Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, February 26, 2010

TAMANHO É REALMENTE DOCUMENTO ?


Não, eu não vou falar sobre tamanhos de pênis. Não agora. Se bem que, seja qual for o objeto, a questão do tamanho vai sempre portar aspectos psicológicos interpretáveis.

Mas quero falar de carros. Mais especificamente de um carro. Aliás, um micro-carro. Nesse final de semana viajei para o interior do estado de New York, para uma floresta montanhosa chamada Catskill Montains. Já tinha ido lá outras vezes, mas dessa vez decidimos alugar um carro. Chegando na locadora, uma “habibi” muito antipática entregou as chaves do nosso carro. Era um Smart vermelho. Perguntamos a ela se era seguro para andar na estrada. E do alto de sua educação libanesa, bufando como uma francesa, ela respondeu, sem sequer levantar as bolinhas dos olhos, escondidas à sombra dos enormes cílios postiços: “É lógico que é!”

E lá fomos nós, naquele microcosmo vermelho. Já nos primeiros momentos, notamos que aquilo não era um bom negócio. Os raros buracos nas ruas da cidade eram detectados por ele. E a cada buraco, um novo sacolejar.

Entrando na estrada, fomos testemunhas de uma fantástica experiência: O Not-So-Smart balançava ferozmente com o vento. Essa foi a sensação mais próxima que já tive de ser abduzido por uma espaçonave em plena estrada de Varginha. Mesmo abrindo os vidros, uma estratégia que aprendi depois de algumas “balançadas” em algumas estradas brasileiras, o Not-So-Smart chacoalhava “super”. Por alguns momentos, eu tive a sensação de que o vermelhinho ia tombar. Enfim, chegamos sãos e salvos e a volta estava menos “ventarolante”.

Mas essa não foi realmente a parte mais curiosa da “Not-So-Smart- Experience”. O que mais chamou a minha atenção durante esses dias andando de cápsula vermelha foi a reação que ele provocava nas pessoas. Todos, digo TODOS que nos viam passando olhavam risonhos para o carro, cutucavam-se e apontavam para nós. Muitas pessoas gargalhavam.

É lógico que não é um tipo de carro que se vê com frequência nos Estados Unidos. Numa terra onde todos são gordos e com famílias numerosas (até mesmo os gays que, graças às proveitosas “provetas”, costumam ter dois a três filhos...), quase ninguém compra Smarts. Todos querem e precisam de carros grandes, robustos, cheios de bancos, porta-trecos e porta-malas. É claro que, como gosto e C*, cada um tem o seu, é possível que exista alguém no mundo que compre esses Not-So-Smart por puro gosto ou por absoluta falta dele.

Preconceitos à parte, acho que pode haver alguns gayzinhos (naquele estilinho Justin, do Queer as Folk” e algumas Penélopes Charmosas que desejem ter um veículo desses. Vocês devem lembrar quando a Sula Miranda (ecccaaaa!!!!!!) estava no seu “auge” e tinha um Ford Ka cor-de-rosa e nem era por falta de dinheiro. Ainda bem que o Not-So-Smart era vermelho, porque senão teria me sentido um pouco ela.

Além desses perfis, acho que algumas pessoas devem comprar esse tipo de carro porque é muito barato.

Mas, passados quase três dias, acabei me acostumando com a cápsula. Automático, quentinho, pseudo-espaçoso (para as únicas duas pessoas, é sim!) e pseudo-rápido (porque, embora alcance facilmente altas velocidades, quanto mais rápido, mais fácil de voar...) e o principal: me levou a todos os lugares que precisei. Adorei ter ido ao Shopping Center (Garden Staten Plaza de Paramus, um luxo no meio do nada!) e adorei poder despejar todas as minhas sacolas no petit porta-malas e não ter que me arrastar pelo ponto de ônibus em pleno inverno e nem ter que suportar um monte de fedúncios no ônibus.

Cheguei a amar fugazmente a cápsula. E, contente, protegido do frio, carregando tranquilamente minhas fartas comprinhas, não fiquei mais tímido ao ser surpreendido com pessoas rindo dela. Até consegui reagir, quando um bando de “Latin Latrines”, montadas com suas chapinhas num Lincoln preto velho, começaram a rir do Not-So-Smart. Sem pestanejar, olhei pra elas, confiante, mostrei a língua e dei uma farta gargalhada.

