Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Sunday, January 27, 2013

MILONGAS E TRAGÉDIAS.


Assim que levantei nesse domingo de verão esquisito soube da tragédia na cidade gaúcha de Santa Maria. As televisões ligadas pelo hospital em meu dia de plantão retratavam a triste realidade ocorrida na madrugada que passou. Confesso que evito assistir; a notícia me basta. Detesto ver tragédias de perto. A coisa mais interessante foi ver a comoção das pessoas nas redes sociais: textos emocionados, gente informando as necessidades das famílias das vítimas, nomes de pessoas em hospitais, orientações para o envio de ajuda, materiais, remédios, voluntários. Embora muitos estivessem divulgando pedidos para que não divulgassem fotos das vitimas, de fato não encontrei nenhuma. Agradeci a Deus: ao menos as pessoas que navegam na “minha rede” souberam dar um exemplo de civilidade e respeito.

O Brasil ficou triste. Eu fico me perguntando o que deixou todo mundo tão triste?  A morte em massa de jovens, gente começando uma vida? A identificação com a possibilidade da nossa própria finitude, posto que somos frágeis como folhas de papel diante do fogo?  A revolta com o descaso com os itens de segurança de uma casa noturna, coisa que deve ser muito mais frequente do que imaginamos? E a impunidade? Ah...a impunidade... Com certeza ela ainda não chegou, mas chegará mais hora, menos hora. Acho que é um misto de tudo. Somos frágeis bonecos no palco da vida; um espetáculo que pode ser bem, bem curto.

Mas eu me pergunto: como será o amanhã? Não o porvir, mas o amanhã mais concreto, a segunda-feira. Como estará o Twitter, o Facebook, em relação a essa tragédia? Em tempos de instantaneidade, onde uma piada, um deslize de um participante do BBB, a frase mal dita de um político ou um grupo de humoristas  ganha proporções gigantescas em poucas horas e com duração de poucos dias, eu ainda interrogo se essa dor toda, se essa violenta comoção sobreviverá ou será substituída por outro assunto mais imponente ao cabo de alguns dias.

Viral. Essa é a palavra. Esse é o mandatório da cultura da instantaneidade. Como vírus, uma informação, proposital ou acidental se espalha pelas redes sociais com doença. Epidemia. Virulência. A doença de uma sociedade instantânea, artificial, superficial. Uma vida sustentada em “likes” e “sharings” tão fugaz quanto aquele inocente beijo de balada, daquele tipo que os adolescentes colecionam para contar depois para seus amigos ou amigas com quantos meninos ou meninas ficaram. 

Friday, January 11, 2013

MINHA NEGRITUDE.




                                                   * foto de Michael Maldanis

“Um sorriso negro
Um abraço negro

Traz felicidade

Negro sem emprego, fica sem sossego 

Negro é a raiz da liberdade”
(“Sorriso Negro”)

Nasci e cresci numa família branca. Vivi quase minha vida inteira num bairro onde negros eram minoria. Cresci ouvindo frases horrendas de alguns familiares sobre negros e coisas que os negros faziam “errado”. “Piadas” que pelo menos não se houve mais hoje em dia. Um de meus melhores amigos na escola era um negro. Tinha o mesmo nome que eu. Era meu companheiro na escola, dividíamos lanches e brinquedos, voltávamos no mesmo ônibus escolar. Não sei se por ser negro ou por ser um amigo “próximo demais”, minha convivência com ele, como outras, foi interrompida. Teria sido a convivência com ele, na cabeça sonsa de alguns, um risco para meu desvio do caminho reto? Até hoje procuro seu nome por aí.

Toda essa “brancura” não impediu de fazer crescer a minha “negritude”. Sei lá de onde vem.  É lógico que a negritude vem colada na Bahia, mas essa ligação que é, no mínimo, anterior a ela, ao menos nessa vida cronológica, é um fato da minha existência. Todo mundo sabe que (nós brasileiros) somos reis em dizer que “não temos preconceitos”, mas creio que ainda precisamos revisitar essa ladainha por séculos ainda para atingir uma certa maturidade “racial”. E o preconceito extravasa nos momentos mais descontraídos. Certo dia conversava com um grupo num restaurante; contava sobre uma amiga que teve sua casa assaltada, provavelmente pela sua faxineira (digo pelas evidências, não pelo “cargo”) e uma das pessoas do grupo perguntou: “Ela era preta?”. Esse “preta” me paralisou. Não era o “venha ver o preto que você tanto gosta” na boca de Dona Canô para Caetano, falando sobre Gil. Era um desrespeitoso “preta” associando a cor ao degenerado, ao excluído. Eu respondi, perplexo: “Não, não era.” E implícito, um vai-tomar-no-seu-cu-sua-ignorante.

