Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Thursday, June 23, 2011

PERTO DE DEUS

Eu já passei por muitos lugares. Altos e baixos, claros e escuros, feios e bonitos. Vários caminhos contrastantes, aclives, declives, lombadas, buracos. Mas a jornada sempre continuou. Já chorei sentado em calçadas empoeiradas, desesperado por não conseguir voltar pra casa. Já saí andando vários quilômetros a pé, por não ter dinheiro. Pedi emprestado, dormi e fui parar em lugares inóspitos. Acho que dormia para poder acordar e ver aquele pesadalo terminado. 

Comi muita pipoca de canjica para distrair a fome e tive uma temporada inteira de milho verde preparado de todas as formas possíveis. Milho verde e nada mais. Passei fome, passei vontade, passei desgosto por comer salada murcha repousada num monte de arroz com feijão morno.

Passei por tudo isso. Passei até por mais. Sobrevivi lúcido à violenta invasão de um pai psicopata. Sim, gastei um monte de dinheiro com analistas. 

Não, isso não é propaganda da Nextel. Poderia ser, mas detesto aquele apito chato e aquele barulho de walkie-talkie. É a propaganda de uma vida. Uma vida que não para de ser contada e recontada, sempre com descobertas curiosas. 

Só faltava descobrir que fui adotado. Na verdade fui. Recentemente. Tenho pais e mães que me amam como sou e não sentem a mínima necesidade de me transformarem num produto "aceitável" perante uma sociedade hipócrita e seu Deus cruel. Sou filho de mães de amigas, de mães-de-santo, de tias e de um monte de outros tipos de mães. E de pais, a mesma coisa. Sou e estou  enfim em paz com a minha busca pela cessação da orfandade

Comecei a escrever tudo isso dentro do avião, voando para Disneyland. E não sei se foi o momento feliz, ou a enxurrada de psicologias, mitos e símbolos que têm me alimentado ultimamente, ou se fui tudo junto, mas pude sentir minha alma leve, voando mais alto do que aquele avião. Emocionado, sentindo o suave movimento de suas lágrimas percorrendo meu rosto; senti-me tão completo e realizado que era realmente uma das  sensações mais gostosas que já tive. Acho que estava realmente muito perto ou melhor, o mais perto que já pude estar de Deus.

E me lembrei do filme de Eytan Fox, "Caminhando sobre as águas". Axel, um dos personagens do filme diz a Eyal, que às vezes podemos nos sentir tão leves que somos capazes de caminhar sobre as águas. 

E acho que foi essa a leveza que eu senti; um estado nirvanático sem meditação, apenas com a sensação de completude única. Poderia morrer naquela hora. Poderia, não queria. Quero escrever muitos livros, ver meus sobrinhos crescerem, realizar mais e mais sonhos e curtir muito o amor que tenho ao meu lado. 

E quis repartir tudo isso com as pessoas que lêem meu blog. Que possam levar um pedaço dessa felicidade consigo; que ela possa se alastrar, se espalhar, contagiar. 

1 Comments:

Blogger Lenilson Xavier said...

Uma das tuas postagens que leio sempre e mais gosto. Terapia pelo blog...

11:22 AM PDT  

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