Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, November 23, 2012

A CULPA É SEMPRE DAS MULHERES...



Estou aqui fazendo um balanço do ano que está acabando: muito se falou sobre os Orixás que regeriam esse quase-já-ido ano, mas as maiores apostas foram para Oxalá e Iemanjá, alguns diziam que eram os dois. Guardadas as devidas proporções, foi um ano de “água”. Disseram que no aspecto físico, seria um ano de muita chuva; coisa que eu não vi; eu vi foi muita seca, muito calor e mormaço. Nem a água que a Sandy levantou eu vi; vi e senti foi muito vento. Já no aspecto espiritual,  eu concordo com o que prometeram: muita limpeza, muita água por baixo da ponte, muitas resoluções. E, ao menos para mim, foi tudo verdade. Tomei grandes decisões, mudei meus caminhos; mas não fui arrastado pelas águas; não fui “tsunamizado” pelo destino. Naveguei, eu mesmo remando ou içando as velas pelos mares da vida; joguei muita coisa ruim na privada e dei descarga; deixei a sujeira entrar pelo ralo. Limpei meu coração, lavei minha alma. E nem precisei passar pelos rituais de ano novo para estar “limpo”. Estou limpo, leve, feliz, talvez como nunca tenha me sentido.

E uma das grandes resoluções do ano foi ter resolvido me aventurar no mundo da Antropologia. Tenho lido tanta coisa e aprendido muito. Não quero chamar de antropológico o que tenho descoberto ultimamente; não quero melindrar os antropólogos. Mas a coisa mais curiosa foi ter aprendido muito mais sobre as mulheres. Descobri ou concluí que não foi Deus quem criou o mundo e que ele é filho de uma mulher. Sim foi a mulher que criou Deus e colocou ele para trabalhar. E foram os homens, temerosos e vingativos do poder feminino que contaram essa lorota de chamar o homem de princípio criativo e endeusar a falácia do falo. Descobri que a vagina é uma grande boca e é ela quem come o pênis. Sendo assim, é a mulher que manda no mundo.

E esse não é um pensamento teórico, filosófico, psicológico, nem antropológico. A minha observação científica das mulheres no cotidiano comprovam o que estou dizendo. Recentemente, o marido de uma amiga confidenciou que sua mulher, seguindo à risca a missão de “crescer e multiplicar”, disse a ele: “Deita aí e mete pra me engravidar logo!”. Como segredo só é segredo enquanto só um sabe, tratei de contar o fato, a princípio surpreendente, para um outro casal.  Eles ruborizaram, recuperaram a vergonhinha e o marido disse: “É, cara, para mim foi a mesma coisa. Ela chegou, deitou na cama e falou ‘Mete essa porra logo e não demora’. Alguém tem alguma dúvida sobre quem comeu quem ?

Conheço vários gays que têm alergia a mulheres. Andam em bandos de homens, não se relacionam com mulheres que não sejam suas mães e criticam amigos que andam com elas. Já fui em vários aniversários de gays nos quais não havia uma mulher sequer. Onde estão elas? Por que elas não estão lá? Nem elas, nem seus companheiros héteros. É claro que há momentos em que a “comunidade” precisa de uma certa “privacidade” nesse mundo ainda inóspito. Mas a permanente ausência do feminino me preocupa. Mulheres sempre foram minhas melhores amigas; as pessoas que mais amo, à exceção do meu amor e dos meus sobrinhos, são mulheres.

