A CULPA É SEMPRE DAS MULHERES...
Estou aqui fazendo um balanço do ano que
está acabando: muito se falou sobre os Orixás que regeriam esse quase-já-ido
ano, mas as maiores apostas foram para Oxalá e Iemanjá, alguns diziam que eram
os dois. Guardadas as devidas proporções, foi um ano de “água”. Disseram que no
aspecto físico, seria um ano de muita chuva; coisa que eu não vi; eu vi foi
muita seca, muito calor e mormaço. Nem a água que a Sandy levantou eu vi; vi e
senti foi muito vento. Já no aspecto espiritual, eu concordo com o que prometeram: muita limpeza, muita água
por baixo da ponte, muitas resoluções. E, ao menos para mim, foi tudo verdade.
Tomei grandes decisões, mudei meus caminhos; mas não fui arrastado pelas águas;
não fui “tsunamizado” pelo destino. Naveguei, eu mesmo remando ou içando as
velas pelos mares da vida; joguei muita coisa ruim na privada e dei descarga;
deixei a sujeira entrar pelo ralo. Limpei meu coração, lavei minha alma. E nem
precisei passar pelos rituais de ano novo para estar “limpo”. Estou limpo,
leve, feliz, talvez como nunca tenha me sentido.
E uma das grandes resoluções do ano foi ter
resolvido me aventurar no mundo da Antropologia. Tenho lido tanta coisa e
aprendido muito. Não quero chamar de antropológico o que tenho descoberto
ultimamente; não quero melindrar os antropólogos. Mas a coisa mais curiosa foi
ter aprendido muito mais sobre as mulheres. Descobri ou concluí que não foi
Deus quem criou o mundo e que ele é filho de uma mulher. Sim foi a mulher que
criou Deus e colocou ele para trabalhar. E foram os homens, temerosos e
vingativos do poder feminino que contaram essa lorota de chamar o homem de
princípio criativo e endeusar a falácia do falo. Descobri que a vagina é uma
grande boca e é ela quem come o pênis. Sendo assim, é a mulher que manda no
mundo.
E esse não é um pensamento teórico,
filosófico, psicológico, nem antropológico. A minha observação científica das
mulheres no cotidiano comprovam o que estou dizendo. Recentemente, o marido de
uma amiga confidenciou que sua mulher, seguindo à risca a missão de “crescer e
multiplicar”, disse a ele: “Deita aí e mete pra me engravidar logo!”. Como
segredo só é segredo enquanto só um sabe, tratei de contar o fato, a princípio
surpreendente, para um outro casal.
Eles ruborizaram, recuperaram a vergonhinha e o marido disse: “É, cara,
para mim foi a mesma coisa. Ela chegou, deitou na cama e falou ‘Mete essa porra
logo e não demora’. Alguém tem alguma dúvida sobre quem comeu quem ?
Conheço vários gays que têm alergia a
mulheres. Andam em bandos de homens, não se relacionam com mulheres que não
sejam suas mães e criticam amigos que andam com elas. Já fui em vários
aniversários de gays nos quais não havia uma mulher sequer. Onde estão elas?
Por que elas não estão lá? Nem elas, nem seus companheiros héteros. É claro que
há momentos em que a “comunidade” precisa de uma certa “privacidade” nesse
mundo ainda inóspito. Mas a permanente ausência do feminino me preocupa.
Mulheres sempre foram minhas melhores amigas; as pessoas que mais amo, à
exceção do meu amor e dos meus sobrinhos, são mulheres.
É claro que minha vida com as mulheres não
foi sempre fácil: tive uma mãe possessiva e dominadora, fui casado com outra
igual. Tive professoras cruéis que negavam o direito de ir ao banheiro,
conforme seus humores. Uma grande amiga me disse um dia que eu não gostava de
Iemanjá porque tinha problemas com a figura materna. Fiquei com o coração
partido quando ouvi isso. Tive raiva, tive medo, mas tive que concordar com ela
em partes. E pude enfim fazer as pazes com Iemanjá. Não que eu não gostasse
dela. Eu tinha medo. Muitas das lendas das grandes mães ancestrais dos mitos
yorubanos falam das suas grandes vaginas com dentes afiados e longos cabelos.
Era dessas coisas que eu tinha um medo inconsciente: um pavor enorme de ser
dilacerado pelo poder da Grande Mãe, fosse ela de carne ou de Inconsciente. Mas
a grande verdade é que voltaremos para ela um dia. Se foi ela quem criou o
mundo, o homem, as coisas, é para ela que voltaremos no final da jornada.
Talvez a transposição no mundo da carne não possa ser verdadeira, mas ao
entender as mulheres, consigo entender inclusive aquelas que não conseguiram
ser boas mães ou protegerem seus filhos porque acreditaram na farsa que os
homens contaram de que eram eles os donos do mundo e os reis da criação. Como
já disse outras vezes, perdoar é deixar as pedras pesadas para trás, nos
deixando mais leves. Mas perdoar não pressupõe amnésia, nem transforma as
pessoas além de nós mesmos.
E nesse 2012 que está indo embora, agradeço
a todas as Iemanjás, Nanãs, Oxuns, Iansãs e Pomba-giras de carne e osso que
encontrei pela vida, que me ensinaram, que me amaram, que me ofereceram abrigo,
amizade, esclarecimento. E hoje, que nem é Dia da Mulher, mas é o dia que
escolhi para dizer o quanto amo essas mulheres todas da minha vida, finalizo
com uma linda letra de música que traduz o que está no meu coração:
“Dara”
Eu vi mulheres comuns
Virando rainhas
Eu vi um povo inteiro
Perseguindo a poesia
Eu vi a rua bela
Bela como elas
Enfeitadas de nanãs, iansãs
E oxuns e iemanjás
Mori omon kekere towa dje
Olorio
Mori awon arugbo tô na fé kowi
Mori obinrin to dara
Kpelou onan to dara
Monfe ri inanan, iiyansan, ioshun,
Yemandja
Branca
Balança suas ancas
Branca
Da cintura bem-feita
Deita deita e me encanta
Entre congos e sambas
E sambas e congos
Congos e sambas
Preta, preta, preta, preta
Desfile sua nobreza
Mostre sua beleza
Se enfeite
Que a rua se enfeita
Branca, wa djo foun mi o
Mm branca, dje kiri idjore
O wadjo, wadjo, wa korin o
Entre congos e sambas
E sambas e congos
E congos e sambas
Preta, preta, preta, preta
Desfile sua nobreza
Mostre sua beleza
Se enfeite
Que a rua se enfeita
Eu vi a rua bela
Bela como elas
Enfeitadas de nanãs, iansãs
E oxuns e iemanjás.
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