TIA LAILA
Minha tia Laila, irmã de minha mãe, era uma perua convicta e passou a vida inteira dando suas aulinhas na pré-escola para pagar seus brincos, anéis e colares. Seu marido, meu tio Dagoberto, nunca permitiu que ela usasse seu dinheiro para o sustento da casa.
Tia Laila nunca foi chegada em prendas domésticas. Passava o dia na rua, indo a shoppings, lojas de roupas, confecções novas. Sua casa era governada por empregadas. Até que deu sorte, porque durante anos teve uma empregada muito boa, que limpava, lavava, passava, cuidava dos meus primos, dos dez cachorros, dos coelhos e das galinhas. Seu nome era Zazá. Era uma negra corpulenta e cheia de energia. Um dia chegou na casa de minha tia toda feliz, dizendo que ia ser contratada para ser “mulata do Sargentelli”, um velho sambista que selecionava negras portentosas para dançar mundo afora. Todo mundo zombou de Zazá:
- Onde já se viu, você, gorda desse jeito, ser mulata do Sargentelli! Eles vão levar você é pra trabalhar de escrava na África, isso sim! – dizia tia Laila.
Mas Elza não se fez de rogada. Aceitou o tal emprego, ficou internada num “spa”,perdeu mais de trinta quilos. Em três meses estava de viagem marcada para o Japão para sambar para os japoneses. E nunca mais voltou, exceto três anos após para fazer uma visita e levar presentes para meus primos.
E a casa da tia Laila nunca mais foi a mesma. Nenhuma empregada parava lá, todas reclamavam do excesso de trabalho. Houve um tempo em que minha tia contratou duas empregadas e mesmo assim não dava certo. Ninguém tinha a energia e a boa vontade de Zazá.
Numa certa época minha tia não arranjava ninguém para trabalhar lá e ela se recusava a fazer as tarefas domésticas. Contratou uma cozinheira que fazia congelados para o mês inteiro e meu tio teve a idéia de pagar meus primos por cada serviço realizado. Criou uma tabela de preços e cada serviço executado tinha que ter o visto de minha tia. É claro que não deu certo. Cada um deles lavava o carro e passava o aspirador várias vezes por dia, de forma que a única coisa que meu tio ganhou foi um baita prejuízo.
Continuaram sem empregada e minha tia resolveu abrir mão da ordem em casa. Ficou tudo em pandarecos. Coisas jogadas pelo chão, poeira pelo caminho. O único lugar que ela se dava o trabalho de limpar era a cozinha e o quarto dela, porque eram os lugares por onde meu tio transitava quando chegava do trabalho.
O tempo foi passando e a situação ficava cada vez mais caótica. Mas o pior ainda estava por vir. A casa de minha tia ficava na Serra da Cantereira, na região norte de São Paulo, cercada de mato e bichos por todos os lados. Em sua casa, que era muito grande, havia uma sala de televisão muito aconchegante, com lareira, tapete fofo e muitas almofadas.
Nessa época da “greve de limpeza”, ninguém aparecia por lá. Meus tios e meus primos preferiam se enfronhar nos seus quartos e na cozinha ou sair de casa para não lidarem com a sujeira da casa. Mas um dia minha tia resolveu cochilar na sala de televisão. Chegou lá e foi ajeitar as almofadas para deitar no tapete e....
- Ahhhh!!!!! Socorro!!!! Socorro!!!! – ela gritava desesperadamente por ajuda.
Mas acho que a cobra que estava debaixo da almofada ficou mais assustada que ela e sai correndo para se enfiar atrás de uma estante. Quando minha tia levantou o resto das almofadas, entendeu o que aquela cobra fazia ali: debaixo da outra almofada havia cascas de ovo quebradas e uma meia dúzia de cobrinhas recém-nascidas.
Foi então que tia Laila parou para pensar no que estava acontecendo naquela casa. Fazia meses que ninguém limpava a casa como se deve e pior, meses que ninguém aparecia naquela sala. Para que tanto espaço, se ninguém usa? Então tia Laila tomou uma decisão: vendeu a casa e com o dinheiro comprou um minúsculo apartamento pra ela e meu tio e outros três para cada um de meus primos. Contratou uma empregada, agora muito mais fácil de achar e determinou que cada um cuidasse realmente do seu espaço.