Estranho momento esse que estou vivendo e decidi compartilhar. Passei uns dias em Salvador entre Natal e Ano Novo. Isso faz obviamente que minha negritude fique “recarregada” por mais tempo. Tive a oportunidade de ir a um ensaio do Olodum, no Pelourinho. Confesso que fiquei um pouco frustrado, porque a minha expectativa estava um pouco alta. Explico: o batuque é fantástico, mas a “minha” estética suprimiria a cantoria e deixaria somente o batuque. Pra mim, a maior parte das músicas “rouba” a magia daquela batucaiada toda. Para além do batuque, o que mais me impressionou foi o “orgulho negro”. Achei incrível quando um dos cantores agradeceu a presença de todos, em especial para as comunidades que prestigiam os ensaios durante todo o ano. Depois presenciei uma cena forte: um esbarrão de um branco com dois ou três negros e puft! Foi-se o copo de cerveja do branquelo ao chão. Ele se armou todo para xingar e esbravejar, mas deu de cara com a negada toda olhando para ele, olho-no-olho. Sem uma palavra, ele baixou a cabeça e continuou andando. Quem tem cu, tem medo, como dizem. Provavelmente, o turistinha branquelo, que vai rebolar sua alvura no carnaval de Salvador, teria uma outra atitude se estivesse em outro lugar. Diria impropérios, arrumaria confusão; mas ficou acuado porque não estava em seu território. A outra cena forte foi no banheiro. Um vexame para os brancos todos. Confesso que fiquei constrangido ao ver tudo aquilo; ao ver aqueles negros todos botando seus paus pra fora no mictório. Impossível não olhar. E acho que eles até facilitam, não por laivos de homoafetividade, mas por instinto, por orgulho. Eu teria orgulho.

Cheio de baianidade, negritude e “macumbaria” correndo solta em minha alma, ganho de presente de meus amigos baianos um livro interessantíssimo, “O poder dos candomblés”, de Edmar Ferreira Santos, que conta a história do Candomblé de Cachoeira e toda sua relação com a escravidão e a exclusão social dos negros através do repúdio à religião. Naquele tempo, onde o politicamente correto ainda não havia, jornais falavam claramente sobre a necessidade de banir com as “coisas dos pretos” da sociedade brasileira em favor de uma europeização “urgente”. Fiquei alegre por ter recebido um tesouro desses, mas fiquei triste ao refletir o tanto de injustiças que foram cometidas contra os negros. O mundo indeniza orgulhosamente os sobreviventes do holocausto e as famílias das suas vítimas, enquanto batemos cabeças com míseras cotas raciais em universidades públicas. Esse mesmo mundo observa a África se esvaindo em sarampo, desidratação, cólera e AIDS.

 
Instintivamente começo a ler um livro que havia começado uns tempos atrás, mas que a rotina e os estudos me fizeram adiar: “Sangue de mim”, de Polyana Almeida Ramos, uma grande revelação na literatura brasileira. O lindo romance fala, entre outras coisas, sobre a transição da nossa sociedade em tempos de Abolição. De novo o mesmo sentimento: alegria, satisfação por ter a oportunidade de ler tão bela obra e ao mesmo tempo uma profunda tristeza, um “banzo” para soar mais “negresco” por toda a dor e todo o desrespeito imposto a esse povo.



