O MITO DA MULHER BÊBADA

Não, não quero falar de psiquiatria. Estou quase cem por cento de férias dessa "funça", salvo uma ou outra orientação telefônica. Quero falar de trajédias gregas de proporçōes mitológicas de algumas mulheres que encarnam monstros incontroláveis quando bebem. Não quero soar machista ou sexista, mas tenho ficado um pouco assustado com o beber feminino. Conheço mulheres que bebem como homens, mas algumas delas desfalecem como mulheres mesmo.
Em linhas gerais, não tenho paciência com bebedeiras em meu convívio social. Não gosto de bafo na minha cara, não gosto de lenga-lenga prolixo de conversas alcoolizadas, não curto limpar vômitos e, graças ao bom Deus, nunca precisei levar ninguém a um hospital por bebedeiras comatosas ou agitos incontroláveis. É lógico que a languidez do vinho entremeando um gostoso papo é sempre bom. Mas perder o passo, ultrapassar os limites do convívio, daí é "pobrema".
A primeira grande bêbada que cruzou meu caminho era daquelas bem chatas. Amiga de uns amigos, sempre tomava um pifão nas festas e ficava pendurada nas pessoas, com cantadas mais que pisadas e falando sobre as agruras da própria vida. Certa vez estávamos num aniversário de uma amiga. Saí para fazer um xixi básico e, ao voltar, lá estava ela pendurada no pescoço de um amigo. Quase sentada no colo dele, ele desconcertado, ela perguntando se ele a achava atraente. Ele quase vomitando. Sentei-me ao lado deles e lá veio a lacraia:
- Você acha que tem algo demais eu sair assim? Eles estão falando que eu estou bêbada, mas eu não estou, estou ótima! E depois eu sou livre, não acha? O que você acha?
- Eu acho que é perigoso sim, porque você está bêbada. Aliás você É uma bêbada e inconveniente. E está importunando meu amigo. Mas eu acho um perigo sim você sair assim, não por sua causa, mas porque você pode causar um acidente e matar alguém inocente.
- Ai, credo, como você é careta e grosseiro! Sai fora!
- Sai fora você. Ninguém chamou você na conversa.
E ela saiu, rindo agressivamente pra chorar do outro lado do salão. Gerei polêmica. Parentes da pobre donzela se sentiram desrespeitados. Eu me senti aliviado e salvei meu amigo que, muito paciente, aguentava aquela chatice toda.
Sim, eu fui mal. Mas o restinho de neurônio que não saiu pra passear com o Johnny Walker pode me escutar e ela foi lá, dormir e vomitar no dormitório dos parentes. Nunca mais encontrei a sujeita. Thank God.
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Outro dia foi numa outra festinha. Todo mundo estava prá lá de Bagdad, dançando, dando risadas. No meio dessa saudável balbúrdia, uma das "meninas" resolve, já no "grau", fazer uma demonstração de seus dotes yoguísticos. Deitou no tapete, se pôs de ponta cabeça para fazer a posição de sei-lá-o-quê e catapumba! Quase quebrou o pescoço. Não sentiu nada na hora, ria desconcertada do seu próprio fracasso e decidiu virar estrela. Daí tive que impedir. E descobri que a vodka é um excelente analgésico.
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Certa vez, estava numa comemoração de aniversário no Piola, lá na Alameda Lorena. Chega uma amiga trazendo uma penetra. E a penetra estava bêbada. Descobriu minha profissão e sentou do meu lado para "aproveitar e fazer uma terapia". Falou dos remédios que tomava, na crise do seu casamento e, de tempos em tempos, dava um "gorfada" - como dizem os caipiras - e dizia:
- Acho que vou vomitar...
- Você não acha melhor ir ao banheiro?
- Tô bem, passou já...
E na segunda ameaça, achei melhor "interromper a sessão".
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Detesto futebol. Mas no último jogo da Copa de 2006, entre Brasil e França, resolvi reunir o pessoal em casa, só prá me divertir fazendo umas comidinhas e torcer para a França. De repente, minha casa acabou virando um "point" durante todo o final de semana. Gente conhecida, gente desconhecida. Eu me lembro de ter tirado alguns cochilos e, cada vez que eu acordava, tinha novas pesssoas em casa. E, de repente, chega uma amiga. Uma dessas, que bebem como homens e nunca vi dar vexame. Mas aquele dia ela estava um vexame. Tava bêbada, falando mole e...verde. Sim ela estava verde! Parecia um duende de vestido.
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Tenho uma conhecida que tem a mãe mais "porre" que eu já conheci. Detesto quando ela aparece em casa para me visitar e traz o raio da mãe junto. Cheguei a dizer a ela que não trouxesse mais a mãe dela, mas eu não sei se é pela falta de "simancol" ou por medo que a mãe dela faça mais besteiras sozinha, ela acaba trazendo.
Ela não é uma pessoa que "fica" chata quando bebe. Ela já é muito chata e fica muito pior quando abastecida. E o pior é que, quando ela chega, não vai embora. Nem percebe os "sinais" do sono chegando. Houve uma vez que ela dormiu no meu sofá e ninguém acordava aquela velha. Fiquei com vontade de dar uns croques na cabeça dela, mas não houve um tempo hábil sem testemunhas. Uma outra vez, desisti de tentar expulsá-la educadamente, larguei elas sozinhas na sala conversando e fui dormir. O pior foi acordar após algumas horas e perceber que elas ainda estavam lá, conversando!
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Certa vez, fiz uma viagem a Paris com uma amiga e um amigo. Resolvemos sair à noite para uma balada "completa": jantar, bares, boates. Fizemos um verdadeira peregrinação a diversos lugares, tudo muito "alcoolizado". Já faz tempo que não tenho pique pra essas baladas "fortes". Pra sair, preciso dormir à tarde no dia e reservar o outro para me recompor. Conforme o tempo foi passando, fui ficando cansado e minha amiga cada vez mais pilhada. Paramos na porta de uma boate e só entravam casais ou mulheres sozinhas. Ela, doida pra entrar, eu e meu amigo, doidos pra sumir. Fomos embora e ela ficou.
Já quase amanhecendo, ouço a porta bater. Levei um susto e vejo minha amiga se arrastando pelo chão da sala, como uma lagarta velha. Esgueirou-se até a cama e capotou. Nem bem dormiu duas horas, acordou vomitando. Corria pelada para o banheiro e asssim passou o dia inteiro.
Passadas algumas horas e uma dezena de idas à privada, contou que não se lembrava bem o que tinha acontecido e que havia perdido sua bolsa. Só lembrava que tinha beijado um "negão lindo" e depois não se recordava de mais nada. Boa noite Cinderela? Assalto? Acho que vergonha mesmo. No bolso de sua jaqueta, o cartão de uma oficina mecânica e um fósforo de Motel... Ligamos no celular, a bolsa estava guardada na boate... Como chegou aqui no hotel? Não sei, não sei...
Tenho um monte de estórias sobre mulheres bêbadas. Infelizmente essas são as únicas que posso contar aqui. Tudo isso já faz tanto tempo, mas resolvi colocar no blog para eternizar esses acontecimentos pitorescos para além da minha memória particular. Eternizadas, as mulheres bêbadas viram mitos, viram História, viram piada, viram blog.
É como sempre digo... Cuidado com o que eu vejo ou me contam...