Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Tuesday, March 04, 2008

PARABÉNS, FORMANDO!!!

Noite quente de dezembro. Frederico se preparava para a festa de formatura. Smoking, gravata borboleta, anel de formatura que ganhara de sua mãe. Gel no cabelo, barba feita, perfume importado. Enfim, tudo o que tinha direito para comemorar essa vitória em sua vida.

Chegou ao salão de festas de braços dados com a mãe. Frederico era um rapaz tímido, retraído, nunca havia namorado, apenas beijado umas menininhas aqui e acolá que, segundo seus amigos, isso só teria acontecido porque eram meninas muito desinibidas, pois se dependesse de Frederico, nada aconteceria.

A festa estava esplendorosa. Decoração perfeita, música boa, cheia de pessoas. Encontrou os colegas da faculdade, que logo lhe ofereceram bebida. Uísque importado, trazido pelo pai de um de seus colegas. Frederico recusou. Não estava acostumado a beber e nas poucas vezes que havia bebido, passara muito mal. Tudo estava muito legal, mas ele não se sentia feliz. Sentia um vazio ao ver todas os amigos e amigas com seus respectivos pares e ele sempre sozinho. Sentia de fato uma pontinha de inveja ao ver as pessoas se beijando, se abraçando enquanto ele se consolava de mãos dadas com a sua mãe. Dava voltas pelo salão, ria forçadamente com os amigos, mas em seu íntimo sentia que lhe faltava isso. Faltava alguém para amar.

Veio a valsa dos formandos. Dançou duas com a sua mãe e a última com a mãe de sua amiga Júlia, de quem havia sido sempre amigo e confidente. Acompanhou toda a trajetória emocional de Júlia, seus desencontros amorosos, seus namorados traidores, seus sofrimento. Em certa época chegou a pensar que estava apaixonado por ela, mas percebeu que era apenas a intimidade de dois grandes amigos e os comentários de seus colegas que incutiram essa idéia errada em sua cabeça.

E à medida que as pessoas iam ficando mais e mais alegres, Frederico se sentia cada vez mais triste e isolado em seu mundo de solidão. Não suportando aquela angústia num momento em que deveria estar alegre como todas as outras pessoas, foi ao banheiro lavar o rosto para ver se “despertava”. Lavou-se, molhou o cabelo, a testa, a nuca. E enquanto se lavava, imaginava-se sendo beijado e acariciado por alguém sem rosto, sem nome. “Preciso tomar alguma coisa”, pensou. Saiu do banheiro e foi direto ao encontro da garrafa de uísque. Tomou rápido um gole e em poucos minutos começou a sentir-se mais leve, menos angustiado. Logo sentiu ânimo para dançar e se juntar aos amigos para dar risadas.

Num intervalo da banda, os amigos se juntaram em semi-círculo para papear. Após algum tempo chegou Fernando, um de seus amigos. Ao seu lado estava um cara que Frederico nunca tinha visto. Não era da faculdade e nem era algum dos amigos conhecidos de Fernando. Na verdade era um primo dele. Seu nome era Marcos. Fernando o apresentou a todos e ele, educadamente foi cumprimentando um a um das pessoas da roda. Tinha os cabelos negros, brilhosos e um pouco ondulados, com uma franja que pendia sobre seu rosto. Seus olhos eram negros e profundos e seus lábios eram carnudos e avermelhados, ornando muito bem com sua pele morena.

Frederico não se continha e não conseguia parar de olhar para Marcos. Estava sentindo algo que nunca havia sentido antes, como se estivesse inebriado pela presença marcante daquele sujeito. De repente, Marcos se aproximou de Fernando e, diferentemente dos calorosos apertos de mão que deu em seus outros amigos, abraçou Frederico como se fossem muito íntimos e, apoiando fortemente as mãos em suas costas, encostou a boca carnuda em seu ouvido, dizendo: “Parabéns, formando!”.

