Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Tuesday, March 22, 2016

DO OLHO OU DA REMELA?




“Fora Petista”

Hashtag: “Nojo de vermes”

(Espera que eu já explico.)

Ontem, voltando de viagem do final de semana, escutando música na estrada ao lado do meu namorado, feliz da vida, revirei os baús da memória, ajudado pela Apple Music e desatei a ouvir Fafá de Belém. Ouvi  a música da Tieta, aquela outra que ela canta com o Zezé, escutei lambada. Lembrei-me de um amigo paraense que é super- fã de sua conterrânea e pensei que ele está coberto de razão: ela é incrível.

Daí encontrei uma versão ao vivo no Youtube, na qual, ela, esplendorosa, veste cocar e ressalta as belezas de seu povo, que “aprende a dançar descalço” e “toma banho no igarapé”. Eu nunca tomei banho num igarapé, mas eu sei o quanto é delicioso dançar, loucamente, ainda mais descalço.

Não sem nenhuma maldade, porque, afinal de contas, sou de escorpião, resolvi postar a música “Vermelho” no Facebook e escrevi:

“Só pra lembrar que meu coração é vermelho! Uma ótima semana cheia de amor a tod@s!”

Eis que uma desconhecida, dessas que invadem a Timelime alheia, desatou a destilar seu ódio, dizendo que seu coração será sempre verde e amarelo, que tem nojo de vermes, e fora PT e blablablá.

Tá certo que o post é público e que eu não bloqueio comentários de estranhos. Mas qual é o direito que uma pessoa tem de invadir o post alheio com ofensas e revoltas? Tudo bem, a minha malaguetice implícita provou que não se pode falar mais de vermelho no Brasil, que automaticamente se fica associado ao Partido dos Trabalhadores, à CUT, ao MST.

Como ficarão agora os corações? E o Chambinho? Como ensinaremos as crianças? Como poderemos exemplificar o calor do amor e da paixão se o vermelho será cor proibida nesses tempos difíceis? Tô bege. Hoje mesmo soube de mães que foram agredidas por vestirem de vermelhos seus bebês.

E o fetiche, a luxúria? O que será dela sem o vermelho? Imagina a cena: a pessoa , trajando espartilho e cinta-liga de renda, salto agulha, batom e esmalte, tudo vermelho. Chega a outra pessoa e, ao invés de curtir aquele momento de êxtase, empurra a “companheira” e grita: “Fora Petralha! Ladrões! Bando de vermes!”

Cena drástica no pronto-socorro: você deixa cair um copo no chão e pisa no caco de vidro. Vai correndo para o São Luiz ou para o Samaritano, tem “convênio bom” e o médico, ao invés de suturar seu corte, grita: “Comunista de merda! Vai morrer no SUS! Tá sangrando vermelho! Vai pra Cuba!”

 Sim, há radicalismos por toda a parte. Somos conduzidos, incitados, manipulados à intolerância, como galos em rinha. Eu gosto do meu país, não tenho vergonha de ser brasileiro. Acho que o verde-e-amarelo da nossa bandeira é uma combinação e tanto, e me orgulho quando ela é reconhecida como um símbolo do meu país. Mas eu também gosto do vermelho, em seus vários matizes.

É claro que eu não posso e, na verdade, nem quero negar a minha tendência esquerdista. Mas jamais esquecerei meu desejo de liberdade e meu desejo de que as outras pessoas também sejam livres em atos e pensamentos, sem por isso perder o respeito pela opinião alheia. Sim, o vermelho, enquanto cor quente, ativa, intensa, me representa.


Como diz o ditado, “uns gostam do olho, outros da remela”. Devemos saber respeitar isso. E devemos saber que, na verdade, não sabemos, quem é olho, quem é remela. 

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