Hoje, antes de devolver o carro, chovia muito. Tive que levantar cedo pra tirar o carro da rua, porque era proibido parar a partir das oito horas. Consegui estacionar numa rua próxima e, chegada a hora de sair, a cápsula estava bloqueada por uma SVU e por um Lincoln preto velho. Não me fiz de rogado: taquei a mão na buzina e em dois minutos uma redondona apareceu para tirar o Lincoln. Isso é outra coisa interessante: não vejo pessoas bonitas dirigindo Lincolns.

Um tempo atrás uma amiga veio me pedir idéias para algum tipo de campanha para o Smart voltada para o público gay. De antemão, disse a ela que eu não compraria esse carro, a menos que morasse em Paris, porque faz sentido ter um carro minúsculo assim numa cidade com ruas tão estreitas. E como a maioria dos carros são pequenos, nem me sentiria tão insignificante.Mas, se morasse em Paris, acho que nem teria carro e, se tivesse um, não seria um Smart. Talvez fosse um Mini Cooper. E agora, depois de ter passado pela “Not-So-Smart Experience”, tenho certeza de que não compraria e, se ganhasse num sorteio de bingo, venderia.

Mas o minúsculo automóvel me fez pensar em tamanhos de pênis. Quando eu era mais jovem, tinha vergonha de ir a banheiros públicos, sobretudo nos mictórios coletivos. Mesmo “apertadísismo”, ficava eternamente esperando uma “cabininha” vagar. Quando comecei a frequentar academias, meu “ponto de corte” para escolher uma academia é que os locais de banho fossem compostos de cabines fechadas.

Não, não tenho piroquinha. Alguns anos de terapia mais tarde, perdi essa inibição e os banheiros públicos deixaram de ser um inconveniente. Não que eu tenha qualquer vocação para ser exibicionista, mas ao menos não sofro mais com receio de ser vítima de chacotas. E hoje observo, cheio de compaixão, aqueles caras “apertados” esperando uma vaguinha nas cabines de banheiros públicos.

E tudo isso não tem nada a ver com tamanho. Mas com auto-estima e confiança. É claro que, se compararmos extremos, um cara com piroquinha vai se sentir ultrajado se um pau-de-mula estacionar no mictório ao lado. Daqueles que exibem portentosos e orgulhosos suas mangueiras e se consegue ver sem nem mesmo espichar o olho: a visão da mangueira vai até seu olho. Daí não tem como. É como colocar o Not-So-Smart ao lado de um caminhão. Pura humilhação.

Tenho uma amiga que tinha um caso com um sujeito portador de piroquinha. Mas ela adorava a mandioquinha dele e sempre dizia: “Nao importa o tamanho da varinha, mas a mágica que ela faz”. Mais vulgarmente, quando a pomba-gira encostava, bradava: “Mais vale um pequeno brincalhão, do que um grande bobalhão”. E isso é cem por cento verdadeiro em se tratando de pau-de-mula-brocha e Lincolns pretos e velhos.

Sunday, February 21, 2010

WELCOME TO WOODSTOCK, A SÃO TOMÉ DAS LETRAS AMERICANA


Só vendo pra crer mesmo. Nesse final de semana, resolvemos tirar umas férias das férias e vir descansar do descanso num lugar bucólico, ao norte do estado de New York. Daqueles lugares onde as maiores cidades tem 20 casas e que em meia hora de estrada se
Conhece umas trinta cidades, ou mais.

Estamos hospedados no Lazy Meadow Motel, em Mount Tremper, o aconchegante “love shack” de Kate Pierson, vocalista da banda B-52’s e sua namorada Mônica. Super charmoso, ecologicamente correto e com um ar “kitsch” bem característico. Apesar de ser uma pousada “lesbiônica”, não encontrei mesas de bilhar, nem tem shows de cantoras country, chorando o amor perdido enquanto tomam whisky (a versão americana para “violão e banquinho”). Mas tem um gazebo com churrasqueira.

Decidimos passear pelas redondezas e o mapa me revelou algo que ativou minha curiosidade: Woodstock. Sabia que o festival dos hyppies não havia sido realizado na própria cidade, mas imaginava que havia algo de hyppie nela ainda. Depois de muitas voltas por florestas e rios congelados, sendo trapaceados várias vezes pela mulherzinha que mora dentro do GPS, chegamos a Woodstock.

Diferente das cidades vizinhas, ela é “maiorzinha”, com casas mais bonitas e charmosas e com muito mais gente andando pelas ruas. Caminhando por lá, descobri uma das minhas paixões: dúzias de lojinhas de decoração, de enfeites, de coisas usadas. Mas, do mesmo jeito que o “movimento hyppie” foi pra mim apenas uma “capa”, uma desculpa para os jovens fumarem maconha, tomarem LSD e fazerem muuuuuuuuito sexo em todas as suas variações, Woodstock nao deixa por menos: é uma “capa” de hyppismo dotada de uma “cafonice intrínseca” (by Liana Padilha).