E eu não sei se termino por aqui essa negra sincronicidade, mas hoje assisti o filme de Tarantino, “Django unchained”. Novamente, o mesmo assunto, logicamente de um jeito todo Tarantino de contar as histórias. Falar de escravidão no sul dos Estados Unidos, tão cruel, tão pesada e com consequências tão trágicas para o povo negro quanto no Brasil. E o sentimento é o mesmo. Fiquei extasiado ao ver a evolução de Tarantino, coisa que já tem acontecido em obras anteriores: “yes, nós temos violência”; mas ela serve para contar histórias delicadas e vingar o oprimido e o injustiçado. Mas é tão triste pensar que uma gente tão linda, com seus corpos exuberantes e cheios de vigor, oriundos de terras outrora – e ainda hoje -  tão ricas culturalmente tenha passado e ainda passe por tantas desgraças e sofrimentos.


Recentemente tomei contato com a existência de um coral afro em São Paulo – o Coral Luther King. Bizarrices da cidade, o coral ensaia e se apresenta em grande parte na capela do Colégio Sion. Um lindo trabalho de resgate da cultura negra de várias partes do mundo, passando pelo Brasil, pela África e pelos diversos países onde a cultura negra faz morada.

 
Em tempos dos cinquenta tons de cinza que entristecem a nossa cultura, que nada acrescentam e que só enriquecem a quem vende essas baboseiras, a alma brasileira vai ficando mais escura. Esse patchwork de raças, cores e credos que compõem nossa sociedade é algo muito mais rico e engrandecedor do que todo o lixo pseuso-culto que nos enfiam goela abaixo. Eu estou fazendo o caminho contrario de Michael Jackson: estou enegrecendo. E alma preta não é morta, nem podre, nem maléfica. O preto é a cor dos iniciados nas grandes seitas esotéricas. Alma preta é alma profunda. 

Sunday, January 06, 2013

UMA HISTÓRIA REAL.

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Dei esse nome a esse texto porque, emocionado que estava hoje, lembrei do filme homônimo do David Lynch, no qual um senhor de 73 anos, ao saber que seu irmão está morrendo e, sem licença para dirigir devido à parca visão, resolve atravessar os Estados Unidos num pequeno trator.  E olha eu aqui, from coast to coast, revisitando a história real da minha vida.

Hoje reencontrei uma pessoa com quem não falava há mais de quinze anos. Uma prima de segundo grau, que apesar de ser mais velha – acho que ela estava localizada num intermezzo de gerações entre meus pais e eu – foi uma pessoa sempre muito querida por mim. Sim, ela e quem a conhece saberão que estou falando dela porque, ao contrário de muitas postagens minhas, nas quais revelo segredos e histórias onde revelar seus atores não cai muito bem, essa é uma história real e que só tem a causar orgulho e satisfação.

Acho que nossa longa amizade começou quando, lá pelos meus sete anos de idade, fiquei meio vizinho dela na pequena província de Santana City, Zona Norte de São Paulo. Ainda filho único, chegava a passar algumas manhãs e algumas tardes com a sua mãe, enquanto a minha ia à feira, ao banco ou o que quer que fosse. E lá ficava eu, vendo a Tia Anunciação fazer tricô com um monte de outras senhorinhas, na garagem transformada em sala de conversação. E vez ou outra cruzava minha prima, ouvia suas histórias de namorados, me divertia com aqueles “quase adultos” saindo para festas de sábado à noite. Passado algum tempo, a Tia Anunciação nos deixou, ficamos algum tempo sem contato, até que descobri, já adolescente, que ela estava morando numa outra casa, próxima à minha.

E foi naquela casinha com uma varanda na janela, que nos tornamos verdadeiros amigos e confidentes. Era para lá que fugia do inferno que era minha casa em vários momentos e passava horas conversando, trocando idéias, falando bobagens e coisas sérias, ouvindo música.  Foi nessa mesma casinha, anos mais tarde, onde fui morar com minha família quando perdemos tudo. Sim, ela e seu marido, fizeram o que poucas pessoas fariam por uma família: alojaram quatro pessoas e um poodle em sua pequena casa. Eu vou chamar de “voltas da vida” toda uma gama de coisas que incluem fofocas, injustiças, intrigas e todo tipo de sacanagem que ocorre muitas vezes, porque esse texto é uma homenagem a um reencontro, não uma revoada de escombros do passado. E foi isso. As tais “voltas da vida” fizeram com que eu e minha família saíssemos da casa dela sem dizer adeus ou obrigado. Eu saí com um nó no peito porque naquele tempo, corpo de homem e alma de menino, tinha que juntar os cacos dessa família despedaçada e seguir em frente. E lá fomos nós, morar no cortiço.