É claro que minha vida com as mulheres não foi sempre fácil: tive uma mãe possessiva e dominadora, fui casado com outra igual. Tive professoras cruéis que negavam o direito de ir ao banheiro, conforme seus humores. Uma grande amiga me disse um dia que eu não gostava de Iemanjá porque tinha problemas com a figura materna. Fiquei com o coração partido quando ouvi isso. Tive raiva, tive medo, mas tive que concordar com ela em partes. E pude enfim fazer as pazes com Iemanjá. Não que eu não gostasse dela. Eu tinha medo. Muitas das lendas das grandes mães ancestrais dos mitos yorubanos falam das suas grandes vaginas com dentes afiados e longos cabelos. Era dessas coisas que eu tinha um medo inconsciente: um pavor enorme de ser dilacerado pelo poder da Grande Mãe, fosse ela de carne ou de Inconsciente. Mas a grande verdade é que voltaremos para ela um dia. Se foi ela quem criou o mundo, o homem, as coisas, é para ela que voltaremos no final da jornada. Talvez a transposição no mundo da carne não possa ser verdadeira, mas ao entender as mulheres, consigo entender inclusive aquelas que não conseguiram ser boas mães ou protegerem seus filhos porque acreditaram na farsa que os homens contaram de que eram eles os donos do mundo e os reis da criação. Como já disse outras vezes, perdoar é deixar as pedras pesadas para trás, nos deixando mais leves. Mas perdoar não pressupõe amnésia, nem transforma as pessoas além de nós mesmos.

E nesse 2012 que está indo embora, agradeço a todas as Iemanjás, Nanãs, Oxuns, Iansãs e Pomba-giras de carne e osso que encontrei pela vida, que me ensinaram, que me amaram, que me ofereceram abrigo, amizade, esclarecimento. E hoje, que nem é Dia da Mulher, mas é o dia que escolhi para dizer o quanto amo essas mulheres todas da minha vida, finalizo com uma linda letra de música que traduz o que está no meu coração:

“Dara”

Eu vi mulheres comuns
Virando rainhas
Eu vi um povo inteiro
Perseguindo a poesia
Eu vi a rua bela
Bela como elas
Enfeitadas de nanãs, iansãs
E oxuns e iemanjás
Mori omon kekere towa dje
Olorio
Mori awon arugbo tô na fé kowi
Mori obinrin to dara
Kpelou onan to dara
Monfe ri inanan, iiyansan, ioshun,
Yemandja
Branca
Balança suas ancas
Branca
Da cintura bem-feita
Deita deita e me encanta
Entre congos e sambas
E sambas e congos
Congos e sambas
Preta, preta, preta, preta
Desfile sua nobreza
Mostre sua beleza
Se enfeite
Que a rua se enfeita
Branca, wa djo foun mi o
Mm branca, dje kiri idjore
O wadjo, wadjo, wa korin o
Entre congos e sambas
E sambas e congos
E congos e sambas
Preta, preta, preta, preta
Desfile sua nobreza
Mostre sua beleza
Se enfeite
Que a rua se enfeita
Eu vi a rua bela
Bela como elas
Enfeitadas de nanãs, iansãs
E oxuns e iemanjás.

Monday, November 12, 2012

SOBRE CABRAS, PIRANHAS E "VIADOS"



Desde ontem não se fala de outra coisa: a comparação esdrúxula dos relacionamentos homossexuais ao gosto pelo espinafre e o impedimento do casamento de homossexuais do mesmo modo que não se pode casar com uma cabra ou com a própria mãe. O teatro do absurdo teve como palco a Revista Veja dessa semana, sendo a vedete-mor o tal (jornalista?) J. R. Guzzo, corajoso, desrespeitoso e politicamente incorreto autor do artigo (artigo?) chamado "Parada Gay, cabras e espinafre". Nessa "escrivinhação" de péssima qualidade, ele especula sobre assuntos que provavelmente desconhece, espraiando conceitos preconceituosos e deslocados sobre homossexualidade (que ele chamou de homossexualismo) e questões concernentes e importantes, como casamento, constituição de família, doação de sangue e organização do movimento GLBT no Brasil.