Algumas lojas vendem resquícios do movimento, com camisetas, tapetes, bandeiras, óculos, sandálias, batas coloridas, cachimbos para fumar maconha (ou, mais atualmente, o crack). Incenso queimando, Hendrix, Dylan ou Joplin tocando... Em todas as lojas que entrei, um gordo grisalho e com cara de tédio vendia seus hyppismos...

O outro tipo de lojas que encontrei foi a dos “artistas plásticos”. Em Woodstock, toda cerâmica vira artes plásticas e toda panela velha vira antiguidade. Acho que as lojas de antiguidades proliferaram porque os hyppies precisavam de dinheiro para comprar maconha e roubavam suas casas, vendiam os cacarecos para comprar seu “beck”. Era o prenúncio do “crackismo” vigente.
E o que sobrou dos cacarecos virou “antique”. Um negócio que não prospera por aqui, uma vez que juntar cacareco é realmente coisa de americano. Aqui, toda e qualquer casa vira loja de antiguidade num segundo.

As “artes plásticas” são realmente “quelque chose”, como diria Odete Roitman... Canecas pintadas de cerâmica, echarpes pintadas de seda, porta-copos ou porta-guardanapos de papel marchê. Uma arte plástica só. E sempre uma gorda grisalha atrás do balcão. Nesses “ateliês” não tem insenso. O cheiro pode atrapalhar a experiência artística ao admirar a obra numa caneca. Numa das lojas, a “artista” fazia biquinhos de crochê num pano-de-prato, enquanto ouvia Cat Stevens cantar “Wild World”.

Tem um outro tipo de lojinhas em Woodstock. As esotéricas. Sim, porque os hyppies são “saudáveis”. Amam a natureza, são vegetarianos (nada de química: só maconha e cogumelos), curtem budismo, yoga, astrologia e muito, muito incenso. Em quase todo quintal e jardim das casas, pude encontrar algum deus hindu em pedra, jazindo por lá. Nas lojas esotéricas, gordas grisalhas com batas coloridas montam pulseirinhas de pedras atrás do balcão. Aqui a trilha sonora é diferente. Blin-blin-blin, plin-plin-plin de sininhos e música indiana com mantras sagrados.

Agora a loja mais curiosa foi a de bichos de pelúcia. Uma loja para crianças, com bichos de pelúcia, fantoches, brinquedos educativos, livros infantis. Tudo, tudo muito angelical, exceto... a música. Mantras indianos. E pior: chatos de ouvir. Eu que adoro cacarecos e bichos de pelúcia, não consegui ficar mais que dois minutos lá dentro. Atrás do balcão, pasmem: uma moça de uns quarenta anos, lendo um livro sobre iluminação e yoga. Não era gorda e nem grisalha. Na minha opinião, era uma “filha de Woodstock”: pais hyppies, feita sem encomenda entre LSDs e cogumelos, amamentada com leite de cannabis. Sua mãe é a gorda grisalha da loja esotérica e seu pai, o gordo grisalho da loja de cacarecos hyppies.

Pelas ruas, crianças, jovens, adultos. De todos os tipos, de todos os níveis sociais. Hyppies de todas as idades (sim, porque ser hyppie é um estado de espírito), “patricinhas-hyppie-chics, velhos hyppies de todos os lugares. Todo mundo passa lá para conhecer a Meca que não é Meca.

E tudo isso me lembrou muito São Tomé das Letras. Era uma vez um bando de hyppies que se enfiou lá pra fumar maconha sossegado. Numa cidade outrora feita de pedra, hoje é um verdadeiro resort dos hyppie-chics, com pizza feita na pedra, “eco-lodges”, “eco-resorts”, hambúrgueres vegetarianos, supermercado orgânico, bonsais, passeios de jipe e ecoturismo. Lojinhas de artesanato, de “hyppismo”, artistas plásticos, esotéricos. Há lá uma comunidade esotérica que foi fundada por uma dúzia de hyppies desejosos de construir um mundo melhor. Uns anos atrás já vendiam passeios de jipe e esportes radicais. Hoje possuem um residencial ecologicamente correto, com casas imensas cheias de parabólicas e geradores solares. Dizem que tem até heliponto. Nos balcões das lojas, os hyppies gordos e grisalhos não estão lá. Estão assistindo o Festival de Inverno de Campos de Jordão, esquiando em Aspen ou no Festival Gastronômico de Tiradentes.

