O (HOMEM) GAROTO QUE NÃO AMAVA A (MULHER) MENINA, E NEM MULHER ALGUMA.
Buceta toda mulher tem. Parece que elas vêm
com esse item de fábrica. Então bebês, meninas, moças, mulheres e vovós, todas
têm buceta. Mas o que faz, além da idade, que uma mulher ultrapasse a floresta
escura da meninice e se torne uma mulher de verdade? Porque tenho visto
mulheres em idade que são meninas em atitude. Não estou falando da meninice
matreira, da alma juvenil, que é prescrição obrigatória a todos que desejam
levar uma vida loucamente sã. Falo da meninice estúpida, daquela cuja
ingenuidade arrasta as correntes da estupidez e as torna alvo fácil desses tais
garotos podres, os garotos que não amam as mulheres. Garotos covardes, garotos
assassinos, garotos que violentam a feminilidade das meninas, porque desejam
simplesmente, mas não têm a coragem de se tornarem mulheres. Sim, porque isso é
possível nos dias de hoje.
Garotos desajustados, medrosos e
encarcerados em seus armários de cerejeira são facilmente transformados em
raladores de buceta. Garotos de qualquer idade que não aceitam sua própria
sexualidade, trancafiando-a nos porões da existência tendem a se tornarem
vampiros da alma feminina e raladores de bucetas. Sim, eles também agridem os
gays assumidos, sexualmente bem-orientados. Porque são infelizes, perdidos nos pastos da vida.
Desejam as mulheres. Sim, e como desejam. Mas não tê-las; sê-las.
Como um Pinóquio, o garoto que não ama
mulher nenhuma vive uma grande mentira. Ele é capaz de se casar, ter filhos,
ter amantes-fêmea e jamais se dar conta da sua sexualidade contaminada e
putrefata. Ele mente, seu nariz cresce e sua volúpia diminui. Seu único prazer
se restringe a decapitar clitóris. Qual é o plural de clitóris? Clitóris é como
lápis, ou se fala clitórises? Sei lá.
Eu só sei que tenho pena das meninas que se deixam levar por esses
garotos. Meninas que, por carência, medo da solidão e do abandono, leiloam suas
almas por alguns reles níqueis de um pseudo-status de ter alguém.
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Eu escrevi os três primeiros parágrafos
desse texto há meses. Naquela época havia um acontecimento que justificava eu
postá-lo. Mas, enlevado pelo nojo que esse tipo de situação me evoca, acabei
perdendo a inspiração. Mas o tema continua atual. Tanto pelo imbecil que deu
origem à série, como pela insistência do tema em continuar existindo por aí. Daí aproveitei minha dificuldade para
arranjar algum assunto novo e resolvi retomar essa discussão. Faz alguns meses, tive a oportunidade
de observar um menino e uma menina de cinco anos brincando de casinha. Ela,
enquanto preparava o café da manhã, reclamava que ele não a ajudava, que não se
levantava para sentar-se à mesa. Ele dá um salto da rede, gritando com ela: “Eu
estou cansado, mulher! Eu trabalho o dia inteiro e quando chego em casa, você
fica me enchendo o saco!”. Eu não aguentei ver aquilo e resolvi interferir:
“Olá. Eu sou o anjo do bom relacionamento. Se vocês continuarem brigando desse
jeito eu vou desmanchar esse casamento. Isso está parecendo um filme do Woodie
Allen.” Eles ficaram olhando para mim, meio espantados. Depois me virei para
ele: “Fulano, uma mulher deve ser sempre bem tratada. A mulher deve ser amada e
respeitada e isso não é jeito de falar com a sua mulher. Nem de brincadeira.”
Eu espero que a minha interferência tenha ficado na cabeça deles.
Principalmente na dele, mas na dela também, porque o desrespeito e a violência
muitas vezes são consequências de uma interação: ele não aprendeu a respeitar a
mulher; ela não aprendeu a exigir respeito e suportará esse homem, como se
fosse algo habitual. E isso me fez pensar em como são educadas as crianças, em
como colocamos conceitos, valores, preconceitos nas cabeças de nossas crianças.
Nós (os adultos) somos responsáveis pelos valores e pelas distorsões deles que
nossas crianças incorporam.
E tenho observado que é por volta dos cinco
anos de idade o “turning point” do que transformaremos essas crianças. É nessa
idade que as crianças perguntam as coisas mais cabeludas e raciocinam sobre
elas. Essa semana senti saudades de ler o Petit Nicolas, um clássico da
literatura infanto-juvenil francesa. Quando li suas histórias, pude perceber
como se constrói o sarcasmo dos franceses. A mãe dele pede para não contar ao seu pai o quanto gastou
nas compras daquele dia. Ao encontrar o pai, ele pergunta ao garoto o que fez
de bom e ele responde: “Fiz comprar com a mamãe. Ela pediu para eu não contar
para você o quanto ela gastou, porque você iria ficar bravo. Mas eu não entendo
porque você iria ficar bravo só porque fizemos compras.” Muitos pais agridem e
castigam seus filhos quando eles têm atitudes como essa, sendo que o que
deveriam fazer é baterem suas próprias cabeças nas paredes.
Certo dia, recebi uns amigos em minha casa,
com sua filha de cinco anos. Ela perguntou para mim: “Você mora aqui?”. Eu
respondi que sim. Passados alguns minutos ela perguntou: “E o tio Fulano,
também mora aqui?”. Eu respondi que sim. “Então, se vocês dois moram nessa
casa, porque só tem uma cama?”. E seu pai pulou rapidamente após o engasgo:
“Ele dorme naquele outro quarto, filhinha.” Mentira. Mas quem tem coragem de
dizer que os dois barbudos são casados e dividem a mesma cama?
Tem gente que tem. Hoje estava na casa da
minha irmã e um dos meus sobrinhos perguntou: “Você tem namorada?”. E eu
respondi: “Tenho. O tio Fulano.”. Ele me olhou espantado e repetiu:
“NA-MO-RA-DA.” E eu corrigi: “O tio Fulano é meu namorado.” Ele foi correndo na
cozinha falar com os pais: “Mãe, o tio falou que o tio Fulano é namorado
dele!”. A minha irmã respondeu: “Eles não são namorados. Eles são casados. O
tio Fulano é o marido dele.” E meu sobrinho falou para o pai: “Nossa, como é
que eu sempre estava do lado deles e nunca tinha percebido?”. A fórmula é
simples: isso não vai torná-lo homossexual. Ele apenas vai crescer sem
preconceitos. A mãe do meu outro sobrinho, de quem sou
inclusive padrinho, escolheu um gay e uma lésbica para batizá-lo. Disse que
assim decidiu porque queria que seu filho crescesse sem preconceitos.
Preconceito de cor, raça, gênero, orientação
sexual, classes sociais e qualquer outro tipo. São todos fabricados pela
sociedade. Mas não é somente a sociedade “lá fora”; é a sociedade “aqui dentro”,
no seio da família, na negação da explicação. Graças a Deus e também às minhas
escolhas, cada vez menos convivo com gente idiota e preconceituosa. E quero
conviver cada vez menos. Talvez demoremos séculos para vivermos numa sociedade
realmente igualitária, onde cada pessoa poderá usufruir da liberdade de ser o
que é, sem ter que se travestir em rótulos socialmente produzidos e inventar
histórias que as pessoas querem ouvir. Por enquanto, continuam-se produzindo
garotos que não amam suas garotas e que agridem os viadinhos por aí.
1 Comments:
Isto me é familiar.
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