Confesso que fiquei um pouco tímido para escrever ao ver textos tão brilhantes versando sobre o ocorrido, como o texto do cientista político Lucas Rezende (https://www.facebook.com/lucas.rezende.75098/posts/10151180309449823), o do jornalista e escritor Carlos Orsi (http://carlosorsi.blogspot.com.br/2012/11/a-falacia-da-falsa-dicriminacao.html) e do Deputado Jean Willys (http://jeanwyllys.com.br/wp/veja-que-lixo), mas acho que tudo que for escrito contra essa coisa horrorosa, vale, e vale muito. E depois tem outra: eu não sou cientista político, eu não sou deputado e nem jornalista. Mas sou um monte de coisa importante. Eu sou um cidadão. Sou gay. Sou psiquiatra. Sou escritor. E sou humano, sensível às brutalidades desse mundo.

Todo mundo sabe para qual time a Revista Veja joga. Talvez só não saiba de fato quem lê. Mas já faz tempo que vem decaindo em sua qualidade editorial, vendida a propagandas, promovendo pessoas que desejam espaço midiático e apavorando com matérias de baixo jornalismo, se é que se pode chamar de jornalismo. Tenho dó e peço perdão a alguns poucos jornalistas de qualidade que conheço que ainda se sujeitam a trabalhar para a Veja, coisa que acredito que o façam pela necessidade de pagar coisas mundanas, como aluguel e comida, algo que nem podemos chamar de prostituição, profissão em minha opinião honrada, embora não regulamentada em nosso país, mas que segue princípios muitas vezes mais éticos do que essa revistinha.


O fato preocupante é: quantas pessoas lêem esse lixo? Quantas pessoas adotam essa escultura fecal como modelo de informação política e cultural? Milhões. Na semana passada, um conhecido veio debater comigo uma outra reportagem equivocada da mesma revista, colocando em cheque o meu conhecimento como médico, comparando as minhas informações à incoerência da revista. Soube perdoá-lo. E pude mostrar a ele o quanto a revistinha é tendenciosa e suas matérias "encomendadas", com pouco rigor científico e zero de verdadeira discussão. Mas quantas são as milhões de pessoas que não terão acesso a uma contra-argumentação?


E o que cabras, “viados” e piranhas têm a ver com isso? Na falta de assunto ou na necessidade de criar assuntos polêmicos que geram discussões inflamadas, desviando o foco dos verdadeiros problemas, que deveriam ser discutidos e criticados, o jornalismo quadrúpede, encomendado, grotesco ganha espaço. E dos jovens, pela ignorância tanto quanto dos "experientes" pela cara de pau auto-atribuída que os anos de carreira podem lhe conferir, têm-se a sensação do direito de dizer o que se pensa, de qualquer jeito, sem respeito à norma ou à ética. Somos bombardeados diariamente com baixa cultura que causa polêmica,vende revistas e aumenta audiência das TVs.

Outro dia, um conhecido veio me chamar para assistir a um espetáculo de Stand Up comedy num teatro da cidade onde o Danilo Gentilli se apresenta. Após cair cinquenta pontos no meu conceito e roubar o sorriso da minha cara, coisa que ele não entendeu muito bem, ainda me dei o trabalho de dizer o quanto ele deveria ter vergonha de me convidar para tal merda. Fiquei pensando o quanto isso deve ter sido inútil, porque ele é apenas um dos milhares de ignorantes que se refastelam gargalhando homofobias, sexismos e outras preconceituosas bizarrices.

Acho que esse mundo não tem salvação. E eu continuo sentindo muita vergonha. Vergonha mesmo.

Sunday, November 11, 2012

E VIVA A LIBERDADE!