Thursday, February 18, 2010

VÍTIMAS SUPLICANTES


Jesus estava no Calvário. Mas não estava pregado. Calvário é o nome de um resort à beira-mar. Mas Jesus estava sedento. Do alto do monte, pediu à Maria que levasse água-de-coco em suas mãos de virgem. Prontamente ela desatou a fazer suas malas, porque partiria ao seu encontro.

Nisso chega Pedro, o teimoso e nota a pressa de Maria que, como fugitiva, esconde coisas em suas sacolas.

- Onde vais, mulher? Pra que tanta pressa?
- Vou ao encontro de Jesus... Responde titubeante, pois sabia que Pedro sabia que mentia.
- Água? Pra que levas água a Jesus, se está cercado dela?
- Bem sabes que está cercado de água que não se bebe...
- Bem sabes que existe um rio muito perto...
- Na verdade, levo água-de-coco, para que mate a sede e se fortifique... Levo também guloseimas, roupas, cobertores...
- Maria, Maria... não vês o quanto erras? Até quando pouparás Jesus das dificuldades, jogando pétalas pelo caminho, ocultando-lhe as pedras?
- Jesus é meu filho e cuidarei dele enquanto viver...
- Não vês que cuidar é algo diferente de mimar? Bem, não adianta, tu não tens mesmo ouvidos. Ao menos deixa que eu te leve, para que não carregues tanto peso. Ademais, o Calvário fica longe...
- Aceito tua ajuda.
- Aguarda uma semana mais, que te levarei assim que voltar da minha jornada.

E Pedro parte em jornada. Ao voltar, encontra a casa de Maria vazia. Vai à casa de Helena que informa que Maria já havia partido.

- Fora com suas sacolas e moringas, vestida de juta rasgada, sem sandálias – disse Helena. Disse-me que ninguém queria ajudá-la e que iria assim, sozinha, como uma mula, que de fato é.
Será que é por culpa que se arrasta, como uma minhoca? Será que é por desespero de que ninguém descubra que Jesus não é filho de José? Quem será o pai de Jesus? Se não é filho de Deus e nem de José... Quem resolverá esse mistério? James Bond? Agatha Christie? Paulo Coelho?

Detesto vítimas. Não essas vítimas de coisas que não podem controlar, como tragédias, catástrofes, cânceres. Detesto as pessoas que assumem as tragédias como “função”, como meio de vida.

Certa vez, encontrei uma dessas pelo meu caminho. Uma dessas que a gente cruza a vida inteira e que temos que suportar também pela vida inteira, saca? E às vezes até mesmo eu sou pego – por mim mesmo – sentindo pena dela. Mas, na maioria das vezes, um sentimento de raiva invade meu peito, meu estômago, meus bagos. Tenho vontade de vomitar. A vítima não é alguém que simplesmente passa por percalços. É alguém que pega os percalços e faz deles seu meio de locomoção. Algo como escolher arrastar chinelos quando se pode calçar sapatos confortáveis, ou ir buscar água no poço quando já existe torneira.

A vítima é, geralmente, alguém que tem muito a pagar. Eu não sei fazer o balanço entre a realidade e o sentimento de necessidade. O fato é que ela tem uma ou várias dívidas, segredos, mentiras, como aquela faxineira da novela das oito, que passa a vida inteira trabalhando na casa do patrão, escondendo que seu filho é filho de Deus e não do José, o jardineiro.

A vida imita a arte, a mitologia e a Bíblia Sagrada. Acho que “pulei” de mito agora. Será que consigo “pular o mito”?

Saturday, February 13, 2010

GO DOWN ON PERERECAS!


“Down on me.... down on me” (Janis Joplin)

Falamos muito sobre sexo oral. Todas as tribos, todas as
preferências. Pode transbordar em sinonímias; fala-se de
chupar e ser chupado, mamar e ser mamado. Leitinho, leiteiro,
boqueteiro, seia-nove ou sessenta e nove e um último que ouvi
alguém dizer: “fazer um setenta, que significa um sessenta e
nove com um dedo enfiado no rabo. Gozar na cara, na boca,
beber tudo, mamar até o fim.

Pode variar com as etnias. Chupar rola, chupar caralho, suck
cock, cock sucker, blow job, esbrugar a bezuga, succer la bite,
pomper. Boquete, broche, chupetinha, chupetex, chupisco.
Engolir espadas.