Tia Laila nunca foi chegada em prendas domésticas. Passava o dia na rua, indo a shoppings, lojas de roupas, confecções novas. Sua casa era governada por empregadas. Até que deu sorte, porque durante anos teve uma empregada muito boa, que limpava, lavava, passava, cuidava dos meus primos, dos dez cachorros, dos coelhos e das galinhas. Seu nome era Zazá. Era uma negra corpulenta e cheia de energia. Um dia chegou na casa de minha tia toda feliz, dizendo que ia ser contratada para ser “mulata do Sargentelli”, um velho sambista que selecionava negras portentosas para dançar mundo afora. Todo mundo zombou de Zazá:
- Onde já se viu, você, gorda desse jeito, ser mulata do Sargentelli! Eles vão levar você é pra trabalhar de escrava na África, isso sim! – dizia tia Laila.
Mas Elza não se fez de rogada. Aceitou o tal emprego, ficou internada num “spa”,perdeu mais de trinta quilos. Em três meses estava de viagem marcada para o Japão para sambar para os japoneses. E nunca mais voltou, exceto três anos após para fazer uma visita e levar presentes para meus primos.
E a casa da tia Laila nunca mais foi a mesma. Nenhuma empregada parava lá, todas reclamavam do excesso de trabalho. Houve um tempo em que minha tia contratou duas empregadas e mesmo assim não dava certo. Ninguém tinha a energia e a boa vontade de Zazá.
Numa certa época minha tia não arranjava ninguém para trabalhar lá e ela se recusava a fazer as tarefas domésticas. Contratou uma cozinheira que fazia congelados para o mês inteiro e meu tio teve a idéia de pagar meus primos por cada serviço realizado. Criou uma tabela de preços e cada serviço executado tinha que ter o visto de minha tia. É claro que não deu certo. Cada um deles lavava o carro e passava o aspirador várias vezes por dia, de forma que a única coisa que meu tio ganhou foi um baita prejuízo.
Continuaram sem empregada e minha tia resolveu abrir mão da ordem em casa. Ficou tudo em pandarecos. Coisas jogadas pelo chão, poeira pelo caminho. O único lugar que ela se dava o trabalho de limpar era a cozinha e o quarto dela, porque eram os lugares por onde meu tio transitava quando chegava do trabalho.
O tempo foi passando e a situação ficava cada vez mais caótica. Mas o pior ainda estava por vir. A casa de minha tia ficava na Serra da Cantereira, na região norte de São Paulo, cercada de mato e bichos por todos os lados. Em sua casa, que era muito grande, havia uma sala de televisão muito aconchegante, com lareira, tapete fofo e muitas almofadas.
Nessa época da “greve de limpeza”, ninguém aparecia por lá. Meus tios e meus primos preferiam se enfronhar nos seus quartos e na cozinha ou sair de casa para não lidarem com a sujeira da casa. Mas um dia minha tia resolveu cochilar na sala de televisão. Chegou lá e foi ajeitar as almofadas para deitar no tapete e....
- Ahhhh!!!!! Socorro!!!! Socorro!!!! – ela gritava desesperadamente por ajuda.
Mas acho que a cobra que estava debaixo da almofada ficou mais assustada que ela e sai correndo para se enfiar atrás de uma estante. Quando minha tia levantou o resto das almofadas, entendeu o que aquela cobra fazia ali: debaixo da outra almofada havia cascas de ovo quebradas e uma meia dúzia de cobrinhas recém-nascidas.
Foi então que tia Laila parou para pensar no que estava acontecendo naquela casa. Fazia meses que ninguém limpava a casa como se deve e pior, meses que ninguém aparecia naquela sala. Para que tanto espaço, se ninguém usa? Então tia Laila tomou uma decisão: vendeu a casa e com o dinheiro comprou um minúsculo apartamento pra ela e meu tio e outros três para cada um de meus primos. Contratou uma empregada, agora muito mais fácil de achar e determinou que cada um cuidasse realmente do seu espaço.
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