim, a cidade é feia. Mas é a pureza da alma, das atitudes e do coração das pessoas, aliados aos bons momentos que podemos ter na vida que torna São Paulo uma cidade bela. É essa beleza interna, interior, intrínseca que faz a nossa cidade morável e memorável.
Agora pergunto: o que faz a Dona Azeda e o Seu Bunda Chata saírem para almoçar em pleno domingo de carnaval e ficarem reclamando? Por que “p.q.p.” não ficaram na casa deles com sua corja familiar, comendo maionese e lagarto assado recheado com cenoura, gelatina com creme de leite e bebendo vinho tinto doce?
Eu não gosto de esperar muito tempo para comer, mas já fiquei algumas horas na porta do Mocotó, do argentino 348, do grego Acrópoles e alguns outros, porque sabia que ia valer à pena e estava disposto a esperar. Sem reclamar. E quando não estava a fim, simplesmente ia embora. Sem reclamar.
Acho que é isso o que esses cretinos deveriam ter feito. Até porque pessoas assim não param por aí. Iam reclamar da comida, do serviço, da falta de gelo da cerveja, iam conferir a conta e achar erros. AAAAAARRRRGGHHHHHH!
Mas a feiúra das almas escuras desses infelizes não foi suficiente para estragar o meu domingo maravilhoso. Volto pra casa de barriga cheia, satisfeito, contente, doido pra tirar aquele cochilo. Amanhã São Paulo fica feia novamente. Estarei de plantão por 24 horas. Mas não posso reclamar nem maldizer essa feiúra que pagas contas.
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