E de repente noto que, quando falamos em sexo oral, falamos
de uma única coisa: chupar pau. Felação. Fellatio. Ninguém
fala em chupar perereca. Existe um nome específico para o ato
de chupá-la? Não sei. Acho que ninguém sabe. O fato é que
ninguém liga para isso. Porque, entre os heterossexuais, os
homens se interessam apenas em ser chupados e as mulheres
apenas em chupar. Entre os homossexuais, dá na mesma. Tem
quem gosta de chupar, tem quem gosta de ser chupado, tem
quem é “total-flex”.

Estranho isso. Porque embora seja silencioso há quem goste de
chupar pererecas e há quem goste de tê-las chupadas. Mas
acho que chupar perereca é assunto mais tabu do que sexo
oral.

Acho que quem mais fala sobre sexo “oro-vaginal” são as
lésbicas. Sim, elas são as chupadoras-chupadas por excelência.
Elas sim, falam de tamanhos, texturas, técnicas. Mas ainda
acho que se fala pouco.

E nesse enlevo de falar sobre o proibido, sobre os assuntos que
são tabus, resolvi dedicar minhas blogagem de hoje às
pererecas. Perereca com todo o respeito. Prefiro tratar de
perereca do que falar vagina, buceta, “menininha”, xana,
busssaca.

Outro dia um cara me falou que adorava chupa-las. Mas que
havia descoberto que a perereca era para ser lambida ao invés
de chupada. Disse que aprendeu isso com uma prostituta. Eu
disse que as lésbicas tinham mais a ensinar a ele do que ele
sequer poderia imaginar. As lésbicas são “doutoras”no
assunto.

Outro dia conversava com um amigo gay. Ele disse que, antes
de sair do armário saía com mulheres e chegou a ser casado
com uma por vários anos. Disse que a especialidade dele era
chupar e que era muito elogiado pelas mulheres. Ou elas não
estavam acostumadas a serem chupadas ou o cara era bom
mesmo.

E tem mais: disse que um dia tomou uma “bala” (um ecstasy0, ficou louco, falante, libidinoso e, junto com um grupo de pessoas que havia acabado de conhecer, declarou sua “especialidade”. O marido de um casal não se fez de rogado: disse a ele que ficasse à vontade, se quizesse chupar a mulher dele. E ele não desprezou a oportunidade, deitou-a no chão, se enfiou debaixo do vestido dela e mandou ver, ali mesmo, no meio da sala, com direito a platéia e tudo.

Uma amiga minha começou a sair com um carinha. Lindo, simpático, agradável e rico. Só tem um problema: ele a leva pra jantar, tomar café, dançar, é divertido, cavalheiro, mas não passa do beijinho. Ela disse que já tentou várias vezes ultrapassar essa “linha”. Mas ele recua, tira a mão dela do passarinho e diz que ainda é cedo pra isso. Aconselhando-se comigo, não economizei verbetes e adverti: “O cara é viado! E tem mais: se você conseguir levar ele pra cama e ele não chupar, pode apostar que é!”

Eu conheço gays que já chuparam. Eu conheço que gays que até gostam. Mas nunca soube de um hétero que nao goste. Hétero que se preze acha a perereca bonita, gosta do gosto, do cheiro e chupa! É mais fácil achar uma mulher que não goste de ser chupada do que um hétero que não goste de chupar!

Sunday, February 07, 2010

YEMANJÁ, RAINHA DO MAR, DONA DAS ONDAS DA VIDA


“Abracei o mar na lua cheia, abracei /
Abracei o mar /
Abracei o mar na lua cheia, abracei /
Abracei o mar /
Escolhi melhor os pensamentos, pensei /
Abracei o mar /
É festa no céu, é lua cheia, sonhei 
/ Abracei o mar /
E na hora marcada a Dona Alvorada chegou para se banhar / 
E nada pediu, cantou pro mar / 
E nada pediu /
Conversou com o mar /
E nada pediu / 
E o dia sorriu... /
Uma dúzia de rosas, cheiro de alfazema, presentes eu fui levar /
E nada pedi /
Entreguei ao mar /
E nada pedi / Me molhei no mar /
E nada pedi 
Só agradeci...” (Fabiana Cozza, “Agradecer e abraçar”)

Estou na onda “onda” dos arquétipos. Tenho lido Jung, tenho sonhado sonhos mitológicos e ando “incorporando” todo um universo de coisas que havia deixado de fora da minha existência.