Como eu disse, muito tempo passou e nunca mais havia falado com ela. Faziam alguns anos que eu a procurava por “vias indiretas”. Cheguei a passar várias vezes na porta da antiga casa, sem sucesso. Digitei seu nome na internet, perguntei a alguns parentes, ninguém soube me informar. É claro que minha busca não foi exatamente profissional, porque tinha medo de achá-la e não ser bem recebido. Tinha medo que aquele sentimento de amor e carinho que existia entre nós tivesse desaparecido. É por isso que acho que essa busca demorou e, enquanto o tempo passava, tratei de encontrar a mim mesmo antes.

Hoje, homem feito, realizado em vários campos, feliz, independente. Não sou o “filho de Francisco ou Berenice”; sou apenas eu, encontrado. E nesse reencontro, comecei a sentir falta de ir à busca de pessoas que fazem parte da minha história, que andaram comigo, que me ampararam. Nos últimos tempos, refiz laços, desatei nós, encontrei antigos amigos, parentes. Não quero encontrar todo mundo. Tem gente que não quero ver a cara. Outro dia, falando com minha irmã de um tio de quem nunca gostei, achei que ele estivesse morto. Ele, sua mulher, todos. “Mas ele não morreu? Achei que tivesse. Tamanha era a falta que sentia dele. Mas não é o caso dessa prima querida e de outras tantas pessoas que reencontrei, sobretudo nesse ano de 2012.

Nos últimos anos, muita coisa mudou em minha vida, inclusive meu modo de ver vários assuntos. Mesmo tendo trabalhado todos esses anos tratando de dependentes químicos, sempre repudiei a filosofia dos alcoólicos anônimos. Repudiei sem conhecer. Essa foi uma das mudanças. Não, eu não sou “adicto”, mas convivendo muito próximo de um “adicto” no seio da minha família, passei a olhar as coisas de um prisma totalmente diferente. E passei a prestar atenção nos ensinamentos que eles trazem. Até descobri que Jung ajudou a elaborar os tais doze passos. Junguiano que sou agora, olho inclusive com outros olhos esses passos que levam à recuperação.

E o que os doze passos têm a ver com reencontrar minha prima? Tem tudo a ver. O que será que se encontra no final da uma recuperação? Se for uma recuperação de verdade, acho que, muito mais que abstinência, se encontra a alma. E pra reencontrar a alma, precisamos deixar para trás nas águas do rio da vida as malas pesadas que nos atrasam. É preciso perdoar, é preciso pedir perdão, reconhecer erros, falhas, injustiças. O oitavo e o nono passo falam disso. Perdoar, deixar as pedras para trás.

Hoje, pela manhã, recebo uma resposta de minha prima à minha mensagem no Facebook. Tanta gente reclama do Facebook; até eu reclamo algumas vezes. Mas sou eternamente grato a esse dispositivo, que me fez reencontrar e conhecer pessoas maravilhosas. E reencontrar essa prima querida, depois de tantos anos, me deixou muito feliz. Uma felicidade que quis compartilhar com as pessoas que gosto e acompanham minhas postagens.

Lembrando o que dizia uma pessoa muito sábia que conheço: “Para tudo há um jeito; só não há jeito quanto a tampa (do caixão) fecha”. E eu acredito nisso. Mesmo sendo reencarnacionista, pra que deixar para outra vida o que podemos fazer nessa? Diga o quanto ama, faça carinho no cocoruto da pessoa amada, beije, peça desculpas, reconheça o bem que lhe foi feito. Não há religião no mundo que seja contra a esses princípios. Isso é uma história real.

Tuesday, January 01, 2013

“E EU QUE ERA TÃO TRISTE, DESCRENTE DESSE MUNDO” *


*Trecho da música Corcovado, de João Gilberto.




 Comecei a escrever muito cedo. Poesias, contos, crônicas. Mas era na poesia que eu sangrava; era essa navalhada que fazia desafogar minha  dor, meu peito oprimido. Um dia publicarei minhas poesias. O livro tem até nome. Tem até cor. Um livro preto, cheio de tristeza misturada de esperança. Hoje nem eu tenho muita coragem de visitar esses porões através de meus escritos. Porque é tanta felicidade na minha vida, no meu peito, que essa coisa escura do passado me faz um tanto mal. Está tudo lá, guardados, nos porões, jamais esquecido.

