MILONGAS E TRAGÉDIAS.
Assim que levantei nesse domingo de verão
esquisito soube da tragédia na cidade gaúcha de Santa Maria. As televisões
ligadas pelo hospital em meu dia de plantão retratavam a triste realidade
ocorrida na madrugada que passou. Confesso que evito assistir; a notícia me
basta. Detesto ver tragédias de perto. A coisa mais interessante foi ver a
comoção das pessoas nas redes sociais: textos emocionados, gente informando as
necessidades das famílias das vítimas, nomes de pessoas em hospitais,
orientações para o envio de ajuda, materiais, remédios, voluntários. Embora
muitos estivessem divulgando pedidos para que não divulgassem fotos das
vitimas, de fato não encontrei nenhuma. Agradeci a Deus: ao menos as pessoas
que navegam na “minha rede” souberam dar um exemplo de civilidade e respeito.
O Brasil ficou triste. Eu fico me
perguntando o que deixou todo mundo tão triste? A morte em massa de jovens, gente começando uma vida? A
identificação com a possibilidade da nossa própria finitude, posto que somos
frágeis como folhas de papel diante do fogo? A revolta com o descaso com os itens de segurança de uma
casa noturna, coisa que deve ser muito mais frequente do que imaginamos? E a
impunidade? Ah...a impunidade... Com certeza ela ainda não chegou, mas chegará
mais hora, menos hora. Acho que é um misto de tudo. Somos frágeis bonecos no
palco da vida; um espetáculo que pode ser bem, bem curto.
Mas eu me pergunto: como será o amanhã? Não
o porvir, mas o amanhã mais concreto, a segunda-feira. Como estará o Twitter, o
Facebook, em relação a essa tragédia? Em tempos de instantaneidade, onde uma
piada, um deslize de um participante do BBB, a frase mal dita de um político ou
um grupo de humoristas ganha proporções
gigantescas em poucas horas e com duração de poucos dias, eu ainda interrogo se
essa dor toda, se essa violenta comoção sobreviverá ou será substituída por
outro assunto mais imponente ao cabo de alguns dias.
Viral. Essa é a palavra. Esse é o
mandatório da cultura da instantaneidade. Como vírus, uma informação,
proposital ou acidental se espalha pelas redes sociais com doença. Epidemia.
Virulência. A doença de uma sociedade instantânea, artificial, superficial. Uma
vida sustentada em “likes” e “sharings” tão fugaz quanto aquele inocente beijo
de balada, daquele tipo que os adolescentes colecionam para contar depois para
seus amigos ou amigas com quantos meninos ou meninas ficaram.
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