Tal como o mar, tenho navegado o barco da minha vida por águas de todos os tipos: calmas, turbulentas, muito calmas, muito turbulentas. Por diversas vezes xinguei, esbravejei, reclamei com Deus por ter que passar por essas turbulências. Deus ficava só olhando, não respondia nada. Queria que eu tirasse minhas conclusões sozinho. E concluí que não podemos ter “partes” da Vida. Amar a Vida é igualzinho amar qualquer outra coisa ou pessoa no mundo: devemos amá-la por inteiro, com sua polpa, seu sumo, seu bagaço, sua casca dura.

Eu fui, voltei, fui de novo, balancei. Joguei a rede. Não pesquei nada. Joguei de novo, acabei pescando alguma coisa. Vi que a coisa é assim mesmo. É como pescar. Porque não basta só o peixe estar lá, não adianta apenas jogar a rede. É preciso jogar várias vezes, movimentar, mudar a rede de lugar. Sem contar as turbulências do mar-vida. Um eterno jogo de se manter de pé num barquinho à deriva.

Na semana passada estive passeando em Salvador. Lamentei não ter podido ficar até terça-feira, dia dois de fevereiro, Dia de Yemanjá. A festa tem fama de ser bonita, e toda a cidade se concentra às margens do Rio Vermelho para cantar, saudar e fazer oferendas à Rainha do Mar. Poderia ter desmarcado os compromissos para ficar na festa. Mas algo me dizia que deveria voltar. Atribuía essa necessidade ao senso de responsabilidade, ao trabalho.

Na segunda-feira, perto da hora de ir embora, recebo o telefonema de uma grande amiga, dizendo que seu pai havia falecido. E era por isso que eu deveria voltar. Para levar um pouco do calor de amor de Salvador e das bênçãos de Yemanjá para minha amiga e sua família.

Compreendi que tudo na vida é exatamente desse jeito: começo, meio e fim. Festejei a vida em Salvador, celebrei a morte em São Paulo. E nesses chuvosos dias paulistas, acho que a cidade combina mesmo com a morte. Do mesmo jeito que Yemanjá pode ser a Senhora da Fertilidade, com seu mar sagrado cheio de vida, ela pode ser também a Senhora da Transformação, cujos ciclos de renovação incluem também a morte.

E assim Yemanjá tem permanecido na minha cabeça esses dias. Antes de partir de Salvador fui reverenciá-la à beira-mar. Dizer a ela o quanto agradeço por estar vivo, o quanto é bom conseguir resolver os problemas, como era bom estar em Salvador dizendo aquilo tudo para ela. Depois fui até a “casinha” dela, construída por pescadores, cheia de oferendas para abrandar a sua ira e seu descontentamento com o instinto destrutivo do homem. Deixei lá umas flores, uns desejos, uns sonhos e um pedaço do meu coração para que possa voltar sempre a Salvador para me sentir inteiro.

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Pensar nessa grande Mãe, me fez lembrar de várias curiosas histórias. A primeira “crônica” que ouvi acerca das sereias data de uns quinze anos. Conheci uma moça bem gordinha que adorava mergulhar, adorava o mar, adorava os seres do mar. Sempre que ia à praia, carregava esnórquel e pé-de-pato para poder mergulhar. Certa vez, em Parati, passou horas embaixo d’água, admirando os seres, sentindo-se parte daquele mundo.

Passado algum tempo resolveu voltar à realidade e, carregando uma estrela-do-mar, emergiu. Um menino de uns cinco anos, de mãos dadas com a sua mãe, pasmou-se ao ver aquela figura portentosa, com cabelos negros, compridos e brilhantes, levando às mãos uma estrela.

“Mamãe, mamãe, veja, é uma sereia, é uma sereia!”

A mãe, assustada com a urgência do filho, olhou na direção do mar e disse:

“Sereia? Imagina menino, você já viu sereia gorda desse jeito?”

O menino não entendeu nada. Sua mãe mesmo havia contado sobre a lenda das sereias e aquela visão era exatamente o que havia imaginado. Deu uma risadinha de desprezo, um sorriso amarelo para sua mãe. Na sua visão de menino havia encontrado Yemanjá. E ela acenou pra ele.

Minha amiga (aquela, ultra-erudita...) disse que quando Cabral avistou sereias na costa brasileira, com seus cabelos compridos e seu lamento sonoro e mágico, descreveu-as gordinhas, loiras ou castanhas; há uma teoria de que ele havia visto na verdade eram peixes-bois enredados em chumaços de algas marinhas, e o ruído que emitiam foi confundido com um lamento de Yemanjá.

Do mesmo jeito que as sereias são seres mitológicos, creio que Cabral, lusitanamente, recriou o mito, tornando as sereias roliças, robustas, como todo peixe-boi deve ser.