Marcos demorou alguns segundos que pareceram uma eternidade para Frederico. Sentiu o calor do corpo dele contra o seu, sentia o seu perfume invadir seus sentidos. Uma onda de arrepios invadiu o seu corpo. Marcos se afastou vagarosamente de Frederico e, de longe, lhe deu uma piscada, daquelas que só os cafajestes sabem dar.

Continuaram naquela rodinha conversando. Passado algum tempo a música recomeçou e foram todos dançar. Marcos dançava com todas as meninas do grupo, mas cada vez que seus olhares se cruzavam, Marcos piscava novamente para Frederico. Duas ou três músicas se passaram e Marcos saiu da pista de dança. Passou por Frederico e apertou fortemente seu braço, como quem lhe desse um sinal de alguma coisa.

Frederico não sabia o que fazer. Sentia apenas um calor extremo percorrendo o seu corpo, as pernas bambearem, o coração quase pulando pela boca. Correu para a mesa e tomou mais uísque. Percorria o salão com os olhos para ver se encontrava Marcos. Pensou que ele pudesse estar com alguma garota. Depois pensou que talvez aquele aperto em seu braço pudesse significar um convite. Saiu apressado em direção ao banheiro. Entrou e ficou um tempão observando o entra e sai das cabines das privadas, esperando que Marcos saísse de uma delas, ou abrisse a porta lhe convidando.

Fechou os olhos e ficou imaginando seu beijos, seus apertos, suas mãos fortes contra seu corpo e seu perfume. Pólo, de Ralph Lauren. Jamais esqueceria aquele cheiro. Passado algum tempo, se deu conta de que Marcos não estava lá. Pensou que havia perdido o “timing” desse encontro. Mas estava tão cheio de desejo, um desejo que estava adormecido há séculos e que agora despertava, feito um dragão faminto. Entrou na cabine do banheiro sozinho e, perdido na imaginação, começou a se masturbar. Com a gravata limpou o suor da sua testa e esfregou-a em seu pescoço para extrair de sua pele o cheiro do perfume de Marcos. Ele ainda estava lá. E roçando a gravata em seus lábios, sentindo aquele cheiro de homem que lhe invadia a alma, Frederico gozou como nunca havia gozado antes.

Ficou estatelado por alguns minutos, quase dormindo, como se tivesse transado por toda uma noite. Acordou assustado com pessoas batendo na porta da cabine para que liberasse a “vaga”. Saiu, cambaleante de orgasmo e uísque.

Ao sair do banheiro, viu Marcos beijando uma de suas amigas. Sentiu seu peito rasgar, aproximou-se do casal para ver se ele fazia algum novo gesto lascivo. Nada. Parecia que Marcos nem o reconhecia. Resolveu ir embora e decidiu despedir-se de Marcos, na esperança de obter uma palavra, um indicativo qualquer, mas ele havia desaparecido.

Já em casa, Frederico sentia a cabeça rodar, estava bêbado. E enquanto rodava, todas as imagens daquela noite passeavam pela sua cabeça. Os olhos, a boca, o cheiro, as mãos. Tudo de Marcos não deixavam de rondar seus pensamentos, chegando em flashes incômodos em sua cabeça bêbada. Dormiu de cuecas e de gravata borboleta.

Acordou e voltou a pensar no acontecido. Será que havia imaginado tudo isso? Será que havia fantasiado as atitudes de Marcos ou interpretado erroneamente seus supostos sinais? Não era capaz de responder. Talvez tenha imaginado mesmo tudo aquilo, mas estava certo de que, mesmo sendo fruto da sua imaginação, todas aquelas sensações representavam um despertar, um desabrochar em seu coração e em sua mente.

Lembrou de uns pedaços de um texto de Nietzche, que dizia que têm certos caminhos em nossa vida e certas pontes que devemos atravessar que somos os únicos a conseguir trilhar. Sozinhos. A única coisa da qual tinha certeza é de que havia cruzado a tal ponte. E que a partir daquele ponto começava a trilhar uma nova estrada.

Levantou-se da cama, lavou o rosto. Passou a mão molhada em seu pescoço. O cheiro de Marcos ainda estava lá.

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