Blog do Doutor Fofinho

"Tudo começou há algum tempo atrás na Ilha do Sol..." Há muitos anos eu montei esse blog, dando o nome "Le Cul du Tabou", inspirado por uma amiga, para falar sobre o tabu das coisas. Ganhei muitos seguidores, mas desde 2018 não escrevi mais nele. Estou retomando, agora com novo nome, o "Blog do Doutor Fofinho", muito mais a minha cara, minha identidade. Sejam bem vindos.

Friday, March 18, 2011

PRAYERS FOR ALL BOBBIES


Acabei de assistir o filme “Prayers for Bobby”, com a atriz Sigourney Weaver. Chorei da metade em diante, continuei chorando depois e, agora que se secaram as lágrimas, minha alma continua chorando. Para quem não sabe, esse filma conta a história de Mary Griffith, interpretada por Weaver, um beata protestante que se torna uma grande ativista em defesa dos homossexuais após a morte de seu filho Bobby, que se suicida por não suportar os conflitos concernentes à sua homossexualidade.

Curioso é pensar que não existem surpresas no filme. Sabemos de tudo já na sinopse do filme, podemos encontrar fotos e textos e comentários sobre Bobby e Mary em diversos sites. O filme também não tem nenhuma riqueza “cinematográfica”, do ponto de vista técnico, como interpretação, fotografia ou efeitos especiais. A versão “hétero” desse filme seria algo como “Endless Love” ou “Sunshine” que reprisaria dezenas de vezes na sessão da tarde e assistiríamos de novo e de novo, achando “bobinho”, mas chorando sempre que assistíssemos.

Eu não sei dizer se o filme já passou na sessão da tarde, mas eu quase que acredito cem por cento que não. E por razões muito óbvias. Será que a censura Global permitiria que um filme desses passasse na sessão da tarde? As crianças e adolescentes correm riscos ao verem esse filme?

O único risco que crianças e adolescentes correm ao assistirem a um filme desses é se adiantarem a percorrer uma estrada que não levará ao mesmo fim de Bobby: pular de uma ponte e ser atropelado por um caminhão. Sim, pois quanto mais cedo um jovem toma consciência de si mesmo no que diz respeito à sexualidade, mais chances ele terá de encontrar formas de se fortalecer, crescer, aceitar-se, viver.
É claro que não vai adiantar nada esses “Bobbies” se conscientizarem se não puderem encontrar um chão fofo, acolhedor, amoroso que os aceitem como são. “Prayers for Bobby” é mais que um filme para “Bobbies”. É um filme para os pais de Bobbies, Fernandos, Ricardos, Marcelos, Cristinas, Fabianas, Lauras e todos aqueles que podem contribuir, simplesmente compreendendo e aceitando a homossexualidade de seus filhos, dos amigos de seus filhos, dos seus familiares.

Hoje em dia se fala de diversos assuntos modernos: casamento gay, adoção gay, turismo gay, parada gay, consumismo gay. Fala-se, enfim, de uma série de coisas ligadas ao universo gay ADULTO. Sim, porque casar-se, procriar, viajar, consumir são coisas de gente adulta, que trabalha, que paga suas contas, mesmo que a sua sexualidade não esteja bem resolvida para si ou para os outros.

Conheço uma infinidade de homossexuais que levam uma espécie de vida “dupla” ou “tripla” ou “quádrupla”. Ou seja: vivenciam algumas facetas da sua homossexualidade, mas não se sentem capazes ou não podem ou não devem assumi-la em outras. Gente que namora, que transa, que vive junto, que frequenta boates e ainda assim usa aliança de noivado no ambiente de trabalho e finge ter “uma mina”. Gente até que faz tudo isso e mantém sua “noiva eterna” nos confins de uma cidade do interior. Gente casada, com filhos e até netos que mantém uma vida totalmente paralela.

E por que é que isso ocorre? Justamente porque são pessoas que não tiveram a oportunidade de se revelarem, simplesmente porque não encontraram esse terreno acolhedor. É lógico que tem gente que é obrigada a fingir, negar, ocultar por razões profissionais, ou políticas. Mas acredito que estamos muito antes disso. Estamos “fabricando” adultos gays – dentro ou fora do armário sem nos preocupar com a questão fundamental: cuidar da criança, do adolescente, do jovem.

Ensinar na escola, ensinar os pais, ensinar a sociedade, ensinar os casais que seus filhos podem nascer gays do mesmo modo que podem ter olhos verdes ou azuis ou castanhos e que isso não é culpa de ninguém, de nenhum erro, de excesso ou de falta de cuidado. Uma mãe superprotetora ou um pau ausente vão causar o mesmo tipo de dano em filhos gays ou héteros. A única diferença, no caso de um filho gay, é que talvez ele tenha maior dificuldade em se assumir e vivenciar uma vida normal.

Eu realmente quero que as coisas sejam diferentes. E que essas conquistas, essa evolução tão esperada e tão atrasada, possa fazer parte dos livros de História e não seja mais um problema para tanta gente, como é até hoje.

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