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Tenho uma amiga que gosta de badulaques. Compra tudo o que vê, de roupas, acessórios, utensílios domésticos, enfeites. Sua casa tem tanta coisa, tantos objetos decorativos que ao mesmo tempo que me parece “poluído” ativa em mim a sensação de estar imerso no caos da criação do mundo. Uma babilônia bem perto de nós. Uma coisa curiosa é sua “fissura” por alguns “personagens”, como Frida Khalo. A Frida eu entendo. Ela é o arquétipo da sua balbúrdia. Frida era exatamente como ela: esquentada, eufórica, instável, pululante, criativa. Alguns chamariam de louca. Mas é injusto acomodar tanta efervescência sob o manto da loucura. A outra obsessão é por santos e casinhas de santos: compra todos os que encontra e, os que não têm casinhas, ela mesma faz.

E dentre os santos todos, Yemanjá é a estrela primeira da sua residência. Em sua casa, por onde se anda, se encontram coisas da sereia. Imagens, estatuetinhas, estatuetonas, conchas, peixes, barcos, porta-copos, copos, desenhos. Tem até uma sereia de pelúcia. Tudo isso começou quando lhe disseram que ela era filha da santa. E daquele dia em diante, Yemanjá passou a morar em sua vida. Mais precisamente em sua casa.

Quando eu a conheci, não entendi nada. Cadê aquela filha de Yemanjá taciturna, misteriosa, de poucas palavras, um pouco ranzinza, caseira, avessa a grandes baladas? Não existia. Seria um tipo diferente da deusa? Uma Yemanjá do Fogo? Não, não era isso. O fato é que, apesar de sua devoção, nao era ela a sua verdadeira mãe. Tudo isso, todo esse mar revolto, toda essa agitação só podia vir de uma outra deusa: Iansã, Senhora dos Raios, das Faíscas, das ondas. Expliquei a ela que estava louvando a santa errada.

Não que tivesse que deixar de louvar a Rainha do Mar. Mãe de todos os Orixás, Senhora da Bahia de Todos os Santos, guardiã das nossas cabeças e Senhora da Fertilidade, não existe quem não renda homenagens a ela. Só não pode deixar de louvar a sua verdadeira mãe, uma mãe tão presente, tão intensa, tão quente.

Além disso, ser filha de Iansã não significa que Yemanjá não seja mãe dela também, porque ela pode ser uma “segunda mãe”. E mesmo que não seja, conforme fui convivendo com essa amiga, entendi o que Yemanjá fazia em sua vida: quanto mais fogo, mais água é necessária para controlar os incêndios. Esse time-share, essa permuta liga-desliga de maternidade foi realmente obra de Deus.

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Na festa de Yemanjá do ano passado, minha amiga foi visitar a Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa. Estive lá esse ano. É uma mistura de Mercado Municipal de cidades nordestinas, com mercado persa, Feira de Acari carioca e Mercado Central do México. Vende-se tudo: frutas, verduras, legumes, roupas, carnes, farinhas, rapaduras, cerâmicas, imagens religiosas, artigos de candomblé, animais vivos. Aliás, é dos animais vivos que advém o insuportável cheiro do lugar. Mais precisamente galinhas. Curiosamente, o único lugar limpo e cheiroso de todo o mercado é o banheiro. Pasmei.

E no ano passado quem pasmou foi minha amiga. Foi lá que ela encontrou a maior preciosidade yemanjanesca que jamais havia visto ou possuído: uma imagem gigante, quase de tamanho natural (pelo menos do tamanho de uma criança de 7 anos), toda furadinha. Por dentro da imagem se acendia uma luz, deixando-a toda iluminada. Era a deusa do mar espalhando paz e iluminação pela sua casa.

Sem nem pensar, tratou de comprar a imagem. O dono da loja embrulhou, lotou de papel bolha, mandou ver no papel embrulho. O carregador do local conduziu a santidade até o táxi e o mensageiro do hotel acomodou-a no quarto do Mercure. Concluindo: minha amiga não fazia idéia do quanto era pesada a deusa e quanto sacrifício dispenderia para essa procissão.

Depois de passeios, jantares, cervejinhas, voltaram para o hotel para dormir. No meio da noite, a tia da minha amiga, uma pessoa muito simpática e sensível, acordou esbaforida. Sonhou que Yemanjá estava tendo uma crise de claustrofobia e pedia ajuda para ela. Pulou da cama, angustiada, e deu de cara com o embrulho enorme, de papel cor de cocô.