Águas da Prata. São João da Boa Vista. Faziam uns dezoito anos desde que eu tinha vindo para essas bandas. Acho que fiquei traumatizado para nunca mais voltar desde que passamos um Natal por essas bandas. Acho que foi o último que passamos “em família”, com a inenarrável presença do meu pai. Foi nesse Natal que ele apareceu, doido como sempre, dizendo que havia resolvido o problema do curto-circuito do carro: mandou desligar tudo. E lá fomos nós, viajando, no meio da noite, por uma estrada “paralela” para escapar da policia, diga-se uma serra, sem farol, sem lanterna, sem luz de freio, sem limpador de para-brisas, em meio a uma tempestade. Meus pais brigando e, entre um xingamento e outro, ele abria o vidro para tirar a água do vidro com as mãos. Embora “Jair” e “violência” sempre foram sinônimos para mim, acho que essa foi a viagem mais tensa, horrorosa e perigosa que havíamos feito.


Talvez tenha sido por isso que tenha fugido daqui, do mesmo modo que fugi, tanto quanto possível, de todos os lugares que lembrassem essas passagens da minha vida. É claro que hoje é possível dar uma aquarela anedótica para elas, mas mesmo rindo é impossível esquecer o quanto sofremos ou lamentar a falta – não a nenhuma falta que ele faz hoje – mas a falta no sentido da ausência, da impossibilidade de ter tido pais “normais”, que amam e cuidam dos seus filhos. É por isso que procuro dar o máximo de amor que puder para meu sobrinho, um outro “órfão de pai” que com certeza se lembrará do amor que recebeu e isso servirá, talvez, para tapar alguns buracos da falta de afeto.

E quando deixei para trás os lugares, me livrei das dores e pesos, mas deixei para trás pessoas queridas.  Pessoas que sempre me respeitaram e me amaram, do jeito que eu era. Amigos, parentes, tanta gente que ficou para trás. Mas o mais curioso é o fato de que o amor não morreu. Encontro essas mesmas pessoas e parece que o tempo não passou. A amiga que tanto nos ajudou, que colocou comida na nossa mesa, que caronas, presentes, lanches e carinho ainda é a mesma pessoa maravilhosa, com o coração cheio de alegria. Aquele menino que fazia piadas, passava trotes e falava bobagens hoje é um homem, casado, trabalhador; mas tem a mesma alma de criança que tinha quando era uma. 

Hoje, mais de dezoito anos depois, encontro o lugar das minhas férias de verão, as pessoas com quem convivi nessa época e um delicioso gosto de silêncio, um cheiro de paz no ar. Aquele barulho todo, aquelas brigas, aquele medo infindável, tudo isso foi embora. 

Eu ainda não sei resolver esse “mélange” de memórias de um mesmo tempo: coisas muito lindas misturadas com coisas muito ruins, num passado que não ficou esquecido. Talvez a diferença seja marcada pela linha do tempo, e a coisa ruim ,  estragava a lembrança boa seja só poeira cósmica. E ao caminhar por essas cidades, por esses espaços, encontrar essas pessoas, é possível respirar uma atmosfera de paz porque, felizmente, a coisa ruim, o “O” coisa ruim já não está mais entre nós.

Sincronicamente, minha amiga cantou uma música portuguesa chamada “Carbonárias”, do cantor Vitorino, homenageando uma organização portuguesa secreta que contribuiu para a implantação da República em Portugal:

“Liberdade, Liderdade 

Quem a tem chama-lhe sua 

Já não tenho liberdade 

Nem de pôr o pé na rua
Liberdade, Liderdade 

Quem a tem chama-lhe DELA 

Já não tenho liberdade 

Nem de me pôr à janela
São tão bonitas as Carbonárias 

São tão catitas as Libertárias 

Oh que lindo rancho da mocidade 

Cantai raparigas, viva a Liberdade”

E viva a Liberdade!

