TAMANHO É REALMENTE DOCUMENTO ?

Não, eu não vou falar sobre tamanhos de pênis. Não agora. Se bem que, seja qual for o objeto, a questão do tamanho vai sempre portar aspectos psicológicos interpretáveis.
Mas quero falar de carros. Mais especificamente de um carro. Aliás, um micro-carro. Nesse final de semana viajei para o interior do estado de New York, para uma floresta montanhosa chamada Catskill Montains. Já tinha ido lá outras vezes, mas dessa vez decidimos alugar um carro. Chegando na locadora, uma “habibi” muito antipática entregou as chaves do nosso carro. Era um Smart vermelho. Perguntamos a ela se era seguro para andar na estrada. E do alto de sua educação libanesa, bufando como uma francesa, ela respondeu, sem sequer levantar as bolinhas dos olhos, escondidas à sombra dos enormes cílios postiços: “É lógico que é!”
E lá fomos nós, naquele microcosmo vermelho. Já nos primeiros momentos, notamos que aquilo não era um bom negócio. Os raros buracos nas ruas da cidade eram detectados por ele. E a cada buraco, um novo sacolejar.
Entrando na estrada, fomos testemunhas de uma fantástica experiência: O Not-So-Smart balançava ferozmente com o vento. Essa foi a sensação mais próxima que já tive de ser abduzido por uma espaçonave em plena estrada de Varginha. Mesmo abrindo os vidros, uma estratégia que aprendi depois de algumas “balançadas” em algumas estradas brasileiras, o Not-So-Smart chacoalhava “super”. Por alguns momentos, eu tive a sensação de que o vermelhinho ia tombar. Enfim, chegamos sãos e salvos e a volta estava menos “ventarolante”.
Mas essa não foi realmente a parte mais curiosa da “Not-So-Smart- Experience”. O que mais chamou a minha atenção durante esses dias andando de cápsula vermelha foi a reação que ele provocava nas pessoas. Todos, digo TODOS que nos viam passando olhavam risonhos para o carro, cutucavam-se e apontavam para nós. Muitas pessoas gargalhavam.
É lógico que não é um tipo de carro que se vê com frequência nos Estados Unidos. Numa terra onde todos são gordos e com famílias numerosas (até mesmo os gays que, graças às proveitosas “provetas”, costumam ter dois a três filhos...), quase ninguém compra Smarts. Todos querem e precisam de carros grandes, robustos, cheios de bancos, porta-trecos e porta-malas. É claro que, como gosto e C*, cada um tem o seu, é possível que exista alguém no mundo que compre esses Not-So-Smart por puro gosto ou por absoluta falta dele.
Preconceitos à parte, acho que pode haver alguns gayzinhos (naquele estilinho Justin, do Queer as Folk” e algumas Penélopes Charmosas que desejem ter um veículo desses. Vocês devem lembrar quando a Sula Miranda (ecccaaaa!!!!!!) estava no seu “auge” e tinha um Ford Ka cor-de-rosa e nem era por falta de dinheiro. Ainda bem que o Not-So-Smart era vermelho, porque senão teria me sentido um pouco ela.
Além desses perfis, acho que algumas pessoas devem comprar esse tipo de carro porque é muito barato.
Mas, passados quase três dias, acabei me acostumando com a cápsula. Automático, quentinho, pseudo-espaçoso (para as únicas duas pessoas, é sim!) e pseudo-rápido (porque, embora alcance facilmente altas velocidades, quanto mais rápido, mais fácil de voar...) e o principal: me levou a todos os lugares que precisei. Adorei ter ido ao Shopping Center (Garden Staten Plaza de Paramus, um luxo no meio do nada!) e adorei poder despejar todas as minhas sacolas no petit porta-malas e não ter que me arrastar pelo ponto de ônibus em pleno inverno e nem ter que suportar um monte de fedúncios no ônibus.
Cheguei a amar fugazmente a cápsula. E, contente, protegido do frio, carregando tranquilamente minhas fartas comprinhas, não fiquei mais tímido ao ser surpreendido com pessoas rindo dela. Até consegui reagir, quando um bando de “Latin Latrines”, montadas com suas chapinhas num Lincoln preto velho, começaram a rir do Not-So-Smart. Sem pestanejar, olhei pra elas, confiante, mostrei a língua e dei uma farta gargalhada.
Hoje, antes de devolver o carro, chovia muito. Tive que levantar cedo pra tirar o carro da rua, porque era proibido parar a partir das oito horas. Consegui estacionar numa rua próxima e, chegada a hora de sair, a cápsula estava bloqueada por uma SVU e por um Lincoln preto velho. Não me fiz de rogado: taquei a mão na buzina e em dois minutos uma redondona apareceu para tirar o Lincoln. Isso é outra coisa interessante: não vejo pessoas bonitas dirigindo Lincolns.
Um tempo atrás uma amiga veio me pedir idéias para algum tipo de campanha para o Smart voltada para o público gay. De antemão, disse a ela que eu não compraria esse carro, a menos que morasse em Paris, porque faz sentido ter um carro minúsculo assim numa cidade com ruas tão estreitas. E como a maioria dos carros são pequenos, nem me sentiria tão insignificante.Mas, se morasse em Paris, acho que nem teria carro e, se tivesse um, não seria um Smart. Talvez fosse um Mini Cooper. E agora, depois de ter passado pela “Not-So-Smart Experience”, tenho certeza de que não compraria e, se ganhasse num sorteio de bingo, venderia.
Mas o minúsculo automóvel me fez pensar em tamanhos de pênis. Quando eu era mais jovem, tinha vergonha de ir a banheiros públicos, sobretudo nos mictórios coletivos. Mesmo “apertadísismo”, ficava eternamente esperando uma “cabininha” vagar. Quando comecei a frequentar academias, meu “ponto de corte” para escolher uma academia é que os locais de banho fossem compostos de cabines fechadas.
Não, não tenho piroquinha. Alguns anos de terapia mais tarde, perdi essa inibição e os banheiros públicos deixaram de ser um inconveniente. Não que eu tenha qualquer vocação para ser exibicionista, mas ao menos não sofro mais com receio de ser vítima de chacotas. E hoje observo, cheio de compaixão, aqueles caras “apertados” esperando uma vaguinha nas cabines de banheiros públicos.
E tudo isso não tem nada a ver com tamanho. Mas com auto-estima e confiança. É claro que, se compararmos extremos, um cara com piroquinha vai se sentir ultrajado se um pau-de-mula estacionar no mictório ao lado. Daqueles que exibem portentosos e orgulhosos suas mangueiras e se consegue ver sem nem mesmo espichar o olho: a visão da mangueira vai até seu olho. Daí não tem como. É como colocar o Not-So-Smart ao lado de um caminhão. Pura humilhação.
Tenho uma amiga que tinha um caso com um sujeito portador de piroquinha. Mas ela adorava a mandioquinha dele e sempre dizia: “Nao importa o tamanho da varinha, mas a mágica que ela faz”. Mais vulgarmente, quando a pomba-gira encostava, bradava: “Mais vale um pequeno brincalhão, do que um grande bobalhão”. E isso é cem por cento verdadeiro em se tratando de pau-de-mula-brocha e Lincolns pretos e velhos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home