DO OLHO OU DA REMELA?
“Fora Petista”
Hashtag: “Nojo de vermes”
(Espera que eu já explico.)
Ontem, voltando de viagem do final de semana, escutando
música na estrada ao lado do meu namorado, feliz da vida, revirei os baús da
memória, ajudado pela Apple Music e desatei a ouvir Fafá de Belém. Ouvi a música da Tieta, aquela outra que ela canta
com o Zezé, escutei lambada. Lembrei-me de um amigo paraense que é super- fã de
sua conterrânea e pensei que ele está coberto de razão: ela é incrível.
Daí encontrei uma versão ao vivo no Youtube, na qual, ela,
esplendorosa, veste cocar e ressalta as belezas de seu povo, que “aprende a
dançar descalço” e “toma banho no igarapé”. Eu nunca tomei banho num igarapé,
mas eu sei o quanto é delicioso dançar, loucamente, ainda mais descalço.
Não sem nenhuma maldade, porque, afinal de contas, sou de
escorpião, resolvi postar a música “Vermelho” no Facebook e escrevi:
“Só pra lembrar que meu coração é vermelho! Uma ótima semana
cheia de amor a tod@s!”
Eis que uma desconhecida, dessas que invadem a Timelime
alheia, desatou a destilar seu ódio, dizendo que seu coração será sempre verde
e amarelo, que tem nojo de vermes, e fora PT e blablablá.
Tá certo que o post é público e que eu não bloqueio
comentários de estranhos. Mas qual é o direito que uma pessoa tem de invadir o
post alheio com ofensas e revoltas? Tudo bem, a minha malaguetice implícita
provou que não se pode falar mais de vermelho no Brasil, que automaticamente se
fica associado ao Partido dos Trabalhadores, à CUT, ao MST.
Como ficarão agora os corações? E o Chambinho? Como
ensinaremos as crianças? Como poderemos exemplificar o calor do amor e da
paixão se o vermelho será cor proibida nesses tempos difíceis? Tô bege. Hoje
mesmo soube de mães que foram agredidas por vestirem de vermelhos seus bebês.
E o fetiche, a luxúria? O que será dela sem o vermelho?
Imagina a cena: a pessoa , trajando espartilho e cinta-liga de renda, salto
agulha, batom e esmalte, tudo vermelho. Chega a outra pessoa e, ao invés de
curtir aquele momento de êxtase, empurra a “companheira” e grita: “Fora
Petralha! Ladrões! Bando de vermes!”
Cena drástica no pronto-socorro: você deixa cair um copo no
chão e pisa no caco de vidro. Vai correndo para o São Luiz ou para o
Samaritano, tem “convênio bom” e o médico, ao invés de suturar seu corte,
grita: “Comunista de merda! Vai morrer no SUS! Tá sangrando vermelho! Vai pra
Cuba!”
É claro que eu não posso e, na verdade, nem quero negar a minha
tendência esquerdista. Mas jamais esquecerei meu desejo de liberdade e meu
desejo de que as outras pessoas também sejam livres em atos e pensamentos, sem
por isso perder o respeito pela opinião alheia. Sim, o vermelho, enquanto cor
quente, ativa, intensa, me representa.
Como diz o ditado, “uns gostam do olho, outros da remela”.
Devemos saber respeitar isso. E devemos saber que, na verdade, não sabemos,
quem é olho, quem é remela.
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