Sunday, November 04, 2012

VIAJANDO NO DARJEELING LIMITED ATÉ O HOTEL MARIGOLD: UMA VIAGEM PARA DENTRO





Voltando para São Paulo essa semana, assisti a mais um filme daqueles de fazem verter lágrimas que não são de tristeza, mas de alegria e comunhão: “O Exótico Hotel Marigold”. Faz um tempão que abandonei os desejos de ir buscar espiritualidade no “externo”, seja ele Egito, Índia ou Santiago de Compostela, mas confesso que fiquei com um desejo de ir à Índia, para ver aquelas cores, sentir aqueles aromas. E, do mesmo jeito que “Viagem para Darjeeling” (Darjeeling Limited) podemos assistir ao filme vendo apenas isso ou tudo aquilo. Digo tudo aquilo porque esses dois filmes falam da mesma coisa, nesse mesmo lugar, a Índia: voltar-se para o Oriente para se conhecer, se transformar.

O Oriente tem essa cara. A Índia em particular. É claro que podemos buscar reencontros com nossas almas em qualquer lugar do mundo, mas o mundo sempre acena para a possibilidade desses acontecimentos na Índia. E não é preciso participar de cultos, procurar gurus, consultar oráculos. O encontro marcado é na verdade um desencontro, um perder-se nas cores, nos cheiros, nos sorrisos, nos temperos, na confusão dos barulhos, coisas e pessoas. Alma também é balbúrdia.

Como já disse em outra ocasião, assisti “Viagem para Darjeeling” em dois momentos distintos. No primeiro, achei apenas um filme bonito, gostei da fotografia e dei algumas risadas. Mas foi na segunda vez, quando estava “voltado para o Oriente” da minha alma, que o filme me tocou e me fez entender um montão de coisa.  No caso do Hotel Marigold, a paixão foi imediata e para além da simples cinefilia. O filme é o feliz encontro do “jovem” sonhador Sonny e os “velhos”, decepcionados com o rumo das próprias vidas. Nessa fusão de experiências, velhos e jovens se redescobrem e constroem uma nova forma de ver a vida.

Não quero contar o filme, mas é nas mãos de Graham (Tom Wilkinson) que, na minha opinião, está a essência transformadora do filme. Não por ele ser gay, apesar de que as repetidas vezes em que ele “sai do armário” durante o filme funcionam como uma reafirmação, não para ele, mas para o “outro”, da possibilidade, do aceno para a existência da diferença. Ele é um juiz aposentado, educado, bem posto  e que é gay. Não “mas que é gay”. É gay simplesmente. Mas não é realmente esse o tesouro do filme. O tesouro está na possibilidade de perdoar, de deixar partir, de poder se libertar. Essa é a maior lição do Oriente. Não é aquele perdãozinho cristão mal compreendido; é aquele perdão verdadeiro que implica em deixar as pedras rolarem seus cursos nos rios, tornando mais leve a caminhada.

Assim, Darjeeling e Marigold caminham para o mesmo Oriente: o de olhar-se e de deixar para trás as pedras pesadas da existência. Darjeeling significa o repouso de Deus. E Deus lá repousa? Acredito que sim. Mas ele só repousa para nós quando somos capazes de encontrarmos repouso e paz em primeiro lugar. E Marigold é uma flor, que dizem ter sido levada à Índia pelos europeus. “Mary of Gold”, mãe de Deus, mãe da sabedoria, mãe da consciência representada pelo ouro. É a chegada da consciência que faz Deus repousar. E a consciência chega quando chegamos em Marigold. Infelizmente aqui, Marigolds, que poderiam ser “marigólias” ou “Ouro de Maria”, viraram calêndulas, que não deixam de ser remédio. As calêndulas são ofertadas a deuses e também simbolizam a superação do luto.


E hoje, eu vi Marigold acontecer ao vivo. Vi não. Me contaram. Mas eu vi um tal homem,  abrir seu coração e dizer de suas mágoas em alto e bom som. Tantos anos, tanto peso, talvez tanta dor. Ninguém poderia saber se ele não tivesse contado. E assim são as mágoas. Mágoas são sentimentos. Podemos suspeitar que eles existam, mas só saberemos de fato se falarmos. “Fala que eu te escuto”, é assim que funciona a radiofonia do coração, pois vozes existem para serem faladas, do contrário seriam pensamentos.