“Nossa, minha mãe. A senhora deve estar num sufoco! Perdão, Yemanjá”

E nem bem terminou de falar, tratou de arrancar a porção de papel que cobria a cabeça da santa. E quando olhou para ela, pensando em encontrar um sorriso aliviado e agradecido, percebeu que Yemanjá estava triste. Disse que viu a santa com as sobrancelhas franzidas e com a boca virada para baixo.

A tia entendeu tudo. Como é que ela podia estar feliz, embrulhada num monte de papel e plástico, como que sequestrada de seu habitat, longe do mar, num quarto de hotel de gringo? Reuniu forças e empurrou a estátua para perto da janela, abriu as cortinas e a vidraça, deixando Yemanjá tomar uma fresca. Catou lá nas coisas da sobrinha uma penca de colares, pendurou no pescoço dela; passou um batom bem vermelho em seus lábios de gesso e deu umas pinceladas de pó compacto em suas bochechas. Agora sim, Yemanjá estava feliz!

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A saga de Yemanjá não acaba por aí. Até porque a santa não era a única mercadoria adquirida em Salvador. Minha amiga carregava de tudo: redes de barbante, vidros de pimenta, sabonetes de simpatias, do tipo “cura mau olhado”, “levanta piru”, “chama dinheiro” e muito mais.

Fez o check-in e,enquanto isso Yemanjá esperava pacientemente ao lado, no carrinho de bagagem. Ao embarcar, “mamãe” e minha amiga foram barradas no baile. O despachante não permitiu que “mamãe” embarcasse, por exceder limites de peso, de quantidade de bagagem de mão e de dimensões. E minha amiga esbravejou. Enquanto Yemanjá chora por não poder entrar no avião, Iansã sacode seus leques, assopra uma tempestade e produz muitas faíscas. Mas não teve jeito: a deusa não subiu aos céus.

Dudu, o amigo que a levou ao aeroporto se compadeceu (ou se assustou) com a ira dela e prometeu que levaria sua santa nos próximos dois dias. Mais jeitoso, condescendente e bom de oratória, conseguiu convencer a companhia aérea a levar Yemanjá no banco vazio do avião.

Durante o vôo, Yemanjá saculejou. E Dudu, preocupado com a santíssima, não descuidou um minuto da sua segurança. E num momento de aflição, quando o avião coqueteleava ferozmente, quase fez um gesto de louvar a Deus, olhando o céu, mas parou. Por que pedir a Deus, se Yemanjá estava ao lado dele? E como se fosse um pescador, com seu barquinho chicoteado pelas ondas do mar, tratou de pedir à santa que protejesse sua viagem e que tivesse piedade dele e perdoasse os aviões que lançam cocô e xixi no ar. Condescendência da santa ou não, a tempestade assentou. O vôo atrasou algumas horas. Tempestades pelo caminho, teve que parar em duas cidades por falta de teto, até conseguir chegar em São Paulo.

Por conta do atraso, perdeu a carona e pegou um ônibus no aeroporto para ir direto ao trabalho. Desceu numa estação de metrô, pegou o trem, pegou um ônibus e foi ficando cansado. Já bastante atrasado para a reunião, resolveu pegar um táxi para ir mais rápido. E então começou a chover. Cântaros. A marginal alagou e ele ficou preso no táxi, Yemanjá no seu colo, sem dar uma palavra.

E, de repente, Dudu começou a chorar. Copiosamente. Debulhava-se em lágrimas, sem nem saber por que chorava. Um choro sentido, muito molhado, como se lavasse a alma, um banho de chuva no peito. Talvez fosse uma osmose do pranto de Yemanjá. Talvez fosse o cansaço, a ansiedade, a preocupação. Podia ser tudo isso junto. O fato é que no final do dia, Yemanjá estava sã e salva na casa da minha amiga.

Já faz um ano que ela mora lá. E todas as noites, ilumina a sala, ilumina os rostos das pessoas com seus pontinhos de luz amarelados. Ilumina também o peito, limpando os corações amargurados. Ela ainda nao deciciu se volta a Salvador. Aprendeu a gostar da noite, das festas na casa da minha amiga. Detesta a vida de celebridade. Não conseguia ficar sossegada em Salvador, com gente pedindo favores. Lá todo mundo a tratava como deusa. Sei que tem vários tipos de Yemanjá: Yemanjá-Sobá, Yemanjá-Caiala, Janaína, Oguntê. Mas essa, que mora em São Paulo, no bairro do Cambuci e repousa plácida na sombra dos bambuzais de Iansã, só existe aqui: Yemanjá-Anonimá.