Tem uma faceta minha que adora contar minhas agruras, escorregar pelos meus feitos heróicos e desembocar na estrada em que me encontro hoje; tem um gozo, uma satisfação em mostrar o quanto sou vencedor. Gosto de contar a mim mesmo, relembrar tudo o que passei nos momentos em que o barco da vida balança mais forte do que achamos poder suportar. Daí a memória serve para dizer, em tom forte de pai, e voz doce de mãe que a tempestade irá passar. Como aqueles grandes mitos que ouvimos; como nas histórias dos heróis que lutam e vencem batalhas, como a vendedora de sanduíches na praia que se torna empresária, gosto de dizer a mim mesmo que já comi gramas e tropecei em pedras mais pesadas e que sou capaz de driblar esse novo problema.

Também gosto de rememorar esses pesados momentos até  para quem não me conhece e está passando por dificuldades. Amigos, pacientes, parentes. Pessoas que precisam poder enxergar e acreditar que a dor passa, que a ferida estanca, que o sofrimento acaba. Nesses anos todos, muita gente ouviu vários pedaços da minha história e pode, através dela, levantar a cabeça, olhar para frente e seguir andando. É lógico que há níveis diferentes de problemas e sofrimentos, mas acreditar que é possível, ajuda e muito quem está passando por dificuldades.

Há cerca de duas semanas, encontrei um paciente que não via há uns 7 anos. Engraçado que, um dia antes, pensei nele: “Por onde andará fulano? Como será que ele está?”. E no dia seguinte, no meu plantão no hospital, ele aparece para uma consulta, sem saber que me encontraria. Sua queixa atual não era nada frente às dificuldades pelas quais tinha passado; estava ansioso e estressado, sobrecarregado com o trabalho. E numa conversa relativamente rápida, pude dizer isso a  ele; o quanto ele havia crescido, tudo o que havia conquistado e que deveria ter paciência. Eu sei. Paciência é algo fácil de pedir, difícil de ter. Mas ela veio de braços dados com a esperança de dias melhores.

E então ele me disse o quanto eu tinha sido importante na vida dele, o quanto eu o ajudei e que tudo o que ele havia conquistado, devia a mim, porque ninguém acreditava na possibilidade dele vir a se tornar alguém, conquistar coisas, exceto eu. Disse que lembrava das histórias que contava e do quanto eu falava que ele seria tão capaz quanto eu de vencer os obstáculos. E ele acreditou.

Esse encontro foi terapêutico, curativo para nós dois. Ele trouxe para mim um presente muito maior que a gratidão; ele trouxe a certeza que amor e atenção nesse trabalho de cuidar das mentes fazem uma grande diferença na vida das pessoas. Mas trouxe a vontade de agradecer àqueles que me ajudaram desse jeito em minha vida. Amigos, terapeutas, familiares. Gente que me deu todo tipo de alimento, do físico ao espiritual, do corpo à alma.

É claro que a vida continuará com seus movimentos. Como disse numa postagem de fim de ano no Facebook: subidas e descidas, vai e vens. É lógico que o meu barco balançará algumas vezes; mas acreditar que seremos capazes de driblar os obstáculos e as instabilidades da vida me faz ter vontade de continuar caminhando. Nisso, a fé tem um papel importante em minha vida: é ela a assinatura, o compromisso, a lavragem que me dá lastro, fôlego e vontade.

Mas a fé não é nada sem o amor. Quem tem fé e não ama, não tem fé de verdade. É preciso amar as coisas, as pessoas, as escolhas; é preciso amar a fé. Esse “ser preciso” não é algo que possamos aprender ou nos resignarmos; o amor vem de dentro. Posso aprender a conviver, respeitar, compreender a até desenvolver um certo gostar, adestrado, politicamente correto. Isso não será suficiente; é só através do amor que somos capazes de sentir de fato a fé.

É isso aí: eu já fui descrente desse mundo. E ao encontrar o meu amor, descobri o que é a Felicidade. Não apenas o amor pelo outro; mas o amor por mim mesmo.