Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, September 07, 2012

O (HOMEM) GAROTO QUE NÃO AMAVA A (MULHER) MENINA, E NEM MULHER ALGUMA.



Buceta toda mulher tem. Parece que elas vêm com esse item de fábrica. Então bebês, meninas, moças, mulheres e vovós, todas têm buceta. Mas o que faz, além da idade, que uma mulher ultrapasse a floresta escura da meninice e se torne uma mulher de verdade? Porque tenho visto mulheres em idade que são meninas em atitude. Não estou falando da meninice matreira, da alma juvenil, que é prescrição obrigatória a todos que desejam levar uma vida loucamente sã. Falo da meninice estúpida, daquela cuja ingenuidade arrasta as correntes da estupidez e as torna alvo fácil desses tais garotos podres, os garotos que não amam as mulheres. Garotos covardes, garotos assassinos, garotos que violentam a feminilidade das meninas, porque desejam simplesmente, mas não têm a coragem de se tornarem mulheres. Sim, porque isso é possível nos dias de hoje.

Garotos desajustados, medrosos e encarcerados em seus armários de cerejeira são facilmente transformados em raladores de buceta. Garotos de qualquer idade que não aceitam sua própria sexualidade, trancafiando-a nos porões da existência tendem a se tornarem vampiros da alma feminina e raladores de bucetas. Sim, eles também agridem os gays assumidos, sexualmente bem-orientados. Porque são  infelizes, perdidos nos pastos da vida. Desejam as mulheres. Sim, e como desejam. Mas não tê-las; sê-las.

Como um Pinóquio, o garoto que não ama mulher nenhuma vive uma grande mentira. Ele é capaz de se casar, ter filhos, ter amantes-fêmea e jamais se dar conta da sua sexualidade contaminada e putrefata. Ele mente, seu nariz cresce e sua volúpia diminui. Seu único prazer se restringe a decapitar clitóris. Qual é o plural de clitóris? Clitóris é como lápis, ou se fala clitórises? Sei lá.  Eu só sei que tenho pena das meninas que se deixam levar por esses garotos. Meninas que, por carência, medo da solidão e do abandono, leiloam suas almas por alguns reles níqueis de um pseudo-status de ter alguém.

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Eu escrevi os três primeiros parágrafos desse texto há meses. Naquela época havia um acontecimento que justificava eu postá-lo. Mas, enlevado pelo nojo que esse tipo de situação me evoca, acabei perdendo a inspiração. Mas o tema continua atual. Tanto pelo imbecil que deu origem à série, como pela insistência do tema em continuar existindo por aí.  Daí aproveitei minha dificuldade para arranjar algum assunto novo e resolvi retomar essa discussão.  Faz alguns meses, tive a oportunidade de observar um menino e uma menina de cinco anos brincando de casinha. Ela, enquanto preparava o café da manhã, reclamava que ele não a ajudava, que não se levantava para sentar-se à mesa. Ele dá um salto da rede, gritando com ela: “Eu estou cansado, mulher! Eu trabalho o dia inteiro e quando chego em casa, você fica me enchendo o saco!”. Eu não aguentei ver aquilo e resolvi interferir: “Olá. Eu sou o anjo do bom relacionamento. Se vocês continuarem brigando desse jeito eu vou desmanchar esse casamento. Isso está parecendo um filme do Woodie Allen.” Eles ficaram olhando para mim, meio espantados. Depois me virei para ele: “Fulano, uma mulher deve ser sempre bem tratada. A mulher deve ser amada e respeitada e isso não é jeito de falar com a sua mulher. Nem de brincadeira.” Eu espero que a minha interferência tenha ficado na cabeça deles. Principalmente na dele, mas na dela também, porque o desrespeito e a violência muitas vezes são consequências de uma interação: ele não aprendeu a respeitar a mulher; ela não aprendeu a exigir respeito e suportará esse homem, como se fosse algo habitual. E isso me fez pensar em como são educadas as crianças, em como colocamos conceitos, valores, preconceitos nas cabeças de nossas crianças. Nós (os adultos) somos responsáveis pelos valores e pelas distorsões deles que nossas crianças incorporam.


E tenho observado que é por volta dos cinco anos de idade o “turning point” do que transformaremos essas crianças. É nessa idade que as crianças perguntam as coisas mais cabeludas e raciocinam sobre elas. Essa semana senti saudades de ler o Petit Nicolas, um clássico da literatura infanto-juvenil francesa. Quando li suas histórias, pude perceber como se constrói o sarcasmo dos franceses.  A mãe dele pede para não contar ao seu pai o quanto gastou nas compras daquele dia. Ao encontrar o pai, ele pergunta ao garoto o que fez de bom e ele responde: “Fiz comprar com a mamãe. Ela pediu para eu não contar para você o quanto ela gastou, porque você iria ficar bravo. Mas eu não entendo porque você iria ficar bravo só porque fizemos compras.” Muitos pais agridem e castigam seus filhos quando eles têm atitudes como essa, sendo que o que deveriam fazer é baterem suas próprias cabeças nas paredes.

Certo dia, recebi uns amigos em minha casa, com sua filha de cinco anos. Ela perguntou para mim: “Você mora aqui?”. Eu respondi que sim. Passados alguns minutos ela perguntou: “E o tio Fulano, também mora aqui?”. Eu respondi que sim. “Então, se vocês dois moram nessa casa, porque só tem uma cama?”. E seu pai pulou rapidamente após o engasgo: “Ele dorme naquele outro quarto, filhinha.” Mentira. Mas quem tem coragem de dizer que os dois barbudos são casados e dividem a mesma cama?

Tem gente que tem. Hoje estava na casa da minha irmã e um dos meus sobrinhos perguntou: “Você tem namorada?”. E eu respondi: “Tenho. O tio Fulano.”. Ele me olhou espantado e repetiu: “NA-MO-RA-DA.” E eu corrigi: “O tio Fulano é meu namorado.” Ele foi correndo na cozinha falar com os pais: “Mãe, o tio falou que o tio Fulano é namorado dele!”. A minha irmã respondeu: “Eles não são namorados. Eles são casados. O tio Fulano é o marido dele.” E meu sobrinho falou para o pai: “Nossa, como é que eu sempre estava do lado deles e nunca tinha percebido?”. A fórmula é simples: isso não vai torná-lo homossexual. Ele apenas vai crescer sem preconceitos. A mãe do meu outro sobrinho, de quem sou inclusive padrinho, escolheu um gay e uma lésbica para batizá-lo. Disse que assim decidiu porque queria que seu filho crescesse sem preconceitos.

Preconceito de cor, raça, gênero, orientação sexual, classes sociais e qualquer outro tipo. São todos fabricados pela sociedade. Mas não é somente a sociedade “lá fora”; é a sociedade “aqui dentro”, no seio da família, na negação da explicação. Graças a Deus e também às minhas escolhas, cada vez menos convivo com gente idiota e preconceituosa. E quero conviver cada vez menos. Talvez demoremos séculos para vivermos numa sociedade realmente igualitária, onde cada pessoa poderá usufruir da liberdade de ser o que é, sem ter que se travestir em rótulos socialmente produzidos e inventar histórias que as pessoas querem ouvir. Por enquanto, continuam-se produzindo garotos que não amam suas garotas e que agridem os viadinhos por aí.




1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Isto me é familiar.

10:39 